O papel da reflexão na análise da experiência


PorWoszezenki- Postado em 02 maio 2011

 

O autor sugere uma transformação da natureza da reflexão de uma atividade abstrata e descorporalizada para uma reflexão corporalizada (atenta) ilimitada. Por corporalizada entende-se uma reflexão na qual o corpo e mente são postos juntos. Ou seja, a reflexão não se exerce só sobre a experiência, mas que a reflexão é ela própria uma forma de experiência. Designamos esta forma de reflexão por reflexão de atenção ilimitada.

Frequentemente perguntamos “O que é a mente?”, “O que é o corpo?” e continuamos refletindo teoricamente e investigando cientificamente. Pelo fato não nos incluirmos na reflexão, executamos apenas uma reflexão parcial e a nossa questão torna-se descorporalizada.

A meditação de atenção/consciencialização trabalha diretamente com a nossa corporalidade básica. Trata-se de uma questão de simples experiência o fato de o nosso corpo e a nossa mente poderem ser dissociados, da nossa mente poder divagar, de podermos não ter consciência de onde estamos e do que o nosso corpo ou nossa mente estão fazendo. Mas este hábito de desatenção pode ser alterado: a mente e o corpo podem ser juntos, perfeitamente coordenados.

Podemos comparar o desenvolvimento da reflexão corporalizada com o desenvolvimento de uma competência, por exemplo, aprender a tocar flauta. No início, a relação entre a intenção mental e o ato corporal não está nada desenvolvida: mentalmente sabemos o que temos que fazer, mas fisicamente somos incapazes de o executar. À medida que praticamos, a relação entre intenção e ato torna-se mais próxima até que o sentimento de diferença entre eles quase se desvanece (trata-se de um gênero de unidade mente-corpo).

Contudo, as práticas de atenção/consciencialização quase nunca são descritas como o treino de uma competência, mas antes como a libertação de hábitos de desatenção, mais uma desaprendizagem do que uma aprendizagem. É exatamente quando o meditador se aproxima do desenvolvimento da atenção com as maiores ambições – de adquirir uma nova competência – que a sua mente se fixa e corre e a atenção/consciencialização se torna mais esquiva. Ou seja, quando o meditador da atenção começa a deixar-se ir em vez de lutar para atingir algum estado particular de atividade, então o corpo e a mente estão naturalmente coordenados e corporalizados. A reflexão de atenção é então considerada como uma atividade completamente natural.

Do ponto de vista de uma reflexão de atenção ilimitada, a questão mente-corpo não precisará de ser formulada deste modo: “Qual é a relação ontológica entre corpo e mente, independente da experiência de cada um?”, mas antes: “Quais são as relações do corpo e da mente na experiência real (atenção), e como é que estas relações se desenvolvem, que formas podem tomar (ilimitação)?”

A tese mente-corpo não é apenas uma especulação teórica, mas é desde o início uma experiência prática e vivida, envolvendo a reunião da totalidade do corpo e da mente de cada um. Assim, quando incluímos na nossa reflexão sobre uma questão aquele que a põe e o próprio processo de pôr a questão (circularidade), a questão passa a ter uma nova vida e um novo significado.