Comentários - A visão sistêmica da vida - Capra, p 299-420


PoreGov- Postado em 06 abril 2015

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Breve anotação da 3° parte (capítulos 11 ao 15) do livro Visão Sistêmica da Vida

Caroline Vieira Ruschel

O capítulo 11 começa falando da aventura humana na terra e sua evolução. Cita a frase de David Brower com sua narrativa comparando a idade da terra aos seis dias da criação. A partir daí, demonstra que o ser humano como conhecemos hoje surge somente 11 segundo antes da meia noite. P. 299-300

Destaca a diferença dos seres humanos com outros primatas: a criança humana precisa de muito mais tempo para fazer a passagem para a infância e depois para a puberdade. P. 301.

Na página 308 traz a ideia de que a violência não é uma característica humana geral, mas uma característica humana masculina, a partir da observação com macacos.

Os autores trazem a ideia da consciência e espiritualidade (p. 309) e a beleza e harmonia dos seres humanos.

Também traz s relação entre inteligência – pensamento – mente. Nesse capítulo, portanto, os autores trazem o sentido estético dos seres humanos e sua conjunção com o desenvolvimento da consciência.

“A busca pela beleza e harmonia, que nós identificamos como uma característica de importância crucial da natureza humana, manifesta-se não apenas em obras de arte, mas também na busca persistente por ordem na natureza e no cosmos. P. 312.

No capítulo 12 os autores trabalham a ideia de mente e da consciência. P. 314 – “ o avanço decisivo da visão sistêmica da vida ocorreu com o abandono da visão cartesiana da mente como uma coisa, e com a compreensão de que a mente e a consciência não são coisa, mas processos. Durante as três últimas décadas, o estudo da mente a partir dessa perspectiva sistêmica floresceu em um campo ricamente interdisciplinar conhecido como a ciência cognitiva, que transcende os arcabouços tradicionais da biologia, da psicologia e da epistemologia”. P. 314-315.

Nesse capítulo os autores trazem muitos detalhes e teorias do estudo da mente. O mais importante, no entanto, diz respeito ao reconhecimento de que a divisão de mente e corpo e que identificava a mente como matéria não estava correta. Em 1970, foi identificado o processo de cognição com o próprio processo da vida. A cognição, então, passou a ser associada com todos os níveis da vida! Isso significa que a mente e o corpo não são entidades separadas mas são dois aspectos complementares da vida – seu processo e sua estrutural.  p. 340.

No capítulo 13 trabalham a mente e sua relação com a espiritualidade. As tensões entre ciência e espiritualidade surgem quando esta é confundida com religião, e quando posições antagônicas são adotadas por fundamentalistas de ambos os lados. P. 366

O capítulo buscou esclarecer a essência da espiritualidade. Na visão dos autores, é importante introduzir a visão  das dimensão espiritual na educação. Durante o capítulo os autores citam várias escolas e iniciativas que debatem e dialogam a ciência e a espiritualidade.

Vaclav Havel: “ tenho a profunda convicção de que a única opção é que algo mude na esfera do espírito, na esfera da consciência humana, na atitude atual do homem com relação ao mundo e à sua compreensão de si mesmo e de seu lugar na ordem global da existência. P. 367.

No capítulo 14 os autores trabalham a sociedade e sua abordagem sistêmica. Na página 373 trazem as três perspectivas sobre a vida: estrutura, organização e cognição. P. 373-376.

O significado seria a quarta perspectiva da vida. 376. Ver quadro 377.

Passagens interessantes:

“o problema é que as organizações humanas não são apenas comunidades vivas, mas também instituições sociais planejadas para fins específicos e funcionando em um ambiente econômico específico. Hoje, esse ambiente não promove o melhoramento da vida, mas ao contrário, promove cada vez mais a destruição da vida. Quanto mais nós compreendermos  a natureza da vida e nos tornarmos cientes de quão viva uma organização pode ser, mais dolorosamente percebemos a natureza do nosso atual sistema econômico, que promove a drenagem da vida.” p. 396

No longo prazo, as organizações que forem verdadeiramente vivas serão capazes de florescer somente quando conseguirmos mudar nosso sistema econômico de modo que ele passe a promover a vida, e não a sua destruição. P. 397.

Ao final dessa III parte o autor traz a saúde e sua visão sistêmica. P. 398-418.

Capitulo 11: A Aventura Humana

A evolução da vida na Terra pode ser distinguida em três grandes eras:

- Pré-biótica: estabelecimento de condições para a vida e surgimentos das protocelulas;

- Microcosmo: bactérias e microrganismos geraram processos básicos para a vida e ciclos de feedback globais;

- Macrocosmo: evolução das formas visíveis de vida.

Neste contexto o surgimento da vida humana é muito recente. Na raiz dela encontra-se a evolução das células nucleadas, da interação entre bactérias e microrganismos não nucleados emergiram as células eucarióticas que por sua vez, permitiram a evolução dos organismos unicelulares para pluricelulares.

Capra apresenta a coexistência e a evolução das espécies dos macacos até nossos descendentes mais próximos, mais um fator foi imprescindível na formação humana e ele destaca: o nascimento prematuro dos bebes. Essa condição de desamparo favoreceu a formação das comunidades e das relações familiares para garantir a sobrevivência dos recém-nascidos.

Os estudos de Darwin abriram debates sobre nossas semelhanças anatômicas, e também, sociais e culturais com outras espécies. Não somente nossas características agressivas, como outras emoções tornaram-se um importante tema de pesquisa em ciência cognitiva, entre elas o amor, a cooperação e o altruísmo. 

Conforme apresentado pelo autor, o instinto de sobrevivência fomentou a coesão entre os indivíduos, que foi expressa em muitas comunidades por meio dos rituais, estes propiciaram o desenvolvimento da percepção e da espiritualidade humana.

Os mistérios da natureza propiciaram outra característica determinante do ser humano: a curiosidade e sede de conhecimento. A busca pela compreensão e o desejo de superar as adversidades naturais alavancaram a inteligência humana e, posteriormente, à ascensão da ciência.

Ainda neste contexto, o interesse pela arte é uma característica humana importante, que pertence as adaptações evolutivas, relativas ao prazer, ao sexo, ao reconhecimento de expressões faciais, o entendimento da lógica e a aquisição da linguagem.

Portanto neste capitulo, é possível compreender como a apreciação da beleza e a criatividade artística se relacionam com a busca do conhecimento e a racionalidade e com a consciência e espiritualidade, todas características genéticas determinantes do ser humano num insitinto de sobrevivência.

 

Capitulo 12: Mente e Consciência

A partir da década de 1960, a compreensão da mente e da consciência ganhou uma nova concepção baseada na visão sistêmica, quando finalmente superou o paradigma cartesiano que separou, décadas antes, a mente da matéria.

Beterson e Maturana, apesar de possuírem métodos diferentes, foram os percussores, o primeiro cunhou a expressão “processo mental” e o segundo desenvolveu o conceito de autopoiese. Em seguida outros cientistas expandiram estudos nessa área dando início às ciências cognitivas, que combina arcabouços conceituais da biologia, psicologia e epistemologia.

Ambos chegaram a mesma percepção central de que a cognição, o processo de conhecer, é o processo de vida. Com base em Maturana, as interações de um organismo vivo com seu ambiente são interações cognitivas, vida e cognição são inseparáveis. A interação, continuamente é realizada por órgãos sensoriais específicos, e envolve todo o processo de vida, inclusive a percepção, a emoção e o comportamento. A cognição é estritamente relacionada a autopoiese.

Um sistema autopoietico, embora preserve seu padrão de organização, caracteriza-se por mudanças estruturais continuas. Essas mudanças são desencadeiadas por interações recorrentes com o ambiente, configurando-se como um sistema de desenvolvimento e de aprendizagem também. Porém, o controle destas transformações é interno, ou seja, o sistema seleciona quais perturbações do ambiente e quais as mudanças estruturais.

Assim a cognição é o sopro da vida, assim como a alma. A similaridade entre cognição e alma remonta à filosofia grega. Aristóteles, por exemplo, classificou três níveis de alma: vegetativa – que controla os processos metabólicos; animal – movimento autônomo no espaço e sentimentos de prazer e dor; humana – inclui alma vegetal, animal e a razão.

Após a teoria de Santiago a relação mente e cérebro passou a ser percebida como processo e estrutura e com isso inseparáveis, isso superou a divisão cartesiana da matéria e do espirito.

Consciência e cognição são duas palavras usualmente confundidas, a palavra consciência apresenta diferentes significados, inclusive morais. A cognição é mais ampla que a consciência, pois associa-se a todos os níveis de vida, embora estejam também extremamente ligadas, a consciência é um processo cognitivo de alto nível de complexidade, que permite a experiência da auto percepção, “estar consciente não apenas do próprio ambiente, mas também de si mesmo”. Ou seja, existe uma diferença entre mecanismos cerebrais e experiências pessoais.

Na ciência, os estudos sobre consciência surgiram no final do século XIX com William James, que enfatizou que ela não é uma coisa e sim um fluxo em constante mudança. Mas foi apenas depois da década de 1990 que os estudos sobre consciência ganharam respaldo cientifico. Atualmente é um campo de pesquisa onde físicos quânticos, biólogos, cientistas cognitivos e filósofos desenvolvem diferentes abordagens.

Neste contexto, surgem dois pontos consensuais: a consciência é um processo cognitivo que emerge de complexas atividades neurais, e a existência de dois tipos de consciência – consciência primária ou nuclear e consciência de ordem superior, expandida ou reflexiva. O primeiro refere-se a experiências básicas, perceptivas, sensoriais e emocionais, e o segundo envolve uma autopercepção mais elaborada, um sujeito pensante e reflexivo.

A ciência da consciência tem como principal desafio explicar as experiências associadas aos eventos cognitivos. Os pesquisadores do campo estão no mesmo patamar que das outras ciências, lidar com a complexidade é fundamental, pois a consciência não é um fenômeno baseado em mecanismos neurais apenas, ela emerge de uma dinâmica não linear nas complexas redes neurais, e por isso é importante a colaboração da física, bioquímica e da biologia do sistema nervoso na construção de pesquisas deste campo. Estes estudos aguçam nossa percepção de que a subjetividade faz parte intrínseca da pratica cientifica.

Em meio a variedade de pesquisas no campo, destacam-se três escolas de estudos sobre a consciência: a primeira, tradicionalista, mantem traços reducionistas porque apresentam a consciência apenas nos neveis de mecanismos neurais, representadas por Churchlan e Crick; a escola funcionalista afirma uma organização funcional e reconhece padrões de relações causais, representada por Dennett; a terceira, e mais ampla escola, abrange a teoria da complexidade e a experiência pessoal. Varela é um dos representantes da neurofenomenologia que se orienta pelo exame da experiência combinadas com os padrões e processos neurais correspondentes.

O exame disciplinado da experiência pessoal, a investigação sobre mente e consciência, é comum há séculos dentro das tradições filosóficas e religiosas, principalmente no budismo. O terceiro campo de pesquisa sobre a consciência propicia um dialogo entre a ciência cognitiva e as tradições budistas.

Outras escolas buscam explicar a consciência, elas geralmente veem a mente sem a biologia, como Penrouse e sua hipótese dos microtubulos. Evidentemente são visões limitadas por abordagens simplistas. Para Eldman e Tonini a fisiologia do cérebro e a experiência consciente são dois modelos de pesquisa diferentes, mas interdependentes.

Ainda no contexto de experiência consciente, os pesquisadores do campo afirmam que ela não se localiza numa parte determinada do cérebro, ela identifica-se com base em estruturas neurais especiais, representada por um “conjunto de células ressonantes” para Varela, ou um “núcleo dinâmico” para Eldman e Tonini. Ambos os modelos oferecem propostas  de pesquisa concretas e tem o potencial de alavancar a ciência da consciência.

Complementarmente, Damásio propõe que a base da consciência e do eu residem num conjunto de estruturas cerebrais, localizadas em vários níveis do sistema nervoso central, que mapeia estado do corpo – protoeu – com características que garantam sua sobrevivência. Neste caso, as emoções e os sentimentos têm um papel fundamental para o funcionamento da consciência nuclear. 

Damásio também aponta a existência de dois “eus” conforme duas consciências: o eu nuclear e o eu autobiográfico. O primeiro é transitório, criado na interação com os objetos em um ambiente. O segundo é uma coleção de imagens que evolui, mas mantém relativamente constante.

Maturana também destaca um aspecto relevante dentro de seu modelo: a linguagem (palavras, gestões e símbolos). A comunicação é a utilizada para a coordenação de comportamentos entre os organismos vivos. Neste campo houve três descobertas relevantes: a maior parte do pensamento é inconsciente, a mente é incorporada, os conceitos abstratos são praticamente metafóricos.

O segundo conceito, a mente é incorporada, significa que a razão humana surge do cérebro e do corpo, e pela nossa experiência corporal. Assim, “projetamos a imagem mental de recipientes sobre categorias abstratas, e em seguida usamos nossa experiência corporal de um recipiente para raciocinar a respeito dessas categorias”. Isto também sugere uma projeção metafórica, ou seja, nossa linguagem contém centenas de metáforas primárias, usadas muitas vezes inconscientemente, e que são fundamentais na formação do pensamento abstrato.

 

 

Capitulo 13: Ciência e Espiritualidade

A ciência contribuiu para o progresso material e tecnológico enquanto a espiritualidade contribui o crescimento interior dos indivíduos e para a ética no consumo. Atualmente é notável que a maneira como adquirimos benefícios oriundos da ciência tem altos, e talvez irreversíveis, custos ambientais e sociais. O destino e o bem estar da civilização moderna dependem agora de um equilíbrio entre essas duas extremidades que governam os indivíduos.

A dicotomia entre ciência e religião é mais popular do que seu inverso, embora nem todos os cientistas as separem. De qualquer forma são termos permeados por registros históricos e concepções místicas e precisam ser esclarecidos antes de avançar numa discussão sobre a ciência e espiritualidade.

Espiritualidade e religião tem duas dimensões diferentes, a primeira é uma experiência introspectiva e a segunda é extrovertida. Uma acontece no indivíduo e a outra se estabelece na relação dele com um grupo, entretanto a primeira é mais ampla porque tem um impacto maior sobre ele.  

A espiritualidade, por ser entendida como um modo de ser que flui de uma certa experiência individual é coerente com a concepção de mente incorporada. Essas noções transcendem a separação mente e corpo, do eu e o mundo, e apresentam uma percepção de unidade com o todo, assim como a nova visão sistêmica da vida.

Descobertas como a de Darwin, reduziram a perspectiva espiritual na ciência, mas a realidade é que o mistério está sempre subjacente nas pesquisas teóricas. Porém, quando se fala de religião o cenário muda. A religião é a tentativa de expressar a espiritualidade de forma ordenada e compartilhada, através de diretrizes morais e rituais.

O debate sobre ciência e religião é secular, os cientistas acusam religiosos de serem fundamentalistas, mas é evidente que mesmo os cientistas correm o risco de o ser. Considera-se que possa haver uma demarcação entre ambas para que se possa desenvolver um diálogo, até porque, seja no nível individual do pesquisador, ou num nível coletivo de desenvolvimentos de pesquisa, ciência e religião se esbarram frequentemente, até mesmo quando a primeira tenta justificar o ateísmo.

Para os autores, quando a religião é substituída pela ampla concepção de espiritualidade a dicotomia com a ciência se dissolve. Embora cientistas e mestres espirituais tenham objetivos diferentes, ambos se debruçam sobre a natureza da realidade. No século XX cientistas quânticos apresentaram diversos paralelismos entre a visão de mundo sugerida pela física moderna e as visões de tradições espirituais orientais, suas teorias produziram uma mudança paradigmática com a inclusão de uma visão mais holística e sistêmica da realidade.

Atualmente há um interesse crescente da ciência, e também social, pelo budismo e as práticas meditativas, como no novo campo de pesquisa “neurociência contemplativa”. O budismo tem uma abordagem não pragmática e muito tolerante (flexível) que facilita sua difusão mundial. Sua maior afinidade com a ciência moderna é a não dualidade mente e corpo e a complexidade que surge da interdependência dos fenômenos.

No campo da ecologia profunda o estabelecimento da conexão com a natureza é fundamental, e por isso é um campo propício para estabelecer o diálogo entre ciência e espiritualidade a fim de incubar o senso de pertencimento do ser com o mundo.

A alfabetização ecológica é o caminho para o bem estar e para a sobrevivência da humanidade porque ela envolve a compreensão intelectual dos princípios da ecologia e a percepção ecológica da interdependência dos fenômenos e do ser espiritual que alimenta esse anseio humano pela conexão com o todo.

Incluir a visão espiritual na ciência é um desafio. Muitos equívocos já foram e ainda são cometidos, principalmente quando o termo se confunde com religião e essa ainda mais, como meio de controle sócia. A rigidez disciplinar certamente também compromete o avanço da espiritualidade da ciência, mas Capra e Luisi indicam alguns exemplos de instituições criadas para superar estas barreiras, por exemplo a escola de verão Cartona Week e Schumacher College.

 

Capitulo 14: vida, mente e sociedade.

A evolução da consciência de da linguagem humana estavam ligadas com a da tecnologia e das relações sociais desde o princípio. A visão sistêmica da vida busca entrelaçar os aspectos sociais, cognitivos e biológicos numa perspectiva evolucionista. Na base desta integração esta nossa capacidade de retenção de imagem que nos propicia formular valores e regras e decidir.

As ciências sociais surgiram no final do século XIX e ganharam impulso no século seguinte.  Sob influência de Comte, buscavam leis gerias para o comportamento humano. Em contrapartida algumas tentativas para integrar as dimensões biologias e cognitivas porem faltava um arcabouço teórico comum. Apenas no final do século XX, com as teorias da complexidade, autopoiese e redes de comunicação propiciaram esse diálogo interdisciplinar nas ciências sociais.

No começo do século XX duas escolas dominavam a sociologia: estruturalismo e funcionalismo. Para os primeiros as estruturas sociais compunham o domínio oculto, e apesar de objetivarem a questão, assim como na complexidade, buscavam padrões de organização e alguns ate reconheceram as conexões entre realidade social, linguagem e consciência. Os funcionalistas partiam da ideia de uma racionalidade social subjacente que orienta a ação dos indivíduos de acordo com as necessidades da sociedade.

Na segunda metade do século XX os sociólogos buscavam alinhavar as teprias anteriores. Os europeus Giddens e Habermas se destacaram. A teoria de Giddens destacava a interpretação no desenvolvimento da conduta individual. Paralelamente Habermas formulou a “teoria da ação comunicativa”, na qual, em suma, as maneiras pelas quais as estruturas sociais dirigem as ações individuais que eram absorvidas por meio da comunicação. Em ambos cientistas os indícios da teoria autopoiética dentro de suas abordagens são evidentes.

Para Maturana e Varela a organização e a estrutura são aspectos fundamentais para a vida. O padrão de organização é a configuração de relação dos componentes do sistema e define suas características, a estrutura é a incorporação física do padrão de organização. Neste contexto o processo é uma terceira perspectiva de descrição da vida, porque refere-se a atividade continua de incorporação deste padrão.

Derivadas da autopoiese, organização, estrutura e processo compõe um arcabouço conceitual interdependente e integrativo para a compreensão da vida. Na trilogia da vida, respectivamente, representam unidade autopoiética, cognição ambiente.

“Os processo de auto-organização nesse padrão de rede são compreendidos como processos cognitivos que, finalmente, deram origem à experiência consciente e ao pensamento conceitual. Todos os fenômenos cognitivos são não materiais, mas são incorporados; eles surgem do corpo e são modelados pelo corpo.”

A ligação entre as dimensões cognitiva e social aponta para a importância do nosso mundo interior de conceitos, ideias, imagens e símbolos como uma dimensão cirtica da realidade social, onde emerge a dimensão de comunicação de significado, a hermenêutica. Basicamente, analisamos a realidade num continuum das quatro perspectivas identificadas por Aristóteles: matéria, forma, processo e significado. 

A visão sistêmica da vida supõe que a há uma unidade fundamental para a vida, que diferentes sistemas vivos exibem padrões de organização semelhantes em crescentes níveis de complexidade.

A rede é um destes padrões básicos. Em todos os níveis componentes e processos ligam-se uns aos outros, seja nas redes metabólicas de células ou ciclos alimentares. O domínio social no contexto da compreensão da vida aparece como este princípio de integração, ainda que não seja possível transferir a compreensão das redes biológicas para as sociais, organismos vivos e sociedades são diferentes sistemas vivos ainda que conservem características similares como a capacidade de retroalimentação. As ideias sobre padrões de rede nesses sistemas vivos ainda são especulativas.

A abordagem autopoiética aplicada ao domínio social enfrenta alguns problemas: os sistemas humanos não sou mensuráveis como os físicos, eles são modelados simbolicamente pelo mundo interior dos conceitos, ideias, símbolos que surgem com o pensamento, a consciência e a linguagem. As regras sociais também são mais flexíveis que as físicas

O Alemão Luhmann desenvolveu um conceito de autopoiese social com base em processos de comunicação: “Os sistemas sociais usam a comunicação como seu modo particular de reprodução autopoiética. Seus elementos são comunicações [...] produzidas e reproduzidas por uma rede de comunicações e que não podem existir fora dessa rede”.

Portanto pode-se dizer que a organização de sistemas sociais são como redes autogeradoras de comunicações e os ciclos de feedback presentes nelas produzem um sistema compartilhado de significado. Neste contexto, o significado é essencial, é a forma como estabelecemos coerência entre o mundo interior (da nossa interpretação) com o mundo exterior. Ainda que Os sistemas sociais sejam capazes de produzir significado e regular as ações, eles não determinam a organização individual porque termos um sistema interno de auto geração baseado em experiências, herança genética, etc.

O poder, como imposição pessoal, desempenha um papel central na emergência de estruturas sociais. As relações de poder estão implícitas nas estruturas sócias que orientam criam regras de orientação para as condutas. Nas redes sociais o poder de constituição delas e de estar conectado a uma rede é um fenômeno notável, redes sociais de sucesso tornam-se centros de poder.

Os sistemas sociais produzem estruturas materiais e não materiais. Sustentadas por processos de comunicação são geradas estruturas semânticas como as ideias, valores, crenças, etc. Essas estruturas são documentadas e geram textos, vídeos, e outros materiais que são incorporados na criação de artefatos, artes e estruturas materiais ainda mais abrangentes. A tecnologia faz parte desta estrutura e tem o papel fundamental no desenvolvimento humano pois seu conjunto de ferramentas é o que modela as comunicações sociais.

A teoria clássica de gerenciamento das organizações estão arraigadas na busca pelo poder. A abordagem sistêmica, com ênfase na construção de relações e cooperação é fundamental para desenvolver a sustentabilidade organizacional.

As comunidades de Pratica são sistemas sociais vivos autogeradoras de comunicação. Elas são crescentes nas organizações e apresentam alternativas para o modelo administrativo capitalista e estão de acordo com a abordagem autopoiética.  As propriedades emergentes traduzem um processo criativo e evolutivo. Combinadas com as estruturas organizacionais formais já existentes, as CoPs geram vitalidade para as organizações.

 

Capitulo 15: a visão sistêmica da saúde.

Os limites da visão mecanicistas são nítidos na área da saúde e da assistência a saúde.  Embora ainda não seja aceita na área da saúde, a visão sistêmica no campo já foi lançada na década de 1970. Atualmente percebe-se duas correntes: a abordagem biomédica e a sistêmica integrativa.

Os avanços que a abordagem mecanicista produziu na saúde são inegáveis – técnicas de diagnóstico e procedimentos cirúrgicos, entre outros. A biomedicina se limita em compreender os mecanismos dos quais a doença opera e como interferir neles. No âmbito desta abordagem estão projetos populares como o Projeto Genoma Humano, que apresenta lacunas na ideia de associar os genes às doenças, que além de riscos à segurança humana, são fortemente influenciados pela indústria farmacêutica que visa a obtenção de lucros.

Na biomedicina a saúde é a ausência de doença. Na abordagem sistêmica uma definição exata de saúde é complexa, porque ela faz parte de uma experiência subjetiva relacionada ao bem estar relacionado ao funcionamento de um organismo. Esta abordagem é processual e abrange corpo e mente do paciente, e suas interações com o ambiente natural e social, neste sentido, a saúde é flexível, multidimensional e multinivelada.

A concepção sistêmica na saúde apresenta novas abordagem com o “equilíbrio dinâmico” onde ficar doente e ficar curado fazem parte da vida, e utilizam o termo “psicossomático” para indicar a relação mente e corpo na origem, desenvolvimento e cura de doenças. Os efeitos do stress crônico, dentro desta concepção, também orienta para noções inovadoras na área da saúde como doença como “solucionador de problema”, “significado” e “mensagem” das doenças. A medicina sistêmica sugere a integração de terapias físicas e psicológicas.

Os ciclos de feedback também representam uma importante dimensão na abordagem sistêmica da saúde, o processo da emergência que intercala estágios de crise e transformação são respostas criativas do organismo nas busca pela cura.

Essa nova abordagem da medicina oferece muitos tratamentos complementares, alguns reconhecidos popularmente, e recebe vários slogans como assistência à saúde holística, medicina holística, medicina alternativa e bem-estar.

Neste modelo, a assistência a saúde consistira na promoção da saúde e prevenção para manter e restaurar o equilíbrio dinâmico de indivíduos, famílias e grupos sociais. Também orientará sobre comportamento individual, alimentação e ambiente no âmbito da saúde e na responsabilidade individual sobre o equilíbrio do organismo.

Isso tudo requer planos de ação política e atividades relativas, denominadas por Capra e Luisi como “assistência a saúde social”. A implantação soa planos requer cooperação empresarial e jurídicas para incentivar sua disseminação e coibir atividades que geram riscos à saúde.

O primeiro passo é tornar os indivíduos conscientes da natureza e extensão do seu desiquilíbrio, a fim de esclarecer os fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais no desenvolvimento de doenças e nas mudanças de padrões que geram o equilíbrio e a cura.

Os profissionais e os hospitais também devem adaptar-se a essa nova visão, a fim de humanizar os locais e os serviços na área de saúde. Paralelamente a utilização de medicamentos decaira para o estritamente necessário. Para que essa transformação ocorra é preciso desde já preparar os estudantes e outros profissionais da área da saúde para essa abordagem sistêmica, onde o comportamento e a ecologia humana estão estritamente ligadas a saúde.

Juliana Clementi

11. A aventura humana

Estudamos a evolução da vida a partir de ciclos, chamados de eras (entre 1 e 2 bilhões de anos cada).

Pré-biótica: condições para emergência da vida.

Microcosmo: microorganismos estabelecem processos da vida e autorregulação do Gaia.

Macrocosmo: nós.

A criação da Terra em 7 dias serve para denotar o quão tarde a raça humana chegou à Terra (homem chega nos últimos instantes do último dia).

Eucariontes (células nucleadas): primeiro passo em direção às formas superiores (macacos que caminhavam eretos e com mãos livres: Australopithecus).

ancestral homem=chimpanzé=/gorila

Uma grande diferença da raça humana para outras está no fato de nossos bebês nascerem desprotegidos a enfrentar o  mundo que lhes aguarda. Este desamparo pode ter aproximado os seres em comunidades para que a sobrevivência da raça fosse garantida, propiciando a transição do macaco para o homem (fundamentos da civilização - macho, fêmea, filhote).

A evolução humana não pode ser considerada linear, pois várias espécies com características distintas coexistiram, mesmo em habitats diferentes (Neandertais + Homo Sapiens + Cro-Magnon).

Charles Darwin propôs que as espécies não eram fixas e que a capacidade cognitiva e social presente na raça humana (nossa maior particularidade) e nos macacos propiciou a evolução desta espécie. Utilizamos nossa razão para prevalecer e continuar a sobreviver no mundo animal.

Arte da guerra? Somente os humanos e chimpanzés têm capacidade de serem beligerantes e cruéis a ponto de reunir um grupo da espécie para guerrear com outro grupo da mesma espécie. Na verdade não existem espécies pacíficas, mas somos violentos por temperamento. Por outro lado, temos a capacidade de também sermos altruístas, cooperativistas e desenvolver o amor, também características do comportamento animal e que aumentaram as chances de sobrevivência na história (de qualquer espécie envolvida).

Consciência e espiritualidade: partes fundamentais na concepção sistêmica da vida. a consciência do ser eu, individualismo, caminhar ereto, possuir visão do meio, pode ter acarretado na criação da espiritualidade. Busca de significados, curiosidade e a sede de conhecimento também deve grande importância á nossa evolução. Juntamente com o aumento da capacidade cerebral, o "querer saber" foi responsável por grandes descobertas e criação de formas de sobrevivência, evolução e interação com o meio. O sentido estético da vida também tem grande importância, pois é resultante da busca pela ordem das coisas.

12. Mente e consciência.

Superando a visão cartesiana mente VS matéria, no séc. XX estudos comprovaram que a mente é um processo (corpóreo). A partir de estudo iniciados por Maturana e continuado por outros cientistas, o conceito de processos evoluiu e deu identidade à perspectiva sistêmica, que enriqueceu interdisciplinariamente como ciência cognitiva.

Bateson conceituou processo mental como um fenômeno sistêmico, não particular de indivíduos mas também em sistemas sociais e ecossistemas, mas característicos de todos os organismos vivos. ("A mente é a essência de estar vivo").

Qual a organização do ser vivo? Segundo Maturana e Varela é um padrão de rede especial (autopoiese) que leva a compreensão da percepção como processo e conseqüentemente a cognição (essa, segundo Maturana e Varela, é a atividade envolvida na autogeração e na autoperpetuação das redes vivas). A teoria da cognição hoje é conhecida como Teoria de Santiago (a cognição é o próprio processo da vida). "a atividade organizadora dos sistemas vivos é a atividade mental".

À medida que a complexidade das espécies aumentou, também aumentou a complexidade dos seus processos cognitivos.

Pode haver confusão, conforme o autor e/ou fonte, do termo mente como um processo do ser humano ou de todos os seres. Mas Maturana diz que "difere dos processos cognitivos de outros organismos apenas nos tipos de interações em que podemos ingressar como interações lingüísticas, e não na natureza do próprio processo cognitivo".

A teoria da cognição de Santiago - O acoplamento estrutural: "cada organismo vivo se renova continuamente, à medida que suas células colapsam e constroem estruturas, e que seus tecidos e organismos mantém sua identidade ou seu padrão de organização global". Os sistemas vivos são autônomos, o ambiente somente desencadeia as mudanças estruturais.

todo organismo responde à influências ambientais de acordo com sua estrutura. Os sistemas vivos, então, respondem a perturbações do meio ambiente

Maturana e Varela: "ao especificar quais perturbações vindas do ambiente desencadeiam mudanças, o sistema dá à luz um mundo". A cognição não é uma mostra de um mundo independente, mas um contínuo dar à luz a um modo de viver - o processo de viver é um processo cognitivo.

Mente e alma: Antigamente: corpo + alma. Alma e espírito em grego, latim e sânscrito, significa Sopro. >> Relações: mente e cérebro; Cognição e consciência. Consciência e linguagem.

Confusão entre cognição e consciência: este último remete ao sentido interno do que é certo ou errado, implicações éticas e morais. Problema fácil: cognição. Difícil: como a experiência pessoal se manifesta? Pode haver uma lacuna entre mecanismos cerebrais e o surgimento da experiência pessoal consciente.

Tipos de consciência: 1: consciência primária/nuclear (processo cognitivos acompanhados por experiências básicas - aqui e agora). 2: consciência reflexiva (conceito de 'eu' por um ser pensante e reflexivo - autopercepção). CARROL: "Você não passa de um pacote de neurônios".

Existe uma teoria que procura explicar a consciência vinda da física quântica, e não biologicamente. Esta viria de tubos dentro de neurônios, realizando efeitos quânticos - e misterioso.

Varela diz que a consciência não está em nenhum lugar do cérebro, mas emerge de um processo cognitivo particular oriundo de aglomerados chamados de conjuntos de células ressonantes.

Maturana diz que o fenômeno da linguagem não ocorre no cérebro, mas em um "fluxo contínuo de coordenações de comportamentos". Conforme este mesmo autor, o PENSAMENTO é, em sua maior parte, INCONSCIENTE; a MENTE é inerentemente INCORPORADA; e os CONCEITOS ABSTRATOS são, em grande medida, METAFÓRICOS.

A mente incorporada (Varela): "a razão humana não transcende o corpo, como muito se ensinou, mas é modelada fundamentalmente pela natureza detalhada do nosso corpo e cérebro e pela nossa experiência corporal".

A maior parte do pensamento humano é metafórica. As metáforas tornam possível estender nossos conceitos incorporados, básicos para domínios teóricos abstratos (“recepção calorosa”, “grande dia”, "amigo íntimo")

13. Ciência e espiritualidade

O poder da ciência é responsável pelo avanço material e tecnológico - apesar de grandes ameaças por mau uso desse avanço.

Espiritualidade é muito mais ampla do que religião. Possui duas dimensões: para dentro (cima) e para fora (mundo). Ela é sempre incorporada, encarnada. É a maneira de estar fundamentado em certa experiência da realidade. Religião é a tentativa de compreender a experiência espiritual para interpretá-la com palavras e conceitos diretrizionando a sociedade por moral.

Espiritualidade, ecologia e educação. Conexão entre o todo. Somos parte da grande ordem. Cada molécula de nosso corpo já fez parte de outro corpo. Sendo que nossa mente também é incorporada, nossos conceitos e metáforas estão encaixados na teia da vida, juntamente com nossos corpos e cérebros.

Nosso bem-estar depende de nossa "alfabetização ecológica". Descobrir os princípios da ecologia (interdependência entre os fenômenos), sustentabilidade e saber viver em conformidade com esta relação.

A inclusão de espiritualidade na educação de forma sistêmica tem alto nível de dificuldade devido à confusão idealizada entre espiritualidade  e religião - denotando falta de interdisciplinaridade nos diálogos da sociedade atual.

14. Vida, mente e sociedade.

Processo evolutivo é baseado na compreensão dos fenômenos sociais em uma concepção unificada da vida e da consciência. Para tal, é de suma importância nossa capacidade de reter imagens mentais - formação de imagens está na origem da vida social.

Teorias integrativas de Giddens e Habermas são tentativas de unir estudos sobre o mundo exterior, interdisciplinarizando as percepções das ciências naturais, sociais e filosóficas, causa e efeito.

Perspectivas sobre a vida: Organizacional, estrutural, processual, (essas 3 fornecem um conceito integrativo para compreensão da vida biológica) -(são diferentes mas inseparáveis); logo transformados em forma, matéria e processo + perspectiva do significado.

toda rede social é uma rede de comunicação e com autopoiese; autogeradoras de comunicações. além das leis da natureza, o comportamento social prova as já conhecidas leis/regras. Sistemas sociais existem em domínios físicos e simbólicos (mundo interior).

O poder pode ser socialmente maligno, mas é socialmente essencial. Ligado inerentemente à conflitos de interesse das organizações. à medida que uma comunidade cresce, suas posições de poder também crescerão. Desempenha papel fundamental na emergência de estruturas sociais.

As organizações sociais, comerciais e políticas, são sistemas cujos padrões de organização são planejados especificamente para organizar a distribuição de poder. As ideias, valores, crenças e formas de conhecimento gerados pelos sistemas sociais constituem estruturas de significados, ou estruturas semânticas - que são documentadas.

O uso da tecnologia poderá sempre afetar a natureza humana, independendo do  modo de seu uso, pois seu uso é um aspecto fundamental humano.

Para promoção de mudanças organizacionais, compreendamos os processos de mudança natural dos sistemas vivos. Assim, podemos criar organizações humanas que espelhem a adaptabilidade, a diversidade e a criatividade da vida.

Comunidades de prática: redes autogeradoras informais dentro das organizações. As estruturas formais são conjuntos de regras e regulamentos que definem as relações ente pessoas e tarefas, e determinam a distribuição do poder.

As redes informais de comunicação estão incorporadas nas pessoas que se empenham na prática. Quando novas pessoas se juntam, toda a rede pode se reconfigurar, quando as pessoas a deixam, pode mudar de novo ou se romper.

Santiago: uma rede viva responde a perturbações com mudanças estruturais, e ela escolhe que perturbações devem ser percebidas e como responder a elas. Uma máquina só pode ser controlada, o ser vivo pode ser perturbado. As organizações podem ser influenciadas por impulsos. "Oferecer impulsos e princípios orientadores em vez de instruções rígidas é algo que, evidentemente, equivale a introduzir mudanças significativas nas relações de poder, mudanças de dominação e controle para cooperação e parcerias. Essa é também uma implicação fundamental da nova compreensão da vida".

