Comentários - A visão sistêmica da vida - Capra, p 13-92


PoreGov- Postado em 29 março 2015

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Fichamento A Visão Sistêmica da Vida – Parte 1

Caroline Vieira Ruschel

 

(CAPRA, Fritjof  e LUISI, Pier Luigi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sócias e econômicas. São Paulo: Cultrix, 1014).

Já na introdução, o autor levanta a crise de percepção da humanidade, que em função de seguir um pensamento cartesiano, acabou por perder a visão do todo, agindo de forma a prejudicar não só a vida humana no planeta, mas todas as formas de vida. (p. 13)

Precisamos entender uma nova concepção da vida.

Até meado do século XVI,  os paradigmas científicos e sociais foram se alterando, como em um pêndulo, entre uma visão sistêmica e uma visão mecanicista.  Na antiguidade, a ordem do cosmos era considerada um organismo vivo e não de um sistema mecânico. Pensava-se que as ideias derivavam do cosmos. P. 27

Com Galileu,  Descartes e Newton começa-se a separação do mundo, razão de emoção, tempo de espaço. (p. 26)

Este fato é enfatizado na primeira parte do livro – a máquida do mundo newtoniana – A ciência do século XVII era baseada no novo método científico de investigação defendido vigorosamente por Francis Bacon, e incluía a descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes. P. 44

Galileu Galilei (1564-1642)

Francis Bacon (1596-1650)

René Descartes (1596-1650)

O cogito de Descartes, como veio a ser chamado, tornou a mente uma coisa mais indubitável, mais verdadeira para ele do que a matéria, e o levou à conclusão de que as duas eram separadamente e fundamentalmente diferentes. (p. 48)

Isaac Newton (1642-1727)

Antes de Newton, havia duas tendências opostas na ciência do século XVII: o me´todo empírico, indutivo, representado por Bacon, e o método racional, dedutivo, representado por Descartes. Nos Principia, Newton introduziu a mistura apropriada de ambos os métodos, enfatizando que nem os experimentos desprovidos de uma interpretação sistemática nem a dedução a partir dos primeiros princípios sem evidências experimentias levarão a uma teoria confiável.  Indo além de Bacon em sua experimentação sistemática e além de Descartes em sua análise matemática, Newton unificou as duas tendências e desenvolveu a metodologia sobre a qual a ciência natural passou a se basear a partir daí. P. 53

Não há dúvida que a ascensão da ciência cartesiana-newtoniana durante a Revolução Científica, a qual exerceria um profundo impacto na cultura ocidental durante os 300 anos seguintes. P. 59-60

No segundo capítulo o autor traz a visão sistêmica da vida em uma visão mais biológica. P. 61

What’s life? Erwin Schödinger (1887-1961) – p. 67

Gene – Keller – p. 71

Mesmo que a mensagem ainda tenha de alcançar a imprensa popular, para um número cada vez maior de cientistas que trabalham na linha de frente da pesquisa contemporânea, parece evidente que a primazia do gene como o conceito explicativo da estrutura e da função biológica é mais uma característica do século XX do que virá a ser do século XXI.

A terceira parte interessa muito a esta pesquisador, pois trata do pensamento social mecânico. Os autores fazem um apanhado histórico dos pensadores do iluminismo e a influência que a física e as ciências exatas tiveram nas ciências sociais.

“A figura dominante desse desenvolvimento foi o filósofo John Locke (1632-1727), cujos escritos mais importantes foram publicados no fin do século XVII. Fortemente influenciada por Descartes e Newton, a obra de Locke exerceu um impacto decisivo sobre o pensamento do século XVIII” (p. 72)

A camisa de força positivista – “É evidente que o contexto positivista é modelado pela física newtoniana. Na verdade, foi Auguste Comte que deu ao estudo científico da sociedade o nome de física social antes de introduzir a palavra ‘sociologia’. As mais importantes escolas do pensamento do século XX podem ser consideradas como tentativas de se emancipar da camisa de força positivista. De fato, como mostra Baert em uma concisa revisão da teoria social do século XX, em sua maior parte, os sociólogos dessa época se posicionaram explicitamente em oposição à epistemologia positivista.” – p. 74

Os autores trazem a emergência da economia (p. 74) e a ascensão do capitalismo, sustentando que a reforma protestante influenciou o desenvolvimento de uma mentalidade capitalista. P. 75.

A economia moderna – Sir William Petty (sustentava que os preços e as commodities deveriam refletir de maneira justa a quantidade de trabalho que eles incorporavam), John Locke (preços também eram determinados objetivamente, por meio da oferta e da procura), a lei da oferta e da procura passaou a se ajustar perfeitamente à nova matemática de Newton e Leibniz – o calculo diferencial. p. 76

Adam Smith – economia política clássica – p. 77 – 79.

Crítica à economia clássica – John Stuart Mill – p. 79 e Karl Marx – p. 80-82

A economia em crise – p. 85

Nesta primeira parte do livro, o ponto central, em minha opinião, foi a influência das ciências exatas na evolução das ciências sociais. Os autores colocam de forma clara e resumida tal influência, auxiliando-me a pensar que, se a sociedade estivesse desprovida desses conceitos cartesianos e newtonianos, talvez pudesse enxergar sua relação com o planeta terra de outra maneira.

Capitulo 1: a máquina do mundo newtoniana

No primeiro capítulo do livro, Capra apresenta como foi a ascensão da ciência cartesiana-newtoniana e seu impacto nas ciências da vida e sociais a partir da século XVI.

Conforme o autor, antes de 1500 a visão de mundo era orgânica e orientava-se por duas autoridades: Aristóteles e a igreja. O modelo social era comunitário baseado na interdependência.

A Revolução Cientifica transformou a sociedade e a visão de mundo tornou-se mecanicista. O percursor destas mudanças foi Nicolau Copérnico que derrubou a visão geocêntrica de Ptolomeu, e em seguida, Galileu Galileu impulsionou essa mudança definitivamente ao legitimar a teoria copernicana. Além disso, Galileu foi o responsável pelo desenvolvimento da linguagem matemática na ciência.

Outros cientistas passaram a seguir a nova abordagem cientifica, como Bacon e Descartes, a tal ponte de que, para o segundo, a ciência era sinônimo de matemática e com isso criou seu próprio método de verificação cientifica que tem como radica a dúvida. O método descartes é analítico e se orienta em despedaçar problemas e arranjar os pedaços em uma ordem lógica o que contribuiu para a atual fragmentação no modelo cientifico e no pensamento moderno.

Os impactos dessas mudanças, o principal deles, a divisão corpo e mente, afetam atualmente nossa sociedade de forma que até mesmo a medicina se moldou nesta divisão e do corpo como uma máquina. Isso também refletiu, ao longo no tempo, na relação homem natureza e em diversas outras teorias cientificas, inclusive nas ciências da vida.

Isaac Newton foi o homem que sintetizou e complementou este grupo de cientistas materialistas. Ele inventou o método do cálculo diferencial que descreve o movimento dos corpos sólidos e por meio deste formulou leis extas de movimento dos corpos soba influência da gravidade. Criou-se com isso, “um imenso sistema mecânico de acordo com leis matemáticas exatas”.

Os elementos do mundo newtoniano são representados por partículas materiais indestrutíveis que se diferenciavam pela compactação atômica. Ainda assim, para Newton, essas partículas e as forças entre elas eram criadas por Deus. O origem divina foi um traço marcante em sua teoria, assim como a relação de causa e efeito.

Nos séculos XVIII e XIX, a mecânica newtoniana deslanchou, embora a concepção divina tenha desaparecido completamente das teorias. Os comportamentos de sólidos, líquidos, gases, os fenômenos do som e do calor, foram explicados pelo movimento das partículas e isso cunhou definitivamente o sucesso teórico de Newton e o modelo mecanicista conseguiu emplacar a ideia de que a terra era um enorme sistema mecânico que funciona conforme as leis de movimento newtonianas.

 

Contudo, surgiram descobertas que apontaram as limitações do método newtoniano, entre elas os fenômenos elétricos e magnéticos, de Faraday e Maxwell, indicaram a existências de forças não modeladas pelo modelo mecanicista, que ainda assim resistiu por um longo tempo até que, finalmente Einstein reconheceu que os campos eletromagnéticos são entidades físicas por legitimo direito.

Uma nova tendência corroborou com a eletrodinâmica na superação do modelo mecanicista. O pensamento evolucionista, originada na geologia, difundiu a ideia de evolução, de mudança e de desenvolvimento gradual. Os estudos de fosseis comprovaram que a Terra está em constante evolução.  e abriram espaço para outras teorias como a do sistema Solar proposto por Kant e Laplace. Hegel e Engels, dentro das filosofias politicas, também se beneficiaram deste novo pensamento evolucionista e o incorporaram aos seus textos.

