Um pouco da filosofia oriental e a Ciência Cognitiva


Porisabel santos- Postado em 27 julho 2011

Este paper apresenta uma parte do caminho da filosofia oriental para a solução de problemas do mundo ocidental, segundo os capítulos I e II, do livro A Mente Corpórea, de Varela, Thompson e Rosh.

 Segundo os autores, a filosofia ocidental deixou de ocupar uma posição privilegiada devido à necessidade de se alargar o horizonte para abarcar as tradições não ocidentais de reflexão sobre a experiência, por acreditar que a doutrina budista contribui para o diálogo com a ciência cognitiva – onde, o “não-eu” traz a compreensão da fragmentação do “eu” no cognitivismo e no conexionismo.; e o “não-dualismo” apresenta o “caminho do meio”. A importância do método e da técnica da meditação da atenção, aqui compreendida como a presença da mente na experiência corporalizada do cotidiano e, o recuo da mente frente às suas teorias e preocupações, da sua atitude abstrata e para a própria experiência de cada um.

Segundo os autores, ao examinarmos a experiência com o método da atenção/consciencialização a prática budista permite nos tornarmos atentos da mente, experienciar aquilo que a mente de cada um faz e, enquanto o faz, estar presente com a mente de cada um. A importância para a ciência cognitiva é expressa na frase dos autores: “Se a ciência cognitiva tiver que incluir a experiência humana, deve ter algum método para explorar e conhecer o que é a experiência humana”, e então, apontam para a meditação total – meditação de atenção.

Neste sentido, para responder seus questionamentos sobre a possibilidade da mente se tornar um instrumento que permita o seu próprio conhecimento, bem como da possibilidade de lidar com a veleidade, com a não presença da mente, os autores citam que: “No budismo, a finalidade de acalmar a mente não é para se tornar absorvida, mas para tornar a mente capaz de adquirir uma visão da sua natureza e funcionamento”.

Cabe destacar outras citações dos autores, para melhor compreensão e desenvolvimento do tema:

  • O meditador descobre que a atitude abstrata atribuída à ciência e à filosofia é na realidade a atitude da vida do dia-a-dia quando não estamos atentos.
  • Do ponto de vista da meditação de atenção/consciencialização, os seres humanos não estão encurralados para sempre na atitude abstrata. A dissociação da mente e do corpo, da conscientização e da experiência, é o resultado do hábito, e estes hábitos podem ser quebrados.
  • A respiração deixa de ser necessária como foco: a atenção é comparada às palavras individuais de uma frase, e a consciencialização à gramática que rege a frase inteira.
  • O desenvolvimento da atenção/consciencialização é considerada como parte da natureza de base da mente - é o estado natural da mente que foi temporariamente obscurecido por padrões habituais de apreensão e ilusão, assim, o desenvolvimento pode ser tratado como um treino de bons hábitos.

Os autores também atentam para o começo da sabedoria ou maturidade (prajña), conforme:

"A mente indomada tenta apreender continuamente um qualquer ponto estável no seu interminável movimento, fixando-se em pensamentos, sentimentos e conceitos, como se se tratassem de uma base sólida. À medida que estes hábitos são trespassados e se aprende uma atitude de deixar correr, a característica natural da mente de se conhecer a si própria e de refletir a sua própria experiência pode sair bastante reforçada."

Onde:

“Tal maturidade não significa a assunção de uma atitude abstrata. (...) O conhecimento, neste sentido, não é um conhecimento sobre qualquer coisa. (...) Não existe nenhum conhecedor/observador abstrato de uma experiência que esteja separado da própria experiência”.