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As Tecnologias de Informação e
Comunicação: abrindo novos caminhos para a educação.
Vera Cristina Queiroz1
Resumo: O presente artigo discute novas propostas de utilização das tecnologias digitais na educação. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) desempenham papel primordial na contemporaneidade. Conceitos, tais como virtualização, desterritorialização e atemporalidade, tornam-se relevantes no estudo do ciberespaço e das possibilidades educacionais por ele geradas. O processo de mudanças na educação é irreversível e exige uma reflexão por parte dos educadores que utilizam mídias digitais.
Palavras-chave: educação, mídias digitais, mudanças na educação.
Abstract: The present article discusses new
proposals for the use of digital technologies in education. The Information and Communications
Technologies (ICT) play an important role in the net society. Concepts, such
as, virtualization, desterritorialization and atemporality become relevant to
the study of cyberspace and the educational possibilities it brings. The
changing process is irreversible and it requires a reflection by educators who
use the digital media.
Keywords: education, digital media, educational
changes.
O estudo da virtualização, inclusive na educação, oferece subsídios para questionamentos e compreensão da sociedade em rede. O termo virtual é oriundo da palavra latina medieval “virtuale” ou “virtualis” e o radical “virtus” significa força, potência e virtude. O Novo Dicionário Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa define virtual da seguinte forma: “que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual”, “suscetível de se realizar; potencial”. Segundo Lévy (1996), o virtual se opõe ao atual, pois a atualização está necessariamente vinculada à resolução de um determinado problema. Diferente, pois, do real, que se vincula à realização de uma possibilidade anteriormente existente.
“O possível é exatamente como o real; só lhe falta a existência. A
realização de um possível não é uma criação, no sentido pleno do termo, pois a
criação implica também a produção inovadora de uma idéia ou de uma forma. A
diferença entre possível e real é, portanto, puramente lógica.
“Já o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização” (LÉVY, 1996, p.16).
A discussão a respeito da virtualização, nos dias de hoje,
está vinculada à questão da desterritorialização. Esta é marcada pela falta de
um ponto de referência (centro geográfico), pela nova concepção de espaço (não
mais limitado ao espaço físico), pela eliminação das distâncias e pela
instituição de redes de comunicação para a grande circulação de informações e
conhecimentos (Ianni, 1996; Lévy, 1996; Gates, 1995).
Complementar à virtualização e à desterritorialização, a atemporalidade é outro aspecto importante na sociedade em rede. Para Castells (1999), a noção de tempo sofreu uma transformação profunda no modelo informacionalista, passando de linear, irreversível, mensurável e previsível para fragmentado e relativizado de acordo com os contextos sociais. Por isso, Castells o denomina de tempo intemporal: tempo social emergente que não anula a existência física dos lugares, mas permite a fusão do passado e do futuro em um eterno presente, próprio das redes e espaços virtuais.
A compreensão da extensão e da complexidade destes três elementos (virtualização, desterritorialização, atemporalidade) é fundamental para os educadores que pretendem oferecer cursos em ambientes virtuais.
O ensino em ambientes virtuais deve ser analisado com critérios, uma vez que não apresenta somente vantagens. Dentre os benefícios encontrados, têm-se: a democratização do acesso à educação, o incentivo à educação continuada, e o aprender a aprender, entre outros. Todavia, esse tipo de ensino, apresenta problemas, como por exemplo, a questão do sentimento de isolamento gerado pela falta de contato físico com outros integrantes do grupo. Essa questão pode ser minimizada através de práticas pedagógicas que incentivam a interação entre todos os participantes.
Para se ter um programa de Educação a Distância (EAD) na Web de qualidade é imprescindível que se faça um planejamento inicial a respeito das metas a serem atingidas, do conteúdo a ser trabalhado, do perfil e das necessidades dos alunos. A mídia digital deve ser selecionada a partir desse planejamento prévio.
Com relação aos critérios de análise das ferramentas digitais é importante levar em consideração sua operacionalidade, praticidade de uso, arquitetura e as aplicações pedagógicas que elas possibilitam.