Neste contexto, a teoria da evolução biológica, proposta por Lamark e Darwin, foi essencial. Ela apresenta que, definitivamente, a concepção do mundo como uma máquina é inviável. O universo é um sistema em constante desenvolvimento e mudança, de formas mais simples se desenvolvem em direção a uma ordem e complexidade crescentes. A termodinâmica surgiu nesta nova visão cientifica e produziu descobertas significantes como a lei da termodinaica e da dissipação de energia (Sadi Carnot) que mede o grau de ordem e desordem de um sistema físico.

 

Capitulo 2: a visão mecanicista da vida

No século XVII, Giovani Borelli foi o primeiro cientista a explicar um aspecto da vida sob a abordagem cartesiana ao esclarecer alguns pontos da ação muscular. Porém, a aplicação do modelo mecanicista sobre o fenômeno da circulação sanguínea, Por Harvey, foi o grande trunfo deste paradigma nas ciências da vida.

Porém, estes modelos mecanicistas da vida foram abandonados no século seguinte com as descobertas do oxigênio, do funcionamento da respiração, da transmissão de impulsos nervosos, entre outras. A essência cartesiana permaneceu, mas ao menos a complexidade da vida foi admitida.

No século XIX a visão mecanista, com o suporte da física e química, propiciou uma série de avanços nas ciências, como a teoria celular, a microbiologia e as leis da hereditariedade. A primeira delas, foi essencial para a compreensão da existência, das estruturas e funções das células, ainda que não apresentasse as atividades coordenadoras integrativas, que só poderiam vir a ser entendidas mais tardes, fora da abordagem reducionista.

 A microbiologia, principalmente através dos estudos de Louise Pasteur, que embora simplistas, conseguiram esclarecer uma série de questões sobre a origem da vida e apontou a importância das bactérias no mundo orgânico e no desenvolvimento de doenças.

Mas foi quando Darwin apresentou sua teoria da evolução que a visão do mundo como uma máquina imutável foi abandonada. Sua teoria apresentou a vida planetária como uma enorme rede de seres interligados, de forma holística e sistêmica. Complementada pelos estudos de Mendel sobre hereditariedade e seleção natural, ambas as terias revolucionaram os estudos sobre a vida e a partir delas a genética tornou-se um campo de pesquisa.

As décadas seguintes intensificou-se os estudos sobre os genes, ainda sob uma abordagem cartesiana. No século XX o geneticistas passaram a estudar a estrutura molecular do gene e descobriram a estrutura física do DNA, uma das maiores descobertas do século. Mas a natureza do gene só foram descobertas duas décadas depois com a quebra do código genético. A partir de então físicos se aliaram às pesquisas genéticas e o gene passou a ser percebido como um portador de informação. Os cientistas também buscaram descobrir a estrutura e os mecanismos do DNA para realizar a autoreplicação e a síntese das proteínas, e assim chegarem ao alfabeto da vida da linguagem da vida. Contudo, as teorias genéticas apresentam resultados lineares e simplistas. E algumas concepções estão sendo abandonadas como o princípio “um gene - uma proteína”.

Essa visão mecanicista biológica influenciou a medicina oriental. Os estudos nesta área são predominantemente fisiológicos, e se esbarram com a necessidade de reconstruir um ciência medica que abranja outros aspectos psicológicos e ambientais. Enquanto isso, ao invez de tratarem a origem das doenças, a medicina atual busca interferir nos mecanismos delas, e dificulta a promoção à saúde. Felizmente, nas últimas quatro décadas há um aumento na consciência popular e entre profissionais da saúde, na necessidade de uma mudança paradigmática, onde surgem novas alternativas como a medicina holística, medicina integrativa e bem-estar.

Capitulo 3: o pensamento social mecanicista

As ciências sociais surgiram no final do Seculo XVII e ganharam grande repercussão no século seguinte. Modeladas pelo pensamento cartesiano, os cientistas buscaram desenvolver o que consideravam a “física social”.

Entre eles, John Locke reduziu os fenômenos sociais ao nível individual, como em sua análise da natureza humana. Influenciado por Thomas Hobbes, comparou a mente humana a uma “tabula rasa”, que indica que o homem é modelado completamente pelo ambiente embora agissem de acordo com seus interesses. Também cunhou a ideia das leias da natureza que governam a sociedade, por exemplo, liberdade e direito à propriedade. Assim como Locke, a doutrina positivista formulada por Comte com base na física Newtoniana, buscava explicar as leis gerais do comportamento humano.

Ainda que estes pensamentos tenham influenciado a criação do Iluminismo e o desenvolvimento econômico e político da época, cientificamente tornou-se inviável aplicar a física newtoniana e o cartesianismo às teorias sociais. Embora tenham feito isso para respaldar esta ciência, as inúmeras falhas observadas tornou evidente o quão improprias eram estas tentativas.

A economia por exemplo, foi engendrada por uma série de acontecimentos sociais, a revolução cientifica, o iluminismo e a ascensão do capitalismo, e seus impactos na relação entre os homens e com a natureza, o estabelecimento do materialismo. Petty e Locke foram os percursores do campo, e suas teorias evidentemente estavam alinhadas a Newton, como a lei da oferta e da procura e o cálculo diferencial.

Na época da Revolução Industrial Adam Smith foi um renomado economista. Ela afirmava que é natural do ser humano o intercâmbio de mercadorias e a utilização de maquinas que poupavam a mão de obra. Também instituiu o termo “laissez faire” com a metáfora “mão invisível”, que orienta o interesse do mercad0 para o interesse dos empresários, produtores e consumidores e busca do melhoramento harmonioso, ou seja, em busca da produção de riqueza material.

Os textos de Smith tinham muitas teorias, mas a economia passou a ser sistematizada como ciência um pouco depois, no final do século XIX, por David Ricardo. Ele e outros economistas dogmatizaram a economia para dar suporte a classe dominante. Porém, o que se via na realidade era um colapso social, as insurreições de operários eram crescentes e confrontavam com as imposições teóricas.

Neste cenário surgiram John Stuart Mill e Kar Marx. Ambos apresentaram teorias esclarecedoras que superavam as abordagem anteriores, mas foi Marx que revolucionou o campo da economia. Ele era mais do que um economista, ele foi um crítico social que influenciou movimentos populares. Além de criar teorias sobre valor – trabalho, sua visão amplificada ajudou a transcender as análises cartesianas que imperava na época. Outro aspecto que chama a atenção nos textos de Marx é a admissão do seu papel na análise social, que também superava a ideia clássica de observador objetivo.

Durante o século XIX os economistas se dividiram em: reformadores e neoclássicos. Os primeiros era representados por Marxistas e seguidores de Mill. Os neoclássicos desenvolveram a economia matemática para estudos como o de mecanismo do mercado. Seus estudos geralmente era irrealistas, enquanto buscavam maximizar o bem estar a economia mundial encaminhava-se para a pior depressão da história.

Neste cenário Keynes ajudou a construir planos de ação política para salvar o capitalismo e ao fazê-lo tornou mais uma vez a economia um instrumento político. Para definir as intervenções governamentais Keynes utilizou variáveis no macronível das economias nacionais. Este modelo foi completamente absorvido pelo pensamento econômico do século seguinte. Porem seu modelo negligencia uma série de fatores globais e ignora custos sociais e ambientais.

Contudo, a economia contemporânea se parece com uma colcha de retalhos das diferentes épocas de sua história. Ela abrange diferentes modelos e teorias que ainda estão sob a influência do paradigma cartesiano. Portanto suas abordagens permanecem limitadas ao reducionismo e seus impactos ainda são graves. Um dos piores exemplos, o indicador econômico Produto Interno Bruto, expõe a forma surreal e cruel com que a economia é orientada cegamente pela obtenção do lucro. Na mesma linha seguem a maior parte das teorias administrativas.

A característica mais marcante do atual modelo econômico, a do crescimento econômico perpetuo, e um dos maiores problemas do mundo moderno. Ela se mantem por uma serie de estratégias como a propaganda, mas seus impactos negativos são crescentes, evidentes e beiram aos limites sociais e ambientais. 

Juliana Clementi

A visão de mundo newtoniana

Introdução

A origem e ascensão da ciência cartesiana-newtoniana é dividida por Capra e Luisi em:

·         A maquina de mundo newtoniana;

·         A visão mecanicista da vida; e

·         O pensamento social mecanicista.

De acordo com os autores, antes de 1500 as comunidades possuíam uma visão orgânica, por meio de grupos pequenos, baseadas no binômio Aristóteles e ética cristã, princípios conceitos combinados por Tomás de Aquino (Século VIII). Este modelo foi postergado por toda a Idade Média e era baseado na razão e na fé com o intuito de compreender o significado das coisas, na sua previsão e no seu controle.

Porém, durante os séculos XVI e XVII o foco passa a mudar com a visão de um universo que funcionasse tal como uma máquina, em detrimento de um foco orgânico, vivo e espiritual adotado anteriormente. Os principais interlocutores deste movimento foram Copérnico, Galileu e Newton em um primeiro momento, na sequência baseado no novo método científico de investigação definido por Bacon e no raciocínio analítico definido por Descartes.

