Nossa herança oculta - A unidade cíclica da natureza e a harmonia dos astros


Porjuliano- Postado em 20 abril 2011

O CÁLICE E A ESPADA  - Nossa herança oculta – A unidade cíclica da natureza e a harmonia dos astros

De Riane Eisler

por

Juliano Tonizetti Brignoli

 Do texto “Nossa herança oculta” é interessante a análise que a autora Eisler faz em relação a uma notável retrospectiva histórica fundamentada por registros acerca de épocas remotas do início das civilizações e das sociedades, em especial, referindo-se a aos acontecimentos da Grécia antiga.

A mensagem mais evidente do capítulo 8 do livro de Eisler é que a história e a evolução das sociedades mostram que ocorreram alternâncias entre épocas em que se vivia em uma sociedade mais igualitária, onde não predominava o caráter de dominância, baseado na força bruta física ou psíquica, com épocas de opressão androcrática em que a supremacia era a ordem social.

Ao se referir àquelas épocas de vivência baseada em modelos de parceria, Eisler sugere a adoção do termo Gilania que, derivado do grego apresenta uma semântica interessante e propícia para explicar a tentativa do rompimento do modelo androcrático. Da palavra Gilania podemos extrair três partes com significados inerentes: GI, do grego Gyne ou mulher; AN, do grego andros ou homem e o L do grego LYEIN, significando a dissolução ou libertação da supremacia de uma parte sobre a outra, ou seja, da mulher sobre o homem e vice-versa. A idéia é justamente, em conformidade com capítulos anteriores do livro O Cálice e a Espada, denotar a adoção da parceria ao invés da dominação. Os registros mostram que estas épocas de sociedades mais gilânicas existiram, mas foram sobrepostas reiteradamente por modelos de dominação. Na contemporaneidade vivemos o modelo baseado na dominação, quem sabe, como afirmado nas discussões do prefácio do capítulo 1 do livro de Eisler, a culpa da predominação deste modelo ou desta ordem social é o capitalismo, nossa “ganância” por recursos materiais e financeiros, pelas articulações mal intencionadas de nossos governantes e líderes da sociedade, sempre com interesses voltados ao individualismo e toda atividade que possa favorecer, em primeiro lugar, o seu domínio.

É importante investigar os motivos ou eventos históricos que causaram ruptura das épocas gilânicas. A sociedade da Grécia antiga certamente prosperou, embora, geograficamente delimitada, em uma forma de convívio social e ambiental muito mais equilibrado e até diríamos com um índice de violência muito menor. Contudo, mesmo em sociedades gilânicas é intrigante as evidências que, apesar de nestas sociedades ocorrerem rituais de culto a Deusa feminina, a mulher tinha espaço restrito em termos de seus direitos políticos e civis.

Um fato notável em relação à dominação da Grécia antiga pelas invasões dóricas, rompendo o modelo gilânico, é que estes povos invasores tiveram dificuldades nesta dominação e no estabelecimento de novas ordens de conduta e de pensamento, pois aquelas sociedades haviam consolidado uma maneira de vida construída sob fortes alicerces baseados em leis e instituições e como elucida Eisler em seu livro: “As sementes cultivadas com tanto carinho ao longo de séculos de paz não seriam erradicadas com facilidade. Enxertos dessas mesmas sementes foram transplantados para a própria Grécia, criando raízes e florescendo também ali."

Partindo para uma análise do texto “A Unidade Cíclica da Natureza e a Harmonia dos Astros” a autora revela as mudanças ocorridas no passado da civilização grega com o surgimento dos primeiros filósofos e cientistas pré-socráticos. O evento marca um novo enfoque sobre a interpretação da realidade. É impressionante saber que até então o conhecimento era baseado unicamente por revelações divinas, uma forma dogmática que ainda permeia na sociedade contemporânea, em especial, aceita por aqueles com pensamento mais conservador acerca das coisas do mundo e que certamente pode ainda estar contribuindo para o mantimento dos ideais androcráticos. As novas manifestações de tais filósofos gregos passaram a mostrar o conhecimento como fatos observáveis e refutáveis.  O monoteísmo radical predominante nas reflexões filosóficas procurava retratar que o universo era governado por uma inteligência infinita e isso contrapõe-se com a visão do panteão olímpico oficial da época que era de natureza androcrática. Mas o pensamento pitagórico sobre o cosmos estabelecia que este era uma imensa harmonia musical, contrariando a visão androcrática de um universo caótico.

Como um último fato a destacar, a concepção firmada sobre os princípios que governam a visão de universo pré-socrática determina que o mundo se comporta com regularidade observável, ou seja, as principais mudanças repetem-se em ciclos diários e anuais. Poderiamos propor que esta era “uma interpretação mais racional/analítica acerca dos fenômenos naturais?”