Planejamento: abertura, disposição e uma rede ativa de comunicação (com feedbacks). Logo, pode haver o ponto de instabilidade (caos, tensão ou crise) que pode levar ao colapso do sistema.

Organizações humanas possuem: estruturas planejadas (estruturas formais de organização) e estruturas emergentes (criadas pelas redes informais e comunidades de prática).

O enfoque na vida e na auto-organização fortalece o poder de decisão do eu. As organizações humanas não são apenas comunidades vivas, mas também instituições sociais planejadas para fins específicos e funcionando em um ambiente econômico específico. Num clima comercial, é difícil se ater ao fato da organização como ser vivo, criativo e preocupado com o bem-estar dos seus membros. É preciso que o sistema econômico construa, e não destrua, para melhor fluxo das informações.

15. A Visão Sistêmica da Saúde.

É necessário ver corpo e mente como sistema, mas a abordagem sistêmica não é amplamente aceita no campo da medicina, mas aceito pelo público e mídia. A extrema crise do sistema de saúde estão ligadas à crise global  maior.

Na intenção de reduzir a doença como um todo, reduz-se o corpo na menor parte possível. Solução? Ainda não estamos nesse nível de avanço. "Quando soubermos a seqüência exata das bases genéticas no DNA - é assim que se conta para o público -, compreenderemos como os genes causam o câncer, o alcoolismo ou a criminalidade". Os cientistas médicos precisam concentrar atenção às redes genéticas e epigenéticas, das partes que formam o corpo para a pessoa como um todo.

A saúde é definida como a ausência de doença, e a doença como mau funcionamento dos mecanismos biológicos, desequilíbrio e desarmonia que pode surgir em níveis do organismo e gerar sintomas físicos, psicológica ou social; envolve também o conceito de stress. É considerado também que é impossível obter uma definição de saúde, por ser uma experiência subjetiva e não poder ser quantificada, além de ser um estado de bem-estar. A visão sistêmica nos leva a conceber a saúde como um processo cognitivo e fenômeno multidimensional e multinivelado.

Diferente da área biomédica que coloca o psicossomatismo como desordens sem base orgânica claramente diagnosticada, na visão sistêmica todas as doenças são psicossomáticas, pois envolvem corpo e mente na origem, desenvolvimento e cura. Este último é quando o organismo se restabelece de um estado equilibrado quando foi perturbado. Para sistematizar o termo na saúde, primeiro foi tratado como medicina holística, alternativa, etc. Hoje é tido como medicina integrativa. Um sistema à saúde individual e social promove a prevenção de e a efetividade do bem-estar da saúde. Baseado que a saúde dos seres se baseia no seu comportamento, alimentação e natureza do ambiente, e que nós, seres humanos, somos responsáveis por manter nossa saúde. Os profissionais da área poderão ajudar na educação para a saúde e em planos de ação política para a saúde.

O primeiro tratamento a ser realizado com um paciente é deixá-lo a par do que ocorre no seu organismo, colocando seus problemas num contexto mais amplo do qual eles surgem, encontrando possibilidades de emergência da doença e propor mudar os padrões de vida para obter bons resultados, sendo o equilíbrio do paciente o objetivo básico de qualquer terapia (do latim, prestar assistência).

É preciso que a saúde seja libertada da indústria farmacêutica, utilizando remédios em casos extremos que possam auxiliar na assistência médica.

Jean C R Pereira
48-91190043

Administrador   &

Fichamento: Visão Sistêmica da Vida/Capra páginas de 299 – 420

Por Ranieri Aguiar

 

A aventura Humana.

Nesse tópico, (Capra 2014) procura mapear o desdobramento da vida na terra. Para isso, ele faz uso de uma escala geológica na qual os períodos são medidos em bilhões de anos.

O Autor faz uma distinção de três grande eras na evolução da vida na terra, cada uma dela se estendendo   de 1 a 2 bilhões de anos. E cada uma contendo várias fases distintas da evolução.

A primeira é a pre- biótica, na qual foram estabelecidas as condições necessárias para emergência da vida e das primeiras protocélulas. Essa era durou 1 bilhão de anos.

 Segunda era é idade do microcosmo, estendendo-se o longo de 2bilhões de anos, na qual, as bactérias e outros microrganismos inventaram o processo básico da vida e estabeleceram os ciclos de feed- back para autolamentação do sistema de gaia.

A terceira é o macrocosmo que viu a evolução de formas visíveis de vida, inclusive a nós mesmos.

 Aventura da evolução humana é a fase mais recente do desdobramento da vida na terra. A primeira espécie humana, o Homo habilis após seu surgimento, evolui para Homos erectus e mais tarde para formas mais arcaicas como a de Homos sapiens.

No passado, os antropólogos usavam a palavra Hominídeos para designar tanto o Australopitecos como o Homo sapiens de outros primatas. No entanto, as atuais evidencias fornecidas pelo DNA indicam vigorosamente que o chimpanzés e seres humanos compartilham de um ancestral comum que os gorilas não compartilham.

 Diferença importante entre seres humanos e outros primatas está no fato que as crianças humanas necessitam de muito mais tempo para fazer a passagem para a infância, e as crianças humanas precisam novamente de muito mais tempo para atingir a puberdade e a idade adulta do que qualquer macaco. Ou seja, enquanto o s jovens, na maioria dos outros mamíferos, desenvolvem-se plenamente no ventre materno e são preparados para enfrentar o mundo exterior, os bebês humanos não estão completamente formados no nascimento e nascem totalmente desamparados. Em comparação com outros animais, os bebês humanos parecem ter nascidos prematuramente.

De acordo com uma hipótese plenamente aceita, foi esse fato que, pode ter desempenhado um papel de importância crucial no processo de transição do macaco par ao homem...Princípio da família ou da sociedade grupal.

É importante frisar que a evolução do homem de Homo eretos para Homo sapiens ocorreu gradualmente e não foi um processo linear. Diferentes tipos de espécie humana coexistiram uns com os outros, embora, muitas vezes, em diferentes habitats geográficos. Ex. O Homo sapiens com o Homo de Neandertal.

Por volta de 35 mil anos atrás, a espécie moderna de Homo sapiens substituiu os Neandertais na Europa e evoluiu para uma subespécie conhecida como Cro-Magnon.

Os Cro-Magnon eram anatomicamente idênticos a nós, tinham uma linguagem plenamente desenvolvida e produziram uma verdadeira explosão de inovações tecnológicas e de atividades artísticas.

Acreditou-se durante a maior parte da filosofia ocidental, que a natureza humana era única e diferente da natureza dos animais. Hoje sabemos que os genomas de chimpanzés e seres humanos diferem apenas 1,6%. A continuidade entre humanos e chimpanzés não termina apenas na anatomia, mas também estende-se a características sociais e culturais.

 O amor também é um aspecto fundamental do comportamento animal, bem como a violência. Dizer que o amor é geneticamente determinado não é negar ou diminuir a beleza do amor em todas as suas muitas e maravilhosas manifestações, nem diminuir os aspectos culturais e artístico produzidos em nossa civilização por nossa concepção de amor, e o mesmo é verdadeiro para o altruísmo.

Sobre a Consciência e a Espiritualidade, a questão consiste em saber se os primeiros hominídeos tinham uma consciência do ser. Há evidencias que os Cro-Magnon expressavam seu sentimento de pertencer em rituais “religiosos”. Em outras palavras, o princípio da espiritualidade pode muito bem ter emergido sob a assistência da consciência do ser.

Ranieri Roberth Silva de Aguiar

Fichamento: Visão Sistêmica da Vida/Capra páginas de 299 – 420

Por Ranieri Aguiar

 

A aventura Humana.

Nesse tópico, (Capra 2014) procura mapear o desdobramento da vida na terra. Para isso, ele faz uso de uma escala geológica na qual os períodos são medidos em bilhões de anos.

O Autor faz uma distinção de três grande eras na evolução da vida na terra, cada uma dela se estendendo   de 1 a 2 bilhões de anos. E cada uma contendo várias fases distintas da evolução.

A primeira é a pre- biótica, na qual foram estabelecidas as condições necessárias para emergência da vida e das primeiras protocélulas. Essa era durou 1 bilhão de anos.

 Segunda era é idade do microcosmo, estendendo-se o longo de 2bilhões de anos, na qual, as bactérias e outros microrganismos inventaram o processo básico da vida e estabeleceram os ciclos de feed- back para autolamentação do sistema de gaia.

A terceira é o macrocosmo que viu a evolução de formas visíveis de vida, inclusive a nós mesmos.

 Aventura da evolução humana é a fase mais recente do desdobramento da vida na terra. A primeira espécie humana, o Homo habilis após seu surgimento, evolui para Homos erectus e mais tarde para formas mais arcaicas como a de Homos sapiens.

No passado, os antropólogos usavam a palavra Hominídeos para designar tanto o Australopitecos como o Homo sapiens de outros primatas. No entanto, as atuais evidencias fornecidas pelo DNA indicam vigorosamente que o chimpanzés e seres humanos compartilham de um ancestral comum que os gorilas não compartilham.

 Diferença importante entre seres humanos e outros primatas está no fato que as crianças humanas necessitam de muito mais tempo para fazer a passagem para a infância, e as crianças humanas precisam novamente de muito mais tempo para atingir a puberdade e a idade adulta do que qualquer macaco. Ou seja, enquanto o s jovens, na maioria dos outros mamíferos, desenvolvem-se plenamente no ventre materno e são preparados para enfrentar o mundo exterior, os bebês humanos não estão completamente formados no nascimento e nascem totalmente desamparados. Em comparação com outros animais, os bebês humanos parecem ter nascidos prematuramente.

De acordo com uma hipótese plenamente aceita, foi esse fato que, pode ter desempenhado um papel de importância crucial no processo de transição do macaco par ao homem...Princípio da família ou da sociedade grupal.

É importante frisar que a evolução do homem de Homo eretos para Homo sapiens ocorreu gradualmente e não foi um processo linear. Diferentes tipos de espécie humana coexistiram uns com os outros, embora, muitas vezes, em diferentes habitats geográficos. Ex. O Homo sapiens com o Homo de Neandertal.

Por volta de 35 mil anos atrás, a espécie moderna de Homo sapiens substituiu os Neandertais na Europa e evoluiu para uma subespécie conhecida como Cro-Magnon.

Os Cro-Magnon eram anatomicamente idênticos a nós, tinham uma linguagem plenamente desenvolvida e produziram uma verdadeira explosão de inovações tecnológicas e de atividades artísticas.

Acreditou-se durante a maior parte da filosofia ocidental, que a natureza humana era única e diferente da natureza dos animais. Hoje sabemos que os genomas de chimpanzés e seres humanos diferem apenas 1,6%. A continuidade entre humanos e chimpanzés não termina apenas na anatomia, mas também estende-se a características sociais e culturais.

 O amor também é um aspecto fundamental do comportamento animal, bem como a violência. Dizer que o amor é geneticamente determinado não é negar ou diminuir a beleza do amor em todas as suas muitas e maravilhosas manifestações, nem diminuir os aspectos culturais e artístico produzidos em nossa civilização por nossa concepção de amor, e o mesmo é verdadeiro para o altruísmo.

Sobre a Consciência e a Espiritualidade, a questão consiste em saber se os primeiros hominídeos tinham uma consciência do ser. Há evidencias que os Cro-Magnon expressavam seu sentimento de pertencer em rituais “religiosos”. Em outras palavras, o princípio da espiritualidade pode muito bem ter emergido sob a assistência da consciência do ser.

Ranieri Roberth Silva de Aguiar

3 grandes eras da vida na Terra:

1-      Pré-biótica (condições para emergência da vida)

2-      Idade do microcosmo (bactérias)

3-      Macrocosmo (formas “visíveis” de vida)

No passado, os antropólogos usavam a palavra "hominídeos" para distinguir tanto o Australopithecus como o Homo sapiens dos outros primatas. No entanto, as atuais evidências fornecidas pelo DNA indicam vigorosamente que os chimpanzés e os seres humanos compartilham de um ancestral comum que os gorilas não compartilham [p. 301]

Cuidado como característica humana (bebês levam mais tempo que macacos-filhotes para crescerem). Hábitos familiares e habilidades motoras desenvolvidas favoreceram a linguagem.

Durante a maior parte da filosofia ocidental, acreditou-se que a natureza humana era única e radicalmente diferente da natureza dos animais. [P. 306]

Teoria de Darwin: nossa capacidade de abstração não é única. Genética: só 1,6%  de diferença entre genoma chimpanzé e humano.

parece haver tanta  continuidade social e cultural na evolução dos seres humanos e dos chimpanzés quanto há continuidade anatômica. [p. 306]

Se estamos relacionados geneticamente com todas as espécies vivas (ancestral comum), vale questionar que aspectos nossos têm base genética e quais são culturais.

Causas determinantes da natureza humana:

-instinto assassino

-amor

-altruísmo

- espiritualidade e religião (moral)

- curiosidade/inteligência

- busca pela beleza

A consciência, a espiritualidade, a criatividade artística, o pensamento abstrato e a racionalidade se entrelaçam mutuamente em um intrincado labirinto. [p. 313]

A mente é um processo, não uma coisa.

Bateson (1972) listou um conjunto de critérios que os sistemas têm de satisfazer para que a mente ocorra. [...]Ele também enfatizou que a mente se manifesta não apenas em organismos individuais, mas também em sistemas sociais e ecossistemas. [p. 315]

Maturana, na mesma época, trabalhou com o desenvolvimento de um arcabouço conceitual para responder o que é vida:

A atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis da vida, é atividade mental. As interações de um organismo vivo - planta, animal ou ser humano- com seu ambiente são interações cognitivas.[p. 316]

Componentes da rede produzem uns aos outros e se transformam uns nos outros: autorrenovação e novas conexões. Acoplamento estrutural – sistema de aprendizagem, com mudanças contínuas em resposta ao ambiente (reorganização dos padrões de conectividade) = características-chave dos seres vivos.[Maturana e Varela – o ser vivo não pode ser controlado, somente perturbado]

Problema difícil da consciência; ex.: o meu “vermelho” não é uma sensação que eu consiga transmitir para outra pessoa. Tipos de consciência: “nuclear” – aqui e agora; e “reflexiva” – memórias do passado e antecipações do futuro. Esse fenômeno só pode ser compreendido a partir da dinâmica das redes neurais.

A neurofenomenologia é uma abordagem do estudo da consciência que combina o exame disciplinado da experiência consciente com a análise dos padrões e processos neurais correspondentes. Com essa abordagem dupla, os neurofenomenologistas exploram vários domínios da experiência e tentam compreender como esses domínios emergem de complexas atividades neurais. [p. 327]

A consciência nuclear, então, é um sentimento que acompanha a construção de uma imagem no ato da percepção. [p. 335]

A linguagem surge quando é alcançado um nível de abstração em que há comunicaçãosimbólica. Isso significa que nós usamos símbolos - palavras, gestos e outros sinais- como ferramentas efetivas para a coordenação mútua de nossas ações. Nesse processo, os símbolos tornam-se associados com imagens mentais abstratas de objetos.
A capacidade para formar essas imagens mentais revela-se como uma característica fundamental da consciência reflexiva. [p. 336]

Linguística cognitiva de Maturana:

três descobertas importantes: o pensamento é, em sua maior parte,  inconsciente; a mente é inerentemente incorporada; e os conceitos abstratos são, em grande medida, metafóricos. [p. 337]

Esses conceitos se relacionam com nossa capacidade de pensar de forma silogística e de pensamento metafórico.

Necessidade de equilíbrio entre ciência e espiritualidade – uma responsável pelo progresso tecnológico e material, outra pelo crescimento interior das pessoas.

É claro que uma ciência "sem alma" levaria ao desastre. Reciprocamente, não podemos gerenciar o nosso complexo mundo moderno com uma abordagem puramente espiritual. [p. 343]

A experiência espiritual é uma experiência em que a vitalidade da mente e do corpo é percebida como uma unidade. Além disso, essa experiência de unidade transcende não apenas a separação entre a mente e o corpo, mas também a separação entre o eu e o mundo. [p. 345]

[No livro O Mundo de Sofia há um momento onde a personagem principal bebe um líquido que faz ela sentir que o mundo é uma continuidade dela, e bebe outro em que tudo parece distante – ideias de espiritualidade e objetividade]

Como o grande cientista e filósofo Blaise Pascal se expressou de maneira sucinta no século XVII: "O conhecimento é como uma esfera; quanto maior for o seu volume, maior será o seu contato com o desconhecido" [p. 347]

Disputas entre religiosos fundamentalistas e cientistas ocorrem devido à tentativa de comparar as explicações fornecidas pelas religiões com as fornecidas pelos cientistas, que não possuem os mesmos propósitos - ciências também podem ser fundamentalistas (daí a ideia de que a visão sistêmica não necessariamente é compatível com religiões):

“o propósito de uma disciplina espiritual não é o de fornecer uma descrição do mundo [...] é o de facilitar experiências que mudarão o eu de uma pessoa e seu modo de vida.” [p. 348]

A religião também está ligada à moral e à ideia de pertencimento. Há duas comunidades grandes às quais pertencemos: humanidade e biosfera global (o maior ou menor sentimento de pertencimento a estas comunidades está associado à nossa ideia de ecologia).

Estamos testemunhando quase diariamente uma invasão do "magisterium" da ciência pelo pensamento religioso, com impacto político considerável. [p. 352] [História de Hipátia de Alexandria também é um exemplo triste]

No âmbito oposto, de intervenção fundamentalista de cientistas na religião, Dawkins é um exemplo.

Não existe dicotomia entre ciência e espiritualismo, mas uma relação dialética. O místico parte do domínio interior para perceber a interconexão com o mundo, e o físico do domínio exterior para perceber que o influencia, e chegam na mesma conclusão.