A revolução científica

Nicolau Copérnico (1473-1543) acaba por derrubar a visão geocêntrica de Ptolomeu e da Bíblia, por meio da hipótese do heliocentrismo, porém adia a publicação de seu livro até o ano de sua morte.

Copérnico tem como seguidor Johannes Kepler (1571-1630), que por meio de tábuas astronômicas formula as leis empíricas do movimento planetário, corroborando as teorias de heliocentrismo.

Galileu Galilei (1564-1642) foi um dos primeiros a combinar experimentação científica e matemática, baseando seus estudos em medidas quantificáveis, desprezando características como cheiro, cor e sabor.

A abordagem empírica de Galileu foi formalizada por Francis Bacon (1596-1650), atacando assim as escolas de pensamento tradicionais, por meio de experimentações científicas, gerando com isso uma visão do mundo que funcionasse como uma máquina.

René Descartes (1596-1650) não aceitava conhecimentos tradicionais, tentando gerar um sistema de pensamento novo. Com base no conhecimento científico era fundamentada a filosofia cartesiana, tomando como linguagem científica a matemática e a geometria analítica.

Com base nos conceitos defendidos por Descarte surge o método científico, baseado na dúvida crucial, devendo tudo ser duvidado até a redução a um modelo irrefutável composto por partes que podem ser quebradas de forma a ordenar logicamente e que tais pedaços possam ser estudados em detalhes.

Estes conceitos acabaram por gerar a separação entre a mente e a matéria, acarretada pela afirmação de Descartes de que estas eram fundamentalmente separadas e diferentes, influenciando assim todo o pensamento ocidental. Os domínios seriam segmentados em res extensa (a coisa extensa – estudo das ciências naturais) e res cogitans (a coisa pensante – estudo da humanidade).

Por meio de leis mecânicas o universo material era apenas uma máquina, explicado pelo arranjo e da movimentação de suas partes, tal afirmação é a base do ideal cartesiano, influenciando diretamente os trabalhos vindouros de Isaac Newton (1642-1727).

Tal visão foi inclusive adaptada para os organismos vivos, gerando uma visão mecanicista desta, determinando que plantas e animais eram máquinas, sendo os seres humanos habitados também por uma alma racional, determinando os demais seres vivos como autômatos.

De posse do arcabouço gerado por Descartes, Newton potencializou o pensamento cartesiano e expandiu-o por meio da aplicação matemática do cálculo diferencial e de uma nova física que explicava o movimento dos corpos sólidos, denominada newtoniana. Dentre estas leis está a gravidade, ampliada para tosos os corpos, ambas apresentadas no Principia Mathematica.

Tais conceitos apresentados no Principia e no Óptica (segunda obra de Newton) foram basilares para os demais cientistas, tal como John Dalton com seus estudos sobre gases.

Em contraponto as afirmações cartesianas estão algumas limitações ao modelo newtoniano, entre elas estão o eletromagnetismo, o pensamento evolucionista e a termodinâmica. O eletromagnetismo apresentava problemas que não podiam ser resolvidos pela mecânica newtoniana. O eletromagnetismo foi pesquisado por Michael Faraday (1791-1867) e James Maxwell (1831-1879), introduzindo o campo eletromagnético como variável a ser considerada. Também determinou-se a existência do éter, hipótese refutado por Albert Einstein no século XX.

O pensamento evolucionista surgiu em pesquisas geológicas e arqueológicas, passando num momento seguinte para a teoria do sistema solar, por meio de proposições de Kant e Laplace. Na filosofia e na política foi impulsionada por Hegel e Engels. Lamarck e Darwin propuseram teorias de evolução consistentes, sendo o segundo famoso pela obra A origem das espécies.

A termodinâmica foi outro contraponto para o modelo cartesiano em relação ao estudo de fenômenos térmicos, propondo teorias como a da conservação da energia e da dissipação de energia.

A visão mecanicista da vida

O modelo mecanicista afirma que o universo é considerado uma máquina, e nada mais do que uma máquina vigorou durante muito tempo, influenciando inclusive a biologia e o conceito de vida.

Entre os primeiros modelos e tentativas de ver a vida sob a óptica reducionista estão os propostos por Giovani Borelli (1608-1679), por meio da ação muscular explicada em detalhes, e por Willian Harvey (1578-1657), no qual foi adotada uma visão mecanicista para explicar o processo de circulação de sangue, por meio de analogias mecânicas. Tal reducionismo cartesiano foi alavancado por descobertas como a oxidação na respiração proposta por Antonie Lavoisier (1743-1794). Luigi Galvani (1737-1827) apresenta com sucesso que a ação muscular se dá por meio de eletricidade, fenômeno este estudado por Alessandro Volta (1745-1827) gerando deste esforço a neurofilosofia e a eletrodinâmica.

A teoria celular moderna proposta por Robert Virchow (1821-1902) teve como base o termo cunhado pelo físico Robert Hooke no século XVII. Porém este processo foi lento e gradual devendo aos constantes estudos e principalmente à invenção do microscópio. Chega-se a conclusão de que as células são sistemas vivos, não podendo ser compreendidas sob o foco reducionista.

Com o microscópio o salto tecnológico foi grande, introduzindo com isso a microbiologia, inicialmente utilizado por Louis Pasteur (1822-1895), trazendo a tona termos como bactérias (germes) e organismos microscópicos. Com a ligação de bactérias e doenças, proposta por Pasteur, eclipsou o conceito de milieu interior, do médico Claude Bernanrd (1813-1878). Porém, este acabou gerando o conceito de homeostase, desenvolvida pelo neurologista Walter Cannon na década de 1920.

Charles Darwin e Gregor Mendel acabam sendo fundidos, sendo o primeiro responsável pela hipótese do conceito de mutação genética. Porém, o segundo, por meio de estudos minuciosos com ervilhas, consegui determinar o conceito de hereditariedade, comprovando assim a teoria de evolução das espécies do primeiro. William Bateson (1861-1926) cunha o termo genética para o estudo das propriedades dos genes.

Este termo iria influenciar grande da evolução da biologia, levando inclusive a descoberta de genes e enzimas, e dos componentes essenciais á vida, proteínas e ácidos nucleicos (DNA e RNA), passando a visão das células para uma visão mais aproximada das moléculas.

O físico Erwin Schrödinger (1887-1961) acaba por influenciar um grande número de cientistas a tentar decifrar o que é a vida, pergunta esta proposta em seu livro O que é a vida?. Tal livro influencia pesquisadores como Max Delbrück, Francis Crick e Maurice Wilkins, entre outros, a avançar nos estudos de hereditariedade.  Tais estudos culminam com a estruturação do DNA, até a determinação da dupla hélice como arquitetura central, proposto por James Watson e Crick. Tal determinação possibilitou a quebra do código genético.

A especificação do código genético traz em si a determinação das características e traços biológicos, gerando por si só a ilusão de um determinismo genético, sendo este um paradigma moderno. Suposição esta abandonada por cientistas modernos.

Impacto nas ciências sociais

Nas ciências sociais o efeito do modelo cartesiano pode ser visto no iluminismo, presente na obra de John Locke (1632-1727), baseado nas obras de Thomas Hobbes (1588-1679). Comparou a mente humana a uma tabula rasa, em branco, determinando assim que todos nascem iguais. Os conceitos de Locke influenciaram até mesmo a Constituição norte-americana.

O Iluminismo veio para contrapor o Positivismo, de Auguste Comte, que baseava em lei para estabelecer e explicar o comportamento humano. O Iluminismo tenta romper os grilhões do passado, impostos pelo Positivismo, de fundada crença no cartesianismo.

Seus impactos não foram apenas filosóficos, sendo aplicados também na economia, que aliada à Revolução Industrial permite um raciocínio crítico, empírico e individualista, gerando a produção de uma série de bens e a uma ideia manipuladora da Era Industrial. Tal pensamento aliado à Reforma (introduzida por Martinho Lutero) possibilitou a ascensão do capitalismo.

Analisando este cenário surge a economia moderna, fundada por William Petry, em Londres. Conjuntamente com Locke são determinadas teorias de preços e mercados. A lei da oferta e da procura absorveu a matemática de Newton e Leibniz,  tentando com isso tornar a economia uma ciência exata.

Porém, na contramão do movimento, surge Adam Smith, com o seu livro A riqueza das nações, e introduziu o conceito de laissez-faire, determinando uma abordagem mais voltada para o interesse do mercado de forma harmoniosa, exibindo uma ideia de equilíbrio e de adequação das variáveis.

Além do modelo proposto por Smith, surgem alternativas de pensadores como David Ricardo determinando o conceito de modelo econômico, envolvendo um número limitado de variáveis, tentando por meio deste prever os fenômenos econômicos.

John Stuart Mill escreve o Princípios de Economia Política, fazendo uma reavaliação das teorias econômicas até então apresentadas, baseada na produção e escassez de meios. Karl Marx, por sua vez, introduz o conceito de crítica social, exercendo papel preponderante sobre o pensamento social moderno. Escreveu o livro O capital, no qual apresenta uma crítica contra o capitalismo, prevendo o monopólio e depressões que o sistema capitalista enfrentaria.

