As ideologias seculares


Porgiovanidepaula- Postado em 27 abril 2011

As ideologias seculares

A necessidade de busca da racionalização das coisas da vida fez com que emergisse a busca de formulação de novas maneiras de considerar o mundo, separando o divino do mundano, o metafísico pelo racional, o imaginário pelo real.
A trajetória da civilização fez com que as ideologias dominantes desafiassem um mundo piramidal, o qual era governado de cima por um Deus “masculino”, com homens, mulheres, crianças e por fim o restante da natureza posicionado em ordem descendente de poder dominador. Percebe-se que a questão da dominação pelo gênero e tão antiga quanto a história da própria humanidade e as ideologias tiveram papel fundamental nesse processo.
Na modernidade, uma dessas primeiras ideologias de progresso é das mais criticadas pelos progressistas atuais é o capitalismo, o qual se fundamenta essencialmente em uma base econômica ou material, e que, não obstante sua base androcrática, constituiu um importante passo no movimento de uma sociedade dominadora para uma sociedade de parceria.
A crítica ao capitalismo recai na questão da ênfase na aquisição, competitividade e cobiça individuais, motivadas pelo lucro, o qual gerou uma hierarquia de classes, que remonta a sua contínua dependência em relação à violência e concepção de dominação, como por exemplo as guerras coloniais.
Em seguida surgiram o socialismo e o comunismo em que seus primeiros teóricos rejeitaram muitas das premissas androcráticas que eram propugnadas pelo capitalismo.
Merece destaque o marxismo, que se transformou em uma das ideologias mais influentes dos tempos modernos e que não abandonou o dogma androcrático de que o poder devia ser obtido através da violência, com confirma seu conhecido provérbio "os fins justificam os meios".

Avançando um pouco no tempo, ao longo dos séculos XIX e XX, outras ideologias humanistas modernas como o abolicionismo, o pacifismo, o anarquismo, o anticolonialismo e o ambientalismo — também surgiram, que muito embora buscassem mudanaças, acabaram fracassando em apontar o fato de que no centro do problema persiste um modelo de espécie humana com supremacia masculina e submissão feminina.
Muito embora muitos teóricos não considrem como tal, o feminismo como ideologia moderna só surgiu em meados do século XIX, como reação e movimento de luto contra a questão da subordinação e degradação a que as mulheres eram submetidas.
A religião não deixou de ter sua influência, e para Nietzche “era uma forma vil e desprezível de superstição, e ele baseava sua oposição a idéias "degeneradas" e "afeminadas" tais como igualdade, democracia, socialismo, emancipação das mulheres e humanitarismo em premissas apenas "racionais" e não-religiosas”.
Essa e outras concepções filosóficas de Nietzsche, segundo a qual os "nobres e poderosos" "devem agir sobre pessoas de classe inferior como bem desejarem", foi a precursora do fascismo moderno.
Segundo a autora: “Se reexaminarmos de forma objetiva os regimes políticos dos tempos modernos, veremos que não há coincidência no fato de a dominação masculina rígida, e com ela a supremacia de valores "masculinos", caracterizar alguns regimes modernos mais violentos e repressores. Foi o caso da Alemanha de Hitler, da Espanha de Franco e da Itália de Mussolini. Regimes repressivos tais como os de Idi Amin na África, Zia-ul-Haq no Paquistão, Trujillo nas Antilhas e Ceausescu na Roménia reforçam essa característica”.
Não se pode encobrir que numa sociedade com dois tipos básicos – homem e mulher - o modo como se estrutura o relacionamento entre ambos tem representado um modelo básico para as relações humanas. Diante disso ocorre que o relacionamento dominador-dominado com outros seres humanos é internalizado desde o nascimento por cada criança criada em uma família tradicional e patriarcal, a dominação do homem sobre a mulher.
Os reflexos disso tem se generalizado, alcançando membros de uma nação diferente e em geral também de raças diferente ou ideologias diferentes. Tal modelo tem servido à racionalização de todas as variações possíveis de exploração social e econômica.
Bilbiografia:
EISLER, Riane. O Cálice e a Espada: nosso passado, nosso futuro. São Paulo: Palas Athena, 2007