Cibernética, humanismo político e pós-modernidade


PorAnônimo- Postado em 24 junho 2009

Lafontaine, em O império cibernético (Lisboa: Instituto Piaget, 2004.), identifica a influência anti-humanista da cibernética no conjunto das ciências humanas. O estruturalismo, o sistemismo e as teorias que se inscrevem na órbita pós-moderna são abordados sob o prisma da importação (colonização) dos conceitos cibernéticos.
Embora a cibernética tenha influenciado as ciências humanas, em especial a pós-modernidade, algumas ressalvas devem ser feitas.
Por exemplo, com relação a Foucault, Lafontaine relaciona diretamente suas análises com os conceitos cibernéticos. Entretanto o pensamento foucaultiano, bem como sua noção de poder, é influenciado principalmente por Nietzsche, este pensa o poder sem se fechar no interior de uma teoria política. Importante destacar que Nietzsche realiza suas análises muito antes do desenvolvimento dos estudos da cibernética.
Seguindo Nietzsche, Foucault realiza uma crítica ao humanismo burguês, ao sujeito cartesiano-kantiano humanista como a fonte da ação moral e política. A crítica de Foucault ao humanismo resulta da constatação de que subjetividade é uma construção social. A ilusão metafísica de um ego é a maneira do Ocidente moderno se conceber como um agente moral, legitimar sua dominação em nome da emancipação, ditar a razão e silenciar seu diferente. (tanto internamente, os loucos, mulheres, etc; como externamente: os colonizados).
Para finalizar, mesmo que o enfoque apresentado por Lafontaine sobre a cibernética revele-se instigante, deve-se levar em conta que o fator principal que moveu as críticas pós-modernas, desde Nietzsche, foi a investigação e a conseqüente desilusão com as propostas da modernidade e do seu humanismo. Desta forma defende-se, como diz Agambem, que devemos “abandonar as soluções que foram apresentadas na modernidade” (Profanações). Trata-se, de acordo com nossa opinião, de criar uma nova política não a partir do velho humanismo, mas das identidades que foram silenciadas pelo projeto moderno e também de novas identidades que surgem em uma sociedade em rede.