Linguagem, Mente e consciência - Breve reflexão sobre o Capítulo IX do Livro "A árvore do conhecimento".


Porgiovanidepaula- Postado em 10 abril 2011

Muito embora tenha existido durante muitos anos um dogma em nossa cultura de que a linguagem seria um privilégio absoluto e exclusivo humano, mais recentemente estudos sobre a vida animal, como nos macacos e nos. golfinhos, tem reconhecido possibilidades muito mais amplas alterando as perspectivas dos novos estudos. Compreender as interações e possibilidades lingüísticas de outros animais auxilia a compreendermos a nossa própria história nesse campo.
Os acoplamentos sociais permitem a interação entre organismos participantes possibilitando condutas comunicativas que podem ser consideradas lingüísticas, que no caso dos seres humanos pertencem “de fato a um domínio de acoplamento estrutural ontogênico recíproco, que os seres humanos estabelecem e mantêm como resultado de suas ontogenias coletivas”. (MATURANA e VARELA, p. 232)
Sabe-se que as mudanças nos hominídeos primitivos, que propiciaram o surgimento da linguagem, estão “relacionadas à coleta e à partilha de sua história de animais sociais e de relações interpessoais afetivas estreitas, associadas ao colher e compartilhar alimentos. Neles coexistiam atividades aparentemente contraditórias, como fazer parte integral de um grupo muito coeso e, ao mesmo tempo, afastar-se por períodos mais ou menos longos para colher alimentos e caçar. O Filme “A guerra do fogo” (1981) conta a história dos homens do período paleolítico em seus primeiros intentos tecno-evolutivos se percebendo que em relação a forma de comunicação, os personagens demonstravam suas idéias através de urros, gestos, gritos e comportamentos bastante semelhantes aos dos macacos.
Se com outros animais, como as formigas ou as abelhas ocorrem formas de interação chamadas "trofolaxes" de natureza química, um caso misto de conduta instintiva e lingüística, já que se trata de uma coordenação condutal comportamental fundamentalmente filogenética, nos seres humanos se evoluiu para as trofolaxes lingüísticas, que são capazes de “tecer uma trama recursiva de descrições”, e que segundo Maturana e Varela (p.239) foi o mecanismo que “permitiu a coordenação comportamental ontogênica,como fenômeno de caráter cultural, já que cada indivíduo podia "levar" o grupo consigo, sem necessidade de interações fisicas contínuas com ele”.
Nesse sentido o âmbito lingüístico decorre de um modo de vida que envolve contínua cooperação e coordenação de pessoas e grupos que convivem entre si e as características peculiares da vida social humana e seu intenso acoplamento lingüístico “foram capazes de gerar um fenômeno novo, ao mesmo tempo tão próximo e tão distante de nossa própria experiência: a mente e a consciência”, levando-nos ao domínio da linguagem.(Maturana e Varela, p. 243)
A história das menina lobo Amala e Kamala encontradas na Índia no ano de 1920 (vide link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Amala_e_Kamala) nos permite perceber que o domínio lingüístico humano enseja o desenvolvimento histórico das estruturas adequadas que não se limitam ao orgânico, mas a um conjunto de redes de acoplamentos sociais e de ações que influenciam o estado de nosso sistema nervoso.
Desse modo, citando Maturana e Varela (p.253), cabe destacar que: “Realizamos a nós mesmos em mútuo acoplamento lingüístico, não porque a linguagem nos permita dizer o que somos, mas por que somos na linguagem, num contínuo existir nos mundos lingüísticos e semânticos que produzimos com os outros”.

Bibliografia: MATURANA,Humberto; VARELA, Francisco. A ÁRVORE DO CONHECIMENTO:As bases biológicas do entendimento humano. Tradução.Jonas Pereira dos Santos. São Paulo: Editorial . Psy II,1995.