Organização e Estrutura


Porcandia- Postado em 04 abril 2011

Ao definir que o conhecer é uma ação daquele que conhece e de que todo conhecer depende da estrutura daquele que conhece, Maturana e Varela chegam à conclusão de que, para entendermos o fenômeno do conhecimento em toda sua dimensão, devemos entender a organização do ser vivo.

Comecemos pelos conceitos gerais destas duas ideias:

  • organização: relações que devem se dar entre os componentes de um sistema para que este seja reconhecido como membro de uma classe específica.
  • estrutura : componentes e as relações que concretamente constituem uma determinada unidade e realizam sua organização.

O fato de perguntarmos como se reconhece um ser vivo indica que temos uma idéia, ainda que implícita, de sua organização. O que é a organização de algo? São aquelas relações que precisam existir ou ocorrer para que esse algo exista. Por definição, a organização, uma vez estabelecida, não varia – se varia, foi mal-estabelecida. Já a estrutura são os elementos variáveis que irão compor cada unidade pertencente a uma classe. Por exemplo, quando falamos de seres vivos, qual é a organização que os define como classe? Na proposta dos autores, é que os seres vivos se caracterizam por, literalmente, produzirem-se continuamente a si mesmos - o que indicam ao chamar a organização que os define de organização autopoiética.

 

A característica mais marcante de um sistema autopoiético é que ele se levanta por seus próprios cordões, e se constitui como distinto do meio circundante mediante sua própria dinâmica, de modo que ambas as coisas são inseparáveis. Os seres vivos se caracterizam por sua organização autopoiética. Diferenciam-se entre si por terem estruturas diferentes, mas são iguais em sua organização.

 

Possuir uma organização, evidentemente, é próprio não só dos seres vivos, mas de todas as coisas que podemos analisar como sistemas. No entanto, o que os distingue é sua organização ser tal que seu único produto são eles mesmos, inexistindo separação entre produtor e produto. O ser e o fazer de uma unidade autopoiética são inseparáveis, e esse constitui seu modo específico de organização.

 

Outro fator a ser levado em consideração é que a organização dos seres vivos deve levar em conta não só os aspectos estruturais físicos, mas também as relações sociais intrínsecas aos mesmos. Esta constatação nos leva diretamente a outro patamar de complexidade. Isto fica mais claro pelo exemplo fornecido pelos autores: é fácil classificar algo como sendo pertencente à classe cadeira, porém, classificar algo como uma boa ação envolve uma imensa quantidade de elementos culturais – e exige a análise de todos as relações sociais envolvidas.

 

Referências: MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: PalasAthena, 2001.