Um retorno para a atenção/consciencialização e exposições do Abhidharma


Porisabel santos- Postado em 27 julho 2011

 

Este paper descreve o exame da experiência com o método da atenção/consciencialização, como apresentado no capítulo VI, do livro A Mente Corpórea, de Varela, Thompson e Rosh.

Quando os autores questionam a não existência de um self relacionada a coerência de nossas vidas, a continuação do pensar, sentir e agir defendendo um self que não é encontrado ou experienciado, eles nos levam a descoberta de Buda - momentaneidade do surgimento dos agregados e edifício da causalidade -  Roda da Vida / Roda do Karma, ou seja, o padrão da vida humana como uma busca circular interminável no sentido de ancorar a experiência num self fixo e permanente, onde Karma significa a descrição da causalidade psicológica e não "sina ou predestinação".

  • Funcionamento da causalidade kármica.
  • Ênfase central na atenção/consciencialização (compatível com a sensibilidade científica moderna), porém, com a preocupação na análise causal da experiência direta (e não como forma externa de legalidade).
  • Preocupação pragmática: de como a compreensão da causalidade pode ser usada para quebrar as correntes do condicionamento da mente e alimentar a atenção e o insight.

Neste contexto, os autores apresentaram o surgimento co-dependente (nidanas), em seus 12 estágios:

1) Ignorância: é a base de toda a ação causal Kármica.

  • Ser ignorante a cerca de, não reconhecer, a(s) verdade(s) sobre a natureza da mente e da realidade.
  • Ser ignorante a cerca da falta de um ego-self.
  • Confusões - visões e emoções enganosas da crença de um self.

2) Ação Volitiva: no estado sem self não existem intenções auto-orientadas.

  • Por ignorar a ausência do ego-self, surge o impulso p/ ações habituais e repetitivas baseadas num self.
  • Junto a ignorância formam a base para as 8 ligações seguintes (3-10).

3) Consciência: em geral, refere-se ao sentir; do estado dualístico - 5º agregado.

  • É o começo da consciência na vida de um ser, ou o 1º momento de consciência em uma situação dada.

4) Complexo Psicofísico: A consciência requer um corpo e uma mente em conjunto.

  • Momentos de consciência oscilam nos extremos do complexo psicofísico (sensória <== consciência ==> mental).

5) Os Seis Sentidos: um corpo e uma mente significam que temos 6 sentidos (vê-se, ouve-se, saboreia-se, cheira-se, toca-se e pensa-se).

6) Contato: momento de consciência envolve contato entre o sentido e o seu objeto (sem contato não existe experiência sensorial). É um fator mental onipresente.

7) Sentimento: agradável/desagradável/neutro surge do contato. É um fator mental onipresente.

  • "No instante do sentimento, somos de fato atingidos pelo mundo - em linguagem fenomenológica, (...) somos lançados para o mundo".

8) Anseio: surge do sentimento (há 84.000 tipos de anseios).

  • A forma básica é o desejo por aquilo que é aprazível e a aversão por aquilo que não é aprazível. É um ponto de ligação na cadeia de causalidade.

9) Apego: o anseio resulta em apego e fixação.

  • Refere-se ao apego aquilo que não se tem e se deseja, bem como a aversão que temos por aquilo que temos e do qual desejamos nos libertar.

10) Transformação: o apego leva à reação no sentido da transformação.

  • A transformação inicia a formação de novos padrões que se estendem a situações futuras.

11) Nascimento: uma nova situação, um novo modo de ser, nasce.

  • Se sente a cadeia causal e se pretende fazer algo com ela.
  • Neste momento os filósofos ocidentais falam sobre a akrasia (fraqueza da vontade).
  • O nascimento para uma nova situação, mesmo agradável, é sempre envolvido pela incerteza.

12) Decadência e Morte: sempre que há nascimento, há morte!

  • Os momentos e situações morrem, as vidas terminam.
  • "A morte de um momento de experiência é, no âmbito da análise da causalidade budista, uma pré-condição causal para o surgimento do momento seguinte. Se ainda houver ignorância e confusão, a roda continuará a girar interminavelmentedo mesmo modo."

Os autores também citam a análise dos elementos básicos (dharma), onde:

  • Os elementos básicos são os fenômenos qualquer coisa que ocorre, surge ou é encontrada na experiência.
  • É gerada a partir de uma reflexão corporizada e ilimitada;
  • Nesta análise, cada elemento, cada momento de consciência, consiste na própria consciência (mente primária).  
  • O caráter de uma mente primária é determinado pelos seus fatores mentais constituintes.
  • Fatores mentais onipresentes: contato, sentimento, discernimento, intenção e concentração.