A visão sistêmica da vida - Capra, p 421-564


PoreGov- Postado em 12 abril 2015

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Breve anotação: 4° parte - Visão Sistêmica da Vida

Caroline Vieira Ruschel

No capítulo 16, ‘A dimensão ecológica da vida’ começa apontando as 3 dimensões já trabalhadas no livro, quais sejam: biológica, cognitiva e social.

Nessa quarta-parte o autor falará da dimensão ecológica da vida. Cita a teoria de Gaia, que traz que ‘a vida é propriedade dos planetas e não de organismos individuais’. P. 421.

A ecologia tem por objetivo o estudo do lar terrestre – p. 422. Ela precisa ser multidisciplinar e tem como desafio a construção de comunidades sustentáveis. 422.

Na página 423, os autores trazem as teias de organismos que estão interligados por relações de alimento (biosfera, ecossistema, ambiente natural e comunidade ecológica) – No quadro da página 424 traz a cadeia alimentar em um nível de alimento.

“um princípio básico da ecologia é o reconhecimento de que os ecossistemas, como todos os sistemas vivos, formam estruturas multiniveladas de sistemas aninhados dentro de outros sistemas vivos. Nos níveis mais amplos, as comunidades regionais de plantas e animais que se estendem ao longo de milhões de quilômetros são conhecidas como biomas.” P. 425

Nas páginas 425 e 426 traz os ramos da ecologia:

- Ecologia Populacional

- Ecologia Evolutiva

- Ecologia das comunidades

- Ecologia da conservação

- Ecologia humana

- Ecologia global

Na página 426 os autores trabalham a ecologia sistêmica, trazendo características da vida biológica:

1)Um sistema vivo é material e energeticamente aberto; é uma estrutura dissipativa, operando afastada do equilíbrio. Há um fluxo contínuo de energia e matéria atravessando o sistema.

2) É auto-organizadora, sendo a sua estrutura continuamente organizada pelas próprias regras internas do sistema.

3) Sua dinâmica é não linear e pode incluir a emergência de uma nova ordem em pontos de instabilidade crítica.

4) É operacionalmente fechada – uma rede autopoiética, limitada por fronteiras.

5) É autogeradora; cada componente ajuda a transformar e a substituir  outro componente, inclusive os de sua fronteira semipermeável.

6) Suas interações com o meio ambiente são cognitivas – isto é, determinadas por sua própria organização interna.

Na página 430 os autores falam da autopoiese e o sistema de Gaia:

“O sistema da Terra opera em uma escala muito grande no espaço e também envolve escalas de tempo muito longas. Assim, não é tão fácil pensar em Gaia como sendo viva de uma maneira concreta. Todo o planeta estaria vivo ou apenas certas parte dele? E nesse último caso, quais partes? Para nos ajudar a configurar Gaia como um sistema vivo, Lovelock sugeriu uma sequoia como analogia. Conforme a árvore cresce, há somente uma fina camada de células vivas (conhecidas como cambio) em torno de seu perímetro, logo abaixo da casca. Toda a madeira interna, mais de 97% da árvore, está morte. De maneira semelhante, a Terra é coberta com uma fina camada de organismos vivos – a biosfera – afundando-se no oceano até cerca de 8km a 9,6 km e subindo na atmosfera até cerca da mesma distância. Desse modo, a parte viva de Gaia é apenas uma delgada película ao redor do globo.” 430

 Em seguida, os autores trazem os ciclos de feedback – p. 431

“Há poucas dúvidas de que a pátina planetária – que inclui a nós mesmos – é autopoietica”. P. 432

Na página 434 o autor descreve as extinções em massa e a reflexão abaixo nos faz refletir sobre se seríamos ou não capazes de influenciar Gaia:

“Há indícios muito fortes de que a atual taxa de extinção de espécies ultrapassa em muito qualquer coisa que nos tenha sido informada por meio dos registros fósseis... Nunca antes uma única espécie provocou mudanças tão profundas nos habitats, na composição e no clima do planeta”. P. 434

O autor ainda traz a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável – 434 - e o ‘lar terrestre’ como capacidade de sustentar a vida – 435.

Os autores trazem o conceito de alfabetização ecológica. P. 435

“Naturalmente, há muitas diferenças entre ecossistemas e comunidades humanas. Não existe autopercepção nos ecossistemas, não há linguagens, nem consciência, nem cultura e, portanto, não há justiça ou democracia: mas também não há cobiça nem desonestidade. Não podemos aprender sobre esses valores humanos e essas falhas provenientes dos ecossistemas. Mas o que podemos aprender com eles, é de como viver de maneira sustentável.” P. 436.

“Em poucas palavras, a natureza sustenta a vida criando e alimentando comunidades. A sustentabilidade não é uma propriedade individual, mas uma propriedade e toda uma teia de relações. Ela sempre envolve toda uma comunidade. Essa é uma ligação profunda que precisamos aprender com a natureza. A maneira de sustentar a vida é construir e nutrir a comunidade. Uma comunidade humana sustentável interage com outras comunidades – humanas ou não – seguindo caminhos que lhes permitem viver e se desenvolver de acordo com sua natureza.

Uma vez que tenhamos entendido o padrão básico de organização que os ecossistemas desenvolveram para se sustentar ao longo do tempo, podemos fazer perguntas mais detalhadas. Por exemplo: Qual a resiliência dessas comunidades ecológicas? Qual é o seu poder de recuperação, sua flexibilidade? Como é que elas reagem a perturbações externas? Essas perguntas nos levam a outros dois princípios da ecologia – flexibilidade e diversidade – que permitem aos ecossistemas sobreviverem a perturbações e se adaptarem a condições em mudança.” P. 438

“Precisamos ensinar aos nossos filhos, nossos alunos e nossos lideres empresários e políticos fatos fundamentais de vida – por exemplo, o de que o resíduo de uma espécie é alimento de outra espécie; o de que a  matéria  circula continuamente ao longo da teia da vida; o de que a diversidade assegura a flexibilidade; o de que a vida desde o seu início, há 3 bilhões de anos não toma conta do planeta pelo combate, mas pelo trabalho em rede”. P. 440

Princípios: 1 – redes; 2 – fluxos; 3 – ciclos; 4 – sistemas aninhados; 5 – equilíbrio dinâmico; 6 – desenvolvimento. P. 443 e 444 mudança de pensamento.

No capítulo 17 os autores começam a discutir o pensamento sistêmico e o estado no mundo. Na verdade vivemos várias facetas de uma mesma crise, qual seja, a crise de percepção – 448.

Crescimentos que causam impacto no planeta – econômico, coorporativo e populacional – p. 449.

O texto trabalha a ilusão do crescimento perpétuo, pois existem 3 barreiras fundamentais para a expansão econômica – esgotamento dos recursos, impactos prejudiciais e barreira financeira (453).

Na página 454 os autores discutem a mudança da forma do sistema econômico ilimitado para um sistema econômico ecológico sustentável – que seria um crescimento qualitativo.

No entanto, o conceito de desenvolvimento sustentável é um conceito problemático hoje em dia – p. 456

O desenvolvimento é medido pelo dinheiro, pelos padrões dos países do norte – 457.

O PIB é um péssimo indicador – precisamos diferenciar indicadores bons e indicadores maus! P. 459.

Precisamos de uma mudança no nível individual – qual seja – superar o materialismo. Essa cultura de consumo material vem da virilidade patriarcal – 461.

O feminismo traz na sua essência o espírito de conservação, cooperação e comunidade – p. 461-462.

Por esta razão, a ascensão da percepção feminista e o movimento em direção à sustentabilidade ecológica poderiam combinar-se para dar origem a uma profunda mudança de pensamento e de valores.

Dessa forma, a revisão do processo de globalização faz-se fundamental, já que a mesma, dentre outros fatores degradantes, exclui as questões éticas. (463-469).

Na página 481 e seguintes, os autores trabalham a Sociedade Civil Global – demonstram que a sociedade civil precisa entender uma nova ética, a ética do pertencer a biosfera global!

Na página 495 discutem o replanejamento da propriedade, trazendo um ensaio de Marjorie Kelly (497-501).

Ao final, os autores trazem algumas alternativas e avanços recentes, como a agroecologia, ecocidades, para além da energia elétrica, dentre várias outras alternativas, mas também levantam as dificuldades e algumas críticas ( 515 a 561).

 A pergunta que fica é a mesma de Lester Brown: Agiremos a tempo e com a urgência necessária para que a civilização humana consiga sobreviver? P. 563.

Capítulo 16: A dimensão ecológica da vida.

Neste capítulo Capra apresenta a dimensão ecológica na visão sistêmica da vida. Conforme o autor, a ecologia, uma ciência fundamentalmente multidisciplinar, é extremamente importante para o destino da humanidade porque dela derivam estudos e descobertas relativas as influencias entre ecossistemas e atividades humanas, que não só se referem a estes ecossistemas como também à saúde e bem-estar humanos.

A ecologia é o estudo do “Lar Terrestre (deriva do grego oikos). É a ciência das relações entre os membros desse lar: animais, plantas, microrganismo e seu ambiente natural, vivo ou não. A unidade básica, o ecossistema, é definido como “uma comunidade de diferentes espécies em uma determinada área, interagindo com seu ambiente não vivo, ou abiótico 9ar, minerais, agua, luz solar, etc.) e com seu ambiente vivo, ou biótico (isto é, com outros membros da comunidade). O ecossistema, então, consiste em uma comunidade biótica e seu ambiente físico.”

Com isso, observa-se que a ecologia e o pensamento sistêmico estão ligados desde o início.  No âmbito da ecologia, inúmeros conceitos foram desenvolvidos que inspiram a concepção das redes de organismos interligados, a teia da vida. Entre eles, cadeias e ciclos alimentares que somaram uma perspectiva dinâmica e conceitos seguintes como fluxos de energia e nicho ecológico, ciclos, sucessão ecológica.

Contudo nas ultimas décadas o estudo sobre os ecossistemas se difundiu. Atualmente diferentes tamanhos de ecossistemas são reconhecidos, que abragem troncos apodrecidos e oceanos. De maneira ampla os biomas, comunidades de plantas e animais que se estendem por quilômetros, também fazem perto das atuais concepções ecológicas. Entre os terrestres estão: tundra; floresta tropicais, temperadas e de coníferas; savana tropical; pastagem temperada; chaparral; e desertos. Os biomas fazem parte de uma unidade ecológica maior, a biosfera, que acoplada às rochas, aos oceanos e à atmosfera formam um sistema planetário autoregulador.

Com base netes conceitos surgiram vários ramos da ecologia: ecologia populacional; ecologia evolutiva; ecologia de comunidades; ecologia da conservação; ecologia humana; e a ecologia global. No contexto da visão sistêmica o autor destaca a ecologia dos ecossistemas e a ecologia humana.

A primeira, também denominada de ecologia sistêmica, é o estudo dos ecossistemas de forma integrada. Baseado nas características sistêmicas básicas da vida biológica, Capra apresenta como este ramo influencia a visão sistêmica. As três primeiras características, resumidamente: sistema aberto com estrutura dissipativa, auto-organização e dinâmica, foram facilmente aplicados no estudo das estruturas e processos ecossistêmicos, entretanto, as 3 caracteristicas seguintes, relativas a autopoiese (operacionalmente fechada, autogeradora e interações cognitivas), permanecem em aberto.

Conforme Maturana e Varela o conceito de autopoiese deve restringir-se à descrição de redes celulares, já o conceito de “fechamento operacional” poder-se-ia ser aplicado à outros sistemas vivos. Para Capra a vida biológica “pode ser considerada como um sistema de sistemas autopoiéticos engrenados uns aos outros”.

Ainda sabemos pouco sobre as redes ecológicas para garantir que sejam autopoiéticas, se isso ocorre e como ocorre são questões em aberto. Os ecossistemas possuem diferentes fronteiras: a atmosfera, o solo, os patches, etc. Não está claro ainda qual a fronteira destes sistemas para concluir se se possuem ciclos de feedback autogeradores.

O sistema Gaia apresenta mais evidencias autopoiéticas do que outros. Os ciclos de feedback autogerador são nítidos nos processos metabólicos da biosfera onde as bactérias e os gases, principalmente o CO2 têm papel fundamental para a regulação da temperatura terrestre. O autor afirma que nesta visão, a teia microbiana pode ser considerada como um sistema cognitivo.

Indicadores apontam que a Terra está passando pela sexta extinção em massa, mas desta vezo fator é inédito: uma espécie está provocando o fenômeno e esta espécie é a humana. Por isso, a sustentabilidade emerge como uma questão central para Gaia. Inúmeras definições da palavra surgiram como norteadores morais, mas é preciso uma definição operacional que alavanque a implantação da sustentabilidade ecológica a partir de comunidades já existentes.

Capra propõe a seguinte definição operacional de sustentabilidade: planejar uma comunidade humana de tal maneira que suas atividades não interfiram na capacidade inerente da natureza sustentar a vida”. Essa definição explicita a importância primordial de compreendermos como a natureza sustenta a vida.

A alfabetização ecológica propõe que aprendamos com os ecossistemas a sermos sustentáveis. Neste cenário, a sabedoria da natureza é essencial. Os princípios de organização naturais orientam a construção das comunidades humanas sustentáveis: interdependência para compreender as relações, natureza cíclica (feedback) para reduzir ou zerar produção de resíduos), aproveitamento de energia solar, cooperação generalizada para a formação de parcerias, flexibilidade para adaptar-se a condições mutáveis e retornar aos equilíbrio e a diversidade para propiciar a resiliência e a recuperação também diante das condições mutáveis.

A educação ecológica é o passo para a sobrevivência humana diante das mudanças climáticas atuais, por isso cada vez mais faz parte das escolas e universidades. Nos exemplos de Capra, nota-se que a dimensão emocional, promovida pela arte, a experimentação e a interdisicplinaridade são os caminhos por onde ela se concretiza nestes ambientes.

 

Capítulo 17: Ligando os pontos.

 

Os principais problemas do nosso tempo estão interconectados e são interdependentes, portanto não devem ser entendidos isoladamente. Porém o que observamos hoje é uma crise de percepção, na qual as pessoas mantém um cisão de mundo ultrapassada, incoerente com a drástica realidade de um mundo superpovoado e materialista.

A crença cega no crescimento ilimitado impacta o nosso ambiente natural e o bem estar humano. O crescimento populacional, corporativo e econômico produz nossos principais problemas, entre eles o consumo excessivo, a erosão do solo, o desmatamento, a escassez de água, as mudanças climáticas, o derretimento do gelo, etc.

Se observarmos, todos estes processos estão interconectados entre eles e com nossas escolhas individuais diárias. Eles estão dilacerando a vida na Terra e ameaçam a existência da civilização. Uma das causas originais, a obsessão pelo crescimento econômico ilimitado enfrenta atualmente três barreiras: esgotamento de recursos naturais, proliferação de impactos negativos e a barreira financeira desencadeada pelos dois primeiros.

Este formato de crescimento ainda é suportado por indicadores inadequados e ultrapassados, como o PIB, que remontam a ideia de um crescimento exclusivamente material e desequilibrado.

No entanto, o crescimento é uma característica natural da vida, por isso o autor sugere uma nova concepção, a de crescimento qualitativo. Esta mudança pode ser observada nas ciências com o crescimento aumento de pesquisas qualitativas com ênfase na complexidade. Esta nova versão econômica implicam no surgimento de um novo modelo de avaliação com base em indicadores também qualitativos de pobreza, saúde, educação, inclusão social, etc.

Neste contexto, outro termo que precisa ser reavaliado, o de desenvolvimento sustentável, porque após o a segunda metade do século XX tem sido usado no sentido economicista materialista. Tanto que, os países considerados desenvolvidos seguem os padrões industriais do Norte. Junto com a palavra “sustentável” torna-se um oximoro.

Em contrapartida, o conceito de desenvolvimento biológico inclui o crescimento qualitativo e quantitativo. Esta perspectiva reconhece o desenvolvimento como um processo criativo que aumenta as capacidades do indivíduo. A diversidade cultura em conjunto com a mobilização de recursos locais para satisfazer as necessidades locais promovem o desenvolvimento sustentável qualitativo. 

Para alavancar o conceito de crescimento econômico qualitativo é necessário diferenciar o que é o mau crescimento e o que é o bom crescimento. O primeiro baseia-se esgota os recursos e degrada os ecossistemas terrestres, o segundo envolve energias renováveis não produz resíduos e restaura os ecossistemas.

Outra forma de qualificar o crescimento econômico é a mudança de percepção, de uma sociedade baseada em produtos para serviços, ou seja, a “desmaterialização”. Isso requer mudanças não apenas nos níveis sociais e econômicos, mas individuais, onde a satisfação material será substituída pela satisfação nas relações humanas.

Também é preciso superar as raízes ideológicas que glorificam o consumo material, na transformação de uma sociedade que associa a virilidade com posses materiais, baseadas em energias masculinas de competição, para uma sociedade com valores femininos, que promovem a cooperação, conservação e a comunidade, valores que felizmente já são promovidos por dezenas de movimentos e organizações populares, por exemplo o feminismo e outros movimentos ecológicos.

Essa energia feminina, cooperativa, aliada a uma sociedade baseada na oferta de serviços, com fluxos cíclicos de matéria e energia, entre outras características, indicam o importante papel da comunidade no cerne da sustentabilidade ecológica e também na realização espiritual – que supera a realização material - dos indivíduos.

Enquanto isso ainda se torna a realidade vigente, uma nova economia, a globalização, domina o nosso planeta. Este novo capitalismo, modelado pelas novas tecnologias, novas estruturas sociais, nova economia e nova cultura, tem como as principais características: atividades econômicas globais, fontes de produtividade e competitividade o conhecimento e a produção de informações, redes de fluxos financeiros.

O livre comercio, característica da globalização econômica, surgiu em meados da década de 1990 como uma grande promessa mas na realidade produziu efeitos negativos evidentes como a degradação da democracia, desintegração social, alienação e crises financeiras. 

Alguns livros foram lançados para esclarecer as características dessa nova sociedade e combater a ação política da Organização Mundial do Comércio. Manuel Castells escreveu um trilogia sobre as revolucionarias tecnologias de informação e comunicação e a transformação da “sociedade industrial” para a “sociedade informacional” ou a “sociedade em rede”. A ânsia de conhecer as características e consequências da globalização continua neste início de século.

As inovações tecnológicas criaram um ambiente completamente novo após a década de 1990. Através da rede global pode-se transferir fundos entre vários segmentos da economia e vários países instantaneamente e gerenciar a complexidade.

Essas tecnológicas revigoraram e expandiram o capitalismo. O capital circula em tempo real nas redes financeiras mundiais sobre produtos cada vez mais abstratos, o que Castells chama de “cassino financeiro”. O valor embutido nessa circulação é apenas o lucro em detrimento de valores humanos e éticos.

O fato é que o cassino global não obedece a nenhuma lógica, os mercados são continuamente manipulados e transformado por computadores, que provocam uma instabilidade descontrolada. Essa nova configuração ganhou dimensões desconhecidas e altamente complexas que culminaram na crise do credito em 2008-2009 e mais recentemente o escândalo LIBOR, com impactos nas economias nacionais.

 Embora o fenômeno da globalização tenha muitas das características sistêmicas, como as complexas interações, ciclos de feedback,  fenômenos emergentes, criatividade, adaptabilidade, capacidade cognitiva, falta-lhe a propriedade de estabilidade. Os circuitos de informação operam num velocidade e variedade de fontes que geral turbulências incontroláveis. É preciso a desenvolver e implantar políticas econômicas adequadas e mecanismos reguladores na economia global.

A trilogia literária de Castells apresenta uma analise dos impactos socoais e culturias do capitalismo global, onde as realidades virtuais e físicas separam no tempo e espaço o capital da mão de obra, as comunicações eletrônicas e o tempo da vida cotidiana. A mao de obra genérica foi banalizada, só há espaço, nessa econômica, para a mao de obra autodidata, produtora de informação e conhecimento.

As desigualdades sociais se acentuam rapidamente, os interesses corporativos avançam sobra a ação política, surgem revoltas populares, os impactos negativos sobre o ambiente natural se multiplicam, há indícios de esgotamento dos recursos naturais e destruição do meio ambiente no mundo todo em favorecimento da importação e exportação que mantem o mercado global. Chegamos ao ponto em que as mudanças climáticas ameaça a vida humana na terra, e que medidas drásticas devem ser tomadas para evitar uma catástrofe. 

Porem os lobbies, sobretudo os dos combustíveis fosseis, financia campanhas de manipulação popular e se opõe ativamente a construção de uma legislação sobre as mudanças climáticas. A principal preocupação destas empresas é a redução de emissão de CO2. 

A forma atual da globalização econômica foi planejada e, portanto, pode ser remodelada. A conduta humana, alinha á consciência de pertencimento comunitário, inspira o ressurgimento de uma ética global. As dimensões biológicas, cognitivas e sociais devem, do ponto de vista sistêmico, devem ser respeitadas. A comunidade humana sustentável interage com outras comunidades – humanas e não humanas – de maneira equilibrada.

Uma rede de centenas de ONGs emerge no meio da crise, entre elas a Coalização de Seattle. Elas utilizam as tecnologias para a mobilização social para combater o avanço dos atuais grupos econômicos e difundem valores da dignidade humana, da sustentabilidade econômica e propostas concretas para reestruturar as instituições financeiras. Junto a elas, cada vez mais a sociedade civil se organiza para contribuir com um novo modelo de globalização, com foco nas relações sociais e políticas. 

 

Capítulo 18: Soluções sistêmicas

No mundo há dezenas de instituições de pesquisase de aprendizagem, compostas por estudiosos e ativistas, que se dedicam a um arcabouço de valores comuns compartilhados dentro de uma variedade de projetos e campanhas, distribuídas dentro de quatro clusters: remodelação de regras governamentais e instituições da globalização; intensificação da percepção popular sobre a crise ambiental e catalisar lideranças; iniciativas de oposição aos alimentos geneticamente modificados e promoção da agricultura familiar; e iniciativas de aplicação do ecoplanejamento nas estruturas locais.

No final da década de 1990, as principais ONGs da Coalização de Seattle, em parceria com outras instituições formaram uma “Força-Tarefa Alternativa”. Conforme seus relatórios e eventos, apresentam um conjunto de valores e princípios alternativos, como governos sociais, favorecimento local, soberania alimentar, direitos humanos, respeito a diversidade cultural, etc. Essas alternativas não se opõem ao, comercio global, mas apontam para a construção de comunidades saudáveis e sustentáveis.

A descentralização do poder é o pano de fundo neste novo cenário global, onde um sistema pluralista de organizações regionais e internacionais flui mais adequadamente com o mundo de hoje.

Outra necessidade refere-se a reforma da corporação e para isso é preciso promover mudanças estruturais nelas de forma que o lucroa qualquer custo, e da concentração de riqueza, sejam expelido da cultura organizacional por meio de uma legislação ética que inclua o bem estar dos funcionários, da comunidade local e de outras partes interessadas.

Isso afeta também às propriedades. Inspirado no livro de Marjorie Kelly, o replanejamento de propriedade tem a finalidade de criar e manter condições para o florescimento de comunidades humanas e ecológicas, denominadas de “propriedades geradoras”, para combater o atual modelo onde as propriedades extrativistas fortalecem a busca pelo crescimento ilimitado. Essa nova configuração de propriedades emergentes está sendo produzida por comunidades auto organizadores com capacidade de remodelar a arquitetura econômica fundamental nos níveis do propósito organizacional e da estrutura.

A energia é essencial para a civilização moderna, mas esse massivo uso é um fenômeno relativamente recente. A revolução Industrial, no século XVIII alavancou o suo de carvão e posteriormente da pesquisa e descoberta de novas formas de energia, derivadas de combustíveis fosseis.

A atual demanda de energia se esbarra com uma crise econômica e energética sem precedentes. O crescimento ilimitado ameaça nossas reservas de carvão, petróleo, gás natural e outros minerais como agua, cobre, aço e etc.  Nosso modelo de produção de energia esgota os recursos naturais, produz resíduos e polui o meio ambiente, é portanto inviável. A exploração dos recursos naturais se aproxima do limite técnico e amenta o risco de acidentes graves.

Neste contexto, é urgente a busca por soluções sistêmicas. Ainda que várias pesquisas sejam desenvolvidos, é fundamental uma mudança na percepção de líderes empresariais e políticos para implanta-las. Enquanto isso, uma serie de campanhas publicitarias iludem a opinião pública de que as coisas vão bem, os riscos são pequenos, e também sobre solução que na verdade não são soluções e podem agravar a crise de maneira incalculável, como no caso na energia nuclear.

Capra apresenta 7 verdades inconvenientes sobre a energia nuclear. Além dos riscos à saúde e a segurança, a geração de gases do efeito estufa, o alto custo e as dificuldade na construção e segurança dos reatores nucleares, e além de tudo, o fato de sua fonte ser um recurso natural não renovável, o urânio, tornam a energia nuclear uma opção incoerente. Ainda assim as campanhas de marketing conseguem manipular a opinião publica a favor dela.  O acidente nuclear em Fukushima (2011) é hoje o principal fator que impede o avanço da inciativas em prol desta energia.

As solução para a crise enérgica são sistêmicas e estão alinhavadas com as soluções da crise econômica: qualificação do crescimento econômico, fortalecimento da comunidade, redefinição do desenvolvimento, mudança corporativa estrutural, planejamento de novas formas de propriedade. A tarefa de transição para o uso de energias sem combustíveis fosseis é urgente e felizmente, tecnologicamente e economicamente possível.

