Aprendizagem ou ontogênese? Artigos de 2 autores sobre a diferenciação (ou não) entre os dois fenômenos


PorSara- Postado em 16 junho 2013

A ontogênese e o aprender

(Fernando Reinach)

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-ontogenese-e-o-aprender-,1019496,0.htm

Nesta matéria, o autor Fernando Reinach explica que é difícil fazer distinção entre o processo ontogenético e o fenômeno do aprender. Para o autor, a ontogênese é determinada por nossos genes e modulada pelo meio ambiente, sendo que parte de nossa capacidade de julgamento moral, de convivência social, de comunicação por meio de expressões faciais e inúmeras outras características comportamentais também fazem parte de nosso processo ontogenético. Para ele, seria mais fácil distinguir esses dois fenômenos se a palavra aprender fosse restrita à aquisição de novas características e habilidades que não fazem parte de nosso processo ontogenético. Ou seja, o aprendizado vem com as capacidades adquiridas, nosso corpo e cérebro têm a flexibilidade para incorporar novos comportamentos e conhecimentos, mas elas não foram moldadas pela seleção natural nem incorporadas à nossa ontogênese. O autor finaliza a matéria dizendo que “ (...) separar e cultivar de maneira distinta as mudanças ontogenéticas das induzidas pelo processo educacional podem gerar seres humanos mais felizes. Mas para isso não podemos confundir os dois fenômenos(...)”.

Tendo em vista este ponto de vista apresentado, acrescento aqui um complementar, da Marturana, que não estabelece essa diferenciação entre os dois fenômenos, pois um gera o outro. E ainda acrescenta que é possível entender se houve aprendizado comparando-se sua conduta em tempos diferentes. Segue abaixo breve relato sobre o artigo comentado.

Aprendizagem ou Deriva Ontogenética

(Humberto Marturana)

http://escoladeredes.net/group/bibliotecahumbertomaturana/forum/topics/aprendizagem-ou-deriva-ontogenetica

Neste artigo Humberto Marturana, na mesma linha que o autor anterior, defende que, estruturas que surgem de maneira ontogênica num organismo qualquer, relacionadas com sua história de interações, dão origem a comportamentos aprendidos. Mas, diferentemente do primeiro autor, não se preocupa em separar os dois fenômenos, já que um leva ao outro. Tal posição está evidente quando diz que “(...) não há diferença entre conduta instintiva e conduta aprendida, já que ambas são o resultado da epigênese do organismo e surgem, em cada caso, como consequência inevitável de sua  história de interações com conservação da organização e  da adaptação. A diferença entre elas está somente no grau de liberdade epigenética que determina a estrutura da célula inicial”. A percepção de que houve aprendizado se dá pela comparação entre momentos históricos distintos, “(...) o organismo está onde está porque conservou sua organização e sua adaptação num meio mutante ou estático, e decidimos que aprendeu porque, comparativamente, vemos que sua conduta está diferente a de um momento anterior, de uma forma contingente à sua história de interações. Sem comparação histórica não   podemos  dizer  nada: somente veríamos um  organismo em congruência de conduta com seu ambiente, no presente.”