Rousiley C. M. Maia no livro Internet e Política – teoria e prática da democracia eletrônica – discute como o ambiente informativo denso da internet pode contribuir com o fortalecimento do processo democrático. O autor destaca que a web constitui-se em um estoque altamente volumoso de informações sobre os mais diversos assuntos, que são geradas pelas mais diversas fontes e não apenas por meios de comunicação tradicionais, como rádios, jornais e revistas. Portanto o ambiente informacional da web ultrapassa as fronteiras de monopólio e controle da informação dos meios de comunicação tradicionais, sendo uma importante fonte de informação potencial para a deliberação pública.
Muitos teóricos defendem que o fortalecimento da democracia está ligado aos meios de comunicação, visto que a formação da opinião pública depende em boa parte da informação e do debate realizado ou transmitido por estes meios. Então, dada a importância dos meios de comunicação, estes deveriam refletir a diversidade política e cultural da sociedade sendo uma fonte imparcial de informação. A partir desta fonte imparcial de informação o cidadão poderia analisar todos os pontos de vista e deliberar sobre sua preferência. Porém se a fonte de informação for manipulada a deliberação pode ser feita com base em uma visão parcial ou incorreta dos fatos. Neste sentido a internet aparece como uma opção de fórum cívico, onde todos os pontos de vista podem ser expostos de modo amplo, inclusive com a possibilidade de interação entre eles.
O uso das novas tecnologias na democracia digital não fará com que aumente a quantidade de pessoas interessadas em debater temas políticos, poderá talvez aumentar a quantidade (pelo acesso mais cômodo) de pessoas interessadas em consumir a informação política, mas não em produzi-la. A vantagem aparece na possibilidade de abertura de um melhor espaço para que as redes cívicas (associações de bairros, movimentos étnicos, etc) possam produzir informações e expor seus pontos de vista, de modo mais amplo do que ocorre nos meios de comunicação tradicionais.
Estudos referenciados pelo autor demonstraram que a maioria dos usuários de listas de discussão não realizam um debate propriamente dito. Eles expõem suas opiniões, mas não consideram e nem respondem às opiniões dos outros, ou seja, o debate não ocorre. Com base nisto o autor destaca que a internet contribui com a deliberação pública, porém não através de debates na rede, mas sim através do conteúdo exposto nela e da absorção deste conteúdo pelos usuários. Novamente constata-se a internet como um campo fértil para que as redes cívicas (ou quaisquer outros cidadãos) possam expor seus pontos de vista.
A deliberação pública não exige que o cidadão seja especialista nos assuntos a serem deliberados, ela requer apenas que o cidadão tenha conhecimento prático sobre o tema. Dentro deste conhecimento prático o cidadão pode obter a opinião dos especialistas no assunto, e a partir destas informações e de outras deliberar sobre suas preferências. Para a deliberação pública o cidadão precisa de informação diversificada quanto ao conteúdo e à fonte. Outra questão importante é que o cidadão possa escolher a forma de visualizar e o grau de aprofundamento das informações coletadas. Com base em todas estas características de informações para deliberação pública temos novamente a internet como uma opção de fonte de informação.
Este artigo discutiu brevemente o posicionamento da internet como fonte de informação densa para a democracia digital e a abertura que ela oferece para as redes cívicas. A partir da análise deste artigo (ou do texto original) temos uma indicação de que a facilidade com que o cidadão obtém a informação sobre um tema na internet e a qualidade com que esta informação é exibida, relacionada e organizada pode contribuir para o fortalecimento da democracia e da deliberação pública.