Necessidade de escolas interdisciplinares, que não separem o estudo espiritual do estudo técnico (normalmente há uma divisão entre professores técnicos e humanistas e os assuntos não são tratados de forma interligada. Exemplos de tentativas:

Cortona Week

Nessa escola que funciona no verão, em Cortona, linda cidade etrusca e medieval da Toscana, estudantes universitários de faculdades de ciências e de outros departamentos de ensino superior misturam-se com artistas, músicos e líderes religiosos, trabalhando e morando juntos durante uma semana inteira (a participação parcial não é permitida nem para professores nem para alunos). [p. 363]

Schumacher College

Não é uma Faculdade tradicional com urn corpo docente bem definido e um corpo discente, e, ao contrário da maioria das faculdades e universidades, não foi fundada por qualquer órgão do governo ou individual, e sua fundação não foi associada com negócios. O colégio cresceu com base na sociedade civil global que emergiu durante a década de 1990. Desse modo, desde o inicio, seu corpo docente é parte de uma rede internacional de estudiosos e ativistas, uma rede de amigos e colegas que já existe há várias décadas [p. 365]

Positivismo filosófico de Auguste Comte – busca por leis gerais do comportamento humano, quantificação, rejeita explicações remetentes a fenômenos subjetivos (intenção/propósitos não importam). Ciências sociais baseadas na física newtoniana.

Mesmo os cientistas sociais que foram vigorosamente influenciados pelas novas teorias sistêmicas mostraram-se incapazes de preencher a lacuna existente entre as ciências naturais e as ciências sociais (que ainda existe na maior parte do mundo acadêmico atual). [p. 369]

Durkheim e Weber foram influenciados por esta linha, tendo fundado a sociologia que trata os fatos sociais como coisas, como causas dos fenômenos sociais.

Daí vieram os estruturalistas (busca por “estruturas” – padrões de organização – sociais ocultas que são a causa dos fenômenos sociais) e os funcionalistas (defendem a existência de uma racionalidade social que leva os indivíduos a agirem de acordo com a função social de suas ações)

Integradores das correntes: estruturas de Giddens – “As pessoas recorrem a elas a fim de se envolver em suas práticas sociais cotidianas, e, ao fazê-lo, não podem deixar de reproduzir as mesmíssimas estruturas” [p. 372]

Habermas e a teoria do agir comunicativo - "duas perspectivas diferentes, mas complementares são  necessárias para se compreender plenamente os fenômenos sociais. Uma dessas perspectivas é a do sistema social, que corresponde ao foco voltado para as instituições na teoria de Giddens; a outra é a perspectiva do "mundo da vida" (Lebenswelt), que corresponde ao enfoque de Giddens na conduta humana." [p. 372]

Dois tipos de conhecimento da teoria crítica de Habermas:

1-      Empírico-analítico – mundo exterior – causas

2-      Hermenêutica - mundo interior – significado, linguagem e comunicação

Enquanto a descrição da organização do sistema envolve um mapeamento abstrato de relações, a descrição da sua estrutura envolve a descrição dos componentes físicos reais do sistema - suas formas, composições químicas, e assim por diante. [p. 373]

Organização (autopoiese), estrutura (ambiente) e processo (cognição): a vida nunca é divorciada da matéria.

Essa ligação fundamental entre as dimensões cognitiva e social da vida fornece uma maneira natural de estender a abordagem sistêmica, uma vez que toma evidente que o nosso mundo interior de conceitos, ideias, imagens e símbolos é uma dimensão crítica da realidade social. [p. 376]

Forma, matéria, processo e significado

As redes sociais são, antes de tudo, redes ele comunicação que envolvem linguagem simbólica, restrições culturais, relações de poder, e assim por diante. Para compreender as estruturas dessas redes, precisamos recorrer a ideias vindas de disciplinas como teoria social, filosofia, ciência cognitiva e antropologia. [p. 378]

Luhmann – ideia de autopoiese social pela comunicação – redes sociais:

Como as comunicações recorrem em múltiplos ciclos de feedback, elas produzem um sistema compartilhado de crenças, explicações e valores - um contexto comum de significado- que é continuamente sustentado por mais comunicações. [p. 381]

As estruturas são criadas com um propósito, de acordo com algum planejamento, e incorporam algum significado. [p. 382]

Temos a capacidade de identificar metas e propósitos, mas também de escolher, formular valores e regras sociais de comportamento.

Cultura: conjunto de valores, práticas, significados, que formam uma fronteira (semelhante à membrana de uma célula, porém recorrentemente renegociada) que ao mesmo tempo gera a noção de pertencimento e o limite de acesso de pessoas e informações à rede.

3 tipos de Poder – Galbraith = coercitivo (ameaças/sanções), compensatório; condicionado (educação/persuasão).

Redes sociais – Castells – tecnologias e sociedade em rede: “Em tal rede, o sucesso de toda a comunidade depende do sucesso de seus membros individuais, enquanto o sucesso de cada membro depende do sucesso da comunidade como um todo”. [p. 387]

Dualidade das organizações: fins específicos da organização e fins pessoais dos indivíduos que as compõem.

O que as pessoas percebem depende de quem elas são como indivíduos, e das características culturais de suas comunidades de prática. [p. 393]

Emergências (perturbações por não absorção do significado de algo) fazem as redes sociais colapsarem ou irromperem para um novo estado de ordem. Estruturas emergentes fornecem instabilidade, criatividade e podem evoluir. Estruturas planejadas fornecem estabilidade.

Gerentes habilidosos compreendem a interdependência entre planejamento e emergência. Eles sabem que no ambiente comercial turbulento da atualidade, o desafio que precisam vencer é o de encontrar o equilíbrio correto entre a criatividade da emergência c a estabilidade do planejamento [p. 396]

Lahis Pasquali Kurtz

Mestra em Direito

Para demonstrar a brevidade da existência humana na Terra, David Brower elaborou a seguinte narrativa, baseada nos seis dias da história bíblica da criação:

A terra é criada no domingo à meia-noite. As primeiras células bacterianas surgem na terça-feira, por volta das 8h. O microcosmo evolui até a quinta-feira a meia-noite, regulando todo o sistema planetário. Na sexta-feira, as 16h os microorganismos inventam a reprodução sexual. No sábado o, último dia da criação, todas as formas visíveis de vida evoluem. Por volta de 1h30 de sábado os primeiros animais marinhos são formados, as 9h30 aparecem as primeiras plantas terrestres, as 11h30 são observados os primeiros anfíbios e insetos. As 16h50 aparecem os grandes répteis, que irão desaparecer cinco horas depois, por volta das 21h45. Nesse meio tempo os mamíferos chegam à Terra, em torno das 17h30 e os pássaros as 19h30. Pouco antes das 22h alguns mamíferos que vivem em árvores evoluem dando origem aos primeiros primatas. Uma hora depois alguns deles evoluem em macacos. Por volta de 23h45 os grande macacos aparecem. As 23h52 esses primatas tornam-se bípedes para desaparecem as 23h57. O homo habilis surge as 23h56, evolui para o homo erectus meio minuto depois e para as formas arcaicas de homo sapiens trinta segundos antes da meia-noite. O homem de neandertal vivem na Europa e Ásia dos quinze segundos aos quatro segundos antes da meia-noite. A espécie humana aparece na África e na Ásia onze segundos antes da meia-noite, e na Europa cinco segundos antes da meia-noite. A história humana escrita começa por volta de dois terços de segundos antes da meia noite.

A filosofia ocidental acreditava que a natureza humana era única e muito diferente da natureza dos outros animais. Aristóteles ensinava que a característica humana era a razão. Filósofos medievais associaram a razão com a origem divina da alma. Descartes separou a mente da matéria.

Darwin desafiou a ideia tradicional da natureza fixa das espécies e a suposição da singularidade humana, argumentando que nosso pensamento abstrato estava arraigado nas capacidades cognitivas de nossos ancestrais símios. Estudos genéticos conformaram a suposição de Darwin: o genoma humano difere do genoma do chipanzé em apenas 1,6%.

Estudos cognitivos comprovaram que as vidas cognitivas e emocionais de animais e seres humanos diferem apenas em graus, que a vida é um grande continuum em que as diferenças entre as espécies são graduais e evolutivas. A “razão, até mesmo em sua forma mais abstrata, faz uso de nossa natureza animal, em vez de transcendê-la... Desse modo, a razão não é uma essência que nos separa de outros animais; em vez disso, ela nos coloca em um continuum com eles”.

Wrangham e Peterson (Demonic Males, 1996) após estudar o comportamento agressivo de seres humanos e macacos, chegaram a conclusão de que apenas seres humanos e chipanzés são “macacos assassinos”, ou seja, possuem o hábito, ou pelo menos a capacidade, de unir vontades entre os machos da espécie para matar outros indivíduos da mesma espécie, sugerindo que a violência não é uma característica humana geral, mas uma característica humana masculina.

Mas a violência não é a única causa determinante do ser humano, há também a característica oposta do amor e do altruísmo. Afirmar que o amor e o altruísmo são geneticamente determinados não é negar a beleza do amor e do altruísmo em suas mais diversas formas de manifestação. Os dois impulsos determinantes do ser humano (violência e amor) estão inextricavelmente ligados à consciência humana, sua outra causa determinante.

Pinturas e artefatos encontrados em cavernas paleolíticas indicam fortemente uma expressão de sentimento de pertencimento a certos rituais religiosos (Cro-Magnon, 35 mil anos atrás). Cerimonias fúnebres (25 mil anos atrás) revelam que o ser humano pensava em sua própria morte.

Mas a verdadeira questão que se apresenta é: os primeiros hominídeos possuíam uma consciência do ser? Lucy[1] estaria mentalmente ciente de sua própria existência? E estaria essa percepção, se de fato estivesse presente, ligada a uma vantagem evolutiva?

Uma linha evolutiva acredita que a começar a andar sobre duas pernas, os hominídeos puderam caminhar eretos e observar o céu, admirando-se com os mistérios da natureza ao mesmo tempo em que formavam uma consciência do “eu”, de sua individualidade e singularidade, de forma que esse início da percepção humana intimamente associado a espiritualidade pode ter exercido algum impacto na seleção natural, uma vez que os grupos reunidos em torno de tais rituais apresentariam maior coesão e força interna, auxiliando na sua sobrevivência.

A lista de fatores genéticos determinantes não seria completa se não abordasse o anseio pelo conhecimento. O tamanho do cérebro foi um fator determinante para o desenvolvimento humano. No entanto, a relação entre o tamanho do cérebro e a inteligência (capacidade de resolver problemas) não é direta e nem hereditária: ela pode ser retida indefinidamente por um indivíduo, mas não pode ser geneticamente transmitida aos seus descendentes. Além disso, quando procuramos por uma possível relação direta entre o tamanho do cérebro e a inteligência, parece que a inteligência humana não é necessariamente adaptativa em um sentido evolutivo. De fato, bebês de cabeças volumosas são mais difíceis de serem dados à luz, e cérebros grandes são dispendiosos quanto às necessidades de nutrientes e de oxigênio. Mas o fato de que o benefício adaptativo direto da inteligência humana pode parecer questionável torna ainda mais claro que os seres humanos mais inteligentes podem ganhar benefícios seletivos indiretos.

Um mundo sem estátuas gregas, sem pinturas chinesas, sem bronzes, ou sem os afrescos renascentistas, sem a música clássica, não seria o nosso mundo. Por que criamos esses monumentos à beleza e à harmonia? Estariam eles, também, conectados com os genes, significando com isso que fazer arte tem alguma vantagem reprodutiva?

De acordo Denis Dutton o interesse pela arte pertence à lista de adaptações evolutivas, juntamente com o prazer do sexo, a resposta às expressões faciais, o entendimento da lógica e a aquisição da linguagem espontânea, todos os quais tornam mais fácil para nós sobrevivermos e nos reproduzirmos. A busca pela beleza e pela harmonia, que nós identificamos como uma característica de importância crucial da natureza humana, manifesta-se não apenas em obras de arte, mas também na busca persistente por ordem na natureza e no cosmos. A harmonia dos movimentos das estrelas e dos planetas tornou-se o fundamento da astrologia nos tempos antigos, e, mais tarde, das várias tentativas para se interpretar o universo, muitas vezes apoiadas por belas representações geométricas.

Uma das mais importantes implicações filosóficas da nova compreensão sistêmica da vida é uma nova concepção da natureza da mente e da consciência, que finalmente superou a divisão cartesiana entre mente e matéria.

O avanço decisivo da visão sistêmica da vida ocorreu com o abandono da visão carte­siana da mente como uma coisa, e com a compreensão de que a mente e a consciência não são coisas, mas processos. Esse novo conceito de mente foi desenvolvido durante a década de 1960 por Gregory Bateson, que usou a expressão “processo mental”, e, independentemente dele, por Humberto Maturana, que focalizou na cognição, o processo de conhecer.

A cognição, de acordo com Maturana e Varela, é a atividade envolvida na autogeração e na autoperpetuação das redes vivas. Em outras palavras, a cognição é o próprio processo da vida. A atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis da vida, é atividade mental. As interações de um organismo vivo - planta, animal ou ser humano - com seu ambiente são interações cognitivas. Desse modo, a vida e a cognição são inseparavelmente conectadas. A mente - ou, mais precisamente, a atividade mental - é imanente na matéria em todos os níveis da vida.

A cognição é uma noção estratificada, cuja sofisticação é ampliada com o aumento da sofisticação do aparelho sensorial do organismo vivo - isto é, de flagelos a antenas a dispositivos fotossensíveis à discriminação olfativa, ao olho e ao cérebro. Assim, a interação de cada diferente ser vivo com seu ambiente, embora exiba um padrão comum de organização, é realizada, a cada momento, por meio de órgãos sensoriais específicos, que são o produto da sua filogenia.

Os sistemas vivos são sistemas cognitivos, e a vida como processo é um processo de cognição. Esta afirmação é verdadeira para todos os organismos, com e sem um sistema nervoso.

De acordo com a teoria da autopoiese, um sistema vivo acopla-se ao seu ambiente estruturalmente - isto é, por meio de interações recorrentes, cada uma das quais desencadeia mudanças estruturais no sistema. No entanto, os sistemas vivos são autônomos. O ambiente apenas desencadeia as mudanças estruturais; ele não as especifica nem as dirige.

Os sistemas vivos, então, respondem a perturbações do meio ambiente, de maneira autônoma, com mudanças estruturais - isto é, reorganizando seus padrões de conectividade. De acordo com Maturana e Varela, nunca podemos dirigir um sistema vivo; só podemos perturbá-lo. Mais que isso, o sistema vivo não só especifica suas mudanças estruturais como também especifica quais perturbações vindas do ambiente desencadeiam essas mudanças. Em outras palavras, um sistema vivo tem autonomia para decidir o que deve perceber e o que o perturbará. Esta é a chave para a teoria da cognição de Santigo. As mudanças estruturais no sistema constituem atos de cognição. Ao especificar quais perturbações vindas do ambiente desencadeiam mudanças, o sistema especifica a extensão do seu domínio cognitivo; ele “dá à luz um mundo”.

Desse modo, a cognição não é uma representação de um mundo que existe inde­pendentemente, mas sim um contínuo dar à luz um mundo por meio do processo de viver. As interações de um sistema vivo com seu meio ambiente são interações cognitivas, e o próprio processo de viver é um processo de cognição.

A identificação da mente, ou cognição, com o processo da vida, embora seja uma ideia nova na ciência, é uma das intuições mais profundas e arcaicas da humanidade. Nos tempos antigos, a mente humana racional era considerada apenas como um as­pecto da alma imaterial ou espírito. A distinção básica não era entre corpo e mente, mas entre corpo e alma, ou corpo e espírito.

Na teoria de Santiago a caracterização cartesiana da mente como “coisa pensante” é abandonada. A mente não é uma coisa, mas um processo - o processo da cognição, que é identificado com o processo da vida. O cérebro é uma estrutura específica por cujo intermédio esse processo opera. A relação entre mente e cérebro é, portanto, uma relação entre processo e estrutura. Além disso, o cérebro não é a única estrutura por meio da qual o processo de cognição opera. Toda a estrutura do organismo participa do processo de cognição, quer o organismo tenha ou não um cérebro e um sistema nervoso superior.

A cognição, tal como é entendida na teoria de Santiago, está associada com todos os níveis da vida, e é, portanto, um fenômeno muito mais amplo do que a consciência. A consciência - isto é, a experiência consciente, vivida - desdobra-se em certos níveis de complexidade cognitiva que exigem um cérebro e um sistema nervoso superior. Em outras palavras, a consciência é um tipo especial de processo cognitivo que emerge quando a cognição alcança um certo nível de complexidade.

Para distinguir entre esses dois níveis cognitivos, David Chalmers rotulou-os como o “problema fácil” e o “problema difícil” da consciência.

Uma vez que a maioria dos cientistas e filósofos cognitivos limita suas pesquisas à mente humana, eles frequentemente tendem a negligenciar a distinção entre cognição, que está associada a todos os níveis da vida, e consciência, que envolve a autopercepção e requer um cérebro e um sistema nervoso superior.

Outro problema, apontado, por Nicholas Humphrey, surge do fato de que “o meu vermelho” é a minha experiência pessoal, e não parece haver nenhuma maneira de comunicar essa sensação para outras pessoas. Como, então, se pode construir uma ciência com base em tal experiência de primeira pessoa? Veremos como a abordagem sistêmica da cognição e da consciência permitiu que, nos últimos anos, os cientistas cognitivos superassem esses problemas conceituais e fizessem avanços significativos rumo à formulação de uma verdadeira ciência da consciência.

O primeiro tipo, conhecido como “consciência primária” ou “consciência nuclear, surge quando processos cognitivos são acompanhados por experiências básicas, perceptivas, sensoriais e emocionais. “A consciência nuclear”, escreve o neurologista Antônio Damásio (1999, p. 16), “fornece ao organismo um sentido de eu a respeito de um momento - agora - e de um lugar – aqui. O alcance da consciência nuclear é o aqui e agora”.

O segundo tipo de consciência, qualificado por vários nomes, entre os quais “consciência de ordem superior”, “consciência expandida” ou “consciência reflexiva”, envolve a autopercepção mais elaborada - um conceito de eu, sustentado por um sujeito pensante e reflexivo. Essa experiência expandida de autopercepção, identidade e personalidade se baseia em memórias do passado e antecipações do futuro. Ela emergiu durante a evolução dos grandes macacos, ou “hominídeos”, juntamente com a linguagem, o pensamento conceituai e todas as características que se desdobraram plenamente na consciência humana.

A consciência reflexiva envolve um nível de abstração cognitiva que inclui a capacidade para manter imagens mentais, e que nos permite formular valores, crenças, objetivos e estratégias. Esse estágio evolutivo estabeleceu um elo fundamental entre a consciência e fenômenos sociais, pois, com a evolução da linguagem, surgiu não apenas o mundo interior dos conceitos e ideias, mas também o mundo social dos relacionamentos organizados e da cultura.

O desafio central de uma ciência da consciência é o de explicar as experiências associadas com eventos cognitivos. Diferentes estados de experiência consciente são, às vezes, chamados de qualia por cientistas cognitivos, pois cada estado é caracterizado por uma “sensação qualitativa” especial. O desafio de explicar esses qualia é o “problema difícil” identificado por Chalmers.

A grande relutância dos cientistas em lidar com fenômenos subjetivos faz parte da nossa herança cartesiana. A divisão fundamental de Descartes entre mente e matéria, entre o eu e o mundo, nos fez acreditar que o mundo poderia ser descrito objetivamente - isto é, sem jamais mencionar o observador humano. Tal descrição objetiva da natureza tornou-se o ideal de toda ciência. No entanto, três séculos depois de Descartes, a teoria quântica mostrou-nos que esse ideal clássico de uma ciência objetiva não pode ser mantido quando lidamos com fenômenos atômicos. E, mais recentemente, a teoria da cognição de Santiago deixou claro que a própria cognição não é a representação de um mundo que existe independentemen­te, mas sim um “dar à luz” um mundo por meio do processo de viver.

Damásio distingue entre emoções, que podem ser desencadeadas e exibidas de maneira não consciente, e sentimentos, que são emoções tornadas conscientes. Emoções são padrões complexos de respostas químicas e neurais que têm funções reguladoras específicas. A maioria das respostas emocionais tem uma longa história evolutiva; elas fornecem aos organismos, automaticamente, comportamentos orientados para a sobrevivência. Um sentimento, na terminologia de Damásio, é a experiência consciente, ou “imagem mental”, de uma emoção.

Como seres humanos, não só experimentamos os estados transitórios da consciência primária, mas também pensamos e refletimos, comunicamo-nos por meio de linguagem simbólica, fazemos julgamentos de valor, mantemos crenças e agimos intencionalmente com autopercepção e uma experiência de liberdade pessoal. O fato de que a consciência humana está inextricavelmente entrelaçada com o pensamento e a reflexão tem a consequência interessante, e problemática, de que, em ciência cognitiva, a experiência consciente não é apenas um objeto de investigação, mas também é a pré-condição de qualquer investigação, de modo que qualquer questionamento sobre a consciência é radicalmente autorreferencial.

O “mundo interior” da nossa consciência reflexiva emergiu na evolução juntamente com a evolução da linguagem e das relações sociais organizadas, Isso significa que a consciência humana está inextricavelmente ligada à linguagem e ao nosso mundo social de relações interpessoais e de cultura. Em outras palavras, nossa consciência não é apenas um fenômeno biológico, mas também social.

Maturana enfatiza que o fenômeno da linguagem não ocorre no cérebro, mas em um fluxo contínuo de coordenações de comportamentos. Como seres humanos, existimos na linguagem e continuamente tecemos a teia linguística em que estamos incorporados. Coordenamos o nosso comportamento na linguagem, e juntos, na linguagem, damos à luz nosso mundo. “O mundo que todos nós vemos”, escrevem Maturana e Varela, “não é o mundo, mas um mundo, que damos à luz com as outras pessoas”.

De acordo com Damásio, há dois tipos de eu, associados com os dois tipos de consciência, que ele chama de eu nuclear e de eu autobiográfico. O eu nuclear é uma experiência transitória do eu, que é continuamente recriada à medida que interagimos com objetos em nosso ambiente. O eu autobiográfico, associado com a consciência reflexiva, é uma coleção de imagens mentais que parece manter-se constante (embora evolua ao longo da vida de uma pessoa). Damásio enfatiza que o eu autobiográfico requer a presença de um eu nuclear para dar início ao seu desenvolvimento gradual. O conteúdo do eu autobiográfico só pode ser conhecido quando há uma construção recém-formada do eu nuclear. Em resumo, o eu nuclear é um sentimento, enquanto o eu autobiográfico é uma ideia. Ambos são reais, mas nenhum deles é uma entidade ou estrutura separada.

De acordo com George Lakoff e Mark Johnson, os avanços cognitivos podem ser resumidos com base em três descobertas importantes: o pensamento é, em sua maior parte, inconsciente; a mente é inerentemente incorporada; e os conceitos abstratos são, em grande medida, metafóricos.

O conceito de mente incorporada, introduzido por Francisco Varela no início da década de 1990 foi consideravelmente expandido durante os anos seguintes. Quando os cientistas cognitivos dizem que a mente é incorporada, querem dizer com isso muito mais do que o fato óbvio segundo o qual precisamos de um cérebro para pensar. Estudos recentes em linguística cognitiva indicam vigorosamente que a razão humana não transcende o corpo, como grande parte da filosofia ocidental sustentou e tem sustentado, mas é modelada fundamentalmente pela natureza detalhada do nosso corpo e cérebro, e pela nossa experiência corporal. A própria estrutura da razão surge do nosso corpo e cérebro.

Essa noção de mente incorporada é coerente com a hipótese, apresentada por Roger Fouts, segundo a qual a linguagem foi originalmente incorporada no gesto e evoluiu a partir do gesto juntamente com a consciência humana. Os primeiros hominídeos comunicavam-se com as mãos e desenvolveram a habilidade de movimentar as mãos com precisão tanto para realizar gestos como para fazer ferramentas. A fala teria evoluído mais tarde a partir da capacidade para a “sintaxe” - uma capacidade para acompanhar o desdobramento de sequências padronizadas complexas na criação de ferramentas, no uso de gestos e na formação de palavras.

O processo de projeção metafórica se revela como um elemento de importância crucial na formação do pensamento abstrato. A descoberta de que a maior parte do pensamento humano é metafórica foi outro grande avanço na ciência cognitiva. Metáforas tornam possível estender nossos conceitos incorporados, ou encarnados, básicos para domínios teóricos abstratos.

Na história da evolução, gestos evoluíram na linguagem falada quando o cérebro hominídeo desenvolveu regiões motrizes que controlam movimentos precisos das mãos e movimentos precisos da língua. E, juntamente com a linguagem, a consciência reflexiva e o pensamento conceitual evoluíram nos primeiros seres humanos como partes de processos de comunicação cada vez mais complexos.

Enquanto a consciência primária está associada com uma experiência transitória do eu que é incessantemente repetida, a consciência reflexiva está associada com um sentido expandido do eu. Esse sentido mais amplo do eu surge quando as imagens transitórias do eu nuclear são enriquecidas por imagens autobiográficas memorizadas e aparentemente invariantes.

A mente humana é inerentemente incorporada. A própria estrutura da razão surge de nosso corpo e cérebro. O uso de metáforas é fundamental para o pensamento humano porque nos permite projetar a experiência corporal sobre conceitos abstratos. De fato, nossos conceitos abstratos são, em grande medida, metafóricos. Em todos os níveis da vida, a começar com a mais simples célula, mente e matéria, processo e estrutura estão inseparavelmente conectados. Pela primeira vez, temos uma teoria científica que unifica mente, matéria e vida.

Desde a virada do século, acumularam-se em abundância evidências de que, embora o poder da ciência e da tecnologia tenha nos trazido benefícios nunca antes experimentados, as maneiras pelas quais esses benefícios são obtidos, e como eles são distribuídos entre os países e dentro deles, estão agora ameaçando o nosso bem-estar futuro, e, na verdade, a própria existência da humanidade.

E evidente, com base nessa breve visão geral introdutória, que o destino e o bem-estar da civilização moderna será modelado significativamente pelo equilíbrio (ou pela ausência dele) entre os dois desenvolvimentos opostos do progresso tecnológico e da sabedoria espiritual. É claro que uma ciência “sem alma” levaria ao desastre. Reciprocamente, não podemos gerenciar o nosso complexo mundo moderno com uma abordagem puramente espiritual.

A visão da ciência e da religião como uma dicotomia tem uma longa história, espe­cialmente na tradição cristã, e foi recentemente revivida em vários livros escritos por cientistas. Por outro lado, há muitos cientistas que não reconhecem oposição intrínseca entre ciência e religião, ou ciência e espiritualidade. No âmago dessa situação confusa está o malogro de muitos autores em distinguir claramente entre espiritualidade e religião.

A experiência espiritual é uma experiência em que a vitalidade da mente e do corpo é percebida como uma unidade. Além disso, essa experiência de unidade transcende não apenas a separação entre a mente e o corpo, mas também a separação entre o eu e o mundo. A percepção central, nesses momentos espirituais, é um profundo sentimento de unidade com tudo, um sentimento de pertencer ao universo como um todo.

O sentimento de perplexidade e admiração que está no cerne da experiência espiritual ou mística pode ter-se desenvolvido muito cedo na evolução humana. Talvez tenha sido ele, na verdade, a fonte original da espiritualidade.

Na verdade, a experiência de um intenso sentimento de reverência e humildade que se tem quando se olha para o céu estrelado é um tema antigo e predominante na literatura e na arte. Ela é bem expressa em uma célebre gravura reproduzida por Flammarion no século XIX, que retrata um peregrino vestido com um longo manto e carregando um cajado, rastejando sob a borda do céu estrelado e observando atentamente um mundo misterioso além, conhecido na literatura cristã como o “empíreo”.

No século XIX, os mistérios percebidos pelo missionário de Flammarion foram reduzidos ainda mais por Charles Darwin, que demonstrou que a grande diversidade da vida na Terra não era o resultado de um planejamento divino, mas se devia à interação de forças naturais. E, em nosso tempo, os cientistas começaram a sondar até mesmo a natureza da alma, que, na tradição cristã, sempre foi considerada de natureza divina, e, portanto, profundamente misteriosa.

Como Blaise Pascal se expressou de maneira sucinta no século XVII: “O conhecimento é como uma esfera; quanto maior for o seu volume, maior será o seu contato com o desconhecido”.

Tanto o conceito de espiritualidade como a essência da experiência espiritual são plenamente consistentes com a visão sistêmica da vida. No entanto, isso não é necessariamente verdade para a religião, e aqui é importante distinguir entre ambas. A espiritualidade é uma maneira de estar fundamentado em uma certa experiência da realidade que é independente de contextos culturais e históricos. A religião é a tentativa organizada de compreender a experiência espiritual para interpretá-la com palavras e conceitos, e usar essa interpretação como a fonte de diretrizes morais para a comunidade religiosa.

O conceito de um Deus monoteísta, criador do mundo, da natureza, da vida humana e da consciência humana é de importância central para a maioria dos debates entre religiosos e cientistas. O malogro em compreender como metáforas todos os atributos de um tal Deus, e, desse modo, em aceitar um conceito literal de Deus como um ato de fé ou rejeitar esse conceito como não científico é a razão pela qual a maioria desses debates permanece em um nível fundamentalista infrutífero.

As posições fundamentalistas cm ambos os lados do debate constituem o principal obstáculo. A dicotomia aparente se dissolve quando passamos da religião organizada para o domínio mais amplo da espiritualidade, e quando reconhecemos que tanto a experiência espiritual como o mistério que encontramos nas bordas de toda teoria científica transcendem todas as palavras e todos os conceitos. Com essa atitude, podemos nos maravilhar diante da narrativa científica a respeito de como a matéria se condensou nas primeiras formas de vida e desenvolveu estruturas e processos cognitivos cada vez mais complexos, em um percurso completo até a emergência da consciência, enquanto podemos desfrutar a riqueza de ensinamentos espirituais recolhidos das tradições religiosas do mundo em cada etapa desse desdobramento. Esse é um diálogo de tolerância e respeito mútuo, um diálogo que pode promover uma interação dialética capaz de ser instrutiva e inspiradora tanto para os líderes da ciência como para os da religião.

A percepção de estar conectado com toda a natureza é particularmente forte em ecologia. Os estados de conexão, de relacionamento e de interdependência são conceitos fundamentais da ecologia; e os estados de conexão, de relacionamento e de pertencer também são a essência da experiência espiritual. Acreditamos, por isso, que a ecologia - em particular, a escola filosófica da ecologia profunda - é a ponte ideal entre ciência e espiritualidade.

O bem-estar, e mesmo a sobrevivência da humanidade, dependerá fundamentalmente da nossa “alfabetização ecológica” - nossa capacidade para compreender os princípios básicos da ecologia, ou princípios da sustentabilidade, e de viver em conformidade com essa compreensão. Isso significa que a alfabetização ecológica precisa se tornar uma habilidade crítica para os políticos, líderes empresariais e profissionais de todas as esferas, e deveria ser a parte mais importante da educação, especialmente no nível universitário, onde certos tipos de conhecimento e certos valores são ensinados para os líderes de amanhã.

No mundo acadêmico de hoje, é muito difícil explorar a dimensão espiritual da educação. Nossas instituições acadêmicas clássicas produzem especialistas tecnológicos ou humanistas em uma disciplina particular de cada vez, e só muito raramente são capazes de se empenhar em manter a abordagem interdisciplinar do conhecimento que estamos defendendo neste livro. Tal abordagem, no entanto, é urgentemente necessária nos dias de hoje, uma vez que nenhum dos principais problemas do nosso tempo pode ser entendido isoladamente. Todos eles são problemas sistêmicos - interconectados e interdependentes - e têm, portanto, necessidade de soluções sistêmicas.

Incluir a dimensão espiritual na educação é ainda mais difícil do que manter uma abordagem sistêmica por causa da confusão generalizada entre espiritualidade e religião. Desse modo, a maioria dos nossos alunos universitários - que serão os líderes mundiais de amanhã - são privados da experiência estimulante dos diálogos interdisciplinares; e a maior parte dos futuros cientistas são impedidos de examinar os valores da ética, da arte, da música, da poesia e da introspecção pessoal. Consequentemente, há um grande perigo de estarmos educando líderes em vários campos que não conhecem uns aos outros, e que não são sensíveis aos valores do espírito humano.

As tensões antigas entre ciência e espiritualidade geralmente têm surgido quando a espiritualidade c confundida com a religião, e quando posições antagônicas são adotadas por fundamentalistas de ambos os lados. Tentamos esclarecer a natureza da verdadeira espiritualidade e mostramos que tanto o conceito de espiritualidade como o da natureza das experiências espirituais da realidade são plenamente coerentes com a ciência moderna e, em particular, com a visão sistêmica da vida, Além disso, argumentamos que a ecologia profunda parece fornecer uma ponte ideal entre ciência e espiritualidade.

Consideramos esse alargamento da perspectiva educacional como um elemento essencial para dar à luz uma nova geração de líderes mundiais capazes de suceder nossos políticos contemporâneos, muitos dos quais são corruptos, perseguem objetivos mesquinhos, têm visão estreita e carecem de uma “bússola moral”, como se expressa o dramaturgo e estadista tcheco Václav Havei.

Por volta de 4 milhões de anos atrás, uma extraordinária confluência de eventos ocorreu na evolução dos primatas com o aparecimento dos primeiros macacos que caminhavam eretos, pertencentes ao gênero Australopithecus. A nova liberdade de suas mãos permitiu a esses primeiros hominídeos fazer ferramentas, manejar armas e atirar pedras. Isso estimulou o rápido crescimento do cérebro, o que se tornou talvez a principal característica da evolução humana, e acabou por levar ao desenvolvimento da linguagem e da consciência reflexiva. No entanto, embora eles desenvolvessem cérebros complexos, habilidades na construção e no uso de ferramentas e linguagem, a impotência de seus bebês prematuramente nascidos levou à formação das famílias e das comunidades necessárias para lhes dar apoio, e que se tornaram, o fundamento da vida social humana. Desse modo, a evolução da linguagem e da consciência humana estava inextricavelmente ligada com a da tecnologia e a das relações sociais organizadas desde o início da vida humana. Em particular, o estágio evolutivo dos hominídeos australopitecos estabeleceu um elo fundamental entre os fenômenos sociais e a consciência. Com a evolução da linguagem, surgiu não apenas o mundo interior dos conceitos e ideias, mas também o mundo social dos relacionamentos organizados e da cultura, que é o assunto deste capítulo.

Desse modo, com base em uma perspectiva evolucionista, é muito natural fundamentar a compreensão dos fenômenos sociais em uma concepção unificada da vida e da consciência. De fato, a visão sistêmica da vida tenta integrar as dimensões biológica, cognitiva e social da vida. Ser capaz de reter imagens mentais nos permite escolher entre várias alternativas, uma capacidade que é necessária para formular valores o regras sociais de comportamento. Por outro lado, diferenças de valores dão lugar a conflitos de interesses, que constituem a origem de relações de poder, como exami­naremos a seguir. Desse modo, a capacidade da consciência humana para formar imagens mentais abstratas de objetos materiais e de eventos está na origem das prin­cipais características da vida social.

O pensamento social no fim do século XIX e início do século XX foi muito influenciado pelo positivismo, doutrina formulada pelo filósofo social Auguste Comte, para quem as ciências sociais deveriam procurar por leis gerais do comportamento humano, enfatizar a quantificação e rejeitar todas as explicações que recorressem a fenômenos subjetivos, tais como intenções ou propósitos. O arcabouço positivista foi claramente padronizado de acordo com a física newtoniana. De fato, Comte inicialmente chamou o estudo científico da sociedade de “física social” antes de introduzir o termo “sociologia”.

Voltemos mais uma vez para a autopoiese, a característica que define a vida biológica. Em sua teoria, Maturana e Varela distinguem entre dois aspectos fundamentais dos sistemas vivos: organização e estrutura. O padrão de organização de qualquer sistema, vivo ou não vivo, é a configuração de relações entre os componentes do sistema, que determina as características essenciais do sistema. Em outras palavras, determinadas relações precisam estar presentes para que algo seja reconhecido como, digamos, uma cadeira, uma bicicleta ou uma árvore. A configuração de relações que proporciona a um sistema suas características essenciais é o que nós entendemos como seu padrão de organização.

A estrutura de um sistema é a incorporação física do seu padrão de organização. Enquanto a descrição da organização do sistema envolve um mapeamento abstrato de relações, a descrição da sua estrutura envolve a descrição dos componentes físicos reais do sistema - suas formas, composições químicas, e assim por diante.

Quando estudamos os sistemas vivos a partir da perspectiva da organização, descobrimos que seu padrão de organização é o de uma rede autogeradora (autopoiética). A partir da perspectiva da estrutura, a estrutura material de um sistema vivo é uma estrutura dissipativa - isto é, um sistema aberto que opera longe do equilíbrio. Finalmente, a partir da perspectiva processual, os sistemas vivos são sistemas cognitivos nos quais o processo de cognição está estreitamente ligado com o padrão de autopoiese. Em resumo, essa é a nossa síntese da nova compreensão sistêmica da vida biológica.