Organizações e indivíduos tem se esforçado para contribuir com essa transição, como o ex-vice-presidente Al Gore, 350.org, Sierra Club.  O carvão, o petróleo e o gás natural são os principais alvos deste combate. As evidencias comprovam de que é possível mudar se houver um planejamento adequado de uma transição para novos sistemas de energia.

O Plano B, proposto por Lester Brown, busca a estabilização do clima, para isso propõe ações sinérgicas baseadas em tecnologias existentes. O autor apresenta exemplos bem-sucedidos e um orçamento para cada proposta. Os três principais componentes – interligados - do plano são: erradicação da pobreza e a estabilização da população, a estabilização do clima, e a restauração dos ecossistemas da Terra.

Com relação a erradicação da pobreza e a estabilização da população, o autor sugere principalmente o financiamento de programas na educação e na saúde, e sobre a segunda questão, afirma de que já estamos no caminho da taxa de crescimento populacional zero. Para a estabilização do clima, o principio apontado pelo autor é a redução de 80% das emissões de carbono até 202, para isso é preciso aumentar a área florestada e a eficiência enérgica e desenvolver fontes de energia renováveis (como as usinas eólicas). O terceiro componente, a restauração dos ecossistemas da Terra, inclui a reciclagem de papel, projetos de plantio de arvores, e a restauração de viveiros de peixes.

O Plano B também apresenta propostas de planejamento urbano. A “ecocidade” ou “ecometrópole” implica a criação de ´parques, ciclovias, zonas sem automóveis, reestruturação do transporte público, replantio de arvores, redução de uso da agua urbana, etc. neste sentido, o plano também afeta a restruturação nas políticas nacionais, uma das chaves para isso é a mudança no sistema fiscal, a redução de impostos sobre o trabalho e aumento das taxas de atividades ambientalmente destrutivas, para refletirem melhor seus custos reais. Este certamente é um processo gradual, mas Brown apresenta que temos tecnologias, conhecimento e dinheiro necessários.

Outra estratégia para superar a utilização dos combustíveis fosseis foi apresentada por AmoryLovins e seus colegas, denominada “Reinventando o Fogo”. Apesar de cobrir uma boa parte do plano B, a abordagem é diferente, baseada na estratégia de replanejar os sistemas de energia orientada pela garantia de uma eficiência energética. Através do RockyMontainInstitute, os pesquisadores criam soluções inovadoras para as empresas. A abordagem da equipe é sistêmica e não linear, e por isso muitas vezes ainda é incompreendida por empresários. Desta forma replanejamento integra 4 setores: transporte, edifícios, indústria e energia elétrica.

No setor de transporte, o conceito de hipercarro implica no desenvolvimento de carros que funcionam sem petróleo ou gás natural, com base em três inovações: estrutura de aço (menos peso), eficiência aerodinâmica, impulso hibrido para acioná-los. Os carros híbridos podem usar gasolina ou várias outras opções mais limpas, como o hidrogênio separado da agua. A revolução automotiva está em progressão, e espera-se que torne estes carros acessíveis a todos e que alavanque uma série de outras mudanças nos padrões de produção e consumo. 

Paralelamente, o replanejamento do sistema elétrico orienta para um aumento na produtividade enérgica além nos carros, nos edifícios e na indústria com base numa mudança física estrutural na construção e nas atividades. Nesse contexto a mudança de utilização de combustíveis fosseis para energia eólica e solar também é fundamental.

Essas mudanças devem proporcionar a construção de uma “rede inteligente” de comunicação, que apresentam, além de outras vantagens como aumento de produtividade, a finalidade de descentralizar a rede elétrica com o uso, por exemplo, de células fotovoltaicas solares, pequenas usinas eólicas e etc.

A terceira estratégia, lançada por Jeremy Rifkin, tem como principais elementos fontes de energia renováveis, entre eles o hidrogênio é a principal. O foco de Rifkin e sua equipe é a parceria com agencias do governo para a transição dos sistema energético. Essas fontes de energia combinadas com a internet propiciaram a autonomia individual para a energia ser criadas e compartilhadas nos lares, escritórios e fabricas. O autor chama essa visão de “Terceira Revolução industrial”.

É possível identificar uma serie de elementos comuns e transcendentais nas três estratégias delineadas por grandes pesquisadores. Formação de redes, aumento de democracia, geração de energia com recursos renováveis, reestruturação de moradias, escritórios, industrias e transportes. Os três cenários são permeados pala visão sistêmica e percepção ecológica, e também se complementam.

No âmbito da agricultura, novas técnicas ecológicas estão se desenvolvendo para acompanhar essas mudanças sociais e ecológicas. Assim como as outras atividades industriais e a utilização de energia com base em recursos não renováveis, a agricultura industrial, principalmente a partir da década de 1960, tornou-se insustentável. A Revolução Verde alavancou a monocultura, que esgota e contamina os solos e ameaça à saúde humana. Também contribuiu para o aumento da mecanização da agricultura, do consumo de combustíveis não renováveis e para o êxodo rural.

A engenharia genética na agricultura desenvolveu-se a partir da década de 1990, com a promessa de que sanaria os problemas da saúde da agricultura química e da ameaça a falta de alimentos. Assim como nos outros setores como combustíveis e energias poluentes, foram criadas campanhas de manipulação pública. O que está por trás da biotecnologia são interesses com fins lucrativos e não sociais e ambientais. A engrenharia genética, além de se apoderar do campo ainda apresenta inúmeros riscos incontroláveis e incalculáveis que podem afetar principalmente os países em desenvolvimento.

Atualmente grandes fusões empresarias buscam dominar a produção e distribuição dos alimentos ao redor do mundo, indústrias farmacêuticas, agroquímicas e biotecnológicas participam desses conglomerados gigantes. Pesquisas recentes apontaram que as sementes modificadas não aumentam significativamente os rendimentos das culturas. A biotecnologia inclusive pode, a longo prazo, agravar a falta de alimentos.

Em contrapartida, a agroecologia, ou agricultura orgânica, se expande ao redor do mundo e se apresenta como uma alternativa viável e sustentável. O cultivo orgânico baseia-se amis em conhecimento do insumos genéticos ou biotecnologia. Este modelo de agricultura é orientado por princípios ecológicos. Os agricultores criam e mantem um sistema complexo. A cultura de alimento é diversificada e o combate a praga é equilibrado pelas espécies predadoras, utilizam energia solar minhocas para adubar o solo, entre outras técnicas. A pecuária pode ser aliada para enriquecer esses ecossistemas. Tudo isso contribui para a redução da pobreza e inclusão social e para a resiliência ambiental diante dos eventos climáticos.

Essas práticas agroecológicas não são novas. Elas são fundamentadas nas tradições camponesas e nos conhecimentos indígenas e vem sendo fortalecida por iniciativas desenvolvidas pelas ONGs, centros de pesquisas e organizações de agricultores. Felizmente, o renascimento dessa agricultora e a conscientização da opinião pública é crescente.

A alfabetização ecológica é essencial para a implementação das soluções sistêmicas apresentadas por Capra e para o avanço do ecoplanejamento. O planejamento ecológico “é o entrosamento cuidadoso dos propósitos humanos com os padrões e fluxos mais amplos do mundo natural, e o estudo desses padrões e fluxos para que eles informem a ação humana”.  Este modelo de planejamento segue princípios que sustentam a teia da vida. Existe também uma mudança profunda mudança implícita: nossa relação com a natureza passa de extração para aprendizado e cooperação.

Por fim, Capra introduz alguns exemplos nas áreas de incorporação de nutrientes e reciclagem de resíduo no planejamento industrial – case ZERI; e na aplicação de princípios de ecoplanejamento no ambiente da construção de edifícios e cidades – sistemas modernos de iluminação e case Curitiba.

A biomimética (“imitação da vida”) é um ramo do ecoplanejamento desenvolvido recentemente por Janine Benyuscoma finalidade de planejar estruturas e processos específicos inspirados na natureza. Neste campo, inúmeras pesquisas fascinantes estão sendo desenvolvidas para o desenvolvimento de tecnologias bioinspiradas. A ideia central não é nova, Leonardo da Vinci e Francis Bacon  defendiam a ideia de usar a natureza como mentora. Os praticantes modernos da biomimética ampliar os campos de aplicação dos seus princípios para áreas como bioquímica e biologia molecular e com isso promovem a superação de uma abordagem de modificação genética para compreensão e utilização dos padrões genéticos complexos para novas tecnologias humanas. Através do BiomimicryInstitutee das palestras no mundo inteiro, Benyus e sua equipe alavancam o surgimento de uma série de pesquisas e iniciativas no campo.

Todos os projetos e tecnologias de ecoplanejamento descritas no livro são orientadas pelo pensamento sistêmico. Eles abordam as interdependecias e dos problemas e apontam as soluções emergentes. Nossa compreensão de mundo como uma maquina agora passa a ser, cada vez mais a compreensão do mundo como uma rede.

A revolução já está em andamento, mas ainda necessitamos de vontade política e liderança nos níveis governamental, comercial e civil de forma cooperativa. A teoria da complexidade nos inspira confiança de que, com múltiplos feedback, podemos avançar rapidamente, e em tempo hábil para a sobrevivência humana. Mas também alerta de que as instabilidades provocam colapsos que podem rompe com este processo em andamento. Diante disso o autor nos deixa uma mensagem de esperança como a alternativa mais viável e fundamental de todas. 

Juliana Clementi

Capítulo 16: A dimensão ecológica da vida.

Neste capítulo Capra apresenta a dimensão ecológica na visão sistêmica da vida. Conforme o autor, a ecologia, uma ciência fundamentalmente multidisciplinar, é extremamente importante para o destino da humanidade porque dela derivam estudos e descobertas relativas as influencias entre ecossistemas e atividades humanas, que não só se referem a estes ecossistemas como também à saúde e bem-estar humanos.

A ecologia é o estudo do “Lar Terrestre (deriva do grego oikos). É a ciência das relações entre os membros desse lar: animais, plantas, microrganismo e seu ambiente natural, vivo ou não. A unidade básica, o ecossistema, é definido como “uma comunidade de diferentes espécies em uma determinada área, interagindo com seu ambiente não vivo, ou abiótico 9ar, minerais, agua, luz solar, etc.) e com seu ambiente vivo, ou biótico (isto é, com outros membros da comunidade). O ecossistema, então, consiste em uma comunidade biótica e seu ambiente físico.”

Com isso, observa-se que a ecologia e o pensamento sistêmico estão ligados desde o início.  No âmbito da ecologia, inúmeros conceitos foram desenvolvidos que inspiram a concepção das redes de organismos interligados, a teia da vida. Entre eles, cadeias e ciclos alimentares que somaram uma perspectiva dinâmica e conceitos seguintes como fluxos de energia e nicho ecológico, ciclos, sucessão ecológica.

Contudo nas ultimas décadas o estudo sobre os ecossistemas se difundiu. Atualmente diferentes tamanhos de ecossistemas são reconhecidos, que abragem troncos apodrecidos e oceanos. De maneira ampla os biomas, comunidades de plantas e animais que se estendem por quilômetros, também fazem perto das atuais concepções ecológicas. Entre os terrestres estão: tundra; floresta tropicais, temperadas e de coníferas; savana tropical; pastagem temperada; chaparral; e desertos. Os biomas fazem parte de uma unidade ecológica maior, a biosfera, que acoplada às rochas, aos oceanos e à atmosfera formam um sistema planetário autoregulador.

Com base netes conceitos surgiram vários ramos da ecologia: ecologia populacional; ecologia evolutiva; ecologia de comunidades; ecologia da conservação; ecologia humana; e a ecologia global. No contexto da visão sistêmica o autor destaca a ecologia dos ecossistemas e a ecologia humana.

A primeira, também denominada de ecologia sistêmica, é o estudo dos ecossistemas de forma integrada. Baseado nas características sistêmicas básicas da vida biológica, Capra apresenta como este ramo influencia a visão sistêmica. As três primeiras características, resumidamente: sistema aberto com estrutura dissipativa, auto-organização e dinâmica, foram facilmente aplicados no estudo das estruturas e processos ecossistêmicos, entretanto, as 3 caracteristicas seguintes, relativas a autopoiese (operacionalmente fechada, autogeradora e interações cognitivas), permanecem em aberto.

Conforme Maturana e Varela o conceito de autopoiese deve restringir-se à descrição de redes celulares, já o conceito de “fechamento operacional” poder-se-ia ser aplicado à outros sistemas vivos. Para Capra a vida biológica “pode ser considerada como um sistema de sistemas autopoiéticos engrenados uns aos outros”.

Ainda sabemos pouco sobre as redes ecológicas para garantir que sejam autopoiéticas, se isso ocorre e como ocorre são questões em aberto. Os ecossistemas possuem diferentes fronteiras: a atmosfera, o solo, os patches, etc. Não está claro ainda qual a fronteira destes sistemas para concluir se se possuem ciclos de feedback autogeradores.

O sistema Gaia apresenta mais evidencias autopoiéticas do que outros. Os ciclos de feedback autogerador são nítidos nos processos metabólicos da biosfera onde as bactérias e os gases, principalmente o CO2 têm papel fundamental para a regulação da temperatura terrestre. O autor afirma que nesta visão, a teia microbiana pode ser considerada como um sistema cognitivo.

Indicadores apontam que a Terra está passando pela sexta extinção em massa, mas desta vezo fator é inédito: uma espécie está provocando o fenômeno e esta espécie é a humana. Por isso, a sustentabilidade emerge como uma questão central para Gaia. Inúmeras definições da palavra surgiram como norteadores morais, mas é preciso uma definição operacional que alavanque a implantação da sustentabilidade ecológica a partir de comunidades já existentes.

Capra propõe a seguinte definição operacional de sustentabilidade: planejar uma comunidade humana de tal maneira que suas atividades não interfiram na capacidade inerente da natureza sustentar a vida”. Essa definição explicita a importância primordial de compreendermos como a natureza sustenta a vida.

A alfabetização ecológica propõe que aprendamos com os ecossistemas a sermos sustentáveis. Neste cenário, a sabedoria da natureza é essencial. Os princípios de organização naturais orientam a construção das comunidades humanas sustentáveis: interdependência para compreender as relações, natureza cíclica (feedback) para reduzir ou zerar produção de resíduos), aproveitamento de energia solar, cooperação generalizada para a formação de parcerias, flexibilidade para adaptar-se a condições mutáveis e retornar aos equilíbrio e a diversidade para propiciar a resiliência e a recuperação também diante das condições mutáveis.

A educação ecológica é o passo para a sobrevivência humana diante das mudanças climáticas atuais, por isso cada vez mais faz parte das escolas e universidades. Nos exemplos de Capra, nota-se que a dimensão emocional, promovida pela arte, a experimentação e a interdisicplinaridade são os caminhos por onde ela se concretiza nestes ambientes.

 

Capítulo 17: Ligando os pontos.

 

Os principais problemas do nosso tempo estão interconectados e são interdependentes, portanto não devem ser entendidos isoladamente. Porém o que observamos hoje é uma crise de percepção, na qual as pessoas mantém um cisão de mundo ultrapassada, incoerente com a drástica realidade de um mundo superpovoado e materialista.

A crença cega no crescimento ilimitado impacta o nosso ambiente natural e o bem estar humano. O crescimento populacional, corporativo e econômico produz nossos principais problemas, entre eles o consumo excessivo, a erosão do solo, o desmatamento, a escassez de água, as mudanças climáticas, o derretimento do gelo, etc.

Se observarmos, todos estes processos estão interconectados entre eles e com nossas escolhas individuais diárias. Eles estão dilacerando a vida na Terra e ameaçam a existência da civilização. Uma das causas originais, a obsessão pelo crescimento econômico ilimitado enfrenta atualmente três barreiras: esgotamento de recursos naturais, proliferação de impactos negativos e a barreira financeira desencadeada pelos dois primeiros.

Este formato de crescimento ainda é suportado por indicadores inadequados e ultrapassados, como o PIB, que remontam a ideia de um crescimento exclusivamente material e desequilibrado.

No entanto, o crescimento é uma característica natural da vida, por isso o autor sugere uma nova concepção, a de crescimento qualitativo. Esta mudança pode ser observada nas ciências com o crescimento aumento de pesquisas qualitativas com ênfase na complexidade. Esta nova versão econômica implicam no surgimento de um novo modelo de avaliação com base em indicadores também qualitativos de pobreza, saúde, educação, inclusão social, etc.

Neste contexto, outro termo que precisa ser reavaliado, o de desenvolvimento sustentável, porque após o a segunda metade do século XX tem sido usado no sentido economicista materialista. Tanto que, os países considerados desenvolvidos seguem os padrões industriais do Norte. Junto com a palavra “sustentável” torna-se um oximoro.

Em contrapartida, o conceito de desenvolvimento biológico inclui o crescimento qualitativo e quantitativo. Esta perspectiva reconhece o desenvolvimento como um processo criativo que aumenta as capacidades do indivíduo. A diversidade cultura em conjunto com a mobilização de recursos locais para satisfazer as necessidades locais promovem o desenvolvimento sustentável qualitativo. 

Para alavancar o conceito de crescimento econômico qualitativo é necessário diferenciar o que é o mau crescimento e o que é o bom crescimento. O primeiro baseia-se esgota os recursos e degrada os ecossistemas terrestres, o segundo envolve energias renováveis não produz resíduos e restaura os ecossistemas.

Outra forma de qualificar o crescimento econômico é a mudança de percepção, de uma sociedade baseada em produtos para serviços, ou seja, a “desmaterialização”. Isso requer mudanças não apenas nos níveis sociais e econômicos, mas individuais, onde a satisfação material será substituída pela satisfação nas relações humanas.

Também é preciso superar as raízes ideológicas que glorificam o consumo material, na transformação de uma sociedade que associa a virilidade com posses materiais, baseadas em energias masculinas de competição, para uma sociedade com valores femininos, que promovem a cooperação, conservação e a comunidade, valores que felizmente já são promovidos por dezenas de movimentos e organizações populares, por exemplo o feminismo e outros movimentos ecológicos.

Essa energia feminina, cooperativa, aliada a uma sociedade baseada na oferta de serviços, com fluxos cíclicos de matéria e energia, entre outras características, indicam o importante papel da comunidade no cerne da sustentabilidade ecológica e também na realização espiritual – que supera a realização material - dos indivíduos.

Enquanto isso ainda se torna a realidade vigente, uma nova economia, a globalização, domina o nosso planeta. Este novo capitalismo, modelado pelas novas tecnologias, novas estruturas sociais, nova economia e nova cultura, tem como as principais características: atividades econômicas globais, fontes de produtividade e competitividade o conhecimento e a produção de informações, redes de fluxos financeiros.

O livre comercio, característica da globalização econômica, surgiu em meados da década de 1990 como uma grande promessa mas na realidade produziu efeitos negativos evidentes como a degradação da democracia, desintegração social, alienação e crises financeiras. 

Alguns livros foram lançados para esclarecer as características dessa nova sociedade e combater a ação política da Organização Mundial do Comércio. Manuel Castells escreveu um trilogia sobre as revolucionarias tecnologias de informação e comunicação e a transformação da “sociedade industrial” para a “sociedade informacional” ou a “sociedade em rede”. A ânsia de conhecer as características e consequências da globalização continua neste início de século.

As inovações tecnológicas criaram um ambiente completamente novo após a década de 1990. Através da rede global pode-se transferir fundos entre vários segmentos da economia e vários países instantaneamente e gerenciar a complexidade.

Essas tecnológicas revigoraram e expandiram o capitalismo. O capital circula em tempo real nas redes financeiras mundiais sobre produtos cada vez mais abstratos, o que Castells chama de “cassino financeiro”. O valor embutido nessa circulação é apenas o lucro em detrimento de valores humanos e éticos.

O fato é que o cassino global não obedece a nenhuma lógica, os mercados são continuamente manipulados e transformado por computadores, que provocam uma instabilidade descontrolada. Essa nova configuração ganhou dimensões desconhecidas e altamente complexas que culminaram na crise do credito em 2008-2009 e mais recentemente o escândalo LIBOR, com impactos nas economias nacionais.

 Embora o fenômeno da globalização tenha muitas das características sistêmicas, como as complexas interações, ciclos de feedback,  fenômenos emergentes, criatividade, adaptabilidade, capacidade cognitiva, falta-lhe a propriedade de estabilidade. Os circuitos de informação operam num velocidade e variedade de fontes que geral turbulências incontroláveis. É preciso a desenvolver e implantar políticas econômicas adequadas e mecanismos reguladores na economia global.

A trilogia literária de Castells apresenta uma analise dos impactos socoais e culturias do capitalismo global, onde as realidades virtuais e físicas separam no tempo e espaço o capital da mão de obra, as comunicações eletrônicas e o tempo da vida cotidiana. A mao de obra genérica foi banalizada, só há espaço, nessa econômica, para a mao de obra autodidata, produtora de informação e conhecimento.

As desigualdades sociais se acentuam rapidamente, os interesses corporativos avançam sobra a ação política, surgem revoltas populares, os impactos negativos sobre o ambiente natural se multiplicam, há indícios de esgotamento dos recursos naturais e destruição do meio ambiente no mundo todo em favorecimento da importação e exportação que mantem o mercado global. Chegamos ao ponto em que as mudanças climáticas ameaça a vida humana na terra, e que medidas drásticas devem ser tomadas para evitar uma catástrofe. 

Porem os lobbies, sobretudo os dos combustíveis fosseis, financia campanhas de manipulação popular e se opõe ativamente a construção de uma legislação sobre as mudanças climáticas. A principal preocupação destas empresas é a redução de emissão de CO2. 

A forma atual da globalização econômica foi planejada e, portanto, pode ser remodelada. A conduta humana, alinha á consciência de pertencimento comunitário, inspira o ressurgimento de uma ética global. As dimensões biológicas, cognitivas e sociais devem, do ponto de vista sistêmico, devem ser respeitadas. A comunidade humana sustentável interage com outras comunidades – humanas e não humanas – de maneira equilibrada.

Uma rede de centenas de ONGs emerge no meio da crise, entre elas a Coalização de Seattle. Elas utilizam as tecnologias para a mobilização social para combater o avanço dos atuais grupos econômicos e difundem valores da dignidade humana, da sustentabilidade econômica e propostas concretas para reestruturar as instituições financeiras. Junto a elas, cada vez mais a sociedade civil se organiza para contribuir com um novo modelo de globalização, com foco nas relações sociais e políticas. 

 

Capítulo 18: Soluções sistêmicas

 

No mundo há dezenas de instituições de pesquisase de aprendizagem, compostas por estudiosos e ativistas, que se dedicam a um arcabouço de valores comuns compartilhados dentro de uma variedade de projetos e campanhas, distribuídas dentro de quatro clusters: remodelação de regras governamentais e instituições da globalização; intensificação da percepção popular sobre a crise ambiental e catalisar lideranças; iniciativas de oposição aos alimentos geneticamente modificados e promoção da agricultura familiar; e iniciativas de aplicação do ecoplanejamento nas estruturas locais.

No final da década de 1990, as principais ONGs da Coalização de Seattle, em parceria com outras instituições formaram uma “Força-Tarefa Alternativa”. Conforme seus relatórios e eventos, apresentam um conjunto de valores e princípios alternativos, como governos sociais, favorecimento local, soberania alimentar, direitos humanos, respeito a diversidade cultural, etc. Essas alternativas não se opõem ao, comercio global, mas apontam para a construção de comunidades saudáveis e sustentáveis.

A descentralização do poder é o pano de fundo neste novo cenário global, onde um sistema pluralista de organizações regionais e internacionais flui mais adequadamente com o mundo de hoje.

Outra necessidade refere-se a reforma da corporação e para isso é preciso promover mudanças estruturais nelas de forma que o lucroa qualquer custo, e da concentração de riqueza, sejam expelido da cultura organizacional por meio de uma legislação ética que inclua o bem estar dos funcionários, da comunidade local e de outras partes interessadas.

Isso afeta também às propriedades. Inspirado no livro de Marjorie Kelly, o replanejamento de propriedade tem a finalidade de criar e manter condições para o florescimento de comunidades humanas e ecológicas, denominadas de “propriedades geradoras”, para combater o atual modelo onde as propriedades extrativistas fortalecem a busca pelo crescimento ilimitado. Essa nova configuração de propriedades emergentes está sendo produzida por comunidades auto organizadores com capacidade de remodelar a arquitetura econômica fundamental nos níveis do propósito organizacional e da estrutura.

A energia é essencial para a civilização moderna, mas esse massivo uso é um fenômeno relativamente recente. A revolução Industrial, no século XVIII alavancou o suo de carvão e posteriormente da pesquisa e descoberta de novas formas de energia, derivadas de combustíveis fosseis.

A atual demanda de energia se esbarra com uma crise econômica e energética sem precedentes. O crescimento ilimitado ameaça nossas reservas de carvão, petróleo, gás natural e outros minerais como agua, cobre, aço e etc.  Nosso modelo de produção de energia esgota os recursos naturais, produz resíduos e polui o meio ambiente, é portanto inviável. A exploração dos recursos naturais se aproxima do limite técnico e amenta o risco de acidentes graves.

Neste contexto, é urgente a busca por soluções sistêmicas. Ainda que várias pesquisas sejam desenvolvidos, é fundamental uma mudança na percepção de líderes empresariais e políticos para implanta-las. Enquanto isso, uma serie de campanhas publicitarias iludem a opinião pública de que as coisas vão bem, os riscos são pequenos, e também sobre solução que na verdade não são soluções e podem agravar a crise de maneira incalculável, como no caso na energia nuclear.

