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A ética e as empresas: é possível aliar lucros e princípios?

 

 

 

Sérgio Ricardo Marques Gonçalves

 

 

 

O tema não é muito popular em nosso país. Aliás, é um tema sempre em destaque na mídia, mas que, no imaginário coletivo soa mais como um exercício de poesia do que algo que se deva observar cotidianamente nas relações, sejam elas entre pessoas ou empresas. Historicamente ligada à filosofia, a ética deve ser encarada como a fonte dos princípios básicos da conduta em sociedade, sempre nos encorajando a manter íntegros nossos pensamentos e atitudes. Assim como a ética deve se incorporar nas condutas profissionais das pessoas, guiando-nos também no desempenho de nossas atividades profissionais, modernamente as empresas devem desenvolver e adotar um conjunto de princípios éticos para moldar seu espírito corporativo, guiando a instituição não só em suas relações internas com empregados e fornecedores, mas, em uma visão mais ampla, com a sociedade onde se insere e atua, objetivando não apenas o seu lucro, mas sua contribuição social.

O que uma empresa tem a ver com a ética? Para a maioria dos empresários, ainda mais em tempos de crise, este parece um assunto menor. Porém, em uma empresa onde se cultivam relações profissionais e comerciais sob a influência de um espírito ético, as crises tendem a ser mais um fator de estímulo do que um fator de desalento e problemas. Uma empresa que possui a ética como ferramenta de trabalho, desenvolve suas atividades de modo a estar em consonância com seus empregados e clientes, sendo sempre lembrada como um parceiro em momentos difíceis do que um mero empregador ou fornecedor de bens ou serviços. Isso evita sentimentos ou atitudes negativas contrárias à instituição.

Uma estrutura de regras éticas deve ser tornada publica pela empresa, mas antes disso, também aplicada, entendida e adotada pelos seus funcionários, permitindo que se fundamente uma imagem de empresa sólida e confiável, não apenas em sua estrutura interna, mas sobretudo, em clientes e na sociedade de um modo geral. As regras elencadas no que em geral chama-se de “Código de Ética Corporativo”, devem ser observadas por todos os níveis da estrutura empresarial, desde sua diretoria até os mais simples funcionários. Este Código de Ética deve demonstrar a visão que a empresa tem de seu negócio visto sob a ótica da sociedade, de um modo amplo e abrangente. Não existem mais bons negócios apenas para uma parte... Deve-se ter em mente que os negócios devem ser bons para todas as partes envolvidas, direta ou indiretamente. Acabou-se a época de vender e pronto. Valorizam-se as empresas que vendem relacionamentos de confiança e segurança, e não apenas produtos prontos e acabados.       

Além da visão de sua posição na sociedade, definindo como a empresa dever portar-se corporativamente, os princípios éticos adotados devem demonstrar a integridade profissional e pessoal daqueles que trabalham ou exercem atividades em seu nome, estipulando de modo claro e conciso as condutas que são encorajadas, demonstrando como deve portar-se aquele que, em seu dia-a-dia, eleva ou pode macular o nome da empresa. Porém, ainda mais claramente devem ser expressas as condutas renegadas pela instituição, que podem trazer prejuízos morais e até mesmo materiais para todos os envolvidos, empresa, funcionários, clientes e sociedade. O nome de uma empresa é (e sempre será), seu maior patrimônio e a defesa e salvaguarda dele deve ser o objetivo maior na fixação deste código de conduta.          

As relações no ambiente de trabalho, com os acionistas, com os clientes, fornecedores, com o setor público e até mesmo com os concorrentes devem ser, todas elas, objeto de claros limites e princípios. De nada adianta manter relações éticas em um setor e descuidar-se de outro, pois a ética não pode ser encarada como uma atitude isolada, mas sim como um hábito, uma filosofia de vida, mesmo em uma empresa. Pense se o seu negócio não poderia ser um local melhor de trabalho e ter uma posição mais destacada no mercado onde atua se adotasse uma atitude como essa. Pense bastante, pois não será apenas uma folha de papel com regras impostas que mudará o seu negócio: é preciso instituir uma filosofia e estar aberto as mudanças que, certamente, deverão ser implementadas ao correr do tempo. Será necessário reunir todos os departamentos de sua empresa e criar um Comitê de Ética, capaz de dirimir as dúvidas e gerir o código implementado. A Ética nas empresas não é uma utopia, é uma ferramenta de trabalho indispensável no mundo globalizado e, provavelmente, já utilizada pelo seu concorrente!

 

 

GONÇALVES, Sérgio Ricardo Marques. A ética e as empresas: é possível aliar lucros e princípios? Disponível <http://www.direitovirtual.com.br/artigos.php?details=1&id=31>. Acesso em 06/06/06.