A Internet oferece vários serviços e ferramentas para o oferecimento de cursos na Web. As ferramentas de comunicação encontradas são de três tipos: ferramentas de comunicação síncrona, assíncrona e híbrida. As ferramentas de comunicação síncrona - tais como, o IRC (Internet Relay Chat), a videoconferência e a áudio-conferência -, permitem a comunicação em tempo real. As ferramentas de comunicação assíncrona (e-mail, lista de discussão, newsgroup e web fórum, entre outras) dispensam a participação simultânea dos usuários. Finalmente, as ferramentas híbridas (ICQ, MOO, WebMOO) combinam os dois tipos de comunicação (síncrona e assíncrona).
Plataformas de gerenciamento de Cursos On-line
Além desses recursos disponibilizados na Web, existem também serviços comerciais semelhantes, implementados através de plataformas de gerenciamento de cursos a distância (WebCT, Blackbord, etc.). Essas plataformas apresentam as mesmas ferramentas disponibilizadas na Web (e comentadas neste artigo) com a vantagem de estarem integradas a um único sistema. Outras vantagens dessas plataformas é que oferecem ferramentas de administração (planejamento), ferramentas para a troca e armazenamento de arquivos, ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona e ferramentas para a elaboração de testes de avaliação, facilitando assim a organização e gerenciamento de um curso. Além disso, essas plataformas permitem o controle de acesso ao gerenciador e fornecem estatísticas das áreas do programa mais utilizadas pelos usuários.
Entretanto, essa tecnologia perde a utilidade ou é sub-aproveitada se o professor não atentar para a estruturação do curso on-line.
“A EAD explora certas técnicas de ensino a distância, incluindo as hipermídias, as redes de comunicação interativas e todas as tecnologias intelectuais na cibercultura. Mas o essencial se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede. Nesse contexto, o professor é incentivado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos”. (Lévy, 1999, p.158) [grifo nosso]
Percebe-se, então, que o trabalho docente requer uma contínua
formação do professor on-line. Esta formação reúne ações que propiciam a
reflexão sobre as teorias ligadas à cibercultura e à análise das formas de
utilização do computador como ferramenta pedagógica inovadora e motivadora do
aprendizado.
A implementação da EAD na Web precisa ainda atentar para
questões que vão do diagnóstico das necessidades dos alunos de cursos on-line
até a avaliação de todo o processo educacional. A primeira etapa desse processo
é o estabelecimento de um roteiro detalhado de trabalho, constituído pela
definição do conteúdo do curso, elaboração do material e estabelecimento de um
cronograma de discussões. Este plano, para obter êxito, deve ter o apoio da
instituição educacional, que precisa, ainda, possuir (ou desenvolver) uma estrutura
administrativa e tecnológica que se responsabilize pela parte burocrática, pelo
hardware e software necessários e pelo suporte técnico-pedagógico.
Outra questão que precisa ser prevista durante o
período de planejamento do curso está relacionada aos percursos individuais dos
alunos e ritmos de aprendizagem de cada um. Isto é necessário para que o
professor possa criar alternativas mais dinâmicas e personalizadas, ou seja,
para que a aprendizagem esteja centrada no estudante. O plano também deverá atentar
para o tempo a ser gasto (em média) em cada uma das etapas e instituir
mecanismos que ajudem os alunos a administrar o tempo em cursos mediados por
computador.
A escola está passando por um processo de transformação de sua estrutura e valores. O ambiente educacional – tradicionalmente linear, dominador e conteudista – deve, agora, dar lugar ao cooperativo, colaborativo, hipertextual, incentivador da liberdade de expressão, motivador das pesquisas individuais e de equipe. Mas, para que o computador não acabe sendo utilizado na educação como mero "quadro negro eletrônico" é imprescindível que o professor se veja como orientador do aprendizado e não como autoridade pretensamente máxima do saber. A orientação relaciona-se à aquisição de habilidades de estudo, pesquisa, questionamento, autonomia e construção de conhecimentos, através de diferentes fontes e da interação entre os aprendizes.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v. 1)
FERREIRA, A. B. de H. 2001. Novo Aurélio Século XXI: O Dicionário da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
GATES, Bill. A Estrada da Informação. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
IANNI, Otávio. Teorias da Globalização. 3.ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1996.
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: 34, 1996.
1 Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo, professora da English for Internet (EFI) e Consultora em EAD.