Capra apresenta 7 verdades inconvenientes sobre a energia nuclear. Além dos riscos à saúde e a segurança, a geração de gases do efeito estufa, o alto custo e as dificuldade na construção e segurança dos reatores nucleares, e além de tudo, o fato de sua fonte ser um recurso natural não renovável, o urânio, tornam a energia nuclear uma opção incoerente. Ainda assim as campanhas de marketing conseguem manipular a opinião publica a favor dela.  O acidente nuclear em Fukushima (2011) é hoje o principal fator que impede o avanço da inciativas em prol desta energia.

As solução para a crise enérgica são sistêmicas e estão alinhavadas com as soluções da crise econômica: qualificação do crescimento econômico, fortalecimento da comunidade, redefinição do desenvolvimento, mudança corporativa estrutural, planejamento de novas formas de propriedade. A tarefa de transição para o uso de energias sem combustíveis fosseis é urgente e felizmente, tecnologicamente e economicamente possível.

Organizações e indivíduos tem se esforçado para contribuir com essa transição, como o ex-vice-presidente Al Gore, 350.org, Sierra Club.  O carvão, o petróleo e o gás natural são os principais alvos deste combate. As evidencias comprovam de que é possível mudar se houver um planejamento adequado de uma transição para novos sistemas de energia.

O Plano B, proposto por Lester Brown, busca a estabilização do clima, para isso propõe ações sinérgicas baseadas em tecnologias existentes. O autor apresenta exemplos bem-sucedidos e um orçamento para cada proposta. Os três principais componentes – interligados - do plano são: erradicação da pobreza e a estabilização da população, a estabilização do clima, e a restauração dos ecossistemas da Terra.

Com relação a erradicação da pobreza e a estabilização da população, o autor sugere principalmente o financiamento de programas na educação e na saúde, e sobre a segunda questão, afirma de que já estamos no caminho da taxa de crescimento populacional zero. Para a estabilização do clima, o principio apontado pelo autor é a redução de 80% das emissões de carbono até 202, para isso é preciso aumentar a área florestada e a eficiência enérgica e desenvolver fontes de energia renováveis (como as usinas eólicas). O terceiro componente, a restauração dos ecossistemas da Terra, inclui a reciclagem de papel, projetos de plantio de arvores, e a restauração de viveiros de peixes.

O Plano B também apresenta propostas de planejamento urbano. A “ecocidade” ou “ecometrópole” implica a criação de ´parques, ciclovias, zonas sem automóveis, reestruturação do transporte público, replantio de arvores, redução de uso da agua urbana, etc. neste sentido, o plano também afeta a restruturação nas políticas nacionais, uma das chaves para isso é a mudança no sistema fiscal, a redução de impostos sobre o trabalho e aumento das taxas de atividades ambientalmente destrutivas, para refletirem melhor seus custos reais. Este certamente é um processo gradual, mas Brown apresenta que temos tecnologias, conhecimento e dinheiro necessários.

Outra estratégia para superar a utilização dos combustíveis fosseis foi apresentada por AmoryLovins e seus colegas, denominada “Reinventando o Fogo”. Apesar de cobrir uma boa parte do plano B, a abordagem é diferente, baseada na estratégia de replanejar os sistemas de energia orientada pela garantia de uma eficiência energética. Através do RockyMontainInstitute, os pesquisadores criam soluções inovadoras para as empresas. A abordagem da equipe é sistêmica e não linear, e por isso muitas vezes ainda é incompreendida por empresários. Desta forma replanejamento integra 4 setores: transporte, edifícios, indústria e energia elétrica.

No setor de transporte, o conceito de hipercarro implica no desenvolvimento de carros que funcionam sem petróleo ou gás natural, com base em três inovações: estrutura de aço (menos peso), eficiência aerodinâmica, impulso hibrido para acioná-los. Os carros híbridos podem usar gasolina ou várias outras opções mais limpas, como o hidrogênio separado da agua. A revolução automotiva está em progressão, e espera-se que torne estes carros acessíveis a todos e que alavanque uma série de outras mudanças nos padrões de produção e consumo. 

Paralelamente, o replanejamento do sistema elétrico orienta para um aumento na produtividade enérgica além nos carros, nos edifícios e na indústria com base numa mudança física estrutural na construção e nas atividades. Nesse contexto a mudança de utilização de combustíveis fosseis para energia eólica e solar também é fundamental.

Essas mudanças devem proporcionar a construção de uma “rede inteligente” de comunicação, que apresentam, além de outras vantagens como aumento de produtividade, a finalidade de descentralizar a rede elétrica com o uso, por exemplo, de células fotovoltaicas solares, pequenas usinas eólicas e etc.

A terceira estratégia, lançada por Jeremy Rifkin, tem como principais elementos fontes de energia renováveis, entre eles o hidrogênio é a principal. O foco de Rifkin e sua equipe é a parceria com agencias do governo para a transição dos sistema energético. Essas fontes de energia combinadas com a internet propiciaram a autonomia individual para a energia ser criadas e compartilhadas nos lares, escritórios e fabricas. O autor chama essa visão de “Terceira Revolução industrial”.

É possível identificar uma serie de elementos comuns e transcendentais nas três estratégias delineadas por grandes pesquisadores. Formação de redes, aumento de democracia, geração de energia com recursos renováveis, reestruturação de moradias, escritórios, industrias e transportes. Os três cenários são permeados pala visão sistêmica e percepção ecológica, e também se complementam.

No âmbito da agricultura, novas técnicas ecológicas estão se desenvolvendo para acompanhar essas mudanças sociais e ecológicas. Assim como as outras atividades industriais e a utilização de energia com base em recursos não renováveis, a agricultura industrial, principalmente a partir da década de 1960, tornou-se insustentável. A Revolução Verde alavancou a monocultura, que esgota e contamina os solos e ameaça à saúde humana. Também contribuiu para o aumento da mecanização da agricultura, do consumo de combustíveis não renováveis e para o êxodo rural.

A engenharia genética na agricultura desenvolveu-se a partir da década de 1990, com a promessa de que sanaria os problemas da saúde da agricultura química e da ameaça a falta de alimentos. Assim como nos outros setores como combustíveis e energias poluentes, foram criadas campanhas de manipulação pública. O que está por trás da biotecnologia são interesses com fins lucrativos e não sociais e ambientais. A engrenharia genética, além de se apoderar do campo ainda apresenta inúmeros riscos incontroláveis e incalculáveis que podem afetar principalmente os países em desenvolvimento.

Atualmente grandes fusões empresarias buscam dominar a produção e distribuição dos alimentos ao redor do mundo, indústrias farmacêuticas, agroquímicas e biotecnológicas participam desses conglomerados gigantes. Pesquisas recentes apontaram que as sementes modificadas não aumentam significativamente os rendimentos das culturas. A biotecnologia inclusive pode, a longo prazo, agravar a falta de alimentos.

Em contrapartida, a agroecologia, ou agricultura orgânica, se expande ao redor do mundo e se apresenta como uma alternativa viável e sustentável. O cultivo orgânico baseia-se amis em conhecimento do insumos genéticos ou biotecnologia. Este modelo de agricultura é orientado por princípios ecológicos. Os agricultores criam e mantem um sistema complexo. A cultura de alimento é diversificada e o combate a praga é equilibrado pelas espécies predadoras, utilizam energia solar minhocas para adubar o solo, entre outras técnicas. A pecuária pode ser aliada para enriquecer esses ecossistemas. Tudo isso contribui para a redução da pobreza e inclusão social e para a resiliência ambiental diante dos eventos climáticos.

Essas práticas agroecológicas não são novas. Elas são fundamentadas nas tradições camponesas e nos conhecimentos indígenas e vem sendo fortalecida por iniciativas desenvolvidas pelas ONGs, centros de pesquisas e organizações de agricultores. Felizmente, o renascimento dessa agricultora e a conscientização da opinião pública é crescente.

A alfabetização ecológica é essencial para a implementação das soluções sistêmicas apresentadas por Capra e para o avanço do ecoplanejamento. O planejamento ecológico “é o entrosamento cuidadoso dos propósitos humanos com os padrões e fluxos mais amplos do mundo natural, e o estudo desses padrões e fluxos para que eles informem a ação humana”.  Este modelo de planejamento segue princípios que sustentam a teia da vida. Existe também uma mudança profunda mudança implícita: nossa relação com a natureza passa de extração para aprendizado e cooperação.

Por fim, Capra introduz alguns exemplos nas áreas de incorporação de nutrientes e reciclagem de resíduo no planejamento industrial – case ZERI; e na aplicação de princípios de ecoplanejamento no ambiente da construção de edifícios e cidades – sistemas modernos de iluminação e case Curitiba.

A biomimética (“imitação da vida”) é um ramo do ecoplanejamento desenvolvido recentemente por Janine Benyuscoma finalidade de planejar estruturas e processos específicos inspirados na natureza. Neste campo, inúmeras pesquisas fascinantes estão sendo desenvolvidas para o desenvolvimento de tecnologias bioinspiradas. A ideia central não é nova, Leonardo da Vinci e Francis Bacon  defendiam a ideia de usar a natureza como mentora. Os praticantes modernos da biomimética ampliar os campos de aplicação dos seus princípios para áreas como bioquímica e biologia molecular e com isso promovem a superação de uma abordagem de modificação genética para compreensão e utilização dos padrões genéticos complexos para novas tecnologias humanas. Através do BiomimicryInstitutee das palestras no mundo inteiro, Benyus e sua equipe alavancam o surgimento de uma série de pesquisas e iniciativas no campo.

Todos os projetos e tecnologias de ecoplanejamento descritas no livro são orientadas pelo pensamento sistêmico. Eles abordam as interdependecias e dos problemas e apontam as soluções emergentes. Nossa compreensão de mundo como uma maquina agora passa a ser, cada vez mais a compreensão do mundo como uma rede.

A revolução já está em andamento, mas ainda necessitamos de vontade política e liderança nos níveis governamental, comercial e civil de forma cooperativa. A teoria da complexidade nos inspira confiança de que, com múltiplos feedback, podemos avançar rapidamente, e em tempo hábil para a sobrevivência humana. Mas também alerta de que as instabilidades provocam colapsos que podem rompe com este processo em andamento. Diante disso o autor nos deixa uma mensagem de esperança como a alternativa mais viável e fundamental de todas. 

Juliana Clementi

16. A Dimensão Ecológica da Vida.

Bem como sabemos, plantas e animais dependem um do outro para sobreviver. A vida é propriedade dos planetas, e não de organismos individuais. Ecologia: estudo das relações e influências entre membros do Lar Terrestre. Ecossistema interagindo com ambiente abiótico e biótico. Por isso a importância deste tema.

Ecologia originou-se no fim do séc. XIX, fundamentou temas como bioesfera, ecossistema, ambiente natural e comunidade ecológica (rede de organismos vivos). Além da relação alimentar na rede, mais tarde, Charles Elton demonstrou o fluxo de energia e matéria entre seres. Raymond Lindeman criou a noção de níveis na cadeia alimentar - nível trófico. 1: plantas verdes. 2. herbívoros, etc. A ecologia iniciou também as mudanças estruturais no sistema como um todo.

Existem ecossistemas pequenos (tronco apodrecido) quanto enormes (oceano). A maior unidade ecológica é a biosfera.

Ramos: Populacional - estrutura, distribuição espacial, crescimento e migração de populações, animais e plantas. Evolutiva - seleção natural e evolução das populações. Comunidades - interações entre espécies, compreensão e conseqüência da biodiversidade.

 

Dentro da visão sistêmica, é preciso atentar à 2 áreas: Ecologia dos ecossistemas/sistêmica e Ecologia humana. Numa visão mais recente, auto-organização são estruturas dissipativas que operam afastadas do equilíbrio. Na ecologia sistêmica, os ecossistemas não são autopoiéticos, pois somente alguns nichos biológicos aceitam tal termo. Para isso seria necessário conhecer mais os caminhos e processos que ocorrem nas redes ecológicas. Princípios básicos da ecologia: interdependência, natureza cíclica dos processos ecológicos, flexibilidade, diversidade, etc.

Os próprios processo de transformação em rede alteram os componentes da teia alimentar, e não se sabe se isto é considerado autopoiese. Como visto anteriormente "a característica do sistema autopoiético é o fato de que ele se recria continuamente dentro de uma fronteira por ele próprio construída." Nos ecossistemas há várias fronteiras (atmosfera, solo, ...).

Estamos na provável sexta era de extinção em massa. Todas as anteriores foram causadas por fenômenos naturais, a atual está sendo causada pelo homem.

p. 434 Brown, Flavin e Postel definiram sociedade sustentável como aquela que satisfaz às suas necessidades sem colocar em perigo as perspectivas das gerações futuras e não interfiram na capacidade inerente da natureza para sustentar a vida. Apesar do conceito, as definições não dizem como construir tais sociedades sustentáveis. Certa definição poderá vir dos ecossistemas da natureza, que são comunidades sustentáveis; estas que desenvolvem seus padrões de vida ao longo do tempo em interação contínua com outros sistemas vivos, humanos e não humanos. Deste modo, a sustentabilidade não significa imutabilidade. É um processo dinâmico de coevolução em vez de um estado estático.

É essencial o processo de ecoalfabetização; aprender com a natureza a como recorrer a meios sutis e/ou complexos para maximizar sua sustentabilidade. O primeiro passo é entender que uma comunidade ecológica é interdependente (teia da vida), ciente das relações - não lineares - entre os membros. Assim, uma perturbação não causará um único efeito. O ecossistema é um ambiente cíclico e aberto, onde a produção de resíduos é nula, já que o de uma espécie é consumido por outra, muito diferente de nossos sistemas lineares industriais. A parceria, cooperação e coevolção são essenciais nas comunidades sustentáveis. E nosso sistema econômico não busca esta parceria, pois está sempre à procura da lucratividade, mesmo em bens de uso comum proporcionados pela natureza.

 

A ecologia também é flexível (com teias de flutuação) e possui diversidade (muitas espécies com muitas funções, inclusive da substituição). Quanto mais complexa for a rede, mais rico será seu padrão de interconexões e mais flexível ela será (por conseqüência, mais biodiversidade estará atuando). Uma diversificada comunidade é resiliente - tem poder de recuperação.

Nossa sobrevivência dependerá de nossa alfabetização ecológica (nas escolas, políticas, casas, sociedade em geral), e precisa ser ensinada de forma multidisciplinar, intelectual e emocionalmente (artes), em projetos ecológicos concretos. Denotando também a importância da comunidade nestas ações. O currículo escolar deve ter por foco, padrões e o contexto, expressado pelas artes de maneira sistêmica. (Ex.: aprender sobre redes, ciclos e fluxos, e depois sobre sistemas aninhados, equilíbrio dinâmico/ciclos dinâmicos/ciclos de feedback e desenvolvimento). Aplica-se também ao ensino superior, com noção de pensamento sistêmico e aprendizagem interdisciplinar; denotando ativismos políticos.

17. Ligando os Pontos.

A civilização humana começou a ignorar os padrões e os processos ecológicos a partir da Rev. Industrial, ou seja, não compreendemos que as crises de: energia, meio ambiente, climáticas, alimentícia, financeira, não podem ser entendidas isoladamente, mas sim, sistemicamente interligados; interconectados. São apenas diferentes facetas de uma única crise, que ao fim, se torna uma grande crise de percepção.

Para início, a principal questão é o dilema que envolve desejo de crescimento ilimitado num planeta finito. Esse talvez seja o principal motivo da crise multifacetada global. Temos uma rede global não linear, com muitos ciclos de feedback, que proporciona equilíbrio e regularização do planeta. Na contramão, um sistema econômico que prega materialismo e ganância (sem limites). Junto com o impactante crescimento econômico, temos o crescimento corporativo (esses dois são os objetivos do capitalismo global) e o populacional. Os dois primeiros promovem o consumo excessivo e uma economia do desperdício. O último está em pleno contraste com a pobreza, pois quanto mais gente, mais necessidades naturais (Ex.: água) e menos áreas de plantio. Fora isso, muitos problemas já conhecidos, como questões inúmeras políticas, derretimento das calotas polares, alteração de marés, desmatamentos, aumento de temperaturas, escassez de combustíveis fósseis, pesca instável, etc. O sistema atual prefere alimentar a economia do que os seres humanos. Tudo que consumimos está intimamente interligado com os impactos na natureza e a nós mesmos!

Existem 3 barreiras à continuidade da expansão econômica: Esgotamento de recursos naturais, Proliferação de impactos ao meio ambiente e a barreira Financeira. Um percalço pode estar na maneira errônea com que se calculam os índices financeiros (Ex.: PIB, que exclui aspectos importantes não monetários).

A partir de uma visão sistêmica, o não crescimento pode ser uma resposta significativa. Propondo um crescimento qualitativo (crescimento que intensifica a vida), os autores Capra e Henderson colocam que se um organismo não cresce mais cedo ou mais tarde ele morre e deixa resíduos e reciclam seus componentes, que se tornam recursos para outro crescimento.

Frances Moore Lappé: "Uma vez que aquilo que chamamos de 'crescimento' é, em grande parte, resíduos, vamos chamá-lo assim! Vamos chamá-lo de uma economia de resíduos e destruição. Vamos definir crescimento como aquilo que intensifica a vida - como a geração e a regeneração - e declarar que aquilo de que o nosso planeta mais precisa é de mais do mesmo".

Indo à este encontro, a concepção de vida sistêmica promove um novo conceito científico de qualidade (objetivo e subjetivo), a qual a economia deverá ser normatizada.

Crescimento e desenvolvimento são termos qualitativo e quantitativo, respectivamente, e por isso estão em direção oposta. O termo desenvolvimento sustentável não denota realmente o seu sentido, já que a primeira palavra é puramente econômica. É preciso basear-se no fato de que somos partes inseparáveis da teia da vida, de comunidades humanas e não humanas, e que cada ação em qualquer delas trará reações em todas as outras.

Um organismo em desenvolvimento cresce de acordo com seu estágio de desenvolvimento. À medida que os sistemas vivos amadurecem, seus processos de crescimento mudam do quantitativo para o qualitativo.

Mas como crescer ecologicamente correto? Separando o estado econômico em Bom e Mau (eficientes e ineficientes). não somente de maneira econômica e social, mas individual, começando a partir de nós mesmos, diminuindo nosso materialismo extremo e satisfação exacerbada com o consumo, um fato que se desenvolveu a partir de uma cultura patriarcal e material, denotando virilidade, onde os homens precisam ganhar dinheiro e produzir mais do que consomem, ou seja, produção em nome da comunidade, que ao longo do tempo alterou dando-se mais importância pelo bem material de si mesmo - posse. "A grandeza de um homem é medida pela riqueza material". Gilmore. Atualmante, valores como cooperação, justa competitividade e comunidade são promovidos, embasados, também, na sabedoria chinesa do equilíbrio Yang - Yin. Daí a relação entre a percepção feminicista e sustentabilidade ecológica, onde desta relação pode surgir a uma profunda mudança de pensamentos e valores. O papel do senso comunitário na sustentabilidade é de extrema importância, pois prega-se que para ser comunidade, não precisa-se de bens e consumos, somente valores e emoções.

Com as revoluções da tecnologia e comunicação, tornou-se cada vez mais claro o conceito de globalização. Economicamente tratando, este termo - originado por países do "G7" e corporações transacionais - tem como teoria trazer riqueza e benefícios à todas as nações, mas ecológica e socialmente falando, não é o que se vê. Na verdade, nem economicamente falando o mercado é padrão/justo/lógico, pois é manipulado por estratégias, boatos e computação (apesar de algumas vezes essa manipulação ajudou a evitar crises e guerras comerciais). Um crise, como em 2008, geralmente se dá pela complexidade das informações, ou pela falta de entendimento desta complexidade. Fica claro que o sistema atualmente utilizado não é ainda compreendido e é suscetível á turbulências que podem ser devastadoras. Os modelos computacionais para análise de investimento e risco foram criados por físicos e matemáticos, porém, estes profissionais, não se fixaram, por 'n' motivos, ao fator 'comportamento humano'.

Castells foi o autor que primeiramente tratou as sociedades em rede, oriundo do conceito de sociedades da informação, que por si, é resultado da interação tecnológica entre computadores, microeletrônica e telecomunicações. Na nova economia, o capital funciona em tempo real, movendo-se rapidamente ao longo de redes financeiras globais, levando a substituição do ouro e papel-moeda por produtos financeiros abstratos (cassino financeiro). "No nível humano existencial, a característica mais alarmante da nova economia pode ser a de que ela é fundamentalmente modelada por máquinas". A questão crítica não é a tecnologia, mas a ética ("que se refere ao padrão da conduta humana que flui de um sentido de pertencer" - p.482) e a política. O único objetivo deste mercado/máquina é ganhar dinheiro. Apesar de tudo, estas redes de informação poderiam ter valores embutidos, questionando os valores e as atitudes humanas; estes que podem sempre mudar. Neste novo capitalismo global, questões éticas são sistematicamente excluídas, o foco são resultados/ganhos monetários.

"A nova economia consiste numa metarrede global de complexas interações tecnológicas e humanas, envolvendo múltiplos ciclos de feedback que operam afastados do equilíbrio, e que se produzem uma variedade interminável de fenômenos emergentes. Sua criatividade, sua adaptabilidade e suas capacidades cognitivas são, com certeza, reminiscentes das redes vivas. (...) Organismos vivos e ecossistemas também podem tornar-se continuamente instáveis, mas, se o fizerem, acabarão por desaparecer por causa da seleção natural, e apenas os sistemas que têm processos estabilizadores embutidos neles sobreviverão" (p.470).

O capital é global, a mão-de-obra é local, coexistindo em diferentes espaços e tempos. Segundo Castells, há dois tipos de trabalhadores: os genéricos, que entram e saem de qualquer emprego, que não necessitam de acesso à informação e conhecimento para atuarem, não habilitados, executam ordens, substituíveis. E a autodidata, com capacidade de alcançar níveis superiores de educação, processando informações transformando em conhecimento, por consequência, profissionais altamente valorizados. Um lado negativo desta fragmentação e individualização dos profissionais, é a desigualdade social e polarização, que proporciona uma grande lacuna entre ricos e pobres - enfatizada ainda mais nos momentos de crise. No norte-americano, uma outra conseqüência é a desintegração da democracia, pois, onde os ricos ficam mais ricos, estes, por sua vez, têm maior poder político nas ações governamentais e financeiras aplicadas à sociedade. Os planos políticos têm cada vez mais interesses corporativos. Tais padrões de controle, a partir da crise de 2008 e posterior recessão, deram início à movimentos sociais que pregaram contra esses atos de controle e monopólio, denominado, entre outros nomes, de Occupy Wall street. Foi Castells que disse que o capitalismo global não  mitiga a pobreza nem a exclusão, mas sim as agrava, além de intensificar nosso impacto sobre a biosfera; diretamente gerando diversos problemas à saúde dos humanos e/ou todos os seres.

Outra ênfase que leva á um degradante estado de consumismo e pensamento inecológico, é a exportação e a importação, onde países têm que esgotar recursos naturais próprios e de outros para produção de bens e alimentos, agravando ainda mais a destruição ambiental. Não produzir localmente trás mais emissão de CO², pois é necessário que os produtos cheguem a estas regiões de alguma forma. Produzir demais compromete os recursos naturais, além do risco de que qualquer alteração climática poderá afetar a produção e o consumo destas áreas e seus importadores. "(...) os recursos se movem dos pobres para os ricos, e a poluição se move dos ricos para os pobres" (Shiva, 2000). Conforme Edward Goldsmith (1996), se os países de Terceiro Mundo chegar ao patamar de consumo dos EUA, não conseguiríamos conceber tal padrão de consumo.

O mais grave dos problemas gerados pelo capitalismo global é o da mudança climática, que ameaça a própriva vida na terra. É um campo científico bem fundamentado, e que "aconselha ao  mundo" uma redução, até 2020, de 80% do CO² emitido para maior equilíbrio da vida terrestre. O atual sistema econômico bloqueia medidas que seriam necessária à nosso meio ambiente, em função, claro, da lucratividade. Mais do que isso, maquiam publicitariamente a atual situação da crise climática. Estudos mostram que temos um limite de 565 gigatoneladas de CO² despejados na atmosfera (atualmente temos 32 gigatoneladas). Fica claro que a nova economia é insustentável e precisa ser replanejada.

"Uma vez que a concepção sistêmica de vida abrange as dimensões biológicas, cognitiva e social, os direitos humanos, de um ponto de vista sistêmico deveriam ser respeitados em todas essas dimensões". Ou seja, a capacidade ética humana anda de mãos dadas com a ecologia, desde que se adapte o pensamento sistêmico de que tudo está interconectado em redes.

"Outro mundo é possível". O lema adotado por diversas ONGs mundiais propõe mudanças que impactem o sistema financeiro e ajude a vida terrestre, alterando a natureza da globalização. Com grande capacidade de ligação por meio das tecnologias, tais organizações estão tendo papéis políticos cada vez mais fundamentais e presentes nas discussões sobre o tema. Além disso, a sociedade está adotando esta releitura do capitalismo moderno, alterando o foco de instituições formais para relações sociais e políticas - ver p.484 sobre sociedade civil.

18. Soluções Sistêmicas.

Partem das atuais organizações as iniciativas para soluções diversas de maneira incorporada e sistêmica. Elas podem ser subdivididas em 4 clusters: as que remodelam as regras governantes e as instituições de globalização; as que realizam as tarefas de intensificar a percepção de crises climáticas entre pessoas,; os que se opõem aos alimentos geneticamente modificados e o último trata sobre ecoplanejamento. Para resolver uma crise climática é preciso pensar no problema e na solução de maneira sistêmica, indo além dos combustíveis fósseis, chegando, possivelmente, às mesmas soluções da crise econômica tratadas anteriormente, pois tudo deve ser tratado como interconectado.

