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Tecnologia japonesa

 

Maria Cristina Ussami

 

 

Em agosto de 97, quando cheguei ao Japão, achei que em todos os Outdoors e propagandas que eu visse, iria me deparar com http://www.etc… Afinal eu estava no país da alta tecnologia e se no Brasil, a febre do "http para cá, http para lá" já estava
pegando,imagine lá ….

Mas a primeira coisa que me impressionou foram os trens: todos compram seu ticket nas bilheterias automáticas, seguem o fluxo imenso de pessoas que vão pegar o trem, que implacavelmente passa no horário pré-estabelecido, correm para tentar pegar um assento livre, sintonizam seu walkman, abrem o jornal (ou seu livro de bolso) ou simplesmente fecham os olhos para uma soneca. Só manifestam um movimento diferente quando chegam à estação destino. Aqueles que tiram uma soneca gostosa, você pensa … ah ele vai perder a estação. Ledo engano: ele desperta exatamente na hora que o trem chega na sua estação. Incrível o nível de automatização dos japoneses. São programados direitinhos para tudo !! Em algumas linhas, os trens nem condutores tem: andam sózinhos, anunciam suas chegadas nas estações e até informam se está chovendo lá fora !

Através deles você pode conhecer o Japão todo e um pouco daquele mundo previsto no filme Blade Runner começa a aparecer na sua frente: prédios imensos com milhares de letreiros luminosos, telas de cristal líquido gigantescas fazendo propagandas. Trens-bala que mais parecem um avião sobre trilhos, e um bairro em Tóquio chamado Akihabara - The Electric Town: o paraíso para nós computeiros !

Imaginem uma grande avenida (como se fosse a Av. Franscisco Glicério), onde todas as lojas só vendêssem eletrônicos: camelôs vendendo walkman, rádios, telefone celular (a R$ 20,00) de todas as cores e configurações; prédios de 5 andares só com produtos de computador: no térreo apetrechos como papel, etiquetas e softwares, segundo andar: impressoras, gravadores de CD, Zip drivers, vários tipos de drivers de disquete e unidades de fitas e por aí vai… No terceiro andar: laptops (dos mais fininhos como se fosse uma pasta que você coloca no meio dos cadernos, até os palmtops com Office e conexão Internet ). Quarto andar: desