Reflexões desde Nosso Conversar


PorAnônimo- Postado em 22 maio 2010

Reflexões desde nosso conversar.


"a dor e o sofrimento pelos quais se pede ajuda sempre são de origem cultural e surgem nas negações geradas pelo viver numa cultura centrada em relações de dominação e subjugação, competição e exigência, desconfiança e controle, como a cultura patriarcal-matriarcal que vivemos.
Isto é, a dor e o sofrimento pelos quais se pede ajuda surgem sempre numa história de desamor no viver cotidiano”.
Sobre o Viver
Ocorre na conservação do viver de um ser vivo como um presente contínuo em contínua mudança estrutural congruente com um meio que surge com ele e que, ao surgir com ele, surge como um presente cambiante que o contém e torna possível enquanto vive, ou que deixa de torná-lo possível e o ser vivo morre.
O passado e o futuro não existem em si: o passado é uma proposição explicativa que o observador faz para explicar desde seu presente contínuo , sua consciência de existir, ou de ser como ser humano no presente cambiante.
O futuro é uma noção que ele ou ela cria como extrapolação das coerências de seu viver no presentes, a fim de imaginar um curso de transformação plausível para seu viver numa mudança contínua.

Em seres humanos a dinâmica do viver num mundo que surge ao vivê-lo, inclui nosso viver cultural como parte do âmbito relacional que emerge e se dá com o nosso existir.

O viver cultural é em nós, seres humanos, ao mesmo tempo a fonte e conservação de nosso bem-estar, da dor cultural que vivemos e da liberação dessa dor.

Vivemos como se o mundo preexistisse ao nosso o vivê-lo, mas, ao tentar mostrar como o conhecemos e como atuamos de maneira eficaz sobre ele, nos deparamos com o fato de que não distinguimos na própria experiência que entre o que será chamado mais tarde de ilusão ou percepção em relação a outra experiência ante a qual não duvidamos e descobrimos que de fato não podemos falar de um mundo que preexiste a nosso operar ao distinguí-lo

Não construímos ou criamos os mundos que vivemos, achamo-nos vivendo-os no momento em que nos perguntamos sobre o que fazemos e vivemos.

O viver nos acontece, não o fazemos, e nos surge caótico e o que nos acontece surge em nosso viver de uma vazio experimental que enchemos explicando nosso viver e o que acontece em nosso viver com as coerências operacionais que distinguimos em nosso viver.
Ao fazer isso expandimos nosso ver a trama relacional implícita nas coerências operacionais com que surge e distinguimos nosso viver.

Devemos assumir que o que vale em nosso convivência nos diferentes mundos em que vivemos não é uma pretendida conexão com um abstrato transcendente a nosso operar, e sim que o que os diferentes mundos que vivemos surgem com os diferentes modos de conviver na recursão operacional de nosso linguajear.
Dá no mesmo o que vivemos ou como o vivemos como seres vivos, embora não dê no mesmo para nosso viver humano.
E é em nosso viver humano que a dor e o sofrimento tem presença.

Sobre o Bem Estar
Nós seres vivos existimos num viver que é o presente de um presente de contínuas mudanças.
Existimos e operamos de forma que tanto nosso ser como organismos, assim como o meio que nos faz possíveis, nos sustenta e nos conserva surgem continuamente conosco como um âmbito operacional primariamente coerente com nosso viver e que muda com ele.
Quando não acontece assim, se perde o acoplamento estrutural e deixa de se conservar a coerência emergente entre o organismo e o meio que surge com ele. O observador não pode mais distinguir um ser vivo, o organismo morre.
Quando o observador observa o viver de um ser vivo ele opera como um externo ao ser vivo observado, assim vê-o com mais amplitude, e o vê num meio que surge com o seu viver, que o contém e que emerge com uma dinâmica operacional independente dele.
O observador vê que o ser vivo em seu viver traz ao seu operar um meio que de sua localidade só vê parcialmente.
O operar do observador e do ser vivo que contempla se entrecruzam na trama relacional do operar do viver.

Assim o observador vê que no fluir de seu viver um organismo, ao mover-se no presente de sua localidade relacional, fá-lo gerando uma dinâmica interna espontaneamente no que aparenta ser uma confiança implícita em que esta dinâmica dará origem a um fluir senso-efetor externo que se mostra antecipatório para a conservação de seu bem estar num meio que surgirá congruente com ele no fluir de seu viver porque assim foi antes.
Quando o bem-estar básico da conservação do viver se perde, o ser vivo morre.


O observador é um ser humano, e tudo o que se disser sobre os seres vivos ou seres humanos, ou os organismos vivos em geral, aplica-se ao observador.
Por isso o observador ou terapeuta se acham nas mesmas condições operacionais que os outros seres vivos que observam, sejam eles humanos ou não.

Ao atuar o observador o faz também num operar relacional que surge com seu operar, e não frente a uma realidade da qual poderíamos dizer que é objetiva.
Se não podemos pretender que ao fazer uma distinção trazemos à luz algo que já existia em si ou desde si antes de nosso ato de distinguí-lo não tem sentido no operar de nosso ser vivo dizer que algo é real em si, e que deve ser visto objetivamente.