Mas para que a mudança eco-social e corporativa sejam sistêmicas, é preciso que cada organização e cada agente inserido nelas introduze práticas e costumes voltados à sustentabilidade, começando pelos seus líderes, que devem mudar seus ideais e estar atentos à tudo que ocorre em suas organizações subordinadas, além de reestruturar os objetivos oriundos da Revolução Industrial (lucro sem precedentes). O projeto de economia solidária pretende desfazer as raízes, até mesmo ainda inclusive feudais, presentes nas corporações atuais, além do conceito de propriedade extrativista - um dos possíveis causadores da crise multifacetada.

Há uma relação estreita entre energia (capacidade para realizar trabalho) e mudanças climáticas, pois toda modernidade incumbida nos processos industriais e comerciais desde o início da era industrial exige fornecimento contínuo de energia. Carvão, gás, petróleo e outros diversos são grandes responsáveis, ao mesmo tempo, pela grande evolução tecnológica e pelo despejamento de gases nocivos à vida terrestre, desmatamento, erosão do solo, escassez de água e extinção das espécies. Sistemicamente tratando, crescimento econômico ilimitado demanda fontes de energia inesgotáveis (algo ainda não concebido!), níveis extremos de capacidaed técnica nos processos de extração de combustíveis fósseis e encarecimento destes processos. A energia nuclear também surgiu como um possível processo limpo de geração de energia, mas logo se viu que seus custos eram caros e sua tecnologia era passível de grandes impactos biológicos em caso de acidentes, sendo esta passível de ser desativada aos poucos pois não há planos de negócios estruturados para sua continuidade.

Essas considerações evidenciam o fato de que a nossa crise de energia é uma crise sistêmica que requer soluções sistêmicas (Nader, 2010). Mas ainda é muito fraco o pensamento sistêmico iniciado nas organizações e governos. Apesar de algumas raras iniciativas eficientes - e não paliativas - os impactos gerados e as conseqüências de um futuro não muito breve são realidades certas à vida geral. A transição para a geração de energia a partir de combustíveis não-fósseis é uma questão, atualmente, extremamente política, apesar de esforços de grandes influenciadores e criadores de opinião como Al Gore e a ONG 350.org em suas campanhas pró-ecossistema.

Planos para "Salvar a Civilização" (proposto por Lester Brown, 2008): Erradicação da pobreza e estabilização (do crescimento) da população; Estabilização do clima; Extração da energia do vento; Restauração da Terra (florestas, solos, viveiros, águas); Reorientação dos orçamentos nacionais (mercado honesto); "Reinvenção do fogo" (futuro livre de combustíveis fósseis).

Projeto integrativo: O plano acima citado pode parecer abstrato, mas por ser inteiramente sistêmico e entrar em choque com o pensamento linear presente nas profissões. Amory Lovins promove o projeto integrativo onde "existe um sistema complexo com um grande número de relações entre vários componentes, otimizando todo o sistema para obtenção de múltiplos benefícios em vez de otimizar os componentes individuais para benefícios isolados" (p.524). Carros que funcionam sem petróleo, replanejamento dos sistemas elétricos junto com a transformação da rede elétrica também fazendo parte deste plano.

O "Plano B" (Brown) propõe também a transferência de impostos. A "Reinvenção do Fogo" propõe a extinção de instituições públicas corruptas e implantação de negócios inteligentes sobre as políticas públicas. Jeremy Rifkin trabalha com essas ações sustentáveis (energia renovável, hidrogênio, veículos elétricos, redes inteligentes, ...) mas voltadas diretamente à soluções a serem propostas aos governos (denotando uma possível 3ª Rev. Industrial).

Há também a insustentabilidade causada pela agricultura industrial, que, na busca por técnicas de produção mais "eficientes", que extraiam o máximo do solo e proporcionem produtos mais belos e de rápido processamento, inundam o solo e os lençóis freáticos de fertilizantes químicos e pesticidas, motivado sempre, claro, por fins lucrativos (mesmo quando o marketing é realizado para o bem humano, como por exemplo, na década de 1990 com a chegada da biotecnologia e alteração genética dos produtos agrícolas). Mesmo a tal "solução genética" pode trazer efeitos nocivos, pois são utilizados vetores para combinar elementos que tragam produtos "limpos" de imperfeições, mas justo esses vetores podem se combinar e se transformar em uma nova virologia, pois uma vez que se coloca um gene estranho no DNA de algum sistema, todo o sistema é afetado, o que é ainda muito mal conhecido pelos cientistas que trabalham para empresas de biotecnologia. O marketing criado acima disto onde se diz que tal biotecnologia ajudaria a combater a fome no mundo chega a ser criminoso, pois sabemos que não é falta de alimento, mas sim, falta de distribuição de renda, a própria distribuição de alimentos e produção, pobreza, desigualdade, enfim, é um problema político, e não técnico. Para afirmar isso, Altieri e Rosset (1999) afirmaram que sementes geneticamente modificadas não aumentam significativamente o rendimento das culturas. Uma provável solução seria a agroecologia, que propões melhorias nas técnicas de plantio, baseadas em conhecimentos ecológicos e não químicos ou genéticos (ex.: em vez de fertilizantes químicos, adubagem). Seu princípio básico é a diversificação dos sistemas de produção agrícola com incentivo da mistura de variedades de cultura de cultivo. São técnicas já utilizadas na agricultura familiar e indígena há anos, mas que, apesar da resiliência diante de extremos climáticos, vêm tomando força atualmente.

O que é proposto, na verdade, é um planejamento ecológico ou ecoplanejamento, que se volta sempre à um planejamento para a vida, que emergem dos processos de auto-organização inerentes a todos os sistemas vivos. A questão fundamental é mudar a forma de extração de recursos, pois hoje em dia nossos negócios desperdiçam a maior parte destes recursos que são retirados da natureza. Daí a configuração dos Clusters Ecológicos, que propõe o máximo de utilização de cada recurso retirado da natureza, seja uma árvore, uma semente, um fruto, etc. "Nessa visão de uma sociedade industrial sustentável, todos os produtos, materiais e resíduos serão nutrientes biológicos ou técnicos" (p. 555).

Soluções nas arquiteturas das cidades e em sua mobilidade também são passíveis de muita atenção. Prédios e obras que aproveitem o sol, o vento, o calor e a umidade para utilizar menos energia e outros recursos de utilização, estradas mais eficientes, sem congestionamentos e com bom acesso à meios que não utilizem combustíveis, ganho do senso de comunidade e cooperação, muitas vezes extinguidos pelos acessos - ou falta deles - e que fazem com que cada ser, ou família, viva somente no seu lar e não em uma comunidade, etc. Soluções inteligentes que façam com que nossa evolução esteja cada vez mais acoplada à natureza para que cada um gere menos impactos um no outro. Para conclusão, podemos mostrar um ramo novo chamado Biomimética, que propõe para as cidades soluções baseadas nos processos da natureza. Criada por Janine Benyus que partiu do pressuposto que muitos dos nossos problemas de planejamento foram resolvidos por organismos vivos e comunidades ecológicas durante bilhões de anos e como a natureza havia desenvolvido estruturas específicas e tecnologias que eram muito superiores aos nossos projetos humanos (ex.: resistência da teia de aranha, turbinas baseadas em fluxos da natureza, etc.). É uma forma sistêmica e eficiente de propor soluções à problemas sérios de causas conhecidas e soluções abstratas.

Jean C R Pereira
48-91190043

Administrador   &

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

GAIA

 

“Terra, Fogo, Vento, Água, Coração. Pela união dos seus poderes, eu sou o Capitão Planeta!”

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

( Aspectos teóricos da Ecologia. )

 

 - Concepção sistêmica da vida - dimensão ecológica. 

Concepção sistêmica da vida dimensão ecológica. 

Ecologia é inerentemente multidisciplinar (p. 422)

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Há uma forte interdependência “ecológica” da teia da vida

Há um contínuum biológico

A Unidade ecológica básica é o ecossistema

De acordo com a teoria de gaia Vida é uma propriedade dos planetas, não de organismos individuais

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Dinâmica dos Fluxos e ciclos no ecossistemas e a sucessão ecológica (Henry Cowles, 1899) (Me pareceu evolucionista)

 

Manual de Odum: divisão entre 

Ecologia da agua doce

Ecologia Marinha

Ecologia terrestre

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Características sistêmicas da vida biológica:

1. Um  sistema  vivo  e  material  é  energeticamente  aberto;  e  uma  estrutura  dissipativa,  operando  afastada  do  equilibrio.  Há um  fluxo  continuo  de  energia e  matéria  atravessando  o  sistema. (p. 426)

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Características sistêmicas da vida biológica:

2)  E  auto-organizadora,  sendo  a  sua  estrutura  continuamente  organizada  pelas

próprias  regras  internas  do  sistema.

3)  Sua  dinâmica  e  não  linear  e  pode  incluir  a  emergência  de  uma  nova  ordem em  pontos  de  instabilidade  crítica.

4)  É  operacionalmente  fechada  -  uma  rede  autopoietica,  limitada  por  fronteira.

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Características sistêmicas da vida biológica:

(5)  É  autogeradora;  cada  componente  ajuda  a  transformar  e  a  substituir  outros

componentes,  inclusive  os  de  sua  fronteira  semipermeável.

(6)  Suas  interações  com  o  meio  ambiente  são  cognitivas  -  isto  é,  determinadas

por  sua  própria  organização  interna.

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Características sistêmicas da vida biológica:

Fonte de energia = Sol

Resíduos = energia térmica e respiração 

Ecossistemas são estruturas dissipativas, fora de equilíbrio, 

Há abordagens matemáticas complexas.   

Plantas absorvem material inorgânico e o transformam em orgânicos.  

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

 

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida

(p. 421-446)

 

Limites ou patchs dos ecossistêmas: há gradientes de mudanças entre cada um deles, pode ser um limite estreito e definido ou pode haver sobreposições (p.429-431)

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida (p. 421-446)

Exemplo do complexo ciclo do CO2 

Evidência de que o conceito de Gaia é autopoiético 

 

 IV -SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 16 A Dimensão ecológica da Vida (p. 421-446)

Exemplo do complexo ciclo do CO2 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA CAP. 16 

(p. 421-446)

 - Estudo  dos  ecossistemas  e  das interações do ser humano  com  eles  é  fundamental  para  a  sobrevivência  e  o  bem-estar  da humanidade no  planeta.

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA CAP. 16  (p. 421-446)

 Sustentabilidade ecológica

A vida  na  Terra  durante  os  últimos  3,8  bilhões  de  anos,  houve a  emergência  e  extinção  de  espécies - várias flutuações  dramáticas  -  as  chamadas  extinções  em  massa,  nas  quais  pereceram  mais de  50%  das  espécies  animais  (veja  G.  T.  Miller,  2007), 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA CAP. 16 

(p. 421-446)

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA CAP. 16 

(p. 421-446)

 

GAIA e o Ecossistema

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA CAP. 16  (p. 421-446)

 

Ecoalfabetização na universidade  

conscientização mais politizada, 

Ex. Redução de emissões

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 

(p. 447-485)

 

 - Os  aspectos  práticos da ecologia:  suas  implicações  tecnológicas,  sociais  e políticas.

 

 Precisamos nos tornar ecologicamente alfabetizados. 

= construir comunidades e sociedades  ecológicamente sustentáveis

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 

(p. 447-485)

 

 A interconexão dos problemas do mundo.

Os problemas estão interligados 

Ex. erosão do solo, falta de água potável  - desequilíbrio ambiental, segurança alimentar, segurança financeira

 

A interconexão dos problemas do mundo

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1  (p. 447-485)

 

 A interconexão dos problemas do mundo.

Circulo vicioso 

Consumo excessivo e desperdício vs 

Pressão demográfica e pobreza = esgotamento dos recursos naturais. 

   volta a mencionar a crise de percepção (Segundo os autores mundo superpovoado e globalmente interconectado.) 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

 A interconexão dos problemas do mundo.

 

Principais problemas apontados:

Erosão

Desmatamento

Queima de combustíveis fosseis

 (que geram outros problemas) 

 “Refugiados climáticos”, conflitos

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

Origem de todos os males: o sistema econômico baseado no crescimento perpétuo.  (p. 452-454)

“The end of growth” (HEINBERG, 2011) 

Esgotamento de recursos naturais

Impacto no ambiente pela extração dos recursos

Barreira do sistema financeiro 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

Crescimento que intensifica a vida, 

Foco no crescimento qualitativo

 

O Bom Crescimento (OECD e WWF) 

Do materialismo à comunidade - relações humanas nas sociedades. 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

Mudar o modelo de visão do mundo - cita a masculinidade associada a quantidade de bens acumulados. 

 

Redes do capitalismo Global

—> um novo capitalismo emergiu da evolução das TICS. 

Fluidez de capital 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

Compreensão do processo de Globalização 

Regras da OMC são insustentáveis —> geram desintegração social 

 

Cita a abordagem de Castells. Processo da T.I.C.s e o impacto na sociedade em rede. 

Mecanismos de extrema fluidez financeira. 

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

Como consequencia da Globalização há desigualdade econômica e social. 

Essas desigualdades desestabilizam a democracia, pois concentra o poder político nos super ricos (Castells faz uma leitura de que as máfias se estabelecem há séculos)

 

 SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 1 (p. 447-485)

 

Movimento occupy. 

Thiago S. Araujo. 
Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento - UFSC: www.egc.ufsc.br 

A Dimensão Ecológica da vida. Capra2014. Capítulo 16

Por Ranieri Aguiar.

No Capítulo 16 do livro Visão Sistêmica da Vida, Capra(2014), após fazer um olhar perspectivo sobre a dimensão biológica da vida, a dimensão cognitiva e social, o autor também propõe um arcabouço conceitual que integra essas duas três dimensões.

Nesta linha, abre-se uma quarta dimensão, a saber: a dimensão ecológica, cuja síntese é a gênese da concepção sistêmica da vida.

De fato, de acordo com a teoria Gaia, a evolução dos primeiros organismos vivos, acompanhou lado a lado a transformação da superfície do planeta desde um ambiente inorgânico até a biosfera autorreguladora...Neste sentido: “A vida é uma propriedade dos planetas, e não de organismos individuais.”

Por outro lado, a ecologia é uma ciência relativamente nova em comparação com as disciplinas tradicionais da biologia, da psicologia e da sociologia. Fato pelo qual o autor fez a opção de introduzir primeiramente as três dimensões para depois falar da dimensão ecológica.

Quanto a ecologia sistêmica, ou ecologia dos ecossistemas, está interessada no estudo dos ecossistemas como sistemas integrados e interativos de componentes biológicos e físicos. Por isso, esse ramo da ecologia, deve refletir de maneira muito explícita a visão sistêmica da vida que fora tratada em todo o livro.

Quanto a sustentabilidade ecológica, a preocupação com o meio ambiente deixou de ser uma questão isolada, e passou a pertencer a todo o contexto de qualquer discussão, seja social, política, econômica ou até mesmo religiosa.

A visão sistêmica da vida discutida nesse livro fornece uma arcabouço apropriado para a ligação conceitual entre comunidades ecológicas e humanas. Ambas são sistemas vivos exibindo princípios comuns de organização. São redes operacionalmente fechada, mas abertas a fluxos contínuos de energia e de recursos: são auto-organizadoras, operam afastados do equilíbrio e evoluem por meio de sua criatividade inerente, resultando na emergência de novas estruturas e de novas formas de ordem. Naturalmente, há muitas diferenças entre ecossistemas e comunidades humanas. Não existe auto percepção nos ecossistemas, não há linguagem, nem consciência, nem cultura, e, portanto não há justiça ou democracia, mas também não há cobiça nem desonestidade. Não podemos aprender nada sobre esses valores humanos e essas falhas provenientes dos ecossistemas. Mas o que podemos prender, e precisamos e devemos aprender com eles, é como viver de maneira sustentável. Essa sabedoria da natureza é a essência da ecoalfabetização.

Ranieri Roberth Silva de Aguiar

Ranieri Roberth Silva de Aguiar

Parte final do livro – síntese da visão sistêmica da vida e o consequente enfoque na ecologia, que leva a propostas de sustentabilidade ao final.

Sistemas que operam sem gerar resíduos que danifiquem o próprio funcionamento:

O único resíduo gerado pelo ecossistema como um todo é a energia térmica da respiração, que é irradiada para a atmosfera e reabastecida continuamente do sol por meio da fotossíntese. [p. 424]

Um princípio básico da ecologia é o reconhecimento de que os ecossistemas, corno todos os sistemas vivos, formam estruturas multiniveladas de sistemas aninhados dentro de outros sistemas. [p. 425]

Os autores retomam as características da vida:
(1) Um sistema vivo é material e energeticamente aberto; é uma estrutura dissipativa, operando afastada do equilíbrio. Há um fluxo continuo de energia e matéria atravessando o sistema.
(2) É auto-organizadora, sendo a sua estrutura continuamente organizada pelas próprias regras internas do sistema.
(3) Sua dinâmica é não linear e pode incluir a emergência de uma nova ordem em pontos ele instabilidade crítica.
(4) É operacionalmente fechada - uma rede autopoiética, limitada por fronteira.
(5) É autogeradora; cada componente ajuda a transformar e a substituir outros componentes, inclusive os de sua fronteira semipermeável
(6) Suas interações com o meio ambiente são cognitivas- isto é, determinadas por sua própria organização interna.

[p. 426]

Dinâmica dos ecossistemas= não linear; estruturas dissipativas que operam longe do equilíbrio; atratores que emergem em pontos de bifurcação.

Autopoiese dos ecossistemas – existe um problema pois o conceito de autopoiese exige a definição mais ou menos clara de um limite entre o ser e o mundo (sistema fechado):

 [...] pode-se argumentar que a atmosfera constitui uma fronteira no sentido da autopoiese. No entanto, parece discutível que essa noção possa ser aplicada a um ecossistema em particular e à porção de atmosfera acima dele; e é ainda menos evidente se um argumento semelhante pode valer para o solo entre um ecossistema terrestre e a crosta terrestre. [p. 429]

Para nos ajudar a figurar Gaia como um sistema vivo, Lovelock (1991) sugeriu uma sequoia como analogia. Conforme a árvore cresce, há somente uma fina camada de células vivas (conhecida como câmbio) em tomo de seu perímetro, logo abaixo da casca. Toda a madeira interna, mais de 97% da árvore, está morta. [...] a parte viva de Gaia é apenas uma delgada película ao redor do globo. [p. 430]

Além da ideia de sistema fechado e autopoiese, há o ciclo de Feedback entre sistemas de seres vivos (bactérias – papel elementar na auto-organização do sistema) e a regulagem de temperatura da Terra.

O papel do ser humano é autodefinido: nenhuma outra espécie provocou tantas mudanças nos sistemas de habitat, composição e clima do planeta, e é preciso diante disso repensar práticas humanas, compreendendo como seu acoplamento com essas estruturas pode se afastar do caos, a fim de evitar seu desaparecimento.

Lester Brown – desenvolvimento sustentável – preservar as capacidades para as gerações futuras satisfazerem suas necessidades também.

Comunidades sustentáveis desenvolvem seus padrões de vida ao longo do tempo em interação contínua com outros sistemas vivos, humanos e não humanos. Desse modo, a sustentabilidade não significa que as coisas não mudam. Pelo contrário, ela é um processo dinâmico de coevolução em vez de um estado estático. [p. 435]

Flexibilidade e diversidade- pensando em ecossistemas, não se pode otimizar variáveis isoladas que o compõem; ecossistemas funcionam com determinado nível de tensão, e que tensão demais prejudica seu funcionamento:

[...]a tensão ocorre quando uma ou mais variáveis do sistema são empurradas até os seus valores extremos [...] tensão temporária é um aspecto essencial da vida, mas a tensão prolongada é prejudicial e destrutiva para o sistema. [p. 439]

Importância da diversidade – os elos restantes podem reorganizar o sistema quando um é destruído, cumprindo mais ou menos a função dele. Diversidade só é uma vantagem se a comunidade estiver realmente interligada:

Se a comunidade estiver fragmentada em grupos isolados e em indivíduos, a diversidade pode facilmente se tornar uma fonte de preconceitos e de atrito. [p. 439]

O enfoque na otimização da vida humana teria reflexo negativo sobre o sistema do planeta como um todo, o que acabaria afetando a própria humanidade.

Promover a interligação – alfabetização ecológica: centros de práxis (não só teorias, mas experimentos que dão significado a elas para cada participante): Center for Ecoliteracy (nível fundamental) e Second Nature (nível superior).

Problemas da abordagem antropocêntrica da comunidade humana – ausência da visão interligada, da noção de que o ser humano está em rede com outros sistemas:

O crescimento econômico e o crescimento corporativo são os objetivos que o capitalismo global, o sistema econômico que domina atualmente, persegue. No centro da economia global, há uma rede de fluxos financeiros, que foi planejada sem o respaldo de nenhum monitoramento ético. [p. 449]

Ilusão do crescimento perpétuo – os recursos do mundo natural são finitos, pelo que alimentar a ideia de que a humanidade tem potencial infinito de produzir bens materiais na forma como produz é uma estratégia destrutiva. Em vez de ser a solução, o crescimento perpétuo (aumento de produção de bens para gerar dinheiro) é fonte de muitos dos problemas da humanidade.

Nova abordagem do crescimento: em vez de quantitativo (finanças e materialismo), qualitativo (sustentabilidade e relações). Nesse sentido, todos os sistemas vivos têm  capacidade e necessidade de crescer, a fim de sobreviver às mudanças no ambiente.

Atualmente, a cultura humana valoriza a ideia de produzir mais do que se consome. Resgate da orientação para o equilíbrio nesse sentido:

Na cultura chinesa tradicional eles [valores centrados no objeto] eram chamados de valores yang e estavam associados com o lado masculino da natureza humana. Eles não eram considerados intrinsecamente bons ou maus. No entanto, de acordo com a sabedoria chinesa, os valores yang precisavam ser equilibrados pelas suas contrapartidas yin, ou valores femininos - a expansão pela conservação, a competição pela cooperação, e o enfoque em objetos pelo enfoque em relações. [p. 461]

Revolução informacional – Castells – ideia de redes (fluxos de informação, fluxos financeiros) está presente na cultura:

O duplo papel dos computadores, como ferramentas para o rápido processamento de informações e para sofisticados modelamentos matemáticos, levou à substituição virtual do ouro e do papel-moeda por produtos financeiros cada vez mais abstratos. [...]O resultado final de todas essas inovações tecnológicas e financeiras é a transformação da economia global em um cassino gigantesco, operado eletronicamente. [p. 466]

Banco Mundial – FMI – OMC = instituições de Bretton Woods – “arcabouço institucional para uma economia pós-guerra mundial coerente” [p. 467]

Como as crises financeiras ao redor do mundo demonstram, essas instituições não se guiaram por sua finalidade, acabando por se acoplar a estruturas já existentes no mercado global e integrar sua rede de feedback, fortalecendo os problemas.

Questões abordadas pelos autores como problemáticas:

- uso de fontes esgotáveis de energia, que deixam resíduo e danificam o ambiente de forma difícil de reparar (combustíveis fósseis, biocombustível, energia nuclear); pico do petróleo, limites de CO2 na atmosfera [ver p. 481], detritos radioativos e elementos escassos, ...

- indústria automobilística não pensa no problema da mobilidade, produz continuamente automóveis e fomenta publicidade para consumo, contribuindo com problemas de trânsito

- Em um círculo vicioso (ou ciclo de feedback autoamplificador) entre política e economia, doadores super-ricos e grandes lobbies financiam todas as campanhas eleitorais importantes em troca de planos de ação política favoráveis, que aumentam ainda mais sua riqueza, levando a contribuições ainda maiores para suas campanhas, seguidas por políticas financeiras ainda mais favoráveis e por uma influência corporativa ainda maior sobre o processo político (Sachs, 2011) [p. 473]

- O desmantelamento da produção local em favor das exportações e importações, as quais compõem o principal impulso proporcionado pelas regras de livre comércio da OMC, aumenta dramaticamente a distância "entre a fazenda e a mesa". [p. 477]

- resumimos os fatos básicos sobre a energia nuclear de acordo com as sete seguintes "verdades inconvenientes": a produção de eletricidade por meio de energia nuclear cria quantidades significativas de gases produtores do efeito estufa e de poluentes; os suprimentos de urânio são muito limitados; os reatores nucleares demoram tempos proibitivarnente longos para serem constituídos; o problema de armazenamento dos resíduos nucleares continua sem solução; energia nuclear e armas nucleares estão inextricavelmente ligados; as "novas gerações" de reatores nucleares apresentam os mesmos problemas e eles estão décadas atrasados; e, por causa de todos esses problemas, a energia nuclear não é comercialmente viável, sendo incapaz de sobreviver sem maciços subsídios governamentais [p. 506]

- perigo da “engenharia genética”:

os cientistas emendam os genes estranhos primeiramente dentro de um vírus, ou em elementos semelhantes a vírus que são rotineiramente usados por bactérias para intercambiar genes. [p. 540]

Não se sabe como esse novo gene vai interagir com o ambiente. E muitos vegetais transgênicos acabam passando adiante o gene novo por meio de polinização cruzada; não existem estudos mensurando o impacto disso.

