BALBÚRDIA CONSTITUCIONAL: A menoridade política corrói a CF/88


Portiagomodena- Postado em 20 maio 2019

Autores: 
Vinício Martinez

Os nacionais se acostumaram a viver sob o mando do complexo de vira-latas. Isso nos disse Nelson Rodrigues: o verdadeiro Príncipe da Sociologia. Muito próximo dos dias atuais, definido hoje em estilo mais anacrônico, e ainda que indiferente ao cromo alemão, foi adorador dos preconceitos machistas e eurocêntricos.

Em todo caso, Plínio Marcos lhe faria companhia na cachaça e na loucura pra acabar com a hipocrisia da marca CBF, com suas “navalhas na carne”. Mas não acabou aí: para formar bem o grupo imaginemos um triunvirato, desses dois, mais Raul Seixas, arquitetando em 2019. O cabaré iria arder nas chamas do inferno ácido da crítica à desinteligência e à dissonância da Terra Plana.

Numa análise mais sofisticada sobre 2019, talvez pudéssemos dizer que o lumpesinato empossou a estratocracia: governo militar movido por fake news. Se em 1964 havia um discurso nacionalista, em 2019 vigora só a boçalidade, a bestialidade, a violência, o embrutecimento.

O objetivo agora é dispersar a realidade, gerar desprendimento da segurança, mais o medo, a dissociação, o pânico plantado e fajuto, a desorientação com muita paranoia, simplesmente porque são engrenagens psicossociais de dominação dos aterrorizados ou "servos voluntários". Sob a regência, obviamente, da mais grave dissonância cognitiva, do emburrecimento complacente – admirando-se o pó e a sujeira.

Unimos o ultra-moderno ao mais arcaico: a melhor tecnologia digital do século XXI foi associada ao pior rebotalho terceirizado da história do sistema capitalista. A classe média das duas, uma: ou aderiu em frenesi, como no saldão das Casas Bahia, ou fez voto inútil.

Na democracia mínima, especialmente quando as forças políticas são equivalentes ou se organizam no mesmo espectro político, pode-se escolher ou se abster.

No cenário fascista, entre barbárie e civilização, não existe o voto do tipo "ninguém me representa". Na pior das hipóteses seria um voto e militância "por exclusão". Porém, nesses tempos sombrios, apenas tolos e cínicos se esquivam da análise e da práxis antifascista.

Nesta novíssima modalidade golpista (Guerras Híbridas), o Judiciário nobiliárquico com seus rapapés atuou para criminalizar a Política (Polis – espaço público) e a mídia oficial injetou a vandalização e a demonização da esquerda, dos direitos humanos, do processo civilizatório, da convivialidade democrática.

No non sense criado, desde 2013 – com anarquistas caminhando lado a lado com as camisetas da CBF –, há um crescente fluxo de desordem cognitiva, ética e cultural, a exemplo de bolsistas defenderem a privatização das universidades públicas.

Por isso, em meio a este caos, a única certeza é a de que apostar na bolsa, nos bancos nacionais, é sinônimo de lucro líquido, porque são a bola da vez na venda barata. Aliás, nossa “barata” é equivalente ao inseto descrito por Kafka. Caroçudo, o bicho esquizoide vira as costas para a realidade, para a decência, para a já resfolegante racionalidade.

Como disse, em meio ao caos, é capaz de alguém dizer que não posso desposar o verbo, que o emprego da condição abestada da balbúrdia é prima note dos desafortunados (pela falta de escola pública) e obreiros da situação perdulária contra os ignóbeis.

Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito)

Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Departamento de Educação- Ded/CECH

Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS