eHealth: o caso da Estônia e o uso de blockchains na segurança do histórico de 1 milhão de pacientes


Porvictormenezes- Postado em 03 junho 2016

A Estônia, país do leste europeu que tem pouco mais de 1,3 milhões de habitantes, é um dos exemplos de governos mais avançados do mundo no que tange à disponibilização e prestação de serviços aos seus cidadãos através do uso das tecnologia de informação e comunicação.

Esse desenvolvimento dos serviços digitalizados do país parece ser reflexo de um histórico de investimentos políticos, legislativos e tecnológicos na área. É neste mesmo país que em 2003 surgiu o Skype, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, que foi comprada em 2011 pela Microsoft por U$ 8,5 bilhões.

Muitas vezes se referindo ao seu país como uma e-sociedade, os habitantes da Estônia podem, por exemplo, desde 2005, votar através da Internet; e o código aberto desse sistema foi disponibilizado online para que outros países ou pesquisadores possam fazer aprender com essa experiência. Além disso, diversos outros serviços governamentais como imposto de renda, registros de imóveis, e históricos em geral também são possíveis de serem acessados e realizados online desde o final da década passada. Existe até mesmo um cartão de identidade único e inteligente que serve para integrar diversos serviços governamentais, além do recebimento e envio de mensagens criptografadas gratuitamente (ROONEY, 2013).

eHealth

Atualmente, a Estônia vem se destacando frente a outros países da União Européia na integração dos serviços de saúde através do fenômeno do eHealth, introduzido no país em 2008. Através desse sistema, é possível ler prescrições médicas e ver o histórico de dados de saúde de cada paciente, por exemplo. Além disso, todos os planos de saúde são obrigados a enviar relatórios para esse sistema, que pode ser acessado pelos profissionais e pelos próprios pacientes, que representam cerca de 98% da população do país. As ambulâncias de emergência são equipadas com dispositivos conectados diretamente a esse sistema e, no caso de emergência, os paramédicos poderão obter ou adicionar informações sobre o estado dos pacientes.  As informações, no entanto, não podem ser alteradas depois de enviadas pelos profissionais, evitando fraudes. No entanto, os gastos e custos dos serviços particulares são enviados em um sistema à parte. (HASELTINE, 2016)

Outra grande novidade do sistema de saúde estoniano é a integração com a ePrescrição. As farmácias e pontos de venda de remédios vendem ou fornecem gratuitamente os remédios que os médicos prescreverem, evitando a venda de remédios restritos ou errados. Além disso, os profissionais podem acompanhar remotamente se o paciente está comprando os remédios ou não - e quais outros medicamentos ele está fazendo uso.

O uso de blockchains na segurança dos dados dos pacientes

Apesar de ser um serviço bastante avançado, todos os dados dos pacientes estão disponibilizados on-line e, portanto, sujeitos à invasões e ataques. Tendo em vista esse paradigma, recentemente o governo estoniano anunciou que irá fazer uso do sistema de blockchains, estruturas de dados digitalmente assinadas, para assegurar a confidencialidade e segurança dessas informações. A ideia é utilizar infraestruturas de assinatura sem chaves (KSI) em todos os níveis do sistema, para garantir a proteção dos dados. Essa mesma tecnologia já é utilizada, por exemplo, na segurança das bitcoins, moedas virtuais. Através de uma técnica de algoritmo que trabalha com diversos nós e camadas dentro da estrutura do sistema, é possível garantir a integridade dos dados recebidos através de cópias de autenticação. Preocupações como essa demonstram como o governo estoniano está preocupado em atender não só às demandas imediatas de seus contribuintes, mas também a privacidade de suas informações. (CIO.com, 2016)

e-Estonia

Para mais informações acerca de como esses serviços e tecnologias funcionam na vida cotidiana do habitantes deste país, foi feita uma campanha online chamada e-Estonia para divulgar estas facilidades e avanços.

Um dos mais interessantes videos do canal do grupo no YouTube, por exemplo, descreve a vida cotidiana de um habitante dessa e-sociedade: Ordinary day of an e-Estonian.

Ademais, outro documentário interessante sobre o tema é o e-Estonia: Life in a networked Society.

Fontes:

ARU, Iyke. Estonian Government Adopts Blockchain To Secure 1 Mln Health Records. The Cointelegraph, 9 mar. 2016. Disponível em: <http://cointelegraph.com/news/estonian-government-adopts-blockchain-to-secure-1-mln-health-records> Acessado em: 3 jun. 2016.
HASELTINE, William. eEstonia! Setting New Standards for eGovernance. The World Post, 4 jan. 2016. Disponível em: <http://www.huffingtonpost.com/william-haseltine/post_11465_b_9590924.html> Acessado em: 3 jun. 2016.
NEMOY, Noah. You can change the system: How Estonia has built the most advanced eHealth system in the world. Memotext, 9 mar. 2015. Disponível em: <http://memotext.com/you-can-change-the-system-how-estonia-has-built-the-most-advanced-ehealth-system-in-the-world/#sthash.QaEy7m3R.dpbs> Acessado em: 3 jun. 2016.
ROONEY, Ben. Estônia, um país onde governo e cidadãos se conectam digitalmente. The Wall Street Journal, 8 ago. 2013. Disponível em: <http://br.wsj.com/articles/SB10001424127887323977304578654633472791880> Acessado em: 3 jun. 2016.
 

Que legal que trouxeste à tona a discussão sobre o e-health para o portal. É uma área de governo eletrônico que muitos disassociam pelo universo amplo de discussão que ambas já carregam, mas que precisam ser encaradas como íntimas. Seria legal discutir modelos de maturidade de governo eletrônico em que analisem os níveis de e-health (se é que já não fizeram, haha), mesmo parecendo quase utópico de imaginar em terras canarinhas.
Sobre a votação online eu achei sensacional! só conhecia poucos projetos pilotos, em um ou outro estado norte-americano, que testou votação por aplicativo de celular, mas é realmente um tema muito delicado de avançar, diante do medo sobre a segurança e a manipulação da informação.