Movimentos de mudança:

- Movimento Occupy:

"os '99%' marcam uma tentativa de forjar uma nova coalizão- um novo sentido de identidade nacional, baseado não na ficção de uma classe média universal, mas na realidade das divisões econômicas dentro da nossa economia e da nossa sociedade" [Joseph Stigliz] [p. 475]

- Em qualquer discussão realista a respeito de como replanejar a economia global, é útil lembrar que a forma atual da globalização econômica foi conscientemente planejada e, portanto, pode ser remodelada. [p. 482]

- Uma vez que a concepção sistêmica da viela abrange as dimensões biológica, cognitiva e social, os direitos humanos, de um ponto de vista sistêmico, deveriam ser respeitados em todas essas três dimensões. A dimensão biológica inclui o direito a um ambiente saudável e a alimentos seguros e saudáveis. Os direitos humanos na dimensão cognitiva incluem o direito de acesso à educação e ao conhecimento, bem como às liberdades de opinião e de expressão. Na dimensão social, enfim, há uma vasta gama de direitos humanos- desde a justiça social até o direito da reunião pacífica, da integridade cultural e da autodeterminação [p. 482]

- “outro mundo é possível” – força política da sociedade civil organizada. [O livro cita ONGS, porém pode-se questionar até que ponto é positivo que haja organizações não-governamentais atuando na busca por efetivação dos direitos; isso dá a elas uma dimensão política, e cabe lembrar que elas não necessariamente estão estruturadas democraticamente e podem estar ligadas a sistemas de opressão; vide filme brasileiro “Quanto vale ou é por quilo?” - https://www.youtube.com/watch?v=fZhaZdCqrHg]

 

Exemplos práticos:

- Teach-in de Seattle – as ONGs propuseram um processo de reestruh1ração em quatro partes: o desmantelamento das instituições Bretton Woods, a unificação da govercança global sob um sistema reformado da ONU, o fortalecimento de certas organizações da ONU já existentes, e a criação de várias novas organizações dentro da ONU que preenchessem a lacuna deixada pelas instituições Bretton Woods [p. 491] [se a ONU também está sujeita ao domínio do Norte, essas novas organizações seriam mesmo diferentes das de Bretton Woods?]

- há um amplo consenso segundo o qual o remodelamento do capitalismo global não será possível sem a introdução de mudanças fundamentais nas estruturas corporativas [p. 492]

Mudança do dever fiduciário como um mandato para maximizar lucro dos acionistas; inclusão da qualidade de vida dos funcionários; ver, a respeito das corporações e seu papel no sistema capitalista atual:documentário The Corporation - https://www.youtube.com/watch?v=FDMmhiHnlwE]

- novas formas de propriedade: funcionários que são proprietários das ações da empresa; economia de solidariedade; community and land trusts, etc.

- energia sustentável – fontes renováveis e que não produzem resíduo ao produzir energia. Livro enfoca na energia eólica:

Um estudo realizado pela Universidade Stanford mostrou que, quando o número de parques interconectados aumenta, toda a rede torna-se cada vez mais semelhante. A um único parque com velocidade do vento constante e, portanto, com energia elétrica, eolicamente obtida, que pode ser distribuída a uma taxa constante (Archer e Jacobson, 2007). [p. 517]

- reestruturação tributária -

Para ser bem-sucedida, a transferência de tributação precisa ser um processo gradual, de longo prazo, a fim de dar às novas tecnologias e aos padrões de consumo tempo suficiente para se adaptarem, e também precisa ser implementada de maneira previsível, a fim de estimular a inovação industrial. [p. 520]

- célula de combustível para veículos:

Uma célula de combustível (ou célula a combustível) é um dispositivo eletroquímico gue combina hidrogênio com oxigênio para produzir eletricidade e água - e nada mais! [p. 526]

- integração de modernas tecnologias de informação c comunicação com a rede elétrica.

O resultado, conhecido como "rede inteligente", é um sistema elétrico que usa um grat1de número de chips inteligentes e de comunicação instantânea para interligar e coordenar incontáveis pequenos geradores cujos custos mais baixos, tempos de espera e riscos financeiros tornam o sistema muito superior a uma rede centralizada [p. 532]

Jeremy Riíkin expõe sua visão da Terceira Revolução Industrial - um regime de energia renovável, coletada por edifícios, parcialmente armazenada sob a forma de hidrogênio, distribuída por meio de redes inteligentes e conectada a veículos elétricos de tomada, de emissão zero [p. 534]

Como as novas estruturas de rede afetam as relações de poder:

Rifkin também aborda a questão do poder (em seu sentido sociológico, bem como tecnológico) nessas redes de energia. Ele fala da transição do poder hierárquico para o poder distribuído, "lateral" e colaborativo, de maneira muito parecida com aquela pela qual nós discutimos o poder nas redes sociais
como fortalecimento da capacidade de decisão, de conhecimento e de ação com que a rede investe seus usuários [p. 536]

 

- Ecoplanejamento: priorizar o produto pelo serviço que ele oferece, e não por um sentimento de posse (compro o serviço, não a coisa):

Da perspectiva do ecoplanejamento, não faz sentido possuir esses produtos e jogá-los fora no fim de suas vidas úteis. Faz muito mais sentido comprar os seus serviços- isto é, arrendá-los ou alugá-los. A posse seria mantida pelo fabricante, e quando se tivesse acabado de usar um produto, ou quando se quisesse obter uma versão mais recente, o fabricante levaria o produto antigo de volta, o desmontaria em seus componentes básicos - os "nutrientes técnicos"- e os usaria na montagem de novos produtos, ou os venderia para outras empresas. [p. 556]

- planejamento urbano que busca resgatar a comunidade nas cidades – ecocity [livro cita Curitiba como exemplo]

- biomimética – produzir tecnologias observando como elas existem na natureza [resgate da idei de Da Vinci]

A transição para o futuro sustentável depende de uma dimensão espiritual:

[Esperança] não é a convicção de que alguma coisa vai dar certo, mas a certeza de que alguma coisa faz sentido, independentemente do que virá a acontecer com ela. [Václav Havel (1990, p. 181)]

Lahis Pasquali Kurtz

Mestra em Direito

A Visão Sistêmica da Vida - pp 421 a 564

As sementes não apenas retêm a memória do tempo, da evolução e da história. Elas Também retêm a memória do espaço, das interações dentro da teia da vida, e dos polinizadores – como as abelhas e as borboletas – para os quais as flores das sementes deram o seu pólen, e, então, fertilizaram a planta para que ela pudesse se reproduzir e se renovar. As sementes são, também, a dádiva de milhões de organismos do solo que as nutrem, bem como as plantas, e são alimentadas pela matéria orgânica que essas plantas produzem.

                                                                  Shabana Shiva

16. A dimensão ecológica da vida.

Após dimensão cognitiva e dimensão social, é possível partir para a dimensão ecológica.

Nenhum indivíduo pode existir isoladamente. Animais dependem da fotossíntese das plantas para as suas necessidades energéticas. Plantas dependem de CO2 produzido por animais, bem como do nitrogênio fixado por organismos nas suas raízes e, juntos, plantas, microrganismos e animais regulam toda a biosfera e mantêm as condições que levam à vida.

Morowitz - a vida é uma propriedade dos planetas e não de organismos individuais. Ecologia ciência nova em relação aos outros ramos da biologia.

A ciência da ecologiaOikos - espaço e unidades domésticos. Estudo científico das relações entre os membros do lar terrestre. Inerentemente interdisciplinar - ecossistemas interligam o mundo vivo com o mundo não vivo. Importante para avaliar e influenciar o destino da humanidade. 

Um dos grandes desafios de nosso tempo é construir e alimentar comunidades sustentáveis. Lições dos ecossistemas, que têm sustentado a vida durante bilhões de anos.

O desenvolvimento de conceitos ecológicos básicos e o desenvolvimento da ecologia estiveram estreitamente ligados desde o início. Agricultura, economia, planejamento industrial e  política. E o direito!!!

Visão sistêmica como arcabouço ideal para a ecologia.

Conceitos: biosfera, ecossistema, ambiente natural e comunidade ecológica. Redes de organismos interligados por relações de alimentação. Rede como o padrão básico de organização de todos os sistemas vivos.

Charles Elton - fluxo de energia e matéria de um organismo para o outro. Nicho ecológico. Papel de um animal em função de quem come e de quem o come. Lindeman - noção de nível trófico. Posição do organismo na cadeia alimentar. Organismos decompositores reduzem os organismos mortos a seus nutrientes básicos, que voltam a ser alimentos para as plantas.

 

Além da dinâmica dos ciclos e fluxos ecológicos, os ecologistas estruturais direcionaram-se para os um ecossistema. Eugene Odum - Fundaments of Ecology. 1953

Maior unidade ecológica - biosfera. Gaia. Biosfera acoplada à litosfera. E à hidrosfera.Ecossistemas – estruturas multiniveladas.

Ramos da ecologia - ecologia populacional - crescimento, estrutura e migrações de animais. Ecologia evolutiva - seleção natural e evolução de populações. Ecologia de comunidades - interações entre espécies.

Ecologia sistêmica - estudo teórico da estrutura e da dinâmica dos ecossistemas. Deve refletir a visão sistêmica da vida.

Características da vida biológica: sistema vivo aberto, fluxo continuo de energia e matéria atravessando o sistema, auto- organizadora, dinâmica não-linear, pode incluir a emergência de uma nova ordem em pontos de instabilidade critica, operacionalmente fechada,  autogeradora, interações com o meio ambiente são cognitivas, determinadas por sua própria organização interna. 

Ecossistemas como estruturas dissipativas - fluxos de energia: sol, solo e atmosfera.Natureza não-linear. Fenômeno da auto-organização. Década de 80 – advento da teoria da complexidade. Concepção de auto- organização mudou. Emergência espontânea da nova ordem em sistemas complexos governados pela dinâmica não linear. Feedback - característico aos sistemas dinâmicos.

Nessa concepção mais recente de auto- organização, os ecossistemas são entendidos como estruturas dissipativas que operam afastadas do equilíbrio, e as formas da nova ordem são representadas matematicamente por meio de atratores que emergem dos pontos de bifurcação.

Os ecossistemas são autopoiéticos? Recria-se continuamente dentro de uma fronteira por ele próprio construída. Atmosfera constitui uma fronteira no sentido da autopoiese. Planeta como um todo - teoria de Gaia - rede global de autoprodução. Lovelock - Gaia como um sistema vivo. Camada protetora da atmosfera cerca a vida na Terra. Nem a atmosfera nem as rochas são organismos vivos. Mas Ambas foram modeladas e transformadas por organismos vivos. O espaço interior e o espaço exterior da Terra fazem parte do ambiente de Gaia. A atmosfera e semipermeável, como a membrana de uma célula.

 Mudança climática. P. 431!!!!!!! O ciclo de CO2 é um exemplo de um gigantesco ciclo de feedback. Vulcões liberam CO2 - Gaia precisa liberá-lo para fora da atmosfera para evitar o efeito estufa. Plantas e animais reciclam enormes quantidades de CO2 e de oxigênio nos processos da fotossíntese, da respiração e da decomposição. De acordo com a teoria de Gaia, o excesso de CO2 é removido e reciclado. Mais de 99% das espécies foram extintas durante a longa história da vida, mas a teia planetária das bactérias sobreviveu. E o crescimento, o metabolismo e as propriedades de intercâmbio de gases entre os microbióticos que formam os complexos sistemas de feedback físicos e químicos que modulam a biosfera em que vivemos.

Sustentabilidade ecológica - 3,8 bilhões de anos de vida na Terra - a emergência e a extinção de espécies não foi um processo constante. Extinções em massa. Sexta extinção em massa - única pela magnitude e pela causa. Situação calamitosa. A preocupação com o meio ambiente não é mais uma das muitas questões isoladas. É o contexto de todas as coisas. Miller, 2007.                                                                .     

Definição de sustentabilidade - 1980 Lester Brown. Worldwatch Institute.

Princípios - interdependência é o principal. Resiliência, poder de recuperação - como tais comunidades reagem a perturbações externas? Flexibilidade. Múltiplos ciclos de feedback. Diversidade. A diversidade de um ecossistema está estreitamente ligada à estrutura de rede do sistema. Um ecossistema diversificado é flexível. Muitas espécies com funções ecológicas que se sobrepõem. Quanto mais complexa for a rede, mais rico será o seu padrão de interconecções. Nas comunidades humanas, a diversidade étnica e cultural pode desempenhar o mesmo papel. A diversidade é uma vantagem estratégica. Diversidade significa muitas relações diferentes, muitas abordagens do mesmo problema. Se a comunidade estiver ciente da interdependência dos seus membros, a diversidade enriquecerá todas as relações.

Educação para uma vida sustentável. A sobrevivência da humanidade depende de nossa alfabetização ecológica. Habilidade de importância crucial para os políticos. O resíduo de uma espécie é o alimento de outra espécie. Ensino na escola, faculdades e universidades. Natureza sistêmica da ecoalfabetização. Ecologia inerentemente interdisciplinar. Arcabouço conceitual diferente do que é adotado nas disciplinas acadêmicas tradicionais. Nada mais eficiente que as artes para desenvolver padrões no ensino de crianças. Intensificam a dimensão emocional. Currículo integrado em torno desse projeto central.

A ecoalfabetização não pode ser ensinada como disciplina isolada. Reestruturação do ensino. Dimensões vivenciais e emocionais - precisamos nos reumanizar. Exemplo do amplo aprendizado com o jardim horta. O jardim constitui um lugar de infância magico. Estar lá é diferente de imaginar estar lá.

A educação para a sustentabilidade envolve ativismo político. É preciso dialogar com diferentes grupos, e não criar movimentos extremistas.

Capitulo 17 - ligando os pontos

Grande desafio do nosso tempo: construir e nutrir comunidades sustentáveis. O crescimento populacional e a pobreza formam um círculo vicioso. Mulheres analfabetas não têm acesso ao planejamento familiar. Famílias maiores. Desafio impostos à saúde por epidemias e o esgotamento ainda maior de recursos. Rápido crescimento populacional, consumo excessivo e desperdício. Escassez de água levando a intensos conflitos. Problemas ambientais exacerbados pela mudança climática global. Tecnologias que fazem uso intensivo de combustíveis fósseis. Diminuição da frequência de chuvas. Aumento da temperatura causa a redução das colheitas e o derretimento do gelo. Aumento do nível do mar. Enormes ameaças à segurança alimentar.

Nosso sistema econômico global não tem nenhuma dimensão ética. Preço do grão ajustado ao preço do petróleo. É possível elevar a eficiência dos combustíveis com um número crescente de estados assolados por deficiências em vários níveis e que se manifestam pela desintegração da ordem pública e pelo aumento do numero de conflitos civis. Rasgões dilacerando o tecido da teia da vida, causados pela contínua extinção das espécies, a própria civilização poderia começar a preparar seu desfecho.

A ilusão do crescimento perpétuo

Ilusão pelo crescimento econômico ilimitado - uma das causas da multifacetada crise global. Esgotamento de recursos naturais, proliferação de impactos prejudiciais ao meio ambiente. Indicadores econômicos inadequados. O PIB ignora muitos aspectos não monetários.

Mudar de um sistema econômico baseado na noção de crescimento ilimitado para outro que seja ecologicamente sustentável. Crescimento equilibrado e multifacetado. Foco no crescimento qualitativo. Qualidade - processos de padrões de relacionamentos. Indicadores qualitativos - pobreza, saúde, equidade, inclusão social, educação e estado do ambiente natural.

Crescimento e desenvolvimento

Desenvolvimento é uma propriedade fundamental da vida. Desenvolvimento conceito recente. Conceito monocultural, direcionado ao norte. Paul Ekias. Crescimento biológico - tanto o quantitativo quanto o qualitativo. O bom crescimento é o crescimento de processos e serviços eficientes, que interiorizam os custos e envolvem energias renováveis. Luta contra a mudança climática é o mais urgente problema da segurança da humanidade. Mitigação das ameaças à segurança global relacionada ao clima, construção de uma nova economia verde.

Do materialismo à comunidade

EUA - certificar-se de que têm acesso aos recursos naturais e de que os mercados ao redor do mundo permanecem abertos aos seus produtos. Virilidade - ideologias masculinas. Força física, dureza e agressão. Conservação, cooperação e comunidade. Reestudar as relações de gênero. Nossa existência está sempre encaixada nos processos cíclicos da natureza. David Suzuki: a força que se contrapõe a essa perturbação mental é a bondade amorosa. O afeto humano, o carinho, um sentido de responsabilidade e um sentido de comunidade - isto é espiritualidade.

As redes do capitalismo global

Impacto produzido pelo crescimento econômico irrestrito - redes globais de fluxos internacionais e financeiros. Processo de globalização - novas tecnologias, novas estruturas sociais, uma nova economia e uma nova cultura.

Criação da OMC - para números cada vez maiores de ativistas, as novas regras econômicas estabelecidas pela OMC eram manifestamente insustentáveis e estavem produzindo inúmeras consequências fatais interconectadas. Degradação da democracia, deterioração mais rápida e extensa do ambiente, crises financeiras e aumento da pobreza e da alienação. Remodelar a globalização de acordo com diferentes valores e diferentes visões. A sociedade em redes, de Castells. The information age, Castells. Noção de sociedade informacional como canal para a alfabetização ecológica.

International forum on globalization - teach ins sobre globalização econômica em vários países. 1999 - bloqueio à reunião da OMC.

A revolução da tecnologia da informação e o nascimento do capitalismo global

A revolução das TICs - dinâmica complexa de interações. Inovações em apenas duas décadas. Capitalismo rejuvenescido, flexível e muito expandido. Capital funciona em tempo real. Cassino gigantesco operando eletronicamente. O processo de globalização econômica foi propositadamente planejado pelos países capitalistas, às nações do G7.

Corporações transnacionais e instituições financeiras globais. Banco mundial, FMI e OMC. As Instituições de Breton Woods. O novo capitalismo é, até certo ponto, um mistério. 231

Impacto social da globalização econômica - capital global e mão de obra local. Tempo instantâneo das comunicações eletrônicas e o tempo biológico da vida cotidiana. Poder econômico reside nas redes financeiras globais, que determinam o destino da maioria dos empregos. Mão de obra perdendo sua identidade coletiva e seu poder de barganha. Participação acionária nos lucros da empresa. Ascensão do capitalismo global foi acompanhada pelo aumento da desigualdade social e da polarização.

Importante - UN Human Development Report - diferença renda per capita entre norte e sul triplicou entre as décadas de 60 e 90. 20% mais ricos 80 % da riqueza. PNUD 99

Desigualdades causadas por políticas governamentais específicas. Colapso da democracia - influência corporativa. Círculo vicioso - ciclo de feedback autoamplificador - política economia. Doadores super ricos e grandes lobbies financiam campanhas eleitorais. Domínio cada vez mais amplo. Planos de ação política cada vez mais modelados por interesses corporativos. Empresas privadas de seguros de saúde obrigaram a excluir a possibilidade de um sistema nacional de assistência à saúde.

O complexo militar industrial pilota a política externa norte-americana em um grau notável.

Movimento occupy - rápida disseminação de levantes de líderes guiadas pela vasta gama de mídias sociais. Primavera Árabe - enormes movimentos sociais contra os ditadores da região do Oriente Médio. Occupy movement - contra a legislação antissindical.  Exemplo dos rios de Taiwan contaminados por venenos agrícolas. Regulamentos ambientais foram eliminados em vez de serem fortalecidos. Em todo o mundo, há inúmeros exemplos de como a globalização econômica está causando a destruição ambiental.

Países pobres se concentram na produção de alguns bens para a importação das outras commodities. Distância entre a fazenda e a mesa. Tensão no meio ambiente.

Vandana Shiva - os recursos se movem dos pobres para os ricos, e a poluição se move dos ricos para os pobres.

Importante - p. 477 - uma vez que fazer dinheiro é o valor dominante do capitalismo global, seus representantes procuram eliminar as regulamentações ambientais sob o disfarce do livre comércio, onde puderem fazê-lo a fim de que essas regulamentações não interfiram nos lucros. Assim, a nova economia causa a destruição ambiental não apenas intensificando o impacto de suas operações sobre os ecossistemas do mundo, mas também eliminando as leis ambientais nacionais em um pais depois do outro. Em outras palavras, a destruição do meio ambiente. Não é apenas um efeito colateral, mas é também parte integrante do planejamento do capitalismo global.

A mudança climática

Ação global decisiva. Mobilização para salvar a civilização.  Intergovernamental panel on climate change. Ipcc - temperatura aumenta a 0,6 graus ao ano. A temperatura se tornará muito perigosa quando atingir 2 graus. Redução emissão de CO2. Empresas de combustíveis fósseis como a Big Oil e a Big coal perderiam 20 trilhões em ativos se limitadas a bombear apenas 20% de gás na atmosfera.

Valores fundamentais da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica - a questão crítica não é a tecnologia, mas a ética e a política. Sustentabilidade - respeito à integridade cultural. Direito básico das comunidades - a autoorganização e a auto-determinação.

Coalizão de Seattle - 30 de novembro de 1999 - convenção no encontro da OMC. World social forum. Propostas de reestruturação das instituições financeiras globais.

Castells: com a ascensão da sociedade em rede global, o Estado nação e suas instituições tradicionais estão perdendo poder, enquanto um novo tipo de sociedade global, organizada em torno do remodelamento da globalização, está emergindo gradualmente.

Os principais problemas do nosso tempo são problemas sistêmicos. Um de seus "selos de qualidade" - resolve vários problemas ao mesmo tempo. Implicações de uma mudança para uma agricultura orgânica - em vez de uma agricultura química, industrial -  contribuição significativa para a solução dos maiores problemas. Redução da dependência energética, melhoria da saúde pública. Mudança climática - um solo orgânico é um solo rico em carbono. Soluções que estão sendo desenvolvidas. Ver Brown. Procurar livro.

Soluções sistêmicas - mudando o jogo. Sociedade civil global que tem por base os valores fundamentais da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. Novo movimento político independente das instituições nacionais e internacionais tradicionais. Estudiosos, instituições de pesquisa, think tanks, centros de aprendizagem.

Emergência em todo o mundo de novas estruturas de propriedade como alternativas ás estruturas corporativas dominantes. Instituições de pesquisa e centros de aprendizagem da sociedade civil global.

Muito importante - lista de ONGs em três grupos. P. 490

Remodelamento da globalização - relatório sobre alternativas. Comércio e investimentos globais devem ajudar a construir comunidades saudáveis. IFG - international Forum on Globalization. Reestruturação em quatro partes - desmantelamento das instituições Breton Woods, unificação da governança global, fortalecimento de organizações da ONU. Atuação das agendas de Breton Woods tem sido antidemocrática e coerciva. Descentralizar o poder das instituições globais em favor de um sistema pluralista e de organizações regionais e internacionais. Novos tipos de organizações políticas, que Manuel Castells denominou estados de rede.

As estruturas das corporações nos forçam a nos comportar de determinada maneira, independente dê valores pessoais. Primazia dos interesses dos acionistas pela governança corporativa. Ganho financeiro dos acionistas como único objetivo. Gordon Smith - dever fiduciário  deve ser expandido - bem estar dos funcionários, da comunidade me de outras partes interessadas. Maximizar os lucros de seus acionistas e minimizar a renda de seus funcionários. Privilégio de receber fluxos contínuos de renda sem ter que produzir. Marmorie Kelly - mito central da primazia do interesse do acionista irá perder credibilidade e dar lugar a uma democracia econômica. Não é necessário mudar a crença numa economia de mercado a fim de mudar a estrutura corporativa.

O replanejamento da propriedade  - outras formas de planejar a sociedade. Vão além do capitalismo e do socialismo.Propriedade geradora. Importante!!!!! Da maximização dos lucros para a sustentação da vida.

Energia e mudança climática - p. 501 - uso massivo de energia fenômeno recente. Energia - capacidade para realizar trabalho. Noção de eficiência energética. Ineficiência maciça e produção de resíduos na maioria dos projetos industriais atuais.

Soluções falsas - carvão limpo e energia nuclear. Resíduos radioativos letais. Crise do clima e crise da energia problemas sistêmicos que exigem soluções sistêmicas. Degradação ambiental, crise do clima, da geração de energia, segurança alimentar.

Sten review - estabilização das emissões de gases do efeito estufa relativamente barata. Não mais que um por cento do PIB mundial. Transição para fontes de energia alternativas.

Problema das usinas elétricas que funcionam a carvão. Combustível mais sujo.

Carvão - maior fonte de CO2 -  eliminar para voltar ao nível seguro de 350 ppm. Livro de Brown sobre alternativas de soluções sistêmicas. 46 países no mundo com populações cujo crescimento essencialmente é igual a zero. As mulheres devem ter acesso a serviços de saúde reprodutiva e serviços de planejamento familiar.

Estabilização do clima - reduzir maciçamente as emissões de carbono. Aumento da eficiência energética em nossa economia de desperdício. Lâmpada fluorescente compacta e reestruturação do sistema de transporte.  Energia eólica. Variabilidade diminui ao se considerar a rede de transmissão.

Restauração dos ecossistemas da terra. Restaurar florestas, conservar e reconstruir solos, regenerar os viveiros naturais de peixes, proteger a diversidade animal e vegetal e plantar milhões de árvores para sequestrar carbono.

Reinvenção do fogo - transição de uma economia liderada por petróleo, carvão ne gás para uma economia centralizada na eficiência energética e nas energias renováveis. 5 trilhões a menos que do que o custo dos negócios como estão sendo realizados. Futuro livre de combustíveis fósseis - fortalecimento segurança nacional, profusão de empregos e melhoria na saúde publica. Solução sistêmica par excellence.

Carros sem petróleo - hiper car de Amory Lovins. Os carros híbridos podem usar gasolina ou várias opções mais limpas, incluindo biocombustíveis avançados feitos de resíduos orgânicos, sem precisar deslocar qualquer área agriculturável. Hidrogênio - supremo combustível limpo. A revolução automotiva imaginada por Amory Lovins está em pleno funcionamento. Mudanças fundamentais em nossos padrões de produção e consumo e no planejamento de nossas cidades, inclusive sistemas eficientes de transporte público irão realizar isso. Movimento ecocity.

