Mentes sem self: agentes divididos


Porjuliano- Postado em 18 maio 2011

Análise do capítulo "Mentes sem SELF: agentes divididos"

do livro: A Mente Corpórea

por

Juliano Tonizetti Brignoli

Em seu livro, A Mente Corpórea, Francisco Varela discorre sobre as Mentes sem um self, que, em conformidade com  Hegel, ao afirmar que self se funde com aquele conceito de autoconsciência onde: “a consciência  primeiro encontra a si mesma na autoconsciência”, parece reportar-se a uma discussão sobre as mentes sem um ego. O autor apresenta a terminologia Abhidharma que surge como um estudo da formação emergente de experiência direta sem a base de um ego-self. É uma preocupação contemporânea científica a respeito das propriedades emergentes das sociedades da mente. Varela diz que a Ciência e a Experiência humana são inseparáveis, porém, analisadas tomando-se apenas um dos lados. A visão das mentes sem self começa a tomar forma com a separação cognitivista da consciência e da intencionalidade. Para elucidar com maior praticidade o tema, recorremos rapidamente e referenciamos o trabalho de Oliveira (2011) que em seu artigo escreve sobre “Conhecimento musical como ação: aspectos de aprendizagem perceptiva”. O trabalho objetivou formar um panorama contextual para a descrição de conhecimento musical como ação, como experiência musical, uma exemplificação às denotações da obra de Varela ao se referir em experiência humana. Foi uma contribuição à ciência cognitiva e à educação musical. A base da discussão é o significado da frase “eu conheço esta música”. O autor indaga: O que significa “eu conheço esta música?”. A resposta depende do nível de imersão ao conhecimento da música, assim, fica entendido que para um leigo, conhecer pode ser simplesmente reconhecê-la, ouvi-la, mas, para um músico profissional pode significar a capacidade de reproduzi-la. Em relação à experiência humana neste caso, uma experiência não será considerada como algo que aconteça a alguém, mas ao contrário, a ação sensório-motora de alguém e que experiência é a ação de algum corpo sobre outros corpos. Oliveira referencia Kaplan (1987) que cita: o conhecimento musical se dá na mente e a imagem mental condiciona a ação do corpo. Esta abordagem descreve mente como substância distinta do corpo, toda ação deste corpo é descrita como conseqüência da ação da mente. Fica aqui uma reflexão acerca das mentes com ausência de self, conforme menciona Varela em sua obra: como podemos compreender o fenômeno de mentes sem a consciência de si próprias, ou seja, a mente que não encontra o eu (ego-self) e poder desencadear controle sobre ações sensório-motoras? Outra indagação interessante é formulada no trabalho de Oliveira (2011) acerca das dificuldades epistemológicas e ontológicas no estudo do tema: como se pode verificar a realidade de uma verdade que se situa na mente, se essa mente não é descrita como substância física?

O autor mostra que o corpo que age sobre o meio é uma agência, um agente. Não é necessário descrever a intencionalidade desta agência, no qual o self, ou o agente é o resultado da ação do corpo no meio e não o contrário.  Agentes divididos mencionados por Varela e analisando-se os desafios nos estudos da mente e do cérebro por partes de cientistas da cognição supõe que seriam: um EU (self) e a mente, consciente da existência deste EU.

Minsky  “Society of Mind” e Jackendoff “Consciousness and the Computational Mind”. Ignoram a questão: “Qual será a utilidade de um agente ou self? Minsky apresenta duas definições distintas: self = sentido genérico da totalidade de uma pessoa e Self: misterioso sentido da identidade pessoal. Self (letras minúsculas) é um modo conveniente de nos referirmos a uma série de acontecimentos e formações mentais e corporais que têm um grau de coerência causal e de integridade ao longo do tempo. Self (inicial maiúscula) exemplifica nosso sentido de que, escondido nestas formações transitórias, existe uma essência real e imutável, que é a fonte da nossa identidade e que devemos proteger. Estas duas últimas definições são claramente fundamentadas por Maturana & Varela no livro “A Árvore do Conhecimento” quando discorrem sobre a teoria dos acoplamentos estruturais, mudanças de estruturas com manutenção da organização de indivíduos. “Mente Corpórea” no capítulo “Mentes sem self” traz uma análise do Niilismo radical (Nietzsche) como sendo uma situação na qual sabemos que os nossos valores mais queridos são insustentáveis e, no entanto, não somos capazes de abandoná-los. Este conceito emerge nas obras de Minsky e Jackendoff: este último primeiramente diz: “a consciência não serve para nada” depois diz; “demasiado importante para a vida de cada um de nós – demasiado divertida – para que possa ser considerada como inútil’. Em suas frases, Jackendoff mostra que a crença na eficácia causal da consciência é insustentável, e, no entanto ele, tal como o resto de todos nós, é incapaz de dela desistir. Minsky também apresenta  “Mito da terceira alternativa” referindo-se à ciência que nos diz que todos os processos são determinados ou dependentes em parte do acaso. Portanto não há espaço para uma misteriosa terceira possibilidade designada por “livre vontade”, um ego-self ou Centro de Controle Final a partir do qual escolhemos o que devemos fazer em cada bifurcação na estrada do tempo.

 

Referências:

OLIVEIRA, André L. G. Conhecimento musical como ação: aspectos de aprendizagem perceptiva. Unoeste – SP. Acesso: 09/05/2011.

VARELA, Francisco; THOMPSON, Evan. A mente corpórea. Ed. Instituto Piaget.