A maioria dos cientistas tem dificuldades para dar igual importância a cada uma dessas três perspectivas por causa da influência persistente da nossa herança cartesiana. Supõe-se que as ciências naturais lidam com fenômenos materiais, mas apenas a perspectiva da estrutura está interessada no estudo da matéria. As outras duas perspectivas lidam com relações, qualidades, padrões e processos, os quais são, todos eles, não materiais. Naturalmente, nenhum cientista negaria a existência de padrões e processos, mas a maioria deles tende a conceber um padrão de organização como uma ideia abstraída da matéria, em vez de uma força geradora.

Focalizar em estruturas materiais e nas forças entre elas e entender os padrões de organização resultantes dessas forças como fenômenos secundários revelou-se como uma abordagem muito eficiente em física e cm química, mas quando nos voltamos para os sistemas vivos, essa abordagem não é mais adequada. A característica essencial que distingue sistemas vivos de sistemas não vivos - a autopoiese - não é uma propriedade da matéria, nem é uma “força vital” especial. É um padrão específico de relações entre processos químicos. Embora esses processos produzam componentes materiais, o próprio padrão de rede é não material.

Os processos de auto-organização nesse padrão de rede são compreendidos como processos cognitivos que, finalmente, deram origem à experiência consciente e ao pen­samento conceituai. Todos esses fenômenos cognitivos são não materiais, mas são in­corporados; eles surgem do corpo e são modelados pelo corpo. Desse modo, a vida nunca é divorciada da matéria, mesmo que suas características essenciais - organização, complexidade, processos, e assim por diante - sejam não materiais.

Todos os sistemas vivos são redes de componentes menores, e a teia da vida como um todo é uma estrutura em muitas camadas, na qual sistemas vivos aninham-se dentro de outros sistemas vivos - redes dentro de redes. Organismos são agregados de células autônomas, mas estreitamente acopladas; populações são redes de organismos autônomos pertencentes a uma única espécie; e ecossistemas são teias de organismos, tanto unicelulares como pluricelulares, pertencentes a muitas diferentes espécies.

O que é comum a todos esses sistemas vivos é o fato de que seus menores componentes de vida são sempre células e, portanto, podemos dizer com confiança que todos os sistemas vivos, em última análise, são autopoiéticos. No entanto, também é interessante indagar se os sistemas maiores formados por essas células autopoiéticas - os or­ganismos, as sociedades e os ecossistemas - são em si mesmos redes autopoiéticas.

Embora o comportamento no domínio físico seja governado pelas leis de causa e efeito, as chamadas “leis da natureza”, o comportamento no domínio social é governado por regras geradas pelo sistema social, que são muitas vezes codificadas em lei. A diferença crucial é que as regras sociais podem ser quebradas, mas as leis na­turais não podem. Os seres humanos podem escolher se eles aceitam ou não obedecer a uma regra social, e cm que condições, mas as moléculas não podem escolher se elas devem ou não interagir.

A perspectiva do significado inclui uma multidão de características inter-relacionadas que são essenciais para a compreensão da realidade social. O próprio significado é um fenômeno sistêmico; ele sempre tem a ver com o contexto. A definição geral dos dicionários para significado é “uma ideia transmitida para a mente e que requer ou considera a interpretação”, ao passo que a interpretação pode ser definida como “conceber à luz da crença individual, do julgamento ou da circunstância”. Em outras palavras, interpretamos alguma coisa colocando-a em um contexto particular de conceitos, valores, crenças ou circunstâncias. Para compreender o significado de qualquer coisa, precisamos relacioná-la com outras coisas em seu ambiente, em seu passado ou em seu futuro. Nada é significativo em si mesmo.

O significado é essencial para os seres humanos. Precisamos continuamente manter coerência entre nossos mundos exterior e interior, de modo que ambos façam sentido para nós, encontrar significado em nosso ambiente e em nossas relações com os outros seres humanos, e agir em conformidade com esse significado. Isso inclui, em particular, nossa necessidade de agir com um propósito ou objetivo em mente. Por causa da nossa capacidade para projetar imagens mentais no futuro, nós agimos com a convicção, legítima ou não, de que nossas ações são voluntárias, intencionais e propositadas.

A compreensão sistêmica da vida lança uma nova luz sobre o antiquíssimo debate filosófico a respeito de liberdade e determinismo. O ponto-chave é que o comportamento de um organismo vivo é constrangido, mas não é determinado, por forças externas. Os organismos vivos são auto-organizadores, e isso significa que o seu comportamento não é imposto pelo ambiente, mas é estabelecido pelo próprio sistema. Mais especificamente, o comportamento do organismo é determinado pela sua própria estrutura, uma estrutura formada por uma sucessão de mudanças estruturais autônomas.

A autonomia dos sistemas vivos não deve ser confundida com independência. Os organismos vivos não são isolados do seu ambiente. Eles interagem continuamente com ele, mas o ambiente não determina sua organização. No nível humano, experimentamos essa autodeterminação como a liberdade de agir de acordo com nossas próprias escolhas e decisões. Experimentar essas últimas como “nossas” significa que elas são determinadas pela nossa natureza, incluindo nossas experiências passadas e nossa herança genética. Na medida em que não estamos limitados por relações humanas de poder, nosso comportamento é autodeterminado e, portanto, livre.

Nossa capacidade de reter imagens mentais e projetá-las no futuro não apenas nos permite identificar metas e propósitos e desenvolver estratégias e projetos, mas também nos permite escolher entre várias alternativas e, portanto, formular valores e regras sociais de comportamento. Todos esses fenômenos sociais são gerados por redes de comunicações, como consequência do papel dual da comunicação humana. Por um lado, a rede gera continuamente imagens mentais, pensamentos e significado; por outro lado, ela coordena continuamente o comportamento dos seus membros. A partir da dinâmica e da interdependência complexas desses processos emerge o sistema integrado de valores, crenças e regras de conduta que associamos com o fenômeno da cultura.

Sistemas sociais vivos são redes autogeradoras de comunicações. Isso significa que uma organização humana será um sistema vivo apenas se for organizada como uma rede ou se contiver redes menores dentro de suas fronteiras. De fato, os teóricos organizacionais vieram a compreender que as redes sociais informais existem dentro de cada organização. Elas surgem de várias alianças e amizades, canais informais de comunicação e outras teias entrelaçadas de relacionamentos que crescem continuamente, mudam e se adaptam a novas situações.

Étienne Wenger cunhou a expressão “comunidades de prática” para caracterizar as redes autogeradoras informais dentro das organizações. Wenger assinala que, em nossas atividades diárias, a maioria de nós pertence a várias comunidades de prática - no trabalho, nas escolas, nos esportes e nos hobbies ou na vida cívica. Algumas delas podem ter nomes explícitos e estruturas formais; outras podem ser tão informais que nem sequer são identificadas como comunidades.

Em uma organização humana, o evento que desencadeia o processo de emergência pode ser um comentário casual, que talvez nem sequer pareça importante para a pessoa que o fez, mas que é significativo para algumas pessoas em uma comunidade de prática. Como ele é significativo para essas pessoas, elas “optam por ser perturbadas” e fazem a informação circular rapidamente ao longo das redes da organização. A medida que a informação circula por meio de vários ciclos de feedback, ela pode ser amplificada e expandida, até mesmo em tal medida que a organização não consiga mais absorvê-la em seu estado atual. Quando isso acontece, um ponto de instabilidade é atingido. O sistema não pode integrar a nova informação em sua ordem existente; ele é forçado a abandonar algumas de suas estruturas, comportamentos ou crenças. O resultado é um estado de caos, confusão, incerteza e dúvida; e desse estado caótico, emerge uma nova forma de ordem, organizada em torno de um novo significado. A nova ordem não foi planejada por qualquer indivíduo, mas emergiu como resultado da criatividade coletiva da organização.

Uma vez que o processo de emergência é completamente não linear, envolvendo muitos ciclos de feedback, ele não pode ser plenamente analisado com as nossas maneiras convencionais, lineares de raciocinar e, portanto, tendemos a experimentá-lo com uma sensação de mistério.

Quando os acionistas e outros organismos externos avaliam a “saúde” de uma or­ganização empresarial, eles geralmente não perguntam sobre o grau de vitalidade de suas comunidades, a integridade e o bem-estar de seus funcionários, ou a sustentabili­dade ecológica dos seus produtos. Eles perguntam sobre lucros, valor para o acionista, participação de mercado e outros parâmetros econômicos; e aplicarão qualquer tipo de pressão que puderem para garantir retornos rápidos sobre seus investimentos, indepen­dentemente das consequências de longo prazo para a organização, o bem-estar de seus funcionários ou os impactos sociais e ambientais mais amplos.

Paradoxalmente, o ambiente de negócios atual, com suas turbulências e complexidades, é também um ambiente em que a flexibilidade, a criatividade e a capacidade de aprendizagem que acompanham a vitalidade da organização se revelam necessários no mais alto grau. Isso está sendo reconhecido atualmente por um número cada vez maior de líderes empresariais visionários, que estão mudando suas prioridades, dirigindo-as para o desenvolvimento do potencial criativo de seus funcionários, melhorando a qualidade das comunidades internas da empresa e integrando os desafios da sustentabilidade ecológica em suas estratégias.

No longo prazo, as organizações que forem verdadeiramente vivas serão capazes de florescer somente quando conseguirmos mudar nosso sistema econômico de modo que ele passe a promover a vida, e não a sua destruição. A compreensão sistêmica da vida deixa claro que nos próximos anos essa mudança será imperativa não apenas para o bem-estar das organizações humanas, mas também para a sobrevivência e a sustentabilidade da humanidade como um todo, Este é o assunto dos três últimos capítulos deste livro.

A visão sistêmica da saúde

Uma nova visão unificadora da vida surgiu na ciência ao longo das ultimas três décadas, e possui implicações importantes para quase todos os campos de estudo e todos os empreendimentos humanos. Isso não deve nos surpreender, uma vez que a maioria dos fenômenos com que lidamos em nossas vidas profissional e pessoal tem a ver com sistemas vivos. Quer falemos sobre economia, meio ambiente, educação, assistência à saúde, direito ou gerenciamento, estamos lidando com organismos vivos, sistemas sociais ou ecossistemas. E, consequentemente, a mudança fundamental de percepção da visão mecanicista para a visão sistêmica da vida é importante para todas essas áreas.

O fundamento conceitual da moderna medicina cientifica é o chamado modelo biomédico, que está firmemente arraigado no pensamento cartesiano.

Como se pensava que os genes determinavam as funções biológicas, era natural que os geneticistas passassem a se empenhar na tarefa de identificar com precisão os genes que causam doenças específicas. Se eles fossem bem-sucedidos em fazê-lo, pensaram, eles poderiam ser capazes de prevenir ou curar essas doenças “genéticas” corrigindo ou substituindo os genes defeituosos.

Este foi, em grande parte, o sonho por trás do Projeto Genoma Humano, o qual supunha que genes defeituosos específicos seriam reconhecidos como as causas da maioria das doenças - sonho que não se realizou.

No modelo biomédico, a saúde é definida como a ausência de doença, e a doença como o mau funcionamento dos mecanismos biológicos. Uma concepção alternativa de saúde, baseada na visão sistêmica da vida, começa com a constatação de que é impossível obter uma definição precisa de saúde. A razão disso é que a saúde, em grande medida, é uma experiência subjetiva, cuja qualidade pode ser conhecida intuitivamente, mas nunca pode ser exaustivamente descrita ou quantificada. A saúde é um estado de bem-estar que surge quando o organismo funciona de uma certa maneira.

A descrição desse modo de funcionamento dependerá de como descrevemos o organismo e suas interações com o meio ambiente, Em outras palavras, a nossa com­preensão da saúde sempre estará ligada à nossa compreensão da vida. Diferentes modelos de organismos vivos levarão a diferentes definições de saúde. Portanto, o conceito de saúde e os conceitos relacionados de doença e patologia não se referem a entidades bem definidas, mas são partes integrantes de modelos limitados e aproxi­mados que espelham o complexo e fluido fenômeno da vida.

Uma vez que reconhecemos a natureza relativa e subjetiva do conceito de saúde, podemos começar a explorar a maneira como a visão sistêmica da vida pode nos ajudar a desenvolver uma correspondente visão sistêmica da saúde. A visão sistêmica concebe a saúde como um processo em andamento. Em vez de definir a saúde como um estado estático de perfeito bem-estar, a concepção sistêmica de saúde implica atividade e mudança contínuas, refletindo uma resposta criativa do organismo a desafios ambientais. Uma vez que a condição de uma pessoa sempre dependerá do ambiente natural e social, não pode haver nenhum nível absoluto de saúde independente desse ambiente. As mudanças contínuas do próprio corpo em relação ao ambiente em mudança incluirão naturalmente fases temporárias de saúde deficiente, e muitas vezes será impossível traçar uma linha nítida entre saúde e doença.

Todas as variáveis de um sistema vivo flutuam continuamente entre limites de tolerância: quanto mais dinâmico for o estado do sistema, maior será sua flexibilidade. Qualquer que seja a natureza dessa flexibilidade - física, mental, social, tecnológica ou econômica - ela é essencial para que a capacidade do sistema se adapte às mudanças ambientais. Perda de flexibilidade significa perda de saúde.

Além disso, o sistema vivo responde autônoma e cognitívamente a perturbações vindas do seu ambiente. As mudanças estruturais resultantes podem ser ou mudanças de autorrenovação ou mudanças de desenvolvimento nas quais emergem novas formas de ordem.

Essa visão dos sistemas vivos sugere a noção de equilíbrio dinâmico como um conceito útil para se definir a saúde, Tal estado de equilíbrio não é um equilíbrio estático, mas sim um padrão flexível de flutuações, Tendo em mente esse significado de “equilíbrio dinâmico”, podemos definir a saúde como “Um estado de bem-estar, resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os aspectos físicos e psicológicos do organismo, bem como suas interações com seu ambiente natural e social”.

Ficar doente (afastar-se do equilíbrio) e ficar curado (recuperar o equilíbrio) são partes integrantes do processo da vida, e se esse processo é identificado com a cognição, o processo de ficar doente - assim como o processo de se curar - pode ser considerado como um processo cognitivo, Isto significa que em toda doença há uma dimensão mental, mesmo que ela, com frequência, resida no domínio do inconsciente.

O reconhecimento do papel do estresse no desenvolvimento da doença leva à importante, noção de doença como um “solucionador de problemas”. Por causa do condicionamento social e cultural, as pessoas frequentemente acham impossível liberar seus estresses de maneira saudável e, portanto, escolher - consciente ou in­conscientemente - ficar doente como uma saída. Sua doença pode ser física ou mental, ou pode manifestar-se como comportamento violento e negligente, podendo ser apropriadamente chamada de doença social. Todas essas “rotas de fuga” são formas de saúde precária, sendo a doença física apenas uma das várias maneiras não saudáveis de se lidar com situações de vida estressantes. Nesse sentido, curar uma doença não será necessariamente o mesmo que tornar o paciente saudável. Se a fuga em direção a uma determinada doença é efetivamente bloqueada por meio de intervenção médica enquanto a situação estressante persistir, isso pode simplesmente deslocar a resposta do paciente para um modo diferente, como a doença mental ou o comportamento antissocial, que será igualmente insalubre.

A ideia de doença como uma maneira de lidar com situações de vida estressantes leva naturalmente a noção de “significado” de uma doença, ou da “mensagem” que é transmitida por uma doença específica. Para entender essa mensagem, a saúde precária deve ser considerada como uma oportunidade para a introspecção, de modo que o problema original pode ser trazido para um nível consciente, onde tem condições de ser resolvido. É aí que o aconselhamento psicológico e a psicoterapia podem desempenhar um papel importante, mesmo no tratamento de doenças físicas. Integrar dessa maneira terapias físicas e psicológicas equivale a realizar uma importante reconceituação da assistência à saúde, uma vez que ela exige o pleno reconhecimento da interdependência da mente e do corpo na saúde e na doença.

A compreensão sistêmica da saúde e da doença, implica uma compreensão sistêmica correspondente da cura. Muitos modelos tradicionais de saúde e cura reconhecem as capacidades autocurativas inerentes a cada organismo vivo - isto é, a tendência inata do organismo para se restabelecer de um estado equilibrado quando foi perturbado.

Atualmente a expressão “medicina integrativa” estabeleceu-se como a expressão que designa uma noção de medicina sistêmica. Os médicos que a praticam compreendem-na como uma abordagem orientada para a cura que tenta combinar o melhor das terapias convencional e alternativa, ou “complementar”. Nas páginas a seguir, delinearemos brevemente a visão de um futuro sistema de assistência à saúde baseado na abordagem sistêmica da medicina integrativa.

A assistência à saúde individual baseia-se no reconhecimento de que a saúde dos seres humanos é determinada, acima de tudo, pelo seu comportamento, sua alimentação e a natureza do ambiente em que vivem. Como indivíduos, temos o poder e a responsabilidade de manter o nosso organismo em equilíbrio observando uma série de regras simples de comportamento relativas ao sono, à alimentação, aos exercícios e aos medicamentos.

Os médicos modernos não recebem treinamento suficiente para a compreensão da doença em seu contexto. Eles são pagos para realizar intervenções curtas, que evitam a exploração de questões emocionais ou ansiedades. Eles tendem a interromper as declarações dos pacientes depois de alguns momentos e fornecem poucas informações sobre suas prescrições e tratamentos. Eles quase não têm tempo para escutar com atenção, nem para ajudar e aconselhar seus pacientes a respeito de atitudes e comportamentos mais saudáveis.

As políticas de saúde, a serem estabelecidas por governos em vários níveis administrativos, consistirão em legislações para impedir que ocorram riscos para a saúde, e também em políticas sociais que proveem as necessidades básicas das pessoas de modo a minimizar o estresse social. As medidas necessárias para proporcionar um ambiente que incentive e torne possível para as pessoas adotarem maneiras saudáveis de viver incluem o seguinte:

a) restrições sobre toda publicidade de produtos insalubres;

b) “taxas de saúde” cobradas de indivíduos, empresas e corporações que geram riscos para a saúde, para compensar os custos médicos que inevitavelmente surgem desses riscos;

c) políticas sociais para melhorar a educação, o emprego, os direitos civis e os níveis econômicos de grande número de pessoas pobres;

d) desenvolvimento de políticas nutricionais que oferecem incentivos para a indústria produzir mais alimentos nutritivos, livres de produtos químicos tóxicos.