Transformação da rede elétrica - integração com as modernas tecnologias de informação com a rede elétrica. Chips inteligentes e de comunicação instantânea para interligar e conectar pequenos geradores. Sistema muito superior a uma rede centralizada. Micro redes locais resolvem o problema.

Terceira revolução industrial - Jeremy Rifkin - energia verde gerada nos lares e compartilhada. Grandes revoluções ocorreram quando novas tecnologias de comunicação convergiram com novas formas de energia.

Problema da biotecnologia na agricultura. Engenharia genética não é a solução.

Risco das culturas transgênicas. Amplos mercados internacionais para um único produto. Monoculturas. Concentração da produção global de alimentos. Uso de culturas geneticamente modificadas não é capaz de resolver o problema da fome.

Agroecologia - biodiversidade agrícola. - renascimento da agricultura orgânica. Mercado de produtos orgânicos cresceu mais de 50 bilhões de dólares por ano.

Cluster ecológico de indústrias. Resíduos de um órgão são recursos para outra.

Arquitetura verde - maiores vantagens do sol e do vento. Janelas para economizar energia. Uso do transporte público e do ciclismo.

Biomimética - natureza como modelo e mentora. Processos inspirados na natureza. Modelo de para-brisa de carro baseado na concha do abalone. Ecoplanejamento. Aprender com a natureza, e não dominá-la.

Projetos de pequena escala, com abundante diversidade. Uso eficiente de energia. Recursos não poluentes. Orientados para a comunidade. No mundo de hoje, há três centros de poder: empresas, governo e sociedade civil. É possível articulá-los em torno desse novo projeto.

Após discutir a visão sistêmica da vida em sua dimensão biológica (capítulos 7 a 11), sua dimensão cognitiva (capítulos 12 e 13) e sua dimensão social (capítulo 14), e tendo proposto um arcabouço conceitual que integra essas três dimensões, Capra inclui agora, na última parte deste livro, a dimensão ecológica na síntese da concepção sistêmica da vida.

A ecologia é uma ciência relativamente nova em comparação com as disciplinas tradicionais da biologia, da psicologia e da sociologia. E por isso que optamos por introduzir a perspectiva ecológica depois de discutir as dimensões biológica, cognitiva e social da vida, seguindo mais ou menos a sequência histórica na qual as disciplinas correspondentes se desenvolveram.

A unidade ecológica básica é o ecossistema, definido como uma comunidade de diferentes espécies em uma determinada área, interagindo com seu ambiente não vivo, ou abiótico (ar, minerais, água, luz solar etc.) e com seu ambiente vivo, ou biótico (isto é, com outros membros da comunidade). O ecossistema, então, consiste em uma comunidade biótica e seu ambiente físico.

É evidente, a partir dessas definições, que a ciência da ecologia é inerentemente multidisciplinar. Uma vez que os ecossistemas interligam o mundo vivo com o mundo não vivo, a ecologia precisa estar fundamentada não apenas na biologia, mas também na geologia, na química atmosférica, na termodinâmica e em outros ramos da ciência. E quando se trata de avaliar os impactos das atividades humanas sobre a biosfera, o que está se tornando cada vez mais urgente, temos de acrescentar à ecologia uma gama totalmente nova do campos, que incluem a agricultura, a economia, o planejamento industrial e a política.

A importância de se estudar, dentro do arcabouço geral da ecologia, a penetrante influência das atividades humanas sobre os ecossistemas, bem como a influência recíproca da deterioração desses ecossistemas sobre a saúde e o bem-estar humanos, também fica claro que a ecologia, hoje, não é apenas uma área de estudos rica e fascinante, mas também é extremamente importante para avaliar, e influenciar, o destino futuro da humanidade.

Um princípio básico da ecologia é o reconhecimento de que os ecossistemas, como todos os sistemas vivos, formam estruturas multiniveladas de sistemas aninhados dentro de outros sistemas. Os níveis mais amplos são conhecidos como biomas. Entre os ecossistemas terrestres, os ecologistas identificaram oito biomas principais: florestas tropicais, temperadas e de coníferas; savana tropical, pastagem temperada, chaparral (terreno arbustivo), tundra e deserto. E, finalmente, a maior unidade ecológica é a biosfera, a soma global de todos os ecossistemas. De acordo com a teoria de Gaia, a biosfera está estreitamente acoplada às rochas da Terra (litosfera), aos oceanos (hidrosfera) e à atmosfera de maneira tal que, em conjunto, formam um sistema planetário autorregulador.

A característica que define um sistema autopoiético é o fato de que ele se recria continuamente dentro de uma fronteira por ele próprio construída.

Quando mudamos a nossa percepção dos ecossistemas para o planeta como um todo, deparamo-nos com uma rede global de processos de produção e transformação, que foi descrita com alguns detalhes na teoria de Gaia de James Lovelock e Lynn Margulis. Parece haver mais evidências para a natureza autopoiética do sistema de Gaia do que para os ecossistemas.

O sistema da Terra opera em uma escala muito grande no espaço e também envolve escalas de tempo muito longas. Assim, não é tão fácil pensar em Gaia como sendo viva de uma maneira concreta. Todo o planeta estaria vivo ou apenas certas partes dele? E nesse último caso, quais partes? Para nos ajudar a figurar Gaia como um sistema vivo, Lovelock sugeriu uma sequoia como analogia. Conforme a árvore cresce, há somente uma fina camada de células vivas em tomo de seu perímetro, logo abaixo da casca. Toda a madeira interna, mais de 97% da árvore, está morta. De maneira semelhante, a Terra é coberta com uma fina camada de organismos vivos - a biosfera - afundando-se no oceano até cerca de 8 km a 9,6 km e subindo na atmosfera até cerca da mesma distância. Desse modo, a parte viva de Gaia é apenas uma delgada película ao redor do globo.

Durante a longa história evolutiva da vida, mais de 99% de todas as espécies que já existiram foram extintas, mas a teia planetária das bactérias sobreviveu, continuando a regular as condições para a vida na Terra, como tem feito nos últimos 3 bilhões de anos.

No desdobramento da vida na Terra durante os últimos 3,8 bilhões de anos, a emergência e extinção de espécies não foi um processo constante, mas produziu várias flutuações dramáticas - as chamadas extinções em massa, nas quais pereceram mais de 50% das espécies animais. Com base em evidências fósseis e geológicas, paleontólogos identificaram cinco dessas extinções em massa durante os últimos 500 milhões de anos.

Estimativas atuais sobre as taxas de extinção ocasionadas pelo desmatamento e por destruições de outros hábitats indicam que a Terra está boje no meio de uma sexta extinção em massa.

Por causa dessa situação calamitosa, que ameaça a própria sobrevivência da hu­manidade, o problema da sustentação da vida na Terra passou a ocupar o centro do palco nos últimos anos. A preocupação com o meio ambiente não é mais uma das muitas “questões isoladas”. E o contexto de todas as outras coisas-nossas vidas, nossos negócios, nossa política. O grande desafio do nosso tempo é o de como construir e nutrir comunidades e sociedades sustentáveis. Por isso, transmitir uma compreensão ciara sobre a sustentabilidade transformou-se em um papel crítico da ecologia.

O conceito de sustentabilidade foi introduzido, no início da década de 1980, por Lester Brown. Poucos anos depois, Brown, Flavin e Postei definiram uma sociedade sustentável como aquela que “satisfaz às suas necessidades sem colocar em perigo as perspectivas das gerações futuras”. Por volta da mesma época, o relatório da World Commission on Environment and Development (1987), também conhecido como “Brundtland Report”, apresentou a noção de “desenvolvimento sustentável”:

As definições de sustentabilidade são importantes exortações morais. Elas nos lembram da nossa responsabilidade de transmitir aos nossos filhos e netos um mundo com tantas oportunidades quantas aquelas que herdamos. No entanto, elas não nos dizem nada sobre como devemos construir uma sociedade sustentável, E por isso que tem havido muita confusão a respeito do significado de sustentabilidade, mesmo dentro do movimento ambientalista. Também, devemos observar aqui que a noção de “desenvolvimento sustentável” é muito problemática.

A chave para uma definição operacional de sustentabilidade ecológica é a percepção de que não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas podemos modelá-las de acordo com os ecossistemas da natureza, que são comunidades sustentáveis de plantas, animais e microrganismos. Uma vez que a característica proeminente do “Lar Terrestre” é sua capacidade inerente para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável é planejada de tal maneira que seus modos de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não interferem na capacidade inerente da natureza para sustentar a vida. Comunidades sustentáveis desenvolvem seus padrões de vida ao longo do tempo em interação contínua com outros sistemas vivos, humanos e não humanos. Desse modo, a sustentabilidade não significa que as coisas não mudam. Pelo contrário, ela é um processo dinâmico de coevolução em vez de um estado estático.

Nossa definição operacional de sustentabilidade - planejar uma comunidade humana de tal maneira que suas atividades não interfiram na capacidade inerente da natureza para sustentar a vida - implica que o primeiro passo nesse esforço precisa ser o de compreender como a natureza sustenta a vida. Em outras palavras, precisamos compreender os princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a teia da vida. Nos últimos anos, essa compreensão passou a ser conhecida como alfabetização ecológica, ou “ecoalfabetização”. Ser ecoalfabetizado significa compreender os princípios básicos da ecologia, ou princípios de sustentabilidade, e viver em conformidade com essa compreensão.

Com base na compreensão sistêmica dos ecossistemas, podemos formular um conjunto de princípios de organização que podem ser identificados como princípios básicos da ecologia, e usá-los como diretrizes para construir comunidades humanas sustentáveis.

O primeiro desses princípios é a interdependência. Todos os membros de uma comunidade ecológica estão interconectados em uma imensa e intrincada rede de relações, a teia da vida. Eles derivam suas propriedades essenciais e, de fato, sua própria existência de suas relações com outras coisas. A interdependência - a dependência mútua de todos os processos de vida uns em relação aos outros - é a natureza de todas as relações ecológicas. O comportamento de cada membro vivo do ecossistema depende do comportamento de muitos outros membros. O sucesso de toda a comunidade depende do sucesso de seus membros individuais, enquanto o sucesso de cada membro depende do sucesso da comunidade como um todo.

A flexibilidade de um ecossistema é consequência de seus múltiplos ciclos de feedback, que tendem a trazer o sistema de volta ao equilíbrio sempre que houver um desvio da norma produzido por mudanças nas condições ambientais.

Todas as flutuações ecológicas ocorrem entre limites de tolerância. Há sempre o perigo de que todo o sistema entre em colapso quando uma flutuação ultrapassa esses limites e o sistema não consegue compensar o desvio. O mesmo acontece com as comunidades humanas. A falta de flexibilidade se manifesta como tensão ou estresse. Em particular, a tensão ocorre quando uma ou mais variáveis do sistema são empurradas até os seus valores extremos, o que induz a um aumento de rigidez ao longo de todo o sistema. A tensão temporária é um aspecto essencial da vida, mas a tensão prolongada é prejudicial e destrutiva para o sistema. Essas considerações levam à importante conclusão de que gerenciar um sistema social - uma empresa, uma cidade ou uma economia - significa encontrar os valores ótimos para as variáveis do sistema. Se tentarmos maximizar qualquer variável isoladamente em vez de otimizá-la, isso, invariavelmente, danificará o sistema como um todo.

A diversidade de um ecossistema está estreitamente ligada à estrutura de rede do sistema. Um ecossistema diversificado é flexível, pois contém muitas espécies com funções ecológicas que se sobrepõem e, por isso, uma delas é capaz de substituir parcialmente a outra.

Diversidade significa muitas relações diferentes, muitas abordagens diferentes do mesmo problema. Uma comunidade diversificada é uma comunidade elástica, capaz de se adaptar a situações de mudança. No entanto, a diversidade só é uma vantagem estratégica se houver uma comunidade verdadeiramente interconectada, sustentada por uma teia de relações. Se a comunidade estiver fragmentada em grupos isolados e em indivíduos, a diversidade pode facilmente se tornar uma fonte de preconceitos e de atrito. Mas se a comunidade estiver ciente da interdependência de todos os seus membros, a diversidade enriquecerá todas as relações e, assim, enriquecerá a comunidade como um todo, bem como cada membro individual.

Nas próximas décadas, a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica - nossa capacidade para compreender os princípios básicos da ecologia e de viver era conformidade com eles. Isso significa que a ecoalfabetização precisa se tornar uma habilidade de importância crucial para políticos, líderes empresariais e profissionais em todas as esferas, e deveria ser a parte mais importante da educação em todos os níveis - desde as escolas primárias e secundárias até as faculdades, as universidades, e os cursos de especialização e de treinamento de profissionais.

A natureza sistêmica da ecoalfabetização deriva do fato de que a própria ecologia é essencialmente uma ciência de relações e, além disso, é inerentemente multidisciplinar. O ensino da ecologia, portanto, requer um arcabouço conceitual muito diferente do que é adotado nas disciplinas acadêmicas convencionais, e os professores notam isso em todos os níveis de ensino, desde crianças muito pequenas até estudantes universitários. Desde o início, o currículo de ecoalfabetização tem por foco as relações, os padrões e o contexto.

A fim de promover a educação para a sustentabilidade no nível universitário, advoga-se a adoção do pensamento sistêmico e da aprendizagem interdisciplinar, que inclui a comunidade acadêmica como um todo. Ela trabalha empenhando-se em superar a atual fragmentação que impera no mundo acadêmico, demonstrando as interdependências e interconexões existentes entre temas sociais desafiadores aparentemente separados e que competem entre si - como os problemas da população, a economia, a saúde, a justiça social, a segurança nacional e o meio ambiente.

Como seria de esperar, a educação para a sustentabilidade em faculdades e universidades envolve mais ativismo político do que programas semelhantes implantados em escolas primárias e secundárias.

“Ligando os pontos”

O grande desafio com que o nosso tempo se defronta, é o de construir e nutrir comunidades e sociedades sustentáveis, planejadas de maneira tal que nossas atividades não interfiram com a capacidade inerente da natureza para sustentar a vida. O primeiro passo nesse esforço é o de compreender os princípios de organização que os ecossistemas da natureza desenvolveram para sustentar a teia da vida; precisamos nos tornar, por assim dizer, ecologicamente alfabetizados.

Quando nos tornamos ecologicamente alfabetizados, quando entendemos os processos e padrões de relações que permitem aos ecossistemas sustentar a vida, também passamos a compreender as muitas maneiras pelas quais a nossa civilização humana, principalmente a partir da Revolução Industrial, tem ignorado esses padrões e processos ecológicos e interferido neles. E também compreenderemos que essas interferências são as causas fundamentais de muitos dos problemas que atualmente impactam nosso mundo.

Quando examinamos o estado em que o mundo se encontra nos dias de hoje, o que se destaca com mais evidência é o fato de que os principais problemas do nosso tempo - energia, meio ambiente, mudanças climáticas, segurança alimentar, segurança financeira - não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, e isso significa que todos eles estão interconectados e são interdependentes.

O dilema fundamental subjacente aos principais problemas do nosso tempo é a ilusão de que o crescimento ilimitado é possível cm um planeta finito. Essa ilusão, por sua vez, reflete a desarmonia entre o pensamento linear e os padrões não lineares que ocorrem em nossa biosfera - as redes e ciclos ecológicos que constituem a teia da vida. Essa rede global altamente não linear contem incontáveis ciclos de feedback por meio dos quais o planeta equilibra e regula a si mesmo. Nosso atual sistema econômico, pelo contrário, é alimentado pelo materialismo e pela ganância, que, pelo que parece, não reconhecem quaisquer limites.

Como resultado das muitas ameaças à segurança alimentar, a fome no mundo está hoje novamente em ascensão depois de um declínio longo e constante. Essa ameaça de inanição que ocorre em âmbito mundial e o grande número de refugiados climáticos resultaram em um número crescente de Estados assolados por deficiências em vários níveis, e que se manifestam, em particular, pela desintegração da lei e da ordem pública e pelo aumento do número de conflitos civis. Os governos desses Estados já não podem mais garantir a segurança de seus cidadãos. Com um número crescente de Estados assolados por deficiências, e por rasgões dilacerando cada vez mais o tecido da leia da vida, causados pela contínua extinção de espécies, a própria civilização poderia começar a preparar seu desfecho.

A obsessão de políticos e economistas pelo crescimento econômico ilimitado precisa ser reconhecida como uma das causas originais, talvez a causa original, da nossa muitifacetada crise global. O objetivo de todas as economias nacionais consiste em obter crescimento ilimitado, mesmo que o absurdo de tal empreendimento em um planeta finito deva ser óbvio para todas as pessoas.

O perfeito reconhecimento desse dilema é dificultado pelo falo de que a maioria dos economistas usa indicadores econômicos inadequados. Os países medem sua riqueza por meio do produto interno bruto (PIB), um indicador resultante da soma indiscriminada de todas as atividades econômicas associadas com os valores monetários, enquanto ignora os muitos aspectos não monetários importantes da economia.

“O mito do crescimento perpétuo [...] promove a ideia equivocada de que o crescimento econômico indiscriminado é a cura para todos os problemas mundiais, ao mesmo tempo que ele é na verdade a própria causa das atuais práticas globais insustentáveis”.

Na verdade, a nova concepção sistêmica da vida torna possível formular um conceito científico de qualidade. Pelo que parece, essa palavra tem dois diferentes significados - um objetivo e outro subjetivo. No sentido objetivo, as qualidades de um sistema complexo referem-se a propriedades do sistema que nenhuma de suas partes apresenta. Quantidades como massa ou energia nos informam a respeito das propriedades das partes, e a sua soma é igual à propriedade correspondente do todo por exemplo, a massa total ou a energia total. Qualidades como estresse ou saúde, pelo contrário, não podem ser expressas como a soma das propriedades das partes. Qualidades surgem de processos e de padrões de relações entre as partes. Por isso, não podemos compreender a natureza de sistemas complexos, tais corno organismos, ecossistemas, sociedades e economias se tentarmos descrevê-los em termos puramente quantitativos. As quantidades podem ser medidas; as qualidades precisam ser mapeadas.

Essa compreensão sistêmica do desenvolvimento implica um sentido de desdobramento multifacetado de organismos vivos, ecossistemas ou comunidades humanas em movimento para alcançar o seu pleno potencial. A maioria dos economistas, ao contrário, restringe o uso do “desenvolvimento” a uma única dimensão econômica, geralmente medida por meio do PIB per capita. A enorme diversidade da existência humana é comprimida nesse conceito linear e quantitativo e depois convertido em coeficientes monetários.

O economista Paul Ekins resumiu o conceito de desenvolvimento econômico, como é atualmente encenado no palco mundial em função de três características básicas: ele é (a) economicista, (b) orientado para o norte, e (c) de cima para baixo. Desenvolvimento é um conceito econômico relativamente recente. Antes da Segunda Guerra Mundial, ninguém teria pensado em considerar o desenvolvimento como uma categoria econômica. Mas a partir da segunda metade do século XX, esse conceito tem sido usado quase que exclusivamente no estreito sentido economicista. O mundo inteiro é arbitrariamente categorizado em países “desenvolvidos”, “em desenvolvimento” e “menos desenvolvidos”, como em uma classificação de times de futebol, de acordo com uma única dimensão econômica. O desenvolvimento é medido apenas em dinheiro e fluxos de caixa, ignorando-se todas as outras formas de riqueza - todos os valores ecológicos, sociais e culturais.

Além disso, essa “tabela de times” econômica é organizada de acordo com critérios do Norte. Países considerados desenvolvidos são aqueles que adotaram o modo de vida industrial do Norte. Isso torna o desenvolvimento um conceito nortista profundamente monocultural: ser um país em desenvolvimento significa ser bem-sucedido na aspiração de se tornar mais parecido com o Norte, E, finalmente, o desenvolvimento econômico é um processo de cima para baixo. As decisões e o controle permanecem firmemente nas mãos de especialistas, gerenciadores do capital internacional, burocratas de governos estatais e instituições financeiras globais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A distinção entre o desenvolvimento biológico e o atual sentido econômico de “desenvolvimento”, bem como a associação do crescimento econômico qualitativo com o primeiro e o crescimento puramente quantitativo com o segundo ajudam a esclarecer o conceito amplamente usado, mas problemático de “desenvolvimento sustentável”. Se a palavra “desenvolvimento” é usada no estreito sentido econômico atual, associada com a noção de crescimento quantitativo ilimitado, tal desenvolvimento econômico nunca poderá ser sustentável, e a expressão “desenvolvimento sustentável” seria, portanto, um paradoxo, uma junção de dois conceitos contraditórios. No entanto, se o processo de desenvolvimento é compreendido como sendo mais que um processo puramente econômico, incluindo dimensões sociais, ecológicas, culturais e espirituais, e se ele está associado com o crescimento econômico qualitativo, então tal processo sistêmico multidimensional pode realmente ser sustentável.

Uma vez que as pessoas são diferentes e os lugares cm que vivem são diferentes, podemos esperar que o desenvolvimento produza uma diversidade cultural de todos os tipos. Os processos por meio dos quais ele acontece serão muito diferentes do sistema de comércio global dos dias de hoje. Ele terá como base a mobilização de recursos locais para satisfazer necessidades locais, e será informado pelos valores da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. Esse desenvolvimento verdadeiramente sustentável baseia-se no reconhecimento de que somos partes inseparáveis da teia da vida, de comunidades humanas e não humanas, e que a intensificação da dignidade e da sustentabilidade de qualquer uma delas intensificará todas as outras.

Mas como podemos transformar a economia global, baseada em um sistema que se esforça para promover um crescimento quantitativo ilimitado, um sistema que é manifestamente insustentável, em outra, que seja ecologicamente saudável e socialmente justa? O conceito de crescimento econômico qualitativo será uma ferramenta de fundamental importância nessa tarefa. Em vez de avaliar o estado da economia com base na medida quantitativa bruta do PIB, precisamos distinguir entre “bom” crescimento e “mau” crescimento, e, em seguida, aumentar o primeiro à custa do segundo, de modo que os recursos naturais e humanos amarrados a processos de produção desperdiçadores e insalubres possam ser liberados e reciclados como recursos para processos eficientes e sustentáveis.

Do ponto de vista ecológico, a distinção entre crescimento econômico “bom” e “mau” é óbvia. O mau crescimento é o crescimento dos processos de produção e dos serviços que exteriorizam custos sociais e ambientais, baseiam-se em combustíveis fósseis, envolvem substâncias tóxicas, esgotam nossos recursos naturais e degradam os ecossistemas da Terra. O bom crescimento é o crescimento de processos e serviços mais eficientes, que interiorizam plenamente os custos e envolvem energias reno­váveis, nenhuma emissão de poluentes, reciclagem contínua de recursos naturais e restauração dos ecossistemas da Terra.

Muitas das reformas sugeridas envolverão mudanças de percepção, a qual, atualmente orientada para os produtos, passará a se orientar para os serviços, e a “desmaterialização” das nossas economias produtivas. Por exemplo, uma empresa de automóveis deveria perceber que ela não está necessariamente no negócio da venda de carros, mas sim na atividade de fornecer mobilidade, que também pode ser obtida, entre muitas outras coisas, produzindo-se mais ônibus e trens e replanejando nossas metrópoles.

A mudança do crescimento quantitativo para o qualitativo exigirá mudanças profundas não apenas nos níveis sociais e econômicos, mas também no nível individual. Isso significará superar o penetrante condicionamento cultural do materialismo e nos desviar de uma situação em que encontramos satisfação no consumo material para outra situação em que essa satisfação é encontrada nas relações humanas e na comunidade. Para a maioria de nós, essa mudança de valor não é nada fácil, pois somos bombardeados diariamente por uma enxurrada de mensagens publicitárias assegurando-nos de que o acúmulo de bens materiais é a estrada real para a felicidade, o verdadeiro propósito da nossa vida.

Essa glorificação do consumo material tem profundas raízes ideológicas, que vão muito além da economia e da política. Pelo que parece, suas origens estão assentadas na associação universal da virilidade com as posses materiais nas culturas patriarcais. A humanidade é agora medida em função da posse de bens valiosos - terra, gado ou dinheiro vivo - e em função do poder exercido sobre outras pessoas, especialmente mulheres e crianças. Essa imagem foi reforçada pela associação universal da virilidade com “grandeza” - medida em força muscular, realizações ou quantidade de posses. Na sociedade moderna, a “grandeza” do macho é medida, cada vez mais, pela riqueza material.

O novo capitalismo, que emergiu da revolução da tecnologia da informação durante as três últimas décadas, é caracterizado por três características fundamentais: (a) suas atividades econômicas nucleares são globais; (b)as principais fontes de produtividade e de competitividade são a geração de conhecimento e o processamento de informações; (c) está estruturado, em grande parte, em torno de redes de fluxos financeiros. Esse novo capitalismo global também é conhecido como “a nova economia”, ou simplesmente conto “globalização”.

Na nova economia, o capital funciona em tempo real, movendo-se rapidamente ao longo de redes financeiras mundiais. A partir dessas redes, ele é investido em todos os tipos de atividade econômica, e a maior parte daquilo que é extraído como lucro é canalizada de volta na metarrede de fluxos financeiros. Sofisticadas tecnologias da informação e da comunicação permitem que o capital financeiro se mova rapidamente de uma opção para outra em uma incansável pesquisa global por oportunidades de investimento. As margens de lucro são geralmente muito mais altas nos mercados financeiros do que na maioria dos investimentos diretos; por isso, todos os fluxos monetários, em última análise, convergem nas redes financeiras globais em busca de maiores ganhos.

O resultado final de todas essas inovações tecnológicas e financeiras é a transformação da economia global em um cassino gigantesco, operado eletronicamente.

No nível humano existencial, a característica mais alarmante da nova economia pode ser a de que ela é fundamentalmente modelada por máquinas. O “mercado global”, estritamente falando, não é um mercado, mas sim uma rede de máquinas programadas de acordo com um único valor - ganhar dinheiro com o objetivo único de ganhar dinheiro - com a exclusão de todos os outros valores. Em outras palavras, a economia global foi planejada de tal maneira que todas as dimensões éticas são excluídas. No entanto, as mesmas redes eletrônicas de fluxos financeiros e informacionais poderiam ter outros valores nelas embutidos. A questão crítica não é a tecnologia, mas a política e os valores humanos. E os valores humanos podem mudar; eles não são leis naturais.

No novo capitalismo global, considerações éticas têm sido sistematicamente excluídas, quer se refiram aos direitos humanos, à proteção do meio ambiente para as gerações futuras ou até mesmo à integridade básica necessária para se realizar negócios honestamente. O foco agora recai exclusivamente no empenho de fazer dinheiro, e a escala de recompensas pessoais em Wall Street é tão grande no topo que a ganância eclipsou todas as considerações de justiça e integridade.

Em sua trilogia sobre a Era da Informação, Manuel Castells oferece uma análise detalhada dos impactos sociais e culturais do capitalismo global. Descreve, em particular, a maneira como a nova “economia de rede” tem transformado profundamente as relações sociais entre o capital e a mão de obra. Na economia global, o dinheiro tornou-se quase inteiramente independente da produção e dos serviços por escapar para o âmbito da realidade virtual das redes eletrônicas. O capital é global em seu âmago, enquanto a mão de obra, via de regra, é local. Desse modo, o capital e a mão de obra, cada vez mais, existem em diferentes espaços e tempos: o espaço virtual dos fluxos financeiros e o espaço real dos lugares locais e regionais onde as pessoas são emprega­das; o tempo instantâneo das comunicações eletrônicas e o tempo biológico da vida cotidiana.

O poder econômico reside nas redes financeiras globais, que determinam o destino da maioria dos empregos, enquanto a mão de obra permanece localmente restrita no mundo real. Assim, o trabalho tornou-se fragmentado e destituído de poder. Por exemplo, atualmente, muitos trabalhadores, sejam eles sindicalizados ou não, por temerem que seus empregos poderão ser deslocados para lugares distantes, não lutarão por melhores salários ou por melhores condições de trabalho.

Castells ressalta que é importante distinguir entre dois tipos de mão de obra. A mão de obra “genérica”, não habilitada, não é necessária para se ter acesso a informações e conhecimentos além da capacidade de compreender e executar ordens. Na nova economia, massas de trabalhadores genéricos entram em vários empregos e saem deles para entrar em vários outros. Eles podem ser substituídos em qualquer momento, tanto por máquinas como por mão de obra genérica em outras partes do mundo, dependendo das flutuações que ocorram nas redes financeiras globais.

Diferentemente dessa última, a mão de obra “autodidata” tem capacidade para acessar níveis de educação superiores, para processar informações e para criar conhecimento. Em uma economia onde o processamento de informações, a inovação e a criação de conhecimento são as principais fontes de produtividade, esses trabalhadores autodidatas são altamente valorizados. Empresas gostariam de manter relações de longo prazo, seguras, com seus trabalhadores essenciais, de modo a manter sua lealdade e se certificar de que seu conhecimento tácito é transmitido por toda a organização.

Em consequência da fragmentação e da individualização da mão de obra e do gradual desmantelamento do estado de bem-estar social sob as pressões da globalização econômica, a ascensão do capitalismo global foi acompanhada pela intensificação da desigualdade social e da polarização. A lacuna entre os ricos e os pobres aumentou significativamente, tanto no nível internacional como dentro dos países. De acordo com o Human Development Report, a diferença na renda per capita entre o Norte e o Sul triplicou de 5.700 dólares em 1960 para 15.000 dólares em 1993. Os 20% mais ricos da população mundial possuem agora 85% de toda a riqueza, enquanto os 20% mais pobres (que respondem por 80% da população mundial total) detêm apenas 1,4% (PNUD, 1996). Os ativos das três pessoas mais ricas do mundo, sozinhas, excedem o PIB combinado dos países menos desenvolvidos e dos seus 600 milhões de pessoas (PNUD, 1999).

Stiglitz resume a situação: “A simples história dos EUA é esta: os ricos estão ficando mais ricos, os mais ricos entre os ricos estão ficando ainda mais ricos, os pobres estão cada vez mais pobres e mais numerosos, e a classe média está se esvaziando. Os rendimentos da classe média estão estagnados ou em queda, e a diferença entre os que pertencem a essa classe e os verdadeiramente ricos está aumentando”. O resultado disso tem sido uma transferência sistemática de riqueza dos pobres para os ricos. Como explica Stiglitz, “há duas maneiras de se enriquecer: criar riqueza ou tirar riqueza dos outros”, e nos EUA grande parte da riqueza dos que estão no topo resulta de transferências de riqueza, e não da criação de riqueza.

Uma vez que fazer dinheiro é o valor dominante do capitalismo global, seus representantes procuram eliminar as regulamentações ambientais sob o disfarce do “livre comércio” onde puderem fazê-lo, a fim de que essas regulamentações não in­terfiram com os lucros. Assim, a nova economia causa destruição ambiental não apenas intensificando o impacto de suas operações sobre os ecossistemas do mundo, mas também eliminando as leis ambientais nacionais em um país depois do outro. Em outras palavras, a destruição do meio ambiente não é apenas um efeito colateral, mas é também parle integrante do planejamento do capitalismo global.

Em qualquer discussão realista a respeito de como replanejar a economia global, é útil lembrar que a forma atual da globalização econômica foi conscientemente planejada e, portanto, pode ser remodelada. Como já salientamos, o “mercado global” é, na verdade, uma rede de máquinas programadas de acordo com o princípio fundamental que afirma: ganhar dinheiro deve ter precedência sobre qualquer outro valor humano. No entanto, os valores humanos podem mudar; eles não são leis naturais. As mesmas redes eletrônicas de fluxos financeiros poderiam ter outros valores neles embutidos. A questão crítica não é a tecnologia, mas a ética e a política.

A ética refere-se a um padrão da conduta humana que flui de um sentido de pertencer. Quando pertencemos a uma comunidade, comportamo-nos em conformidade com isso. No contexto da globalização, há duas comunidades cuja importância devemos destacar e às quais todos nós pertencemos. Somos todos membros da humanidade, e todos nós pertencemos à biosfera global. Como membros do oikos, compete-nos que nos comportemos de tal maneira que não interfiramos na capacidade inerente da natureza para sustentar a teia da vida. Como membros da comunidade humana, nosso comportamento deveria refletir um respeito pela dignidade humana e pelos direitos humanos básicos.

Uma vez que a concepção sistêmica da vida abrange as dimensões biológica, cognitiva e social, os direitos humanos, de um ponto de vista sistêmico, deveriam ser respeitados em todas essas três dimensões. A dimensão biológica inclui o direito a um ambiente saudável e a alimentos seguros e saudáveis. Os direitos humanos na dimensão cognitiva incluem o direito de acesso à educação e ao conhecimento, bem como às liberdades de opinião e de expressão. Na dimensão social, enfim, há uma vasta gama de direitos humanos - desde a justiça social até o direito da reunião pacífica, da integridade cultural e da autodeterminação.

Um dos “selos de qualidade” de uma solução sistêmica está no fato de que ela resolve vários problemas ao mesmo tempo. A agricultura oferece um bom exemplo. Se mudássemos da nossa agricultura química, industrial, de larga escala para a agricultura orgânica, sustentável, voltada para a comunidade, isso contribuiria de maneira significativa para a solução de três dos nossos maiores problemas.

Era sua maioria, as instituições de pesquisa são comunidades de estudiosos e ativistas empenhados em uma grande variedade de projetos e campanhas. Entre esses, há quatro clusters que parecem pontos focais para as maiores e mais ativas entre essas coalizões de base popular. O primeiro desses clusters responde ao desafio de remodelar as regras governantes e as instituições da globalização; o segundo empenha-se nas tarefas de intensificar entre as pessoas a percepção da crise climática, sensibilizando-as para essa realidade, e de catalisar as lideranças para que desenvolvam planos de ação política apropriados aos problemas energéticos e climáticos; o terceiro cluster abrange as iniciativas de oposição aos alimentos geneticamente modificados e de promoção da agricultura sustentável; e o quarto é o ecoplanejamento - um esforço coordenado para replanejar nossas estruturas físicas, metrópoles e cidades, tecnologias e indústrias de modo a torná-las ecologicamente sustentáveis.

Para alcançar esses objetivos, há necessidade de um profundo replanejamento das estruturas corporativas e do mandato legal para maximizar o lucro dos acionistas, mesmo que isso signifique sacrificar o bem-estar e a continuidade do emprego de seus funcionários, as condições para a subsistência das comunidades locais, ou a proteção do meio ambiente natural. O “dever fiduciário”, é considerado como o único objetivo da corporação.

É preciso notar que a primazia do interesse dos acionistas pela governança corporativa é uma invenção relativamente recente. As primeiras grandes corporações foram contratadas no século XVII por nações europeias para conduzir seus empreendimentos colonialistas. Dois séculos mais tarde, corporações menores eram contratadas nos EUA, no nível estatal, para propósitos que serviam ao bem público, como a construção de estradas e de pontes. Elas eram estreitamente regulamentadas e só tinham permissão de existir por um tempo limitado. No fim do século XIX, depois da Guerra Civil, esse sistema foi eliminado. As corporações tornaram-se privadas, receberam concessões de toda uma gama de novos direitos (inclusive a limitação dos compromissos financeiros dos acionistas), e passaram a considerar o ganho financeiro de seus acionistas como seu único objetivo.

Na visão corporativa da economia, os acionistas devem ser pagos tanto quanto possível e os funcionários tão pouco quanto possível. E, no entanto, são os funcionários que contribuem para as empresas, ano após ano, enquanto os acionistas contribuem muito pouco além do seu investimento inicial. Na verdade, até mesmo os conselhos de diretores não governam de maneira significativa, a não ser para proteger os lucros dos acionistas. Os funcionários, ao contrário, mantêm a empresa funcionando diariamente. No entanto, na governança corporativa, eles são, em grande medida, invisíveis, e não têm direitos sobre o valor que ajudam a criar.

No século XX, a aristocracia cedeu lugar à democracia em muitos países ao redor do mundo, mas a aristocracia financeira permanece encaixada na estrutura da corporação moderna. “Essa riqueza concentrada controla não somente as empresas, mas também o governo. E o governo imposto pela aristocracia financeira é a realidade da vida nos Estados Unidos de hoje”.

Entre os privilégios dos aristocratas do século XIX, o mais proeminente era o direito de receber fluxos contínuos de renda sem qualquer obrigação de se empenhar em atividades produtivas. Hoje, o mesmo privilégio é concedido aos acionistas da empresa e é negado aos seus funcionários. Outro privilégio aristocrático básico era a isenção do pagamento de impostos. Esse privilégio também vive na aristocracia financeira de hoje, cujos membros consideram justo que devam pagar impostos sobre ganhos de capital inferiores ao nível de impostos salariais pagos por trabalhadores.

As monarquias europeias desmoronaram e deram lugar a democracias quando o mito do divino direito dos reis, que as sustentava, perdeu sua credibilidade. De maneira semelhante, a aristocracia financeira de hoje vai desmoronar e dar lugar a uma democracia econômica quando seu mito central, o da primazia do interesse acionista, perder sua credibilidade. Por isso, a estratégia mais importante na tentativa de reformar a corporação será a de expor o mito central, o de que os lucros dos acionistas precisam ser maximizados em detrimento das comunidades humanas e ecológicas.

Uma vez que isso tenha sido obtido, será possível expandir o conceito legal de responsabilidade fiduciária de modo a incluir o bem-estar dos funcionários da corporação, das comunidades locais e das gerações futuras. Na verdade, isso significaria reviver o objetivo tradicional da corporação, o de servir ao bem público; e não será necessário abandonar a crença em uma economia de mercado a fim de mudar a estrutura corporativa, assim como não foi necessário abandonar a crença em Deus a fim de mudar a monarquia.

Um conceito fundamental que define atualmente as corporações e os mercados de capitais é a da propriedade. “De uma maneira que muitos de nós raramente percebem”, escreve Kelly (2012, p. 10), “a propriedade é a arquitetura subjacente à nossa economia. É a base sobre a qual se assenta o nosso mundo... Questões sobre quem possui a infraestrutura produtora da riqueza de uma economia, quem a controla, a quais interesses ela serve, estão entre as mais abrangentes questões com que qualquer sociedade pode se defrontar.

Com essa percepção, Kelly começou a examinar minuciosamente formas de pro­priedade que, de maneira alguma, envolvem corporações. Ela passou os dez anos seguintes viajando pelo mundo, estudando as atividades comerciais de propriedade comunitária que incorporara uma ampla variedade de maneiras de planejar a proprie­dade. No fim de sua jornada, Kelly concluiu que estamos no início de uma emergente revolução na propriedade. As novas formas de propriedade vão além do capitalismo (propriedade privada) e além do socialismo (propriedade estatal). Incluem uma opção radicalmente nova de propriedade privada para o bem comum.

O Plano B é o “roteiro para salvar a civilização” proposto por Lester Brown. É sua alternativa aos negócios como são geralmente realizados, e que, se assim prosseguirem, levarão ao desastre. O Plano B propõe várias ações simultâneas envolvendo soluções sistêmicas que se reforçam mutuamente e geram efeitos sinérgicos. Todas as ações propostas baseiam-se em tecnologias existentes e são ilustradas com exemplos bem-sucedidos provenientes de vários países ao redor do mundo. Brown também oferece um orçamento para cada uma de suas propostas. Esses orçamentos baseiam-se em estimativas derivadas de numerosos estudos altamente confiáveis.

Outra fonte de preocupação, a agricultura industrial começou suas atividades na década de 1960, quando as empresas petroquímicas introduziram novos métodos de agricultura química intensa. Para os agricultores, o efeito imediato foi um aperfeiçoamento espetacular da produção agrícola, e a nova era de agricultura química foi saudada como a “Revolução Verde”. Porém, algumas décadas depois, o lado negro da agricultura química tornou-se dolorosamente evidente.

Hoje, sabe-se bem que a Revolução Verde não ajudou nem os agricultores, nem a terra, nem os consumidores. O uso massivo de fertilizantes químicos e de pesticidas mudou toda a estrutura da agricultura e dos processos de cultivo quando a indústria agroquímica persuadiu os agricultores de que eles poderiam ganhar mais dinheiro cultivando enormes áreas de solo com uma única cultura altamente rentável e contro­lando ervas daninhas e pragas com produtos químicos. Essa prática de cultivo de uma única cultura - a monocultura - implicou altos riscos de que extensas áreas cultivadas pudessem ser destruídas por uma única praga, e também afetou seriamente a saúde dos trabalhadores agrícolas e das pessoas que viviam em áreas agrícolas.

Uma vez que um dos principais objetivos da biotecnologia vegetal até agora é aumentar as vendas de produtos químicos, muitos dos seus riscos ecológicos são semelhantes àqueles criados pela agricultura química. A tendência para criar amplos mercados internacionais para um único produto gera enormes monoculturas que reduzem a biodiversidade, diminuindo, assim, a segurança alimentar e aumentando a vulnerabilidade a doenças de plantas, pragas de insetos e ervas daninhas. Esses problemas são especialmente críticos nos países em desenvolvimento, onde os sistemas tradicionais de diversas culturas e alimentos estão sendo substituídos por monoculturas que empurram inúmeras espécies rumo à extinção e criam novos problemas de saúde para as populações rurais (Shiva, 1993).

Um dos principais argumentos dos proponentes da biotecnologia, que eles usam repetidas vezes para se contraporem à oposição generalizada aos organismos geneti­camente modificados, é o de que as culturas transgênicas têm importância fundamental para solucionar o problema de como alimentar o mundo. A produção convencional de alimentos, afirmam, não será capaz de acompanhar o crescimento da população mundial. Como Altieri e Rosset assinalam, esse argumento baseia-se em duas suposições errôneas. A primeira é a de que a fome no mundo é causada por uma escassez global de alimentos; a segunda é a de que a engenharia genética é a única maneira de se aumentar a produção de alimentos.

As agências de desenvolvimento sabem desde há muito tempo que não há uma relação direta entre o predomínio da fome e a densidade populacional ou crescimento de um país. Em estudo clássico, Frances Moore Lappé forneceu um relato detalhado sobre a produção mundial de alimentos que surpreendeu muitos leitores. Ele mostrou que, durante as três últimas décadas do século XX, o aumento da produção global de alimentos ultrapassou o crescimento da população mundial em 16%. Durante esse período, o abastecimento de alimentos manteve-se à frente do crescimento populacional em todas as regiões, exceto na África. De fato, muitos países em que a fome atingiu proporções excessivas exportaram mais produtos agrícolas do que importaram.

Essas estatísticas mostram com clareza que o argumento segundo o qual a biotecnologia é necessária para alimentar o mundo é altamente hipócrita e desonesto. As causas essenciais da fome no mundo não estão relacionadas com a produção de alimentos. Elas são a pobreza, a desigualdade e a falta de acesso aos alimentos e a terra. Na verdade, no Terceiro Mundo, 78% de todas as crianças desnutridas com menos de 5 anos vivem em países com excedentes de alimentos. As pessoas passam fome porque os meios para produzir e distribuir alimentos são controlados pelos ricos e poderosos: a fome mundial não é um problema técnico, mas um problema político. Se as suas causas essenciais não forem atacadas, a fome persistirá, independentemente das tecnologias que são usadas.

De acordo com o Christian Aid Report apresentado pelo economista Andrew Simms (1999), “as culturas geneticamente modificadas estão criando precondições clássicas para a fome e a inanição. A posse de recursos concentrada nas mãos de poucos - inerente à agricultura baseada na propriedade de patentes de produtos - e um fornecimento de alimentos que se baseia em muito poucas variedades de culturas plantadas em áreas imensas constituem a pior opção para a segurança alimentar”.

O que todas essas “corporações das ciências da vida” têm em comum é uma compreensão estreita da vida, baseada na crença errônea de que a natureza pode ser submetida ao controle humano. Isso ignora a dinâmica autogeradora e auto-organizadora que é a própria essência da vida e, em vez dela, redefine os organismos vivos como máquinas que podem ser gerenciadas a partir de fora, patenteadas e vendidas como recursos industriais. Desse modo, a própria vida tomou-se a mercadoria suprema.

Ao longo das duas últimas décadas, a agricultura orgânica agroecológica tem-se ex­pandido muito ao redor do mundo, e numerosos estudos têm mostrado que ela é uma alternativa viável e sustentável para a agricultura industrial.

Todas as soluções sistêmicas abordadas contribuem para o supremo objetivo de criar um futuro sustentável, e por isso todas elas são instruídas pela percepção ecológica básica. Os indivíduos e as comunidades que planejam e implementam essas soluções são ecologicamente alfabetizados: eles perceberam que, a fim de criar e de manter sociedades sustentáveis, nós precisamos honrar e respeitar a natureza, e cooperar com ela; e que podemos aprender lições valiosas com os ecossistemas da natureza - as comunidades de plantas, animais e microrganismos que têm susten­tado a vida ao longo de bilhões de anos.

Tal abordagem do planejamento, inspirada pela natureza, é conhecida como plane­jamento ecológico ou ecoplanejamento. Com base na perspectiva ecológica, o planejamento consiste em modelar os fluxos de energia e materiais para propósitos humanos. O “planejamento ecológico”, segundo David Orr “é o entrosamento cuidadoso dos propósitos humanos com os padrões e fluxos mais amplos do mundo natural, e o estudo desses padrões e fluxos para que eles informem a ação humana”. Assim, os princípios do ecoplanejamento refletem os princípios de organização que a natureza desenvolveu para sustentar a teia da vida.

A prática do planejamento nesse contexto requer uma mudança fundamental em nossa atitude com relação à natureza, uma atitude que nos leve a descobrir, como se expressa Janine Benyus, “não é o que podemos extrair da natureza, mas o que podemos aprender com ela”. Essa nova atitude - aprender com a natureza c cooperar com ela em vez de tentar controlá-la; adaptar as nossas necessidades aos padrões e processos da teia da vida, e não o contrário - é, de fato, uma profunda mudança. Significa nada menos que mudar a principal motivação do planejamento, que se antes planejava tendo em vista lucros e participação de mercado, agora planeja para a vida.

Todos esses projetos e iniciativas são informados pelo pensamento sistêmico, que está amplamente difundido na sociedade civil global da atualidade. Como temos repetidamente enfatizado, eles abordam a interdependência fundamental dos nossos problemas globais e também reconhecem o poder das soluções emergentes. No nível mais profundo, todas as soluções sistêmicas analisadas incorporam uma ideia que tem sido um leitmotiv em todo o livro A visão sistêmica da vida: a mudança fundamental de metáforas, que se antes refletiam a compreensão que tínhamos do mundo como uma máquina, agora passam a refletir a compreensão que temos dele como uma rede.

A atual revolução do ecoplanejamento, que agora está em perfeito andamento, fornece convincentes evidências de que hoje a transição para um futuro sustentável já não é mais um problema técnico ou conceitual. Temos o conhecimento e as tecnologias de que necessitamos para construir um mundo sustentável para as gerações futuras. O que precisamos é de vontade política e de liderança. Essa liderança não se limita ao domínio político. No mundo de hoje, há três centros de poder: governo, empresas comerciais e sociedade civil. Todos os três (em graus variados) precisam de líderes ecologicamente alfabetizados, capazes de pensar sistemicamente. A colaboração entre esses três centros de poder terá importância crucial para o movimento em direção a um futuro sustentável.

Certamente, a transição para um futuro sustentável não será fácil. Mudanças graduais não serão suficientes para virar a maré; também precisaremos de alguns grandes avanços desbravadores.

A tarefa parece esmagadora, mas não é impossível. Com base em nossa nova compreensão dos complexos sistemas biológicos e sociais, aprendemos que perturbações significativas podem desencadear múltiplos processos de feedback, os quais serão capazes de, rapidamente, levar à emergência de uma nova ordem. A história recente tem nos mostrado alguns exemplos poderosos dessas transformações dramáticas.

Por outro lado, a teoria da complexidade também nos diz que esses pontos de instabilidade podem levar a colapsos em vez de avanços revolucionários. Então, o que podemos esperar para o futuro da humanidade? Em nossa opinião, a resposta mais inspiradora a essa questão existencial vem de uma das figuras-chave de recentes, e dramáticas, transformações sociais, o grande dramaturgo e estadista tcheco Yáclav Havel, que transforma essa questão em uma meditação sobre a própria esperança: “Eu compreendo [a esperança], acima de tudo, como um estado de espírito, e não como um estado de mundo. Ou temos esperança dentro de nós ou não temos; é uma dimensão da alma, e não depende essencialmente de alguma observação particular do mundo, ou de alguma estimativa da situação... [Esperança] não é a convicção de que alguma coisa vai dar certo, mas a certeza de que alguma coisa faz sentido, independentemente do que virá a acontecer com ela.

Alexandre Botelho

Doutorando em Direito - UFSC

A sustentação da teia da vida

Como ápice do livro, após apresentar as visões cartesiana e sistêmica, os autores passam agora a apontar soluções para os problemas atuais do mundo, destacando as importância da ecologia e da visão sistêmica da vida, sustentada por uma enorme teia que inter-relaciona todos os seres vivos e o planeta.

 

A dimensão ecológica da vida

Após a apresentar a visão sistêmica da vida detalhadamente, os autores introduzem os conceitos de ecologia à vida, ampliando e complementando assim o raciocínio proposto por estes, afirmando categoricamente que nenhum ser vivo pode viver isoladamente. Para Morowitz a sustentação da vida é uma propriedade do sistema ecológico, não podendo um ser vivo ser analisado de forma cartesiana, isolada, ficando assim considerada a vida uma particularidade do planeta, e não de organismos isolados. Com o advento da ecologia a visão tradicional da biologia passa a ser considerada mais equilibrada.

Com a ciência da ecologia, recente em comparação as demais ciências, o ecossistema passa a ser a unidade básica, sendo este caracterizado como uma comunidade de diferentes espécies interagindo com o ambiente abiótico e biótico, de forma multidisciplinar, considerando aspectos geológicos, químicos, termodinâmicos, entre outros. Fatores demasiadamente humanos como política, agricultura, economia e sociologia, entre tantos outros, também devem ser considerados neste cenário holístico. Todo este arcabouço se torna necessário para permitir a continuidade da existência da vida humana na Terra.

O conceito teórico de ecologia dinâmica foi citado pela primeira vez por Charles Elton, em seu livro Animal Ecology, apresentando o fluxo de energia e matéria entre organismos. Outro conceito introduzido pela obra foi o de nicho ecológico.

Evelyn Hutchinson e Raymond  Lindeman amplificaram a teoria de Elton, dando ênfase para o nicho e cunhando o conceito de trófico para as análises sobre o fluxo das cadeias alimentares de forma circular. (produtor primário: plantas, consumidor primário: herbívoros, consumidor secundário: carnívoros, e decompositores: bactérias e fungos). As mudanças estruturais do ecossistema foram agregadas por Henry Coles e Frederic Clements prôpos a teoria da sucessão de padrões da vegetação que levam ao clímax, com a establidade de um clima determinado. Henry Gleason remodelou os conceitos de Clements e apresentou uma teoria mais complexa e menos determinista, introduzindo fatores aleatórios no processo.

Um marco no campo da ecologia foi o livro Fundamentals of Ecology, de Eugene Odum, que apresenta de forma clara e sistemática os conceitos de ecologia até então levantados por estudiosos. Os ramos apresentados no livro foram: água doce, marinho e terrestre.

Com o passar do tempo a ecologia passou a ser dividida em dois grandes ramos: a ecologia de ecossistemas (estrutura e dinâmica dos ecossistemas) e a ecologia humana (incluindo questões como sustentabilidade e mudanças climáticas globais). Outro enfoque destaca a ecologia de forma sistêmica, apresentando os ecossistemas como estruturas dissipativas, amplificada pela associação ao conceito cibernético de auto-organização e da teoria da complexidade, enfatizando os feedbacks nos processos. Para os autores não resta dúvida de que a Gaia é um sistema autopoiético, restando questionamentos para os ecossistemas, quando analisados isoladamente. Como forma de corroborar está a geração de vida dentro do sistema da Terra, apresentando como exemplo prático o ciclo de CO2, de Lovelock.

Todo este arcabouço acaba por gerar uma necessidade de avaliação da sustentabilidade ecológica, permitindo assim a continuidade da vida na Terra. Porém, esta postergação deve ser baseada na alfabetização ecológica, passando desde o ensino básico até o superior, e na apresentação de uma educação para a sustentabilidade que envolva lideranças mundiais para que ações possam ser realizadas o quanto antes.

 

Ligando os pontos: o pensamento sistêmico e o estado do mundo

A criação de comunidades que possam ser nutridas por sociedades sustentáveis é o desafio moderno. Tal desafio evolui quando é necessário não interferir na teia da vida. Como etapa inicial deste processo está a compreensão dos princípios da organização dos ecossistemas, em suma precisamos nos alfabetizar ecologicamente, levando em consideração a sua complexidade e notarmos a interconexão que envolve os problemas do mundo, passando pela necessidade de um futuro sustentável.

A revolução industrial acabou gerando como efeito colateral uma degradação da teia da vida. Tais interferências acabaram por provocar uma série de problemas contemporâneos, como pressão demográfica e pobreza, gerando com isso um esgotamento dos recursos naturais.

Como alternativas para o mundo atual surge o Plano B, de Lester Brown, tentando evitar o colapso que os atuais negócios tendem a gerar. Um ponto chave neste processo está na necessidade de abandonarmos a visão de crescimento ilimitado, uma vez que os recursos e o planeta são finitos. Como fatores de impacto no cenário complexo apresentado estão os crescimentos: econômico, corporativo e populacional. Esses crescimentos impactam diretamente a visão de crescimento ilimitado, uma vez que distam de conceitos como a sociologia, a ética e a exclusão social, esgotando recursos naturais da Terra. Tais alterações podem ter seus efeitos apresentados por forma do constante aumento de diferenciação entre ricos e pobres e sob o efeito de mudança climática global. O crescimento perpétuo é notadamente inviável, ou seja, não passa de uma ilusão repassada por economistas e políticos inescrupulosos, visando à manutenção do status quo, por meio de indicadores econômicos inadequados (PIB). Para alterar este cenário caótico deve ser trocada a visão de crescimento quantitativo para o crescimento qualitativo, este mais adequado à visão sistêmica da vida, uma vez que assimila princípios da sustentabilidade ecológica. Como alternativa ao PIB os autores sugerem a adoção do IDH como indicador a avaliar o crescimento de economias.

A qualificação do crescimento econômico passa a ser considerada como uma alternativa mais baseada na qualidade, prevendo a aplicação mais eficiente dos recursos, evitando desperdícios, buscando uma economia mais “verde”. O enfoque passa a se concentrar mais na comunidade do que na matéria, deixando de lado individualismo e adotando destaque para os relacionamentos humanos. Esta visão de posse está associada ao padrão patriarcal, baseada na posse e na virilidade, perpetuando as redes do capitalismo global, mantido por uma visão dominante desde a Segunda Guerra Mundial, apoiado pela tecnologia da informação. Esta globalização, fortemenete apoiada pela tecnologia da informação, está estruturada na rede de fluxos financeiros, apoiado pela OMC, fundamentada em um livre comércio que mais favorece grandes conglomerados do que permite a geração de novas alternativas à este cenário, fomentando um cassino financeiro em que os fluxos do capital migram de forma nem tão previsível como esperada. O impacto desse capitalismo fomenta a desigualdade social e aponta para o colapso evidente da democracia em países em desenvolvimento.

Em determinados momentos movimentos contrários à este capitalismo, tal como o Movimento Occupy e a Coalizão de Seattle, que alertam para o impacto ecológico do modelo atual que tenderá ao colapso e o esgotamento de recursos naturais e da destruição do meio ambiente, tendo a sua apoteóse com as mudanças climáticas que já começam a aparecer. Um exemplo próximo de movimento de contrariedade ao modelo econômico vigente foi o Fórum Social Mundial.

 

Soluções sistêmicas

A mudança do modelo atual para um modelo sustentável é necessária, caso contrário o futuro da humanidade do planeta está em jogo. A sociedade civil global apresenta alternativas e soluções que podem a política dentro de um viés sistêmico e ecologicamente aplicável dentro de dimensões, são elas: cognitiva, social e ecológica.

A reorganização da globalização passa pelo replanejamento da propriedade, evitando a aplicação de alguns bens como commodities. A energia é outro fator determinante de um novo modelo, uma vez que os hoje aplicados tendem a se esgotar em breve, impactando inclusive no meio ambiente. Os combustíveis fósseis devem ser evitados ao máximo, tanto pelo fator poluente quanto pela quantidade limitada desses bens, evitando cair em falácias como carvão verde e energia nuclear, que não passam de velhos hábitos travestidos de modernidade. O Projeto Realidade Climática e a 350.org alertam para o futuro da humanidade. Soluções propostas como o Plano B (composto pela erradicação da pobreza, estabilização do clima, extração de energia do vento, restauração da terra e reorientação dos orçamentos),  a Reinvenção do Fogo (projeto para abandonar carros movidos por petróleo passando pelo reorganização dos sistemas elétricos para que passe a ser uma rede mundial, nos moldes da internet) e a Terceira Revolução Industrial apontam algumas soluções que podem ser adotadas de forma integradas ou isoladas.

A agroagricultura, preterida pela monocultura industrial, deve ser retomada, possibilitando assim uma agricultura sustentável e mais saudável. Tal modelo apresenta menores risco para a economia e para a saúde da humanidade, uma vez que não permite a utilização de genética em produção de sementes modificadas, principalmente com fins lucrativos e como forma de subjugar os produtores rurais.

O planejamento voltado para vida deve ser aplicado, passando pelo ecoplanejamento e a fomentação de clusters ecológicos que permitam o aproveitamento total dos insumos, aliados à arquitetura verde e as ecocidades permite o vislumbre de uma sociedade melhor e mais sustentável, evitando o desgaste de energias e a extinção de seres e ecossistemas importantes para a gaia.

Outras soluções apresentadas passam pela biomimética, na qual a natureza passa a ser imitada, gerando com isso produtos com menor risco ao meio ambiente, uma vez que se espelham em seres vivos para produzir materiais similares ou até mesmo superiores aos produzidos pelos humanos, muitas vezes sem afetar em nada o meio ambiente, já que produzem tais artefatos com mínimo de desperdício.

 

Robson Junqueira da Rosa

 

 

Dia14 de abril de 15

A  visão sistêmica da vida uma concepção unificada e suas implicações filosóficas,políticas, sociais e econômicas.Fritjof Capra  Pier Luigi Luisi   

Disciplina Complexidade  Professor Aires Rover

Tutora  Mariana Mezzaroba  Aluna  Carmen Fossari EGC GC  D

 

A SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA pag.421 a 562

16. A Dimensão ecológica da vida

17. Ligando os pontos:  o pensamento sistêmico e o estado do mundo

18. Soluções sistêmicas

Os autores sintetizam os temas do livro: dimensões biológica, cognitiva, social e a dimensão ecológica, pontuando a visão sobre a concepção sistêmica da vida.

O “espaço” da ecologia em face de formação dos ecossistemas que através de cadeias sucessivas de alimentação e fontes de energias mantém o planeta vivo.

Os ecossistemas são de estruturas tão variadas que o autor apresenta dois exemplos contrastantes como um diminuto sistema num tronco já apodrecido ou o da dimensão ampla como de um oceano.

Ecologia: Ecossistemas, sistemas vivos formam estruturas Multiniveladas de sistemas aninhados dentro de outros sistemas.

BIOMAS: comunidades regionais de plantas e animais em territórios extensos (milhões de quilômetros quadrados)

Planeta Terra oito Biomas: florestas tropicais, temperadas e coníferas, savana tropical, pastagem temperada, chaparral (terreno arbustivo), tundra e deserto.

BIOSFERA: maior unidade ecológica, todos os ecossistemas.

Subdivisões da ecologia: populacional, evolutiva e de comunidades (biodiversidade dentro das comunidades ecológicas.).

Visão Sistêmica: Ecologia do Ecossistema e Humana.

“ECOSSISTEMA”: material e energeticamente aberto, principal fonte de energia é o Sol e seu resíduo efetivo é a energia térmica da respiração que é irradiada para a atmosfera!

Concepção de AUTOORGANIZAÇÃO, a mais recente absorve a idéia dos ecossistemas:

‘estruturas dissipativas que operam afastadas do equilíbrio e as formas

da nova ordem são representadas matematicamente por meio de atratores que emergem aos pontos de bifurcação. ´Por causa de sua complexidade e de sua sofisticação matemática esse arcabouço conceitual é muito mais desafiador e só recentemente os ecologistas começaram a utilizá-lo em suas análises de ecossistemas.

Os auto sistemas são autopoéticos?

Inexiste conceituação para ecologia sistêmica.

Em uma teia alimentar os componentes transformarão novos componentes dentro da mesma rede.

“Processo e ciclos de feedback: plantas absorvem matéria inorgânica que por sua vez se transforma em compostos orgânicos que são transmitidos pelo ecossistema com a finalidade de servir de alimento que possibilitem a produção de estruturas mais complexas” e assim toda uma rede se mantém e se regula e ciclos de feedback.

Teoria de Gaia: A atmosfera da TERRA é criada, mantida e transformada pelos processos metabólicos da biosfera. As bactérias são fundamentais (aceleram a velocidade das reações químicas tal qual a função das enzimas nas células)

Gaia: entrelaçamento de sistemas vivos e não vivos dentro da mesma teia

Importante à teia microbiana da vida, considera-la como sistema cognitivo (visão sistêmica da vida e seus processos auto-organizadores desde a temperatura da terra, a emissão do gás carbônico, lavas dos vulcões, rochas e o equilíbrio da temperatura de Gaia, por exemplo).

LESTER BROWN conceito de ecologia

Romper a visão reducionista e “departamentalizada” cartesiana e ter consciência de que as relações de uma comunidade ecológica não são lineares.

O processo de conscientização: Educação para a sustentabilidade. (Pedagogia CEL para uma alfabetização ecológica) Multidisciplinaridade, a inclusão da arte...

O papel relevante da horticultura nas escolas e o caso Second Nature nas universidades.

O ativismo político nas universidades e faculdades e o relevante papel de visão sistêmica das ONGs por todo o mundo.

Ao revisar os capítulos anteriores os autores pontilham sobre o tratamento do  

Brown: os grandes problemas ambientais ameaçam a segurança alimentar, escassez de água, erosão do solo, colapso na pesca industrial, eventos climáticos extremos, aumento do custo dos alimentos, pelo amento do combustível e os grãos para biocombustível.

A falta de ética diante da demanda humana de alimentação que prioriza os “ grãos” aos carros ...

Aquecimento global (uso do combustível) a consequente perda das geleiras e de colheitas

Richard Heinberg no livro The End of growth fala da falência e esgotamento dos recursos naturais da economia e da impossibilidade do crescimento infinito. Economia dos resíduos e destruição.

Necessidade de mudar o foco do crescimento priorizando a qualidade: complexidade, sofisticação e maturidade. Isto resultaria das ações: EQUILÍBRIO DINÂMICO ENTRE CRESCIMENTO, DECLÍNIO E RECICLAGEM.

O Paradoxo do termo “desenvolvimento sustentável”. A economia quantitativa em oposição a qualitativa (biológico e ecológico)

A Globalização, a OMC indicadores de um sistema econômico de um “novo capitalismo” que fere a ética.

CASTELLS aborda o descompasso entre as organizações financeiras, entre grupos dominantes como os países que integram o G7 e as variantes formas de uma economia globalizada que age internacionalmente     sob os aspectos da gestão do capital, mas que reduzem localmente o emprego, fala do andamento das leis financeiras de tal sorte que as identifica como um grande cassino.

Mudança climática, efeito estufa a ameaça da  vida  no planeta, herança de uma economia neoliberal, onde a produção   centra em parte em um  tipo de extrativismo face aos recursos da natureza e ainda se faz valer   dos excessos  de emissão do gás carbônico.

“A falência da prática neoliberal globalizada impede a produção local para viabilizar as grandes exportações e importações apontam para o diagnóstico que aponta para ‘ distancia entre a fazenda e a mesa”     

O extermínio das sobrevivências econômicas e de desenvolvimento dentro de uma cultura própria.

Sob o aspecto da sobrevivência do planeta, diante do aquecimento ao prazo limite do ano 2020 é premente diminuir em 80 % a emissão de CO2.

Na Visão Sistêmica da Vida é perceptível capacidade de mudança de paradigma.  , retornar ao foco da ética, priorizar a vida em suas dimensões e ainda  transformar os feitos globalizados. A agricultura orgânica é um exemplo desta possibilidade de mudança. Tal opção envolve uma  rede ecologicamente sustentável e com reverberação sistêmica como por exemplo a saúde pública.

Muitas ações visam estabelecer novas relações na sociedade em face de uma Visão Sistêmica, dentre as novas perspectivas uma nova concepção de sociedade, quase como uma terceira via, segundo Kelly a nova formulação da propriedade, qual seja, a propriedade privada para o bem comum. (exemplifica com a propriedade de trabalhadores que operam lavanderias verdes, painéis solares, produção de alimentos em estufas urbanas, parques eólicos, trabalhadores que são donos de uma loja em conjunto, propriedade comunal das terras (sem fins lucrativos e especulativos).

Os autores elencam ainda diversas ações e lutas por uma visão que perpassa o sentido ecológico de sustentabilidade e de integração do homem com um sistema econômico mais justo , bem como a premência temporal de ações que resgatem ecossistemas ecológicos, do planeta azul.

AMORY LOVINS:” caminho suave para a energia “(SOFY PATH): energias renováveis.

Novas tecnologias: carros sem o uso de derivado do petróleo.

Transporte e Sistema elétrico, RMI redes inteligentes.

“RMI planejado nos Estados Unidos aplicável em todo o mundo propõem uma revolução ou seja uma transformação tecnológica, econômica e social.” Um novo fogo “(Lovins)

Rifkin: Economia baseada no Hidrogênio, redes inteligentes. Terceira Revolução Industrial. A inclusão das populações em miserabilidade, países do terceiro mundo.

A Agroecologia, outra via dentro de uma nova perspectiva sistêmica de desenvolvimento sustentável.

O uso da biotecnologia na agricultura (a engenharia genética e as mutações que resultam em alimentos transgênicos como a soja, Um diagnóstico.

O paradoxo do agronegócio e a fome no mundo. O uso comercial e nocivo de um recurso que em outro uso poderia contribuir sistemicamente a erradicação da fome.

Face às possibilidades de mudanças de atitudes entre o mundo cartesiano e uma visão sistêmica, entre a vontade política (e a “prisão” instaurada de amarras globalizantes) na vontade e força de cada um a grande possibilidade de mudança de paradigma a fé, a esperança e a certeza de que a mudança pode começar por cada ser que ao se transformar, transforma a sociedade na qual está inserido.

Disciplina: Complexidade e Conhecimento na Sociedade em Redes

Professor: Aires Rover, Dr.

Tutora: Mariana Mezzaroba

Aluna: Ivana M. Fossari

IV A SUSTENTAÇÃO DA TEIA DA VIDA

CAP. 16  A DIMENSÃO ECOLÓGICA DA VIDA

Após a discussão da visão sistêmica da vida nas dimensões biológica; cognitiva e social, Capra inclui a dimensão ecológica para o fechamento de sua obra.

Nenhum organismo pode existir isoladamente - propriedade do sistema ecológico.

Ecologia, do grego oikos ( lar) = estudo do “Lar Terrestre”.

Estudo científico das relações que se estabelecem entre os membros deste Lar, unidade básica é o ecossistema. É uma ciência multidisciplinar: biologia, geologia, química atmosférica, termodinâmica entre outros. Sua importância maior na atualidade é o futuro da humanidade.

Charles Elton (1927) introduziu o conceito de cadeias alimentares, o fluxo de energia e matéria de um organismo para outro; o nicho ecológico como habitat natural e particular temporal.

Raymond Lindeman cunhou o adjetivo “trófico”- do grego trophe (alimento)para analisar as relações alimentares e distribuir em níveis tróficos os organismos da cadeia alimentar: 1º nível trófico- plantas verdes/produtores primários e o 2º nível trófico- herbívoros/consumidores primários, envolvidos ao longo das cadeias seus níveis os decompositores. O único resíduo gerado pelo ecossistema como um todo é a energia térmica da respiração através da fotossíntese.

Os ecossistemas, como todos os sistemas vivos, formam estruturas multiniveladas de sistemas aninhados dentro de outros sistemas. Num nível mais amplo de milhões de quilômetros quadrados= biomas, oito principais: florestas tropicais/temperadas e de coníferas; savana tropical, pastagem temperada, chaparral, tundra e deserto.

A maior unidade ecológica é a biosfera.

Vários ramos da ecologia: ecologia populacional= estrutura e distribuição espacial;  a evolutiva na seleção natural e evolução; e, a de comunidades nas interações entre espécies.

Avanços tecnológicos introduziram outros ramos como: ecologia da conservação (manutenção da biodiversidade); ecologia humana (relação entre sseres humanos e o ambiente natural) e a ecologia global (fenômenos ecológicos em escala global).

O foco de atenção da ecologia sistêmica são os fluxos de energia e de matéria que percorrem os ecossistemas provenientes do Sol/atmosfera/solo e dirigidos aos produtores primários, consumidores e decompositores.

Relembrando as características da vida biológica e sua relação com os ecossistemas:

1.      Um sistema vivo é material e energeticamente aberto.

Um ecossistema é material e energeticamente aberto.

2.      É auto-organizadora, estrutura propria com suas regras.

Um ecossistema possui auto-organização.

3.      Dinâmica não linear, pode incluir a emergência de uma nova ordem em pontos de instabilidade Os ecossistemas são estruturas dissipativas que operam afastadas do equilíbrio e as formas da nova ordem são representadas por meio de atratores que emergem nos pontos de bifurcação.

4.      É operacionalmente fechada- rede autopoiética.

Ainda em discussão essa característica.

5.      É auto-geradora, cada componente ajuda a transformar e a substituir outros componentes.

O sistema de Gaia é claramente autogerador, metabolismo planetário, ciclo do gás carbônico, regulação da temperatura da Terra.

6.      Interações com o meio ambiente são cognitivas, determinadas pela organização interna.

A teia microbiana da vida precisa ser considerada como um sistema cognitivo.

A diversidade de um ecossistema está ligada à rede do sistema, a diversidade torna o ecossistema flexível.

A sustentabilidade ecológica é um tema de extrema importancia! Nos dias atuais as estimativas sobre as taxas de extinção ocasionadas pelo desmatamento e outras formas de destruição dos habitats, segundo Leaky e Lewin (1995) indicam que a Terra está hoje no meio de uma sexta extinção em massa. As demais extinções foram causadas por fenomenos fisicos naturais e hoje pela ação do homem.

Assim a preocupação do meio ambiente envolve o grande desafio do nosso tempo: como construir e nutrir comunidades e sociedades sustentáveis.

“Comunidades sustentáveis desenvolvem seus padrões de vida ao longo do tempo em interação contínua com outros sistemas vivos, humanos e não humanos”.

Faz-se necessario compreender os princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a teia da vida, a alfabetização ecológica!

A partir da visão sistemica dos ecossistemas é possível formular um conjunto de princípios básicos da ecologia e usa-los como diretrizes na construção de comunidades sustentáveis. Como a interdependencia, todos os membros de uma comunidade ecológica estão interconectados numa rede de relações, a teia da vida. O comportamento de um depende do comportamento do outro. As relações que se estabelecem são múltiplas, distintas e complexas. A natureza cíclica dos processos ecológicos é outro princípio, compreender os ciclos de feedback como o caso do resíduo que para uma espécie é só resíduo para outra é o alimento da cadeia alimentar.

A energia solar é o único tipo de energia que é renovável, economicamente eficiente e ambientalmente benigno.

A parceria é outra caracteristica essencial, a tendencia para se associar, estabelecer vínculos, cooperar um com o outro.

A flexibilidade de um ecossistema para manter o equilibrio natural apartir dos ciclos de feedback. Respeito às “flutuações ecológicas”.

A diversidade de um ecossistema está ligada à estrutura da rede do sistema. Diversidade envolve muitas relações e abordagens diferentes para o mesmo problema. A biodiversidade fortalece as comunidades ecológicas, nas comunidades humanas o mesmo ocorre em relação à diversidade étnica e cultural.

A importancia da disseminação desses conceitos de preservação, conscientização do nosso compromisso ecológico em defesa da vida impulsionou e impulsiona ao ensino de como defender, preservar , os ciclos sistemicos da vida desde o ensino fundamental para construirmos e nutrirmos comunidadesx e sociedades sustentáveis.

 CAP. 17  LIGANDO OS PONTOS– O pensamento sistemico e o estado do mundo.

É necessário um esforço coletivo para construirmos um futuro sutentável.

Há soluções para os pricipais problemas do nosso tempo, algumas simples mas todas requerem uma mudança radical de valores.

A alfabetização ecológica nos faz compreender como a nossa civilização humana vem interferindo nos processos sistemicos e ecologicos, principalmente após a Revolução Industrial. Todos os problemas do nosso tempo são sistemicos e devem ser compreendidos sob essa ótica multifatorial com soluções sistemicas dentro dos principios básicos da ecologia, os de sustentabilidade.

Trtes tipos de crescimento que provocam impactos no nosso ambiente natural: o economico, o corporativo e o populacional. O capitalismo global persegue o crescimento economico e o corporativo, forma uma rede de fluxos financeiros sem respaldo ético, e, o reflexo é a desigualdade social e a exclusão social ampliando a lacuna entre os ricos e os pobres, aumentando a pobreza no mundo. O crescimento populacional e a pobreza formam um círculo vicioso, um feedback autoampliador. Visivel na redução das áreas de colheitas/ suprimento de água por pessoa/ aumento da pressão demográfica.

Os problemas ambientais são exacerbados pela mudança climática global.

O desenvolvimento desenfreado e global não respeita a diversidade cultural, as caracteristicas ambientais.  O novo capitalismo emergiu da revolução da tecnologia da informação durante as tres ultimas décadas.

Todo o movimento mundial em prol de um desenvolvimento sistemico e responsável , numa mudança do quantitativo para o qualitativo exige mudanças profundas nos níveis sociais e economicos e também no nível individual. A alfabetização ecológica requer um pensamento sistemico.

A visão sistemica da vida possui uma grande importância prática, está sendo desenvolvida nos campos academicos, praticada em numerosos institutos de pesquisa e centros de aprendizagem estabelecidos pela sociedade civil global. Uma solução sistemica resolve vários problemas ao mesmo tempo.

Por exemplo uma mudança para a agricultura organica e sustentável: reduz a dependencia energética; o alimento produzido é mais saudável sem os efeitos nocivos dos agrotoxicos e isso contribuiria significamente no combate a mudança climática pois um solo organico é rico em carbono favorecendo a retenção do gas carbono da atmosfera na materia organica.

CAP. 18  SOLUÇÕES SISTÊMICAS 

Todas as tecnologias de ecoplanejamento incorporam os principios básicos da ecologia, tendem a ser projetos de pequena escala com abundante diversidade com uso eficiente de energia não poluente  e orientados para a comunidade. O potencial para criação de empregos locais atraves do investimento em tecnologias verdes, restauração de ecossistemas e o replanejamento da infraestrutura é bastante significativo.

Projetos que surgem através do pensamento sistemico, abordam a interdependencia fundamental dos nossos prblemas globais e reconhecem o poder das soluções emergentes.

A necessidade de uma mudança de metáforas para a compreensão do mundo, antes viamos o mundo como uma máquina hoje precisamos compreende-lo como uma rede. Hoje vivemos a revolução de ecoplanejamento, a transição para um futuro sustentável já não é mais um problema técnico ou conceitual, precisamos é de vontade política e de liderança. Os tres centros de poder: governo, empresas comerciais e a sociedade civil, precisam de lideres ecologicamente alfabetizados com condisões de pensar sistemicamente.

Essa transição para um futuro sustentável não será fácil, mudanças graduais e grandes avanços desbravadores serão necessários. A partir da compreensão dos complexos sistemas biológicos e sociais é possível observar que perturbações significativas podem desencadear múltiplos processos de feedback que poderão levar à emergencia de uma nova ordem. Por outro lado esses pontos de instabilidade podem levar a colapsos em vez de avanços revolucionários. É preciso manter a esperança para seguir construindo um futuro sustentável, cada parte dessa teia é fundamental nesse processo lento e constante de mudança.