Comentários à dedução transcedental do princípio moral na fundamentação da metafísica dos costumes


PoreGov- Postado em 04 março 2011

Autores: 
FAGGION, Andréa Luisa Bucchile

Uma dedução como a transcendental visa estabelecer a validade objetiva de um princípio sintético
a priori. Significa apresentar um terceiro termo que se encarregue de conectar necessariamente dois
termos que, isolados, não estão em relação de implicação. Para que a dedução tenha sucesso, é preciso
que aquilo que deve ser deduzido seja demonstrado como condição de possibilidade para algo que é dado
independentemente (justamente o terceiro).
Não parece ser só a lei moral, mas também a liberdade, ou ao menos a necessidade de sua
pressuposição, que receberia uma dedução nestes moldes na Fundamentação. Kant tenta na terceira
seção desta obra provar (a) a relação de mútua implicação entre liberdade e moralidade e (b) a relação
necessária entre a pressuposição da liberdade, que poderia fazer o mesmo papel que a realidade objetiva
da liberdade, e a vontade, para assim ligar a moralidade à vontade por meio da pressuposição da
liberdade (o terceiro termo). Neste trabalho, eu darei (a) por concedido a Kant e me preocuparei com (b).
A passagem ao imperativo categórico também não me preocupará, porque traz uma gama de problemas
que estenderia em demasia este trabalho.
Kant tentará provar (a) por análise. Já a relação expressa em (b) Kant vê como sintética, ou seja,
pela simples análise do conceito de vontade não encontraríamos a necessidade da pressuposição da
liberdade. Encontramos sim o conceito de racionalidade, pois Kant chega a identificar vontade e razão
prática (Cf. FMC, II, §12, BA 36). Kant tem que provar que a racionalidade da vontade (terceiro termo
então desta dedução auxiliar), no entanto, só é possível em conexão com a liberdade. Mas, para que a
dedução da lei moral seja viável, a demonstração requerida em (b) não pode depender de considerações
morais. Deve se ater exclusivamente ao conceito de racionalidade prática em geral, ou seja, a
racionalidade dos princípios hipotéticos deve bastar para a dedução, porque a ligação a priori da
moralidade com a vontade é o que está para ser estabelecido.

AnexoTamanho
30269-31104-1-PB.pdf81.84 KB