Com John Maynard Keynes a economia neoclássica é representada, apresentando características de aplicação matemática, tentando desenvolver fórmulas que para a maximização do bem-estar e da prosperidade. Com Keynes a economia avança em direção à política, gerando uma visão integradora. Tais ações seriam baseadas em indicadores em um nível macro.

A economia cartesiana contemporânea ainda é baseada nos conceitos clássicos, fomentados por indicadores como PIB gerando uma ilusão de crescimento econômico ilimitado, gerando uma economia fadada à crise. 

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Robson Junqueira da Rosa

Capitulo 1

Paradigma na Ciência e na Sociedade.

Durante a leitura do primeiro capítulo do livro, percebemos que Capra se preocupa em fazer um resgate histórico do história da ciência, bem como, uma análise sobre alguns aspectos importantes para se compreender melhor a visão sistêmica.

O autor chama a   atenção para o fato de que a busca por uma visão sistêmica, tem sido, deste sempre, um constante, e que suas origens, encontram-se enraizadas nas mais antigas escolas filosóficas, em especiais as gregas, tais como: A escola Milesiana, que tinha como característica, não fazer distinção entre o animado e o inanimado, tão pouco entre o espírito e a matéria. (Capra, 2014,p.23).

Também interessante, é a contribuição dos antigos filósofos chineses, que contribuíram para esse olhar mais sistemático sobre a multiplicidade de fenômenos que observamos.

Para os taoístas, todas as coisas, animadas e inanimadas, estavam incrustradas num fluxo contínuo, e continuamente mutável.

Outro fato também importante na leitura do capítulo 1, foi que os paradigmas não são modelos e sim um processo de geração de modelos, cujas crenças, valores, técnicas e moral estão intrinsecamente ligadas formando um conjunto de padrões que de forma direta e indireta condiciona e molda o comportamento dos indivíduos em comunidade.

Neste sentido, o processo de sujeitar ideias e modelos científicos a testes repetidos, é um empreendimento coletivo da comunidade dos cientistas, e a aceitação do modelo como uma teoria é feita pelo consenso tácito ou explícito nessa comunidade. (Capra,2014).

 

Ranieri Roberth Silva de Aguiar

Ranieri Roberth Silva de Aguiar

Natureza revolucionária da visão sistêmica pretende substituir o paradigma mecanicista. Origem e ascensão da ciência cartesiana-newtoniana (revolução científica). A visão de mundo e os valores que estão na base da era industrial foram formulados nos sécs. XVI e XVII. Entre 1500 e 1700 alterou-se a forma como a Europa via o mundo. Gerou-se feições que são da era moderna; base da nossa cultura e que agora está em transformação. antes de 1500, a visão de mundo dominante era a orgânica - embasados por Aristóteles e pela Igreja - viver em comunidades pequenas em contato direto e dependente com a natureza, desde preocupações esperituais à necessidades individuais. No séc XIII, Tomás de Aquino uniu a visão orgânica com a teologia e a ética cristã, usado na Idade Média. A ciência medieval era baseada na razão e na fé, com objetivo de entender o significado e a importância das coisas (com grandes olhares à Deus, alma e à ética), não a previsão e controle, havendo mudança de visão nos sécs. XVI e XVII para concepção mecanisista da realidade, decorrentes de estudos de Copérnico, Galileu e Newton.

REVOLUÇÃO CIENTÍFICA.

Iniciou com Copérnico que dizia que a Terra não era o centro do universo, despojando o orgulho da humanidade! Ofendendo a religião, escondeu a edição de seu livro. Apesar de muito influente, a real mudança ocorreu com G. Galilei a partir da sua primeira visão para o espaço com um telescópio, confirmando a visão copoernicana. G.Galilei é considerado pai da ciência moderna por sua combinação de ciência e linguagem matemática, excluindo quaisquer características subjetivas dos estudos (cor, cheiro, sabor), logo defendida por seu seguidor Francis Bacon. Este, mudou as metas da filosofica (sabedoria, compreensão da ordem natural e vida vivida) e a aniga concepção da Terra como mãe nutriz (mundo como uma máquina). René Descartes: 1º filósofo moderno, matemático e cientista que não aceitava nada tradicional. Porém, praticava a certesa cartesiana, ou seja, a crença na certexa do conhecimento científico. Porém, não pode haver verdade científica absoluta, somente conceitos e teorias aproximados. MAs acreditava que a chave do universo e a linguagem da natureza estava na matemática, e nesta busca descobriu o que temos como geometria analitica. Para alcançar a certeza, Descartes assume o método de duvidar de tudo o que é possível. Aí que surge sua dedução de que a natureza humana reside no pensamento, e que tudo o que concebemos é verdadeiro - sendo considerado um método analítico, sendo essa forma de pensar uma de suas maiores contribuições. Porém, hoje, sabe-se que nem tudo pode ser fragmentado ou redizido para então ser entendido, pois nenhuma descrição sobre fenônemos naturais pode ser precisa e exaustiva."...todas a teorias científicas são reducionistas no sentido de que precisam reduzir os fenÇomenos descritos a um número de características capazes de ser praticamente manejáveis. No entento, a ciência não precisa ser reducionista no sentido cartesiano de reduzir os fenômenos às suas menores partes constituintes". O 'Cogito de Descartes' propôs a concluir que mente e matéria eram separadas e diferentes, dispondo que o homem é um ser pensante e que a mente é diferente do corpo, aumentando o valor do trabalho mental e dimunindo o valor do trabalho manual, nos remetendo aos que grandes indústrias começaram a afazer e fazem a até hoje.Para Descartes,a existência de Deus era essencial à sua filosofia, porém, mais tarde, isso foi omitido. Para Descartes, o universo  materia era tão somente uma máquina, com funções mecânicas e tudo podia ser explicado por leis matemáticas exatas; até que a física produzisse uma mudança radical com um de seus maiores físicos: Newton, que compreendeu de maneira revolucionária o poder de elucidação da realidade física pela matemática, inventando o cálculo diferencial, para descrever o movimento dos corpos sólidos. Porém, as leis descobertas por Newton e a maçã mostram que o universo era um imenso sistema mecãnico que opera com leis matemáticas exatas, confirmando as teorias cartesianas. antes de newton, havia o método empírico, indutivo de Bacon, e o racional e dedutivo de descartes. Newton mixou os dois e apropriou as leis e mostrou que o universo não pode ser sistemático nem matemático, somente, mas sim uma análise entre as duas teorias. Para Newton, a matéria era homogênea assim como sua percepção atômica (átomos). A diferenciação ocorria na densidade de cada matéria. Para ele, as partículas materiais e as forças (movimento, gravidade) entre elas foram criadas por Deus, e não estava sujeitas à análises posteriores. Tudo o que já aconteceu teve uma causa definida e deu origem a um efeito definido, sendo o futuro previsível.A figura de Deus como criador caiu muito nas eras seguiuntes, sendo uma das principais características da era moderna. Os fatores humanos - incluindo valores - eram separados dos fatores científicos. Contudo, a mecânica newtoniana na sua história conseguiu explicar o movimento dos plantes, luas, cometas, fluxo de marés, entre outros relacionados à gravidade. E logo, consequentemente, teorias ligadas ao calor. Descartes mostrou que o mundo seria uma máquina perfeite e Newton ajudou a comprovar, tornando a física a base de todas as ciências. O eletromagnetismo foi um desenvolvimento científico que primeiro mostrou as limitações da mecância newtoniana, mostrando que o campo ao invés da força, tinham sua própria realidade e podiam ser estudados sem qualquer referência a corpos materiais (eletrodinâmica). em seguida, um novo pensamento tomou força, a Evolução (surgido a partir de estudos geológicos e em seguida pela teoria do sistema Solar - Kant e Laplace). Essa teorias foram base para a mais importante do pensamento desenvolvimentista: a teoria da evolução das espécies em biologia. Desde a antiguidade os filósofos adotaram a ideia de "cadeia do ser", porém era hierárquica - começando por Deus - e não havia desenvolvimento e/ou mutações, com número fixo de espécies. Lamarck foi o primeiro a propor uma teoria coerente da evolução, mostrando que todos os seres evoluíram a partir de formas primitivas. Toda descoberta em evolução - mais precisa por Charles Darwin - destronou a concepção cartesiana do mundo como uma máquina. Agora, o sistema está sempre em desenvolvimento e constante mudança, onde estruturas complexas vêm de estruturas mais simples. em seguida, a partir da lei da conservação da energia, foi descoberta a termodinãmica, que afirma que 'a energia total envolvida em um processo é sempre conservada". ela pode mudar sua forma, mas nada dela se perde. logo, criou-se a segunda lei da termodinâmica, da dissipação da energia, onde, apesar de esta ser constante em qualquer processo, sua quantidade útil diminui, dissipando-se em calor, atrito, etc - Carnot. Por fim, Renscença e romantismo perderam espaço para as novas teorias científicas.

2. VISÃO MECANICISTA DA VIDA

Apesar de que não seja errado dizer que as estruturas dos organismos vivos são compostas por parte menores (moléculas), isso não implica que suas propriedades possam ser explicadas tão somente por isso. No séc XVI, as teorias de Descartes tomaram força novamente quando Harvey aplicou o modelo mecanicista e explicou o fenômeno da circulação do sangue, um dos problemas mais difíceis da fisiologia. No séc. XVIII ocorreram uma série de descobertas químicas que explicavam inclusive a respiração, além da inclusão da presença de eletricidade nos processos químicos, o que mudou o panorama cartesiano, levando a biologia a deixar de ser cartesiana no sentido estritamente mecânico mas não totalmente, no sentido amplo de tantar reduzir os aspectos dos organismos vivos à seus menores componentes. No séc. XIX desenvolveu-se a teoria celular (todos os animais e plantas são compostos por células), denotando a hereditariedade e unido forças da biologia, química e física para explicações para a vida. Apesar da grande guinada do entendimento da estrutura corporal e outras características da vida, o desenvolvimento de uma teoria celular foi um processo longo e gradual, culminado no séc XIX por Virchow. A partir de então, os cientistas tomaram que qualquer organismo e suas funções eram derivados de blocos celulares. A grande problemática de entendimento foi como as células realizavam um trabalho coordenado e segmentado de funções, onde cada uma deveria ter sua característica e função - como uma fábrica - e que as células são sistemas vivos em si mesmos. já a partir do séc. XIX, com a reinvenção das lentes, a microbiologia mostrou aos estudiosos características celulares não conhecidas e suas complexidades, auxiliando no desenvolvimento de química e bioquímica e no conhecimento mais aprofundado sobre bactérias (Pasteur). Abandonando a teoria newtoniana de evolução, Darwin acreditava que que o mundo não era imutável, mas todas as formas de vida descendiam de um acestral num período de tempo, sndo uma concepção totalmete holística e sistêmica. Com a errônea teoria de Darwin sobre a hereditoriedade de características passada de pais e mães às suas crias, o monge e cientista Gregor Mendel mostrou que os genes não se misturavam no processo de reprodução, mas sim eram transmitidos de geração para geração, dando conceito então à Genética, a área mais ativa de pesquisa biológica no séc. XX e que passou a estudar não somente as células, mas suas estruturas moleculares dos genes e consequentemente a estruturação do DNA e a descoberta das enzimas celulares (que mediam reações químicas específicas). Apesar dos avanços, a estrutura do código genético ainda era desconhecida, mas na década de 1940, onde muitos físicos juntaram-se - e contribuíram com uma visão diferente - aos bioquímicos e também a partir do livro "What is Life" de Erwin Schrödinger, a estrutura genética começou a ser desmistificada e a ser entendido como núcleo de informações. Nos próximos anos, a descoberta do código genético foi consequência. A ligação destes estudo com a medicina foi inevitável, assim como, inicialmente, uma característica cartesiana foi adotava por estudiosos biomédicos, onde um copor é como um relógio, que se bem montado e em harmonia, funciona bem, do contrário não. A medicina, inclusive em tempos contemporãneos, separa o homem do caso, e não vê a doença/lesão a partir de sua origem, mas tenta sempre interagir no momento para se encontrar a solução, indagando um ponto futuro, e não questionando os aspectos gerais e psicológicos dos seres envolvidos. Essa abordagem mecanicista tende à cair, fazendo com que os profissionais da saúde desenvolvam aptidões mais sistêmicas da vida, difundindo a ideia do "Ser Saudável",  propondo atos de prevenção à doenças antes que as mesmas ataquem células e moléculas (medicina holística - década de 1980) .

3. O PENSAMENTO SOCIAL MECANICISTA

A abordagem mecanicista chegou aos âmbitos da sociedade, onde muitos pensadores seguiam seus princípios criando a ciência social, que pregava a abordagem racional dos problemas humanos e que Comte afirmava que ela deveria procurar leis gerais para explicar o comportamento humano. Locke procurou uma bordagem simplista ao explicar os problemas econômicos e socias, buscando no indivíduo a origem destes problemas. As ideias deste deram origem ao pensamento Iluminista e fomentaram forte influência sobre o pensamento moderno de economia e política. Os fundamentos econômicos por si emergiram na Revolução Industrial, pois antes não haviam fatos que isolassem os fenômenos econômicos sendo que os recursos básicos eram produzidos com valor de uso. No séc. XVII um sistema nacional de mercado surgiu e foi logo globalizado. A Revolução Cient[ifica, o Iluminismo, o raciocínoi crítico, o empirismo e o individualismo dominaram os valores e levou à produção de bens e artigos que terminou na Era Industrial, resultanto na criação de instituições, políticas sociais e procura acadêmica. A partir da ideia que comércios poderiam ser administrados como um governo, a economia política, ou basicamente economia, tornou-se forte centro social e a rápida ascenção do capitalismo, assim como a terminologia de oferta, demanda e preços. Por consequência, o aprimoramenteo do uso das máquinas - e a sobriedade por trás disto - além do entendimento da ciência objetiva da atividade econômica - mão invisível - fez com que todas as atividades e classes crescessem de forma exponencial. Mas tarde, a economia neoclássica permitiu observar o processo econômico, que também foi rotulado como "a produção e a escassez dos meios". Um dos maiores críticos à economia, Marx, ferventou a ciência política à sua época, trazenso sua filosofia, história e economia como centro das atenções a partir de acertos em previsões contraditadas. Por exemplo, Marx indica que uma condição prévia apa que o capital surja, é a criação e o distanciamento de classes, pois quando se há mão de obra, há um lugar para algum capitalista fazer mais dinheiro. Seus pensamentos, apesar de hoje obsoletos, ainda são ensinados em muitos paíeses. Apesar de inúmeros conceitos, subdivisões e termos e fórmulas obsoletos(as) utilizados até os dias atuais (ex. PIB), uma caraterística da maioria dos modelos econômicos é a suposição do crescimento perpétuo, a partir de que a ganância também não é perpétua (apesar de as necessidades humanas serem). Porém, veremos que isso gerará uma possível "explosão" de recursos, uma vez que as necessidades foram ultrapassadas pelo limitide produção natural e de bens naturais, trazendo poluição, desmatamento, etc. O fato de pensar que o crescimento econômico será constante causa grande frustração quando há uma - necessária - recessão. Por ex. em 2008, a crise questionou inclusive o que estava sendo estudado e ensinado nas escolas. Mas o que não foi questionado foi o comportamento humano e sua falta de análise no momento da criação de fórmulas matemáticas de riscos em investimentos. Nos tempos que seguiram, as empresas propuseram muitas visões de Descartes e de Newton aplicadas á força de trabalho e a substituição às máquinas, obervando o mundo como um complexo de blocos de construção e criando departamentos nas empresas e nas sociedades, fazendo com que organizações sejam cada vez mais mecanicistas.

Jean C R Pereira
48-91190043

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Para Capra (A visão sistêmica da vida), o século XXI torna cada vez mais evidente que os principais problemas do nosso tempo não podem ser compreendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, e isso significa que todos eles estão interconectados e são interdependentes. Precisam ser considerados como facetas diferentes de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela deriva do fato de que a maioria das pessoas em nossa sociedade apoia os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção inadequada da realidade para lidar com um mundo superpovoado e globalmente interconectado.

A visão do corpo humano como uma máquina e da mente como uma unidade separada está sendo substituída por outra, para a qual não apenas o cérebro, mas também o sistema imunológico, cada tecido corporal e até mesmo cada célula é um sistema vivo e cognitivo. A evolução não é mais considerada como uma luta competitiva pela existência, mas, em vez disso, é reconhecida como uma dança cooperativa na qual a criatividade e a constante emergência da novidade são as forças propulsoras (p. 14).

“O método científico representa uma maneira particular de adquirir conhecimento a respeito dos fenômenos naturais e sociais, o que se pode resumir afirmando-se que ocorre em vários estágios. Em primeiro lugar, envolve a observação sistemática dos fenômenos estudados e o registro dessas observações como evidências, ou dados científicos. Em algumas ciências, tais como a física, a química e a biologia, a observação sistemática inclui experimentos controlados; em outras, como a astronomia e a paleontologia, isso não é possível. Em seguida, os cientistas procuram interligar os dados de maneira coerente, livre de contradições internas. A representação resultante é conhecida como modelo científico” (p. 24).

Em síntese, Capra assegura que para a compreensão contemporânea da ciência é necessário afirmar que todos os modelos científicos e teorias científicas são limitados e aproximados. Todos os fenômenos naturais estão interconectados, e suas propriedades essenciais derivam de suas relações com outras coisas. Consequentemente, a fim de explicar completamente qualquer uma delas, teríamos de compreender todas as outras, e isso, obviamente, é impossível (p. 25).

Embora a ciência nunca possa fornecer explicações completas e definitivas, o conhecimento científico limitado e aproximado é possível Isso pode parecer frustrante, mas para muitos cientistas o fato de que se pode formular modelos e teorias aproximados para descrever uma infindável teia de fenômenos interconectados, e de que se é capaz de aperfeiçoar sistematicamente os modelos ao longo do tempo é uma fonte de confiança e de força (p. 25).

No contexto dos paradigmas científicos e sociais, tem-se que durante a primeira metade do século XX, filósofos e historiadores da ciência acreditavam que o progresso na ciência fosse um processo suave e uniforme no qual os modelos e teorias científicas eram continuamente refinados e substituídos por versões novas e mais precisas, à medida que suas aproximações eram aperfeiçoadas em passos sucessivos. Essa visão do progresso contínuo foi contestada por Thomas S. Kuhn (1962) em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas. Embora o progresso contínuo caracterize de fato longos períodos de “ciência normal”, esses períodos são interrompidos por períodos de “ciência revolucionária”, nos quais todo o arcabouço conceitual onde ele está encaixado sofre uma mudança radical.

Kuhn introduziu o conceito de “paradigma” científico, como uma constelação de realizações – conceitos, valores, técnicas etc. – compartilhadas por uma comunidade científica e usadas por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimos. Mudanças de paradigmas, ocorrem em quebras de continuidade, em rupturas revolucionárias chamadas de “mudanças de paradigma” (p. 25).

Em decorrência da Revolução Científica (sec. XVII) os valores foram separados dos fatos, e os cientistas tendem a acreditar que os fatos científicos são independentes do que fazemos. Kuhn expôs a falácia dessa crença ao mostrar que os fatos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, valores e ações humanos - isto é, emergem de um paradigma - de onde não podem ser separados. Capra generalizou a definição de Kuhn de paradigma científico para a de paradigma social definindo-o como “uma constelação de conceitos, valores, percepções e práticas compartilhadas por uma comunidade, formando uma visão particular da realidade que é a base da maneira pela qual a comunidade se organiza” (p. 26).

A mudança da visão de mundo orgânica para a mecanicista foi iniciada por René Descartes (1596-1650), considerado o fundador da filosofia moderna, brilhante matemático e cientista muito influente. Descartes baseou sua visão da natureza na divisão fundamental entre dois domínios independentes e separados - o da mente e o da matéria. O universo material era uma máquina para ele, assim como os organismos vivos também eram máquinas, e podiam, em princípio, ser compreendidas completamente analisando-as em função de suas menores partes (p. 31).

Nas últimas décadas, o pensamento sistêmico e a concepção orgânica da vida reapareceram em cena, e o vigoroso interesse em fenômenos não lineares gerou toda uma série de novos e poderosos modelos teóricos, que aumentaram dramaticamente nossa compreensão de muitas características-chave da vida. Com base nesses modelos, estão ganhando corpo, atualmente, os rudimentos de uma teoria coerente dos sistemas vivos, e com eles a linguagem matemática apropriada. Essa teoria emergente - a visão sistêmica da vida - é o assunto deste livro (p. 36).

O Zeitgeist do século XXI está sendo modelado por uma profunda mudança de paradigmas, caracterizada, por sua vez, por uma mudança de metáforas, do mundo como uma máquina para o mundo como uma rede. O novo paradigma pode ser chamado de visão de mundo holística, que reconhece o mundo como uma totalidade integrada em vez de uma coleção de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se a palavra “ecológica” for utilizada em um sentido muito mais amplo e mais profundo que o usual, como uma percepção ecológica profunda que reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que, como indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados em processos cíclicos da natureza, dos quais, em última análise, dependemos (p. 36).

A visão sistêmica da vida superou a metáfora cartesiana. A física, juntamente com a química, é essencial para se entender o comportamento das moléculas das células vivas, mas não é suficiente para descrever seus padrões e processos de auto-organização. A mudança de paradigma na ciência, em seu nível mais profundo, envolve uma mudança perceptiva da física para as ciências da vida (p. 40).

Partindo de uma visão mecanicista de mundo e de seus principais expoentes, Capra ressalta que para apreciar a natureza revolucionária da visão sistêmica da vida, é útil examinar com detalhes a história, as principais características, e a difundida influência do paradigma mecanicista, que ela se destina a substituir. A visão de mundo e o sistema de valores que se encontram na base da moderna era industrial foram formulados, em seus aspectos essenciais, nos séculos XVI e XVII e se tornaram a base do paradigma que dominou nossa cultura durante os últimos 300 anos e que agora está mudando (p. 40).

A Revolução Científica começou com Nicolau Copérnico (1473-1543), que derrubou a visão geocêntrica de Ptolomeu. A Terra não era mais o centro do universo, mas apenas um entre muitos planetas que giravam ao redor de uma estrela de pequena importância localizada na margem da galáxia, e a humanidade foi despojada da posição orgulhosa que ocupava, bem no centro da criação de Deus.

O papel desempenhado por Galileu na Revolução Científica vai muito além de suas realizações na astronomia, embora essas sejam mais amplamente conhecidas por causa de seu conflito com a Igreja. De acordo com Leonardo da Vinci, Galileu foi o primeiro a combinar a experimentação científica com o uso da linguagem matemática, e é por isso geralmente considerado o pai da ciência moderna (p. 45).

René Descartes não foi apenas o primeiro filósofo moderno, mas também um brilhante matemático e cientista, cuja perspectiva filosófica foi profundamente afetada pela nova física e pela nova astronomia. Ele não aceitava nenhum conhecimento tradicional, mas se empenhou em construir um sistema de pensamento totalmente novo. Descartes acreditava que a chave para o universo era a sua estrutura matemática. Ele duvida de tudo - todo o conhecimento tradicional, as impressões de seus sentidos, e até mesmo o fato de que ele tem um corpo - até que ele alcance uma coisa de que ele não pode duvidar, a existência de si mesmo como pensador: cogito, ergo sum. A partir disso, deduz que a essência da natureza humana reside no pensamento, e que todas as coisas que concebemos claramente e distintamente são verdadeiras. Seu método é analítico: consiste em quebrar os pensamentos e os problemas em pedaços e arranjar esses pedaços em sua ordem lógica. Seu modo de pensar se tornou uma característica essencial do pensamento científico moderno e comprovou ser extremamente útil para o desenvolvimento das teorias científicas e a realização de complexos projetos tecnológicos. A divisão cartesiana entre mente e matéria exerceu um profundo efeito sobre o pensamento ocidental. Ela nos ensinou a estarmos cientes de nós mesmos como egos isolados existentes “dentro” de nossos corpos; ela nos levou a atribuir um valor mais elevado ao trabalho mental do que ao trabalho manual (p. 48-49).

Para Descartes, o universo material era uma máquina e nada mais que uma máquina. Não havia propósito, nem vida, nem espiritualidade na matéria. A natureza funcionava de acordo com leis mecânicas, e tudo no mundo material podia ser explicado em função do arranjo e do movimento de suas partes. Essa imagem mecânica da natureza tomou-se o paradigma dominante da ciência no período que se seguiu.

Enquanto a visão de mundo orgânica da Idade Média encerrava um sistema de valores conducente a um comportamento inclinado para a percepção ecológica. Descartes compreendia o mundo como uma máquina. Embora as sérias limitações da visão de mundo cartesiana tenham atualmente se tornado evidentes em todas as ciências, o método geral de Descartes de abordar os problemas intelectuais e sua clareza de pensamento permanecem imensamente valiosos. Como se expressou Montesquieu (1689-1755): “Descartes ensinou aqueles que vieram depois dele como descobrir seus próprios erros”.

O homem que realizou o sonho cartesiano e completou a Revolução Científica foi Isaac Newton. A física newtoniana coroou a ciência do século XVII e proporcionou uma teoria matemática consistente do mundo, a qual permaneceu como o fundamento sólido do pensamento científico que se estendeu para o século XX. Para Newton tudo o que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese, e as hipóteses, sejam elas metafísicas ou físicas, sejam de qualidades ocultas ou mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental. Nessa filosofia, proposições particulares são inferidas dos fenômenos, e posteriormente tomadas gerais por indução (p. 52).

O pensamento evolucionista supera a imagem da máquina do mundo newtoniana, envolvendo a ideia de evolução, de mudança, crescimento e desenvolvimento gradual. Lamarck foi o primeiro a propor uma teoria coerente da evolução, de acordo com a qual todos os seres vivos evoluíram a partir de formas primitivas, mais simples, sob pressão do seu meio ambiente. Embora os detalhes da teoria lamarckiana tivessem de ser abandonados mais tarde, ela foi, apesar disso, o primeiro passo importante. Darwin apresentou uma quantidade esmagadora de evidências em favor da evolução biológica, estabelecendo, para os cientistas, a realidade do fenômeno além de qualquer dúvida. Ele também propôs uma explicação, baseada nos conceitos de variação aleatória e de seleção natural, que iriam permanecer como as pedras angulares do moderno pensamento evolucionista.

Capra utiliza as palavras “cartesiano”, “mecanicista” e “reducionista” de maneira permutável. Todos os três termos referem-se ao paradigma científico formulado por René Descartes no século XVII, segundo o qual o universo material é considerado como uma máquina, e nada mais que uma máquina (p. 61).

No século XIX, a visão mecanicista da vida progrediu em decorrência de notáveis avanços em muitas áreas da biologia, inclusive na formulação da teoria celular, no princípio da biologia moderna, na ascensão da microbiologia e na descoberta das leis da hereditariedade. A biologia foi agora firmemente arraigada na física e na química, e os cientistas devotaram todos os seus esforços à procura de explicações físicas e químicas para a vida.

No século XX, a genética tornou-se a área mais ativa da pesquisa biológica e forneceu um vigoroso reforço para a abordagem cartesiana dos organismos vivos. Ficou claro desde muito cedo que o material da hereditariedade residia nos cromossomos, esses corpos semelhantes a fios e que se encontram no núcleo de cada célula. Com essas descobertas, os geneticistas acreditaram que eles agora haviam reconhecido os “átomos da hereditariedade”, e passaram a explicar as características biológicas dos organismos vivos em função de suas unidades elementares, os genes.

A noção de que os genes determinam o comportamento, conhecida como determinismo genético, tornou-se o paradigma dominante da biologia molecular, gerando uma multidão de poderosas metáforas. O DNA foi, com frequência, reconhecido como o “programa” e o código genético como a “linguagem da vida”. O enfoque exclusivo nos genes eclipsou o papel do organismo, vistos como coleções de genes, sujeitos a mutações aleatórias e a forças seletivas no meio ambiente e sobre as quais eles não tinham controle.

O pensamento social do fim do século XIX e início do século XX foi muito influenciado pelo positivismo, doutrina formulada pelo filósofo social Auguste Comte. Suas afirmações incluem a insistência em que as ciências sociais deveriam procurar leis gerais para explicar o comportamento humano, uma ênfase na quantificação e a rejeição de explicações dependentes de fenômenos subjetivos, como intenções e propósitos.

Ao abordar a ascensão do pensamento sistêmico, ou seja, a mudança paradigmática das partes para o todo, Capra registra que as principais características do pensamento sistêmico emergiram na Europa durante a década de 1920 em várias disciplinas. Os pioneiros em abordar o pensamento sistêmico foram os biólogos, que enfatizaram a visão dos organismos vivos como totalidades integradas. Posteriormente, ele foi enriquecido pela psicologia da Gestalt e pela nova ciência da ecologia, e teve talvez os seus efeitos mais dramáticos na física quântica.

Foram essas contribuições, em síntese, que permitem que o pensamento científico do século XXI supere a visão mecanicista e compartimentada de mundo, de forma a promover o desenvolvimento de uma ciência comprometida com uma noção ecologicamente profunda.

Alexandre Botelho

Doutorando em Direito - UFSC

No trecho lido de  A Visão Sistêmcia da Vida, Kapra & Luisi (2014) fazem uma leitura das especificidades dos problemas do nosso tempo demonstrando sua evolução histórica associada ao desenvolvimento científico. Descreve-se a concepção de ciência a partir de seus principais expoentes desde a antiguidade grega, até o Renascimento e a consolidação de uma visão mecanicista de mundo, que viria a dominar valores e conceitos até hoje vigentes.

Os autores avaliam, assim, origem e ascensão da ciência cartesiana-newtoniana, caracterizada pela certeza do conhecimento científico. Advertem que a visão mecanicista da vida passou a conceber organismos vivos como sistemas mecânicos. Tal visão, fundada nas ideias de fragmentação e especialização, distanciaram a ciência de seu propósito, desumanizando-a ou mesmo desvitalizando-a.

Assim, as teorias científicas culminam num dado sistema de valores sociais e políticos, cuja orientação é secular, materialista e visa, sobretudo, à rentabilidade da pesquisa científica, caracterizada pela tecnociência, a distanciar, cada vez mais, o ser humano de sua própria natureza e do mundo natural que o concebe.

No entanto, os autores apontam, também, já nessas primeiras páginas, para o início de uma nova era científica, caracterizada pelo pensamento sistêmico e pelo retorno a uma visão holística da vida. Destacam, assim, a necessidade de uma mudança radical de paradigmas a partir de uma percepção ecológica profunda na Zeitgeist do Século XXI. Mencionam, nesse contexto, a cibernética, a teoria da complexidade e o organicismo como alternativas à visão mecanicista.

Problemas do nosso tempo:

Ø   São sistêmicos;

Ø  Interconectados;

Ø  Interdependentes;

Fazem parte de uma crise de percepção – visão de mundo obsoleta.

 

Soluções sustentáveis: Modos de vida, atividades comerciais, economia, estruturas físicas e tecnologias – não interfiram na capacidade inerente da natureza para sustentar a vida.

Concepção de ciência:

Filosofia natural – Principia – Isaac Newton

Corpo de conhecimento organizado – método científico – evolução gradual séc. XVIII e XIX.

Observação sistemática e registro – experimentos controlados.

Modelo científico – evidências empíricas.

Thomas Kuhn – A Estrutura das Revoluções Científicas -1962

 

K. paradigma científico            -       C. Paradigma social  =  Rede

Visão de ciência na sociedade:

Leonardo da Vinci – ciência de formas orgânicas, de qualidades, de processos de transformação. Arte e ciência. Natureza: modelo e mentora.

 Ascensão da visão de mundo mecanicista: Galileu Galilei (1564-1642).

Francis Bacon (1561-1629) – método científico empírico – procedimento indutivo.

Isaac Newton (1642-1727).

Paradigma cartesiano mecanicista.

História da ciência

Organicismo – Séc. XIX – atividades coordenadoras que integram so fenômeno s celulares: pensamento sistêmico.

 Cibernética – colaboração multidisciplinar.

Teoria da complexidade – dinâmica não linear – 1960-70. Surgimento dos computadores.

Zeitgeist do séc. XXI – mudança radical de paradigmas: percepção ecológica profunda – Arne Naess.

A visão de mundo mecanicista:

Significado e importância das coisas x previsão e controle.

Copérnico, Galileu e Newton – mudança radical de valores: revolução científica.

Descartes: certeza do conhecimento científico: Discurso do Método, 1637.

Método análítico: racionalismo e fragmentação. Universo material = máquina

Bacon: método indutivo x Descartes: método dedutivo.

Newton: universo = enorme sistema mecânico.

Revoluções científicas do século XX: eletromagnetismo, termodinâmica, pensamento evolucionista.

Organismos vivos como sistemas mecânicos – Descartes – arcabouço conceitual para pesquisas em biologia.

Modelos mecânicos dos organismos vivos x teoria celular; microbiologia - Pasteur, Bernard; Darwin e Mendel.

O que é vida? – 1944 – Erwin Schrödinger – reinterpreta a genética.

A medicina mecanicista.

Pensamento Social Mecanicista:

John Locke – Séc. XVII e XVIII – metáfora da tábula rasa.

Sistema de valores – moderno pensamento social e político.

Orientação secular e materialista.

Ascensão do capitalismo – ética do trabalho protestante.

Smith: crescimento econômico contínuo.

Marx: o crítico social. Mais-valia e crescimento – inovação tecnológica.

Modelo keynesiano.

Mecanização das organizações humanas.

No prefácio e na introdução, temos a apresentação da ideia que o livro expõe: a visão sistêmica, que se distingue da visão mecanicista da vida.

 

Desde o prefácio, se percebe a centralidade na ideia de vida como algo contínuo e que se recria:

 “uma sociedade sustentável precisa ser planejada de maneira tal que seus modos de vida, suas atividades comerciais, suas estruturas físicas e suas tecnologias não interfiram na capacidade inerente da natureza para sustentar a vida” p.13

 

A visão apresentada no livro difere daquela que guiou os grandes marcos científicos da modernidade, dada como esgotada pelos problemas a que ela própria chegou atualmente, e também busca demonstrar como o método científico é entendido de maneira equivocada:

“O que torna praticável o empreendimento científico é a percepção de que, embora a ciência nunca possa fornecer explicações completas e definitivas, o conhecimento científico limitado e aproximado é possível.” p. 25

 

Apresenta-se como limitações do método científico moderno/cartesiano:

- ilusão de neutralidade

- enfoque no estudo quantitativo

- busca por controle da natureza

 

Em oposição a isso, apresenta os estudos de Leonardo da Vinci (associação entre artes e natureza, compreensão em vez de dominação) e Goethe (morfologia – estudo da forma com ponto de vista dinâmico).

 

Essa parte do livro salienta como o método reducionista se destacou mesmo havendo outros tipos de estudo paralelos, e acabou sendo aplicado e ganhando extrema relevância em diferentes áreas do conhecimento, tendo a física como área de referência, com Copérnico, Galileu e Newton como precursores e Descartes como seu consolidador na filosofia. O método cartesiano acabou permeando a pesquisa na biologia (estudo dos genes como componentes isolados), a química (estudo das moléculas), a política e a economia (estudo de comportamentos do indivíduo e sua natureza e a quantificação de indicadores sociais).

 

A partir desse panorama, o livro expõe as grandes teorias que marcaram a visão mecanicista, destacando em seus métodos alguns pontos que a visão sistêmica questiona:

- separação entre sujeito e objeto

- separação entre mente e corpo

- ideia do todo como soma das partes

- linearidade do conhecimento em direção à verdade

- mundo como máquina

- conhecimento como forma de controle da natureza

Lahis Pasquali Kurtz

Mestra em Direito

Para muitos dos filósofos gregos, os organismo vivos, como o Homem, a Terra e o próprio 'kosmos', eram movidos por um 'sopro de vida', a alma. A alma individual era vista como parte da força motriz do universo, que Platão descreveu como sendo a 'Anima Mundi'.

Séculos depois, com sua 'Fabula Mundi', Descartes (1596 -1650), desenvolvendo teorias e métodos a partir de idéias revolucionárias como as de Da Vinci, Galileu e Francis Bacon, haveria de sepultar esta alma. Ler o grande livro do mundo já não era mais ouvir a natureza, por-se a sua escuta, mergulhar em seu interior, mas sim traduzi-la em linguagem matemática, buscando alcançar leis racionais, imutáveis, que explicassem a criação. No momento em que Descartes aplica ao próprio homem seu método analítico e sua dúvida radical, exclui a possibilidade de existência até do próprio corpo, concluindo que esta se dá pela própria capacidade de pensar. Cogito ergo sum, e com toda certeza derivando da existência do Cogito, e apenas dele, é o Homem quem cria deus, e não o contrário. Um deus-idéia, necessário ainda para verificar a verdade desta representação. Tendo se libertado de Deus, não havia dificuldade em se livrar de todo o resto, submetendo tudo ao crivo da razão, inclusive o próprio corpo. Este corpo, matéria, é visto como um automato e necessita de uma mente racional que o comande e que lhe é completamente distinta. Visto como uma máquina mecânica, os corpos deveriam ser domados pelas mentes, e aqueles desprovidos da 'razão', como os animais, deveriam lhe prestar serviços. 

Mas se com Descartes a certeza do conhecimento científico libertou a razão dos corpos, transformando este em um mero mecanismo e dividindo o Homem entre mente e matéria, foi Isaac Newton (1643 -1727) quem conseguiu realizar o sonho cartesiano de explicar não apenas os homens, mas todo o Universo. Com seu método de cálculo diferencial,  Newton conseguiu explicar cientificamente, com linguagem matemática, diversos dos fenômenos da física natural, conferindo ao Universo o status de sistema mecânico que Descartes havia atribuido ao Homem. Esta nova explicação dos fenômenos, definida como Física Newtoniana, considerava o espaço e o tempo como absolutos, nonde se moviam as partículas materiais, com todos os eventos físicos se reduzindo a este movimento.

Em que pese surgimento de diversas formas de contestação a esta nova ciência, com descobertas e constatações que evidenciavam os limites da Física Newtoniana - como o eletromagnetismo e a termodinâmica, entre outros - esta foi alçada ao posto de 'hard science', a ciência por excelência, na qual todas as demais deveriam se basear para formular suas explicações. Aplicando estes princípios aos estudos sobre a sociedade e a natureza humana, teve início o ramo definido como 'Ciências Sociais'.

Dentre os pensadores que procuraram traduzir em reduções matemáticas o funcionamento das sociedades humanas estava John Locke (1632-1704), que desenvolve uma visão atomística de sociedade, creditando os fenômenos sociais ao comportamento de cada um dos indivíduos compõem a sociedade e, aliando esta idéia ao Estado de natureza hobbesiano, estabelece que os homens gozariam de determinadas 'leis naturais' - como a liberdade, a igualdade e o direito de propriedade - ao redor dos quais se organizariam toda uma estrutura social e econômica, esta última regida pela lei de oferta e procura, que determinava objetivamente a atribuição de preços. A economia também estava domada pelo reducionismo cartesiano, e transformada portanto em uma lei mecânica. 

A idéia deu origem a escola economica Fisiocrata, que considerava que a livre atuação das leis naturais - como a lei da oferta e procura lockeana - governaria os assuntos econômicos. A idéia central desta nova escola se traduzia pela depois famosa expressão 'lassez-faire' - deixar agir.

Se aproveitando destas formulações de Locke e dos fisiocratas sobre a economia e associando-as a ideia de William Petty sobre 'preços justos', Adam Smith (1723-1790) afirmou que 'é da natureza humana trocar e intercambiar', e esta troca se daria segundo os desígnios de uma 'mão invisível', que, se deixada agir livremente, regularia todo o comércio. Para além disso, formulou também uma teoria de atribuição de preços não mais apenas em razão da oferta e da procura, mas estabelecendo também uma relação entre Valor e Trabalho. Nascia assim a Economia Clássica.

Crente de que poderia transformar a teoria economica de Smith em reduções a modelos matemáticos com um número limitado de variáveis que explicassem o comportamento dos mercados, David Ricardo (1772-1823) consolida a economia como um conjunto de dogmas que davam suporte a toda uma estrutura de classes surgida após a revolução industrial, obstando as tentativas de melhoria social ao afirmar que as leis da natureza estavam em ação e que, por consequência, os pobres eram responsáveis pelo próprio infortúnio. Tal idéia, porém, não se viu livre de críticas, e Stuart Mill (1806-1873) afirmou que a economia englobava os conceitos de produção e escassez, sem alcançar, contudo, a distribuição. Esta não era um processo economico, mas político. 

Seguindo esta ideia da distribuição como fator político e não econômico, Marx (1818-1883) usou a lógica do Valor-Trabalho para abordar questões de justiça, estatuindo que salários e preços são politicamente determinados. Observou que o trabalho necessita gerar renda que garanta a subsistência do trabalhador mais o suficiente para repor os materiais gastos, mas que, em geral, haverá um excedente de renda sobre e acima deste mínimo - a Mais-Valia - sendo que a forma que este excedente adquire é a chave para compreensão das relações da sociedade, sua economia e tecnologia. Nas sociedades capitalistas, a mais-valia é apropriada pelo dono dos meios de produção, determinando as condições de trabalho. Esta transação, entre pessoas com poderes desiguais, permite ao polo detentor dos meios fazer mais dinheiro com o trabalho dos operários. A esse excedente monetário oriundo da mais-valia, apropriado pelos donos dos meios de produção, deu o nome de Capital.  

Marx afirmou também que o próprio sistema capitalista era dependente de uma relação de classes específica, sendo ela mesma produto de uma longa história, e que, sendo esta configuração transitória, eventualmente o sistema capitalista chegaria a uma crise. Em 1929 as previsões de Marx se concretizaram, porém, a intervenção estatal, até então abominada e maldita, salvou as economias em crise. 

A partir da análise dasintervenções economicas e sociais realizadas por governos, Keynes (1883-1946) buscou determinar a natureza destas 'ações políticas', mudando o enfoque da teoria economica do micro para o macro, inserindo variáveis oriundas de conceitos como renda nacional, consumo total, investimento total, total de empregos e etc, e com isso pretendendo demonstrar que tais variáveis economicas eram suscetíveis a mudanças de curto prazo e que, portanto, poderiam ser influenciadas por planos de ação política, criando ciclos econômicos flutuantes.

Contudo a própria redução Keynesiana se mostrou ineficaz para explicar todo um universo econômico possuidor de redes globais e acordos internacionais, com o peso das grandes corporações, as condições políticas, sociais e ambientais e outros incontáveis fatores de influência, impossíveis de serem apreendidos por uma única teoria matemática. 

Estas tentativas de redução a uma ciência perfeitamente racional, baseadas em ideias de organismos, espaço, tempo, sociedades e economias regidas por leis mecanicistas universais e passíveis de tradução em linguagem matemática geraram inúmeras abordagens fragmentárias, realizadas, como visto, por diversos pensadores das mais diversas áreas do conhecimento. A preferência por modelos, esquemas e teorias que excluíam as ciências humanas da maior parte de seu contexto ecológico - lido aqui como contexto histórico, social, político, material e ambiental - resultou em imensas lacunas entre estas teorias explicativas lineares e a realidade complexa.

A modernidade, era da ciência racional, do individuo, dos átomos, do ego, inaugurada por Descartes e sua visão mecanicista não conduzirá a si própria nem à salvação, nem à sabedoria, nem ao conhecimento, pois sua ambição é prática, e seu triunfo é técnico. Uma ciência técnica, não especulativa, que castra todas as possibilidades que lhe é alheia, deu origem a um sistema de pensamento incapaz de compreender o crescente grau de complexidade da realidade que se apresenta. 

Como conseguir reunir novamente as inúmeras partes em que o todo do 'kosmos' foi fragmentado, levando a destruição sua 'anima' ? Se isoladas nossas vãs técnicas são incapaz de delinear tudo aquilo que existe entre o céu e a terra, uma visão sistêmica e ecológica que utilize o progresso técnico da modernidade poderia nos levar a uma mudança de paradigma ? Ou terá a Modernidade despedaçado a capacidade de compreender nosso mundo como uma realidade complexa e não determinada, da qual somos não apenas vítimas, mas partícipes ?

kinn peduti