O principal objetivo do primeiro encontro entre o paciente e o clínico geral, além das medidas de emergência, será o de explorar com o paciente a natureza e o significado da doença, e encontrar possibilidades de mudar os padrões de vida do paciente que levaram a ela. Ela requer não apenas algum conhecimento básico da biologia, da psicologia e da ciência social humanas, mas também experiência, sabedoria, compaixão e preocupação com o paciente como ser humano.



[1] Lucy é um fóssil de Australopithecus afarensis de 3,2 milhões de anos, descoberto em 1974 pelo professor Donald Johanson, no deserto de Afar, Etiópia. Chama-se Lucy por causa da canção “Lucy in the Sky with Diamonds” da banda The Beatles, tocada num gravador no acampamento, e por a terem definido como uma fêmea. Anteriormente, em 1924, na África do Sul, o pesquisador australiano Raymond Dart descobrira um crânio com tamanho intermediário entre o dos humanos e o dos chimpanzés e denominara a nova espécie de “Australopithecus”, que significa “macaco do sul”.

Alexandre Botelho

Doutorando em Direito - UFSC

11. A Aventura Humana

(p. 299-300)

3 grandes eras da evolução da vida:

        1. Pré-biótica  - formação de condições básicas

     2. Microcosmo – bactérias e base para vida complexa

     3. Macrocosmo -  sistemas vivos complexos

 

11. A Aventura Humana

(p. 300-306)

Narrativa de Brower mostra o quão recente é a presença humana no planeta terra. 

A era dos seres humanos: marcos evolutivos do ser humano

Não foi um processo linear, houve subspécies 

No campo filosófico, Darwin impacta no conceito de singularidade humana. Ex. Chimpanzés são seres sociais

 

 

 

11. A Aventura Humana

(p. 306-312)

Instinto dos chimpanzés (agressivos) vs Bonobos amigáveis

Amor e altruísmo  instinto maternal assimilado nos códigos morais. Emoções positivas – empatia, gratidão, cooperação e esperança podem estar ligadas a evolução de espécies cooperativas. 

Consciência e espiritualidade: percepção e gramática moral

Curiosidade e sede por conhecimento: busca por identificação de padrões, a noção de beleza. 

 

 

 

12. Mente e consciência 

(p. 314-334)

A mente tem algo a ver com o cérebro, mas a relação ainda não está clara para o mainstream da ciência. 

Mente é um processo: mente é a essência de estar vivo

Cognição é o processo da vida – interação com o meio, percepção e criação da realidade 

Consciência cresce a partir da cognição. 

 

 

 

12. Mente e consciência 

(p. 335-341)

Emoções – conscientes e inconscientes, possuem carga evolutiva

Mente incorporada: linguistica cognitiva, modelada pela natureza do corpo e cérebro. 

Mente e consciência são processos cognitivos

Mapas neurais formam imagens mentais

 

13. Ciência e espiritualidade - (p. 335-355)

 Relação dialética– forças propulsoras da humanidade

Ciência e religião: diálogo de surdos?  há autores que enquadram a experiência em harmonia com a visão sistêmica da vida. 

integrativas. Deus não joga dados (Einstein)

Stephen Hawking pode não haver lugar para Deus... 

Há extremismos de ambos os lados e boas iniciativas 

 

 

13. Ciência e espiritualidade - (p. 356-366)

 Mind of Life Institute  - Ciência e Budismo

14o Da lai lama – cientista da área de tecnologia

Nova ciência e Antigas tradições espirituais

Meditação conduz a oscilações neurais  neurociência comtemplativa. 

Introduzir educação ecológica-espiritual

 

 

14. Vida, mente e sociedade - (p. 368-373)

 Consciência e fenômenos sociais

Teoria social do sec. XX positivismo

Max weber e os fatos sociais (crenças e práticas)

Estruturalismo e funcionalismo  - padrões de organização social  e estruturas sociais ocultas. 

Giddens e habbermas- teorias integrativas

Giddens   análise institucional , hermeneutica (interpretação) 

 

14. Vida, mente e sociedade - (p. 373)

 Habbermas   teoria da ação comunicativa. 

Redes vivas extensão da visão sistêmica para o domínio social : padrões de organização nos seres vivos.

Autopoiese no domínio social: família humana como  sistema biológico 

 

15. A Visão Sistêmica da Saúde- (p. 398)

 Crítica a visão mecanicista cartesiana fragmentada da saúde. 

Concepção mais sistêmica da saúde. 

Thiago S. Araujo. 
Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento - UFSC: www.egc.ufsc.br 

Capra e Luisi, nesta parte do livro, estabelecem uma série de relações complementares, que permitem vislumbrar a complexidade da aventura humana na Terra. Primeiro, abordam-se as Eras da Vida, cada uma com duração de bilhões de anos. Depois, fala-se sobre a superação da visão cartesiana da mente em relação dicotômica com o corpo, ou seja, com a matéria. Estabelece-se, na parte seguinte, uma relevante proposta de relação dialética entre ciência e espiritualidade, rompendo com a tradicional oposição entre os caminhos seguidos pela investigação científica e os valores que compõem o rol do bem viver já descrito em filosofias milenares como a induísta e a budista. Isso posto, apresentam-se alguns relatos de experiências de diálogos entre  grupos que reúnem representantes da ciência e dessas doutrinas. Por fim, aborda-se a visão sistêmica da saúde, a partir de um rol de interpretações das origens da doença, em relação aos cuidados do corpo e da mente, que supera a visão fragmentada da medicina tradicional, e permite, assim,  uma visão multidimensional de corpo e mente. 

 

11. A Aventura Humana

As Eras da Vida - cada uma de um a dois bilhões de anos -  Era pré-biótica, idade do microorganismo, era dos seres humanos. A última é um episódio breve, que pode chegar a um fim abrupto num futuro próximo.

David Brower - ilustra o processo de evolução com dias da semana.

A era dos seres humanos -evolução de células nucleadas, eucarióticas, que se tornaram o componente fundamental de todas as plantas e animais - emergência de organismos pluricelulares. 1,4 milhão de anos - macacos que caminhavam eretos - Australopithecus. Homonídeos de 1,40 cm de altura. Desamparo dos bebês humanos desempenhou um papel crucial na transição do macaco para o homem. Dois milhões de anos - primeiros descendentes de macacos humanos. Homo habilis. Controle do fogo.  400 mil e 250 mil anos homo erectus se desenvolveu em homo sapiens. 125 mil anos - neandertal . 35 mil anos - cro-magnons - inovações tecnológicas e atividades artísticas. Objetos ritualísticos.

Caverna Chauvet- pinturas rupestres - Serra da Capivara  - as pinturas são mais antigas que as encontradas na França, com 50 mil anos. Continua sendo um mistério. O homem primitivo americano é negroide, e não mongol. Expulsos  pelos mongóis caçadores. Cenas de caças, rituais e até de um beijo.A procura pelos ancestrais históricos do homem é a procura pelo contador de histórias e pelo artista. Homo Ludens - Huizinga.

 

O instinto do macaco assassino. Somente os seres humanos e os chimpanzés são assassinos na natureza. Característica masculina. Capitalismo predatório, colonialismo. Sistema econômico global com desastrosos impactos ambientais e sociais. Modelos de urbanização que visam à ostentação, e não ao bem estar coletivo.  Há formas de tecnologia relacionadas ao nosso instinto do macaco assassino.

Busca pela beleza e pela harmonia - 30 mil anos - pinturas, estatuetas e instrumentos musicais paleolíticos. Arte - vantagem reprodutiva. Lista de adaptações evolutivas, juntamente com o prazer do sexo. Apreciação contemplativa também é instintiva. Sentido estético pensado em conjunto com o desenvolvimento da consciência, bem como da espiritualidade.

12. Mente e consciência - superou a divisão cartesiana de mente e matéria. Mente e consciência são processos. Teoria da cognição de Santiago. A mente não se manifesta apenas em organismos individuais, mas em ecossistemas e sistemas sociais. Bateson - fenômeno da mente e fenômeno da vida interligados. A mente é a essência do estar vivo.

Cognição - o processo da vida - não difere do tipo de cognição dos outros seres vivos, apenas difere nos tipos de interação.

Acoplamento estrutural - os sistemas vivos respondem a perturbações do meio ambiente com mudanças estruturais. Cognição é um contínuo dar à luz um mundo. Alma - atman, psyche, anima. Espírito - spiritus, pneuma e ruah.

Sopro da vida. Alma - filosofia grega - dimensão cognitiva. Relação entre mente e cérebro - processo e estrutura. Teoria da mente que unifica mente, matéria e vida. Consciência - cognição alcança certo nível de complexidade.

Consciência primária - hic et nunc

Consciência expandida - sujeito pensante e reflexivo.

Diferentes estados de experiência consciente - qualia.

Visão reducionista clássica - somos um pacote de neurônios. Neurofenomenologia - Varela. Vários domínios da experiência cognitiva.

Damásio - experiências cognitivas - grande ensemble de estruturas cerebrais. Protoeu consciente do eu nuclear.

Consciência reflexiva - evoluiu junto com a evolução da linguagem e das relações sociais organizadas.

Maturana - linguagem - biologia da consciência humana. Fluxo contínuo de coordenações de comportamentos. Tecemos, juntos, uma teia linguística em que estamos incorporados. Linguística cognitiva - natureza da linguagem a partir da perspectiva da ciência cognitiva.

Mente incorporada - a razão humana é modelada pelo nosso corpo e cérebro.  E as nossas escolhas???

Fala - capacidade para a sintaxe. A mente e o corpo não são entidades separadas.

13. Ciência e espiritualidade - relação dialética !!!!!!!!

Ciência - progresso material e tecnológico. Incrível expansão de nossa capacidade de comunicação global . Agressividade e vontade de poder.

Espiritualidade - crescimento interior. Amor e respeito aos outros seres ( não somente os humanos).

Destino da civilização moderna - equilíbrio entre o progresso tecnológico e a sabedoria espiritual. Rompimento com a dicotomia ciência e religião.

Dimensões externa e interna da espiritualidade.

Espiritualidade, no sentido amplo, em oposição à ciência do capitalismo predatório - clonagem, organismos geneticamente modificados, poluição, desmatamento, consumismo excessivo.

Experiência profunda, mística, da realidade. Experiência não ordinária da realidade, realizada durante momentos de vitalidade intensificada. Vitalidade da mente e do corpo é percebida como uma unidade. Um encontro com o mistério da eternidade da vida - a experiência humana mais bela. Reverência e humildade.

Comentário meu: a relação com a espiritualidade e com a metáfora é bastante diferente na Índia antiga e na Era Medieval Cristã. Na segunda, há a manipulação da espiritualidade para o controle e o medo. Na primeira, a espiritualidade é meio para a intensa alegria de viver. Por isso, toda a experiência de vida é vista como sagrada e encantadora. Relação com os conceitos de singularidade e estranhamento diante da beleza, que caracterizam a arte. Formalismo russo.

Conceito de espiritualidade consistente com a visão sistêmica da vida.

 Semelhança entre físicos e místicos - acesso a níveis de experiências não comuns. Mind of Life Institute - diálogos entre cientistas e budistas.

As coisas derivam o seu ser e a sua natureza por dependência mútua e, em si mesmas, nada são. Comportamento antiético é um obstáculo para a autorrealização. Sabedoria iluminada = inteligência intuitiva + compaixão. A nossa ciência é de pouco valor a não ser que seja acompanhada pela preocupação social e ecológica.

Espiritualidade, ecologia e educação - não fomos jogados no caos, mas somos parte de uma grande sinfonia da vida. A experiência de pertencer pode tornar nossa vida profundamente significativa.

A dimensão espiritual da educação!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Alfabetização ecológica!!!!!!!!!!!

Interdependência de todos os fenômenos - profunda consciência ecológica. Dimensão espiritual fora do mundo acadêmico. Especialistas tecnológicos ou humanistas em uma disciplina particular. Incluir a dimensão espiritual na educação é ainda mais difícil do que manter uma visão sistêmica!!!!!!!!!!

Cortona weeks - interessante. Buscar mais info. Schumacher College. Intensos debates não eurocêntricos. Alargamento da perspectiva educacional.

Problema de fundamentalistas de ambos os lados - ciência e religião. Ecologia profunda - ponte ideal entre a ciência e a espiritualidade. Nova geração de líderes. Profunda transformação em nossas instituições acadêmicas.

14. Vida, mente e sociedade

Consciência - fenômenos sociais. Conflitos de interesse - origem das relações de poder. Teoria social no séc XX - positivismo - Augusto Comte - negar explicações que recorram a fenômenos subjetivos - tem reflexo até na redação científica - negar o "eu".  Lacuna entre as ciências naturais e as ciências sociais. Realidade social, consciência e linguagem - estruturalistas - Strauss e Saussure.

Teorias integrativas de Giddens e Habermas - pessoas recorrem a estruturas sociais para buscar seus objetivos estratégicos. Habermas - teoria da ação comunicativa. Suposições implícitas encaixadas na história ou na tradição.

Sistema  = relações. O padrão de rede é um dos padrões básicos de organização dos sistemas vivos. Nós e ligações. Padrão não-linear de organização. Organismos e sociedades humanas são tipos muito diferentes de sistemas vivos. Regimes totalitários restringem a autonomia de seus membros.

Natureza dual da comunicação humana - coordenação contínua de comportamentos. Pensamento conceitual e linguagem simbólica. Regras de comportamento - estruturas sociais. Redes de comunicação. Estruturas - propósito e planejamento. Dimensão emocional das interpretações.

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Galbraith - o exercício do poder, a submissão de alguns à vontade de outros, é inevitável na sociedade moderna. Manuel Castells - estrutura social caracterizada pela sociedade em rede. Novo tipo de estrutura de poder. O sucesso da rede depende do sucesso de cada indivíduo conectado.

IMPORTANTE - os sistemas vivos são redes autogeradoras. Seu padrão de organização é um padrão em rede. Estruturas organizacionais. Padrões formalmente planejados. Regras de comportamento que incorporam as relações de poder. Ideias, valores e crenças - estruturas de significado ou estruturas semânticas.

Tecnologia e cultura - o significado de tecnologia, assim como o de ciência, mudou consideravelmente ao longo dos séculos. Manuel Castells - tecnologia é o conjunto de ferramentas, regras e procedimentos por meio dos quais o conhecimento é aplicado a uma dada tarefa de maneira reprodutível. A tecnologia é uma característica definidora da raça humana. 191

Nós caracterizamos os grandes períodos da civilização humana em função de suas tecnologias. Idade da Pedra, do Bronze, do Ferro. Era Industrial.mEra da Informação. A tecnologia modela a natureza humana de maneiras específicas.

Sistemas sociais vivos são redes autogeradoras de comunicações. Trazer vida para as organizações aumenta sua criatividade, flexibilidade e potencial de aprendizagem. Tais organizações serão capazes de sobreviver quando mudarmos nosso sistema econômico de modo que ele passe a promover a vida.

15. A Visão Sistêmica da Saúde

Visão sistêmica tem implicações importantes para todos os campos de estudo.   Organismos vivos, sistemas sociais ou ecossistemas. Crítica à abordagem mecanicista da saúde e da cura. Aumento de custos da assistência à saúde. Desproporção entre o custo e a efetividade global da medicina.

Origens da doença na abordagem sistêmica- corpo e mente. Meu Comentário -  Yoga - má distribuição de energias. É preciso fazer a energia circular para um reequilíbrio. Isso exige um contato consigo como parte de um todo por meio da meditação. Tal leva a mudanças de atitudes, de valores e de decisões. O resultado é corpo e mente saudáveis e realmente capazes de celebrar a alegria do viver.  Superação dos valores  de disputa e competição.

Terapia genética não é a solução, até porque não nos permite um caminho de reestruturação e aprendizagem. Meu comentário: A cura passa a ser pior que a doença. Para os budistas, não há porque temer a morte, comparada ao sono, que nos permite um novo despertar. Para Lacan, a doença, inclusive as psicopatologias, é um caminho para a cura. Para a visão sistêmica, é uma das maneiras não saudáveis de buscar a cura.

Nossa compreensão da saúde sempre estará ligada à nossa compreensão da vida. Aspecto físico e mental. Redefinir radicalmente o termo psicossomático.

Problema do estresse prolongado.

Assistência holística à saúde. Assistência preventiva abrangente - comportamento, alimentação e ambiente. Políticas de saúde. Terapia integrativa - explorar a natureza e o significado da doença. O objeto da terapia é a pessoa em sua totalidade. Abordagem multidimensional tratamento em vários níveis. Medicamentos utilizados em casos de emergência. Saúde dentro e fora do sistema médico. Renascimento da agricultura sustentável. Solo saudável - pessoas saudáveis e comunidades saudáveis.

Leitura para a aula de 07/04 pag. 299 a 420

Aluna: Ivana M. Fossari

CAP. 11 - A AVENTURA HUMANA

Capra inicia o capitulo fazendo um mapeamento da vida na terra em eras: pré-biótica por 1 bilhão de anos até a criação das primeiras protocélulas por volta de 3,5 bilhoes de anos atrás; do microcosmo por 2 bilhões de anos/ processos básicos de vida/ autorregulação; há cerca de 1,5 bilhão de anos grande parte da superficie e da atmosfera da Terra moderna. Relata a metáfora de David Browner (1995) sobre a criação da terra em seis dias, sendo que a espécie humana foi criada em dois terços de segundo antes da meia-noite do sexto dia, para mostrar quão tardia é a chegada da espécie humana na Terra.

A evolução de células nucleadas (eucariontes), antes as procariontes – os componentes fundamentias de todas as plantas e animais, há 2,2 bilhões de anos.Apresenta a evolução dos macacos e sua ramificação enquanto marco evolutivo: H.erectus – H.sapiens.

A crença de que a natureza humana era única e diferente da natureza dos animais. Aristóteles colocava que a diferença na razão. Filosofos cristãos medievais que a alma era exclusivamente humana e imortal. Descartes postulou a divisão mente e matéria. Darwin – o nosso poder para a abstração vem da capacidade cognitiva de ancestrais símios.

 O instinto do macaco assassino - Wrangham e Peterson (1996) antropólogos, no livro Demonic Males entre seus estudos descobrem que somente os sereas humanos e os chimpanzés são “macacos assassinos”, que possuem o hábito ou a capacidade de se organizar em equipes de machos para matar a sangue frio outros indivíduos da mesma espécie.

Para as causas determinantes dessa agressividade estão associadas emoções negativas como a raiva, ódio e ciímes, essa questão da emoção tornou-se importante tema de pesquisa em ciencia cognitiva.

Mas não só o assassinato e a agressão constituem causa determinante do ser humano há também a característica oposta: Amor e altruísmo.

Amor e altruísmo - Amor de uma mãe por sua prole considerado um instinto, para preservação da espécie. Nos seres humanos além de instinto o amor é acompanhado pela consciencia e pelos códigos morais.

Consciência e espiritualidade - Marc \hauser (2007) argumenta que a moralidade pode ser considerada um aspecto fundamental da espiritualidade, arraigada na biologia.

O principio da espiritualidade pode ter emergido sob a assistencia da consciencia do ser.

A curiosidade e a sede de conhecimento- O anseio pelo conhecimento, a busca pela compreensão da natureza ao noss redor, e o desejo de conquistar as dificuldades apresentadas pela natureza. Nos primórdios o assombro com: nascer e pôr do sol, fases da Lua, cores das flores e o nascimento e crtescimento dos animais e plantas. Discussão sobre o tamanho de cérebro e a inteligência.

A busca pela beleza e pela harmonia - A criatividade artística está incluida. Para o filósofo Denis Dutton (2009) o interesse pela arte pertence à lista das adaptações evolutivas.

A estética precisa ser considerada em conjunção com o desenvolvimento da consciencia bem como da espiritualidade. A busca pela beleza e pela harmonia, característica crucial da natureza humana se manifesta em obras de arte e também na busca persistente por ordem na natureza e no cosmos. A harmonia e movimento das estrelas e palnetas- fundamento da astrologia nos tempos antigos.

CAP.12 – MENTE E CONSCIENCIA

Importante implicação filosófica a nova concepção da natureza da mente e da consciencia sob a ótica de uma compreensão sistêmica da vida. Por mais de 300 anos a concepção de Descartes do res cogitans X res extensa.

A mente é um processo (p. 314)

Anova concepção de que a mente e a consciencia não são coisas, mas processos. Em biologia na década de 1960 Gregory Bateson – processo mental, e Humberto Maturana – focalizou na cognição o processo de conhecer, na década de 1970 Matutana e Francisco Varela (Santiago do Chile) expandiram para a Teoria da Cognição de Santiago.

 O “processo mental” de Bateson - Desenvolveu um conceito de mente baseado nos princípios da cibernética, O processo mental como um fenomeno sistemico carcteristico de todos os seres vivos. A mente se manifesta não apenas em organismos individuais, mas também em sistemas sociais e ecossistemas.

Sua nova concepção foi apresentada numa conferencia de Saúde Mental em 1969, no mesmo ano Maturana introduziu uma formulação diferente a mesma idéia. Ambos buscavam o padrão de organização comum a todos os seres vivos: “Qual é o padrão que conecta o caranguejo com a lagosta e a orquídea com a prímula e todos os quatro a mim? E eu com você?” Indagou Bateson (1979, p.8). Bateson baseava-se na sua observação do mundo vivo. Comunica-se pessoalmente com Capra e diz: “a mente é a essência de estar vivo”.

Cognição – o processo da vida - Maturana em busca de respostas sobre como era a organização do ser vivo e como ocorria a percepção, descobriu que a “organização do ser vive” é um padrão de rede esécial que ele e Varela mais tarde chamaram de “autpoiese”, sendo que a compreensão desse padrão de redes autogeradoras lhe forneceu o arcabouço teórico para compreender a percepção e a cognilção, a teoria da cognição= teoria de Santiago. O processo de conhecer com o processo da vida.

A cognição= autogeração+autoperpetuação das redes vivas, a cognição é o próprio processo da vida. A atividade mental é imanente na matéria em todos os níveis da vida.

O acoplamento estrutural - Na teoria de Santiago a cognição está estreitamente ligada à autopoiese, a autogeração de redes vivas. O sistema sofre mudanças estruturais, mas preserva seu padrão de organização reticular. Cada organismo vivo se renova continuamente, à medida que suas células colapsam e cosntroem estruturas, e que seus tecidos e órgãos substituem suas células em ciclos comuns. Outro tipo de mudança estrutural em um sistema vivo é aquele que cria novas estruturas, movas conexões na rede.

De acordo com a autopoiese um sistema vivo acopla-se ao seu ambiente estruturalmente, atraves de interações recorrentes, e cada uma delas desencadeia mudanças estruturaos no sistema. Mas os seres vivos são autonomos.

Um sistema estruturalmente acoplado é um sistema de aprendizagem: mudanças estruturais- adaptação- aprendizagem e desenvolvimento contínuo.

Dar à luz um mundo - Um sistema vivo tem autonomia para decidir o que deve perceber e o que o perturbará para desencadear resposta através de mudanças estruturais e todo o ciclo.

À medida que um organismo vivo realiza seu percurso individual de mudanças estruturais, cada uma dessas muidanças corresponde a um ato cognitivo, ou seja: aprendizagem e desenvolvimento são dois lados da mesma moeda.

 A cognição e a alma - Nos tempos antigos a mente humana era considerada um aspecto da alma, ou espírito, era corpo e alma! Metáfora do sopro da vida: alma em sânscrito atman, em grego psyche e em latim anima- todas = sopro. O mesmo com as palavras para espírito, em latim spiritus, em grego pneuma e em hebraico ruah – todas = sopro.

Entre as antigas concepções de alma, a de Aristoteles é a que mais se aproxima do conceito de cognição na teoria de Santiago, o conceito de alma tinha uma dimensão cognitiva. Para Aristoteles a alma era construida em níveis sucessivos correspondentes a níveis de vida organica: o 1ºalma vegetativa que controla os processos metabólicos do organismo/ plantas restritas nesse nível; a 2º alma animal, movimento autonomo e sentimentos de prazer e de dor; em 3º e ultimo estagio, a alma humana, inclusas as almas vegetal e animal, cuja principal caracteristica é a razão.

Mente e cérebro - Na teoria de Santiago a relação entre mente e cérebro é simples e clara, a mente é um processo- o processo de cognição que é identificado com o processo da vida. O cérebro é a estrutura que processa. A teoria de Santiago unifica mente, matéria e vida.

A teoria de Santiago entende a cognição como um fenômeno mais amplo do que a consciência que é um tipo especial de processo cognitivo que emerge quando a cognição alcança certo nível de complexidade. A característica central desse processo é a experiência da auto percepção.

Os problemas “fáceis” e os problemas “dificeis” da consciência - Na linguagem cotidiana utilizamos expressões do tipo estar consciente em oposição a inconsciente ou agir conscientemente; uma mistura sutil de cognição e consciência no sentido de auto percepção.

Para Chalmers a palavra consciência é o problema difícil e cognição o problema fácil. O problema difícil tem a ver com a pergunta: Como e por que a experiência pessoal se manifesta?

O estudo científico da consciência – na década de 1990 a ciência cognitiva se estabelecia como um campo interdisciplinar de estudo, nova técnicas foi desenvolvido para analisar as funções cerebrais tornando possível observar os complexos neurais com imagens mentais e outras experiências humanas.

Dois tipos de consciência – experiências cognitivas que emergem de diferentes níveis de complexidade neural; a consciência primária ou nuclear (core) que surge quando processos cognitivos são acompanhados por experiências básicas, perceptivas, sensoriais e emocionais; já aconsciência expandida ou reflexiva envolve a auto percepção mais elaborada, um conceito de eu sustentado por um sujeito pensante e reflexivo, essa se baseia em memórias do passado e antecipações do futuro- chamada de consciência reflexiva.

A natureza da experiência consciente – o desafio de uma ciência da consciência é o de explicar as experiências associadas com eventos cognitivos. A experiência consciente é um fenômeno emergente que não pode ser explicado com base em mecanismos neurais.

As escolas de estudo sobre a consciência – a primeira é a escola de pensamento mais tradicional, que inclui Patrícia Churchland e Francis Crick, chamada por Varela de neuroreducionista por reduzir a consciência a mecanismos neurais.

A segunda escola de estudo sobre a consciência, conhecida como funcionalista. Os estados mentais são definidos por sua organização funcional, por padrões de relações causais no sistema nervoso.

E outra escola de estudo sobre a consciência que envolve a teoria da complexidade como analise da experiência de primeiras pessoas, aneurofenomenologia. Uma abordagem que combina o exame disciplinado da experiência consciente com a análise dos padrões e processos neurais correspondentes.

 A visão a partir de dentro – a primeira abordagem é a introspecção, a segunda é a abordagem fenomenológica e a terceira consiste em usar a riqueza dos dados recolhidos da prática meditativa em várias tradições espirituais.

Mente sem biologia? Incluem a visão do cérebro como um computador complicado.

A emergência da experiência consciente – a atividade neural embasa a experiência consciente, nos últimos anos cientistas fizeram avanços significativos na identificação das ligações entre a neurofisiologia e a emergência da experiência.

A consciência reflexiva – como ser humano experimentou os estados transitórios da consciência primária, mas também pensamos e refletimos comunicando-nos por meio de linguagem simbólica, julgamos, mantemos crenças, agimos com intenção e pela auto percepção. O mundo interior da nossa consciência reflexiva emergiu na evolução juntamente com a evolução da linguagem e das relações sociais organizadas. A consciência humana está intimamente ligada  à linguagem e ao mundo social de relações interpessoais e de cultura, ou seja não só um fenômeno biológico, mas social.

A maior parte do nosso pensamento opera em um nível que é inacessível à percepção comum, consciente, esse “inconsciente cognitivo” inclui nossas operações automáticas, o conhecimento tácito e nossas crenças.

A mente incorporada – conceito introduzido por Varela em 1990, expandido posteriormente. A estrutura da razão surge do nosso corpo e cérebro. A imagem mental que fazemos a partir de nossas experiências.

 Metáforas – quando projetamos a imagem mental de um recipiente sobre o conceito abstrato de uma categoria, podemos usa-lo como uma metáfora. A maior parte do pensamento humano é metafórica, pois as metáforas ajudam a estender nossos conceitos incorporados básicos para domínios teóricos abstratos.

Expressões como: “recepção calorosa”, ”grande dia” uma projeção de experiências sensoriais e corporais sobre domínios abstratos.

Cientistas cognitivos reconheceram que a mente e a consciência não são coisas, mas processos cognitivos, assim a cognição passou a ser associada com todos os níveis da vida. Mente e corpo diferente do que Descarte apregoava, são dois aspectos complementares da vida seu processo e sua estrutura.

CAP.13 CIENCIA E ESPIRITUALIDADE

Os grandes avanços tecnológicos iniciados no século passado trazem inúmeros benefícios, mas também existe o outro lado como, por exemplo, a ameaça das armas nucleardes, a radiação nuclear, guerras, colapso do clima global, esgotamento dos recursos, extinção das espécies, aumento da pobreza contribuem para uma crise existencial da humanidade.

Em uma relação contraria muito  ser humano vem desenvolvendo características positivas, associadas à espiritualidade, o amor e o respeito à natureza e aos homens. A religiosidade pode ser considerada o lado pragmático da espiritualidade.

Espirito e espiritualidade – a espiritualidade é uma experiência humana muito mais ampla e mais básica do que a religião, possui duas dimensões: para dentro e para fora. È plenamente coerente com a visão sistêmica da vida. Mas há situações conflitantes como clonagem, poluição, consumismo excessivo entre outros. A espiritualidade é a maneira de estar fundamentado em certa experiência da realidade que é independente de contextos culturais e históricos. A espiritualidade é um crescimento interior.

A natureza da religião- é a tentativa organizada de compreender a experiência espiritual para interpreta-la sob a ótica da comunidade religiosa.

Originalmente as comunidades religiosas tinham o propósito de oferece oportunidades aos seus seguidores de reviverem experiências místicas dos fundadores das religiões.

Debates entre a ciência e a religião são longínquos, Galileu, Giordano Bruno e Scopes e mais recentemente os fundamentalistas.

Gould (1999) e a NOMA (non-overlapping magisteria), deve haver uma clara demarcação entre ciência e religião.

O Tao da Física (Capra 1975)- físicos e místicos compartilham algumas características importantes, ambos os métodos empíricos, suas observações ocorrem em domínios inacessíveis ao sentido comum. A difusão do budismo no Ocidente.

As relações entre ciência e espiritualidade nas ultima três décadas tornaram evidentes que o sentido de unidade é a característica chave da experiência espiritual. A percepção de estar conectado à natureza é particularmente forte em ecologia.

A dimensão espiritual da educação- a alfabetização ecológica envolve a compreensão intelectual dos princípios básicos da ecologia e a profunda percepção ecológica da interdependência fundamental de todos os fenômenos. Todos nós dependemos dos processos cíclicos da natureza.

Incluir a espiritualidade na educação é mais difícil do que trabalhar com uma abordagem sistêmica devido à confusão entre espiritualidade e religião.

O autor apresenta o experimento Cortona Week uma escola de ensino superior com uma iniciativa holística e interdisciplinar.

O Schumacher College, uma experiência única de aprendizagem. Fundado por Satish Kumar mestre espiritual indiano. Centro de aprendizagem onde a ecologia é estudada de maneira rigorosa e em profundidade a partir de perspectivas diferentes.

Esse capitula tratou das antigas tensões entre ciência e espiritualidade, muitas das quase pela confusão entre espiritualidade e religião. A ligação profunda entre ciência e espiritualidade a partir da ecologia. Apresenta escolas com visão sistêmica.

CAP. 14 - VIDA MENTE E SOCIEDADE.

A evolução da linguagem impulsionou o mundo interior dos conceitos e ideias e o mundo social dos relacionamentos organizados e da cultura.

O estudo da sociedade é o domínio da sociologia, a ciência social, campo amplo que inclui varias disciplinas como a economia, a ciência politica, a ciência administrativa, historia entre outras.

Estruturalismo e funcionalismo – Durkheim (1858-1917) suas ideias tiveram grande influencia sobre as duas escolas da sociologia. Para os estruturalistas as estruturas sócias subjacentes, os funcionalistas postulavam a existência de uma racionalidade social subjacente que leva os indivíduos a agirem de acordo com suas funções sociais.

 Giddens e Habermas: duas teorias integrativas- A teoria da estruturação de Anthony Giddens e a teoria crítica de Jurgen Habermas.

Giddens enfatiza que a conduta estratégica das pessoas baseia-se principalmente na maneira como elas interpretam seu ambiente.

 Habermas afirma que duas perspectivas diferentes, mas complementares são necessárias para se compreender os fenômenos sociais, o sistema social, que corresponde ao foco voltado para as instituições de Gilddens, e, a perspectiva do” mundo da vida” que corresponde ao enfoque de Giddens na conduta humana.

Três perspectivas sobre a vida – a estrutura de um sistema é a incorporação física do seu padrão de organização. Maturana e Varela distinguem dois aspectos fundamentais

A diferença entre organização e sistema, tomando como exemplo uma bicicleta, para que seja chamada de bicicleta ela precisa possuir varias relações funcionais que constituem o padrão de organização de uma bicicleta.

A organização dos sistemas sociais como redes autogeradoras de comunicações.

As redes sociais também geram estruturas materiais –edifícios, estradas- que se tornam componentes estruturais da rede e elas também produzem bens matérias e artefatos que sãos trocados entre os nodos da rede.

Nos seres humanos as atividades voluntárias e as involuntárias como circulação, respiração. A autonomia dos sistemas vivos não pode ser confundida com independência, eles não estão isolados do seu ambiente.

 A dinâmica da cultura – a capacidade de reter imagens e projeta-las, nos permite escolhas e a formação de valores e regras sociais de comportamento. O sistema integrado desses valores, crenças e regras de conduta é o fenômeno da cultura.

A identidade cultural reforça o fechamento da rede, criando uma fronteira de significado que limitam o acesso das pessoas.

Nos últimos anos as redes sociais tornaram-se um dos principais focos de atenção na ciência e na sociedade globalizada.

Na ciência social a visão sistêmica da vida encontrou seus maiores defensores do gerenciamento. A complexidade do ambiente de negócios do mundo de hoje e a necessidade de ele se tornar ecologicamente sustentável, representam um desafio.

 As comunidades de prática representam redes autogeradoras de comunicações, muitas delas de forma informal.

 A organização viva – é importante aos gestores das empresas compreenderem a interação entre as estruturas formais da organização e suas redes informais, autogeradoras.

As organizações humanas ao fortalecerem suas comunidades de prática, aumentam a flexibilidade, criatividade e potencial de aprendizagem, que também intensifica a dignidade e a humanidade dos indivíduos da organização na medida em que eles se conectam em redes.

 

CAP.15 A VISÃO SISTEMICA DA SAUDE

Em contrapartida aos avanços da medicina, vivemos uma grande crise na assistência à saúde.

 O modelo biomédico arraigado no pensamento cartesiano que conduz para causa e efeito, cura e doença, das especialidades e sub especialidades, do corpo dividido em oposição à totalidade do ser.

A visão sistêmica vai ampliar a percepção sobre este ser de relações.

 No modelo biomédico a saúde é definida como a ausência de doença, e a doença como o mau funcionamento dos mecanismos biológicos.

Na visão sistêmica da vida parte do principio de que é impossível definir com precisão a saúde, já que saúde é um estado de bem estar, um processo em andamento, respostas criativas dos organismos a desafios ambientais. É um processo multidimensional.

Se a visão da saúde é definida como um estado de equilíbrio dinâmico, a doença é uma consequência do desequilíbrio que pode surgir em vários níveis do organismo, gerando sintomas de ordem física, psicológica ou social.

Assistência holística, dentro de um sistema integrativo que envolve a promoção e o bem estar social em equilíbrio com a natureza, promovendo a prevenção.

A nova concepção sistêmica de saúde representa uma mudança de paradigmas dentro e fora do sistema médico. Ocorre uma revolução da saúde entre o público em geral, através das organizações de indivíduos insatisfeitos com o sistema existente. Um esforço conjunto de várias categorias multidisciplinares, envolvendo mudança de hábitos de vida mais saudáveis, ambientes mais saudáveis e a conscientização dos profissionais para a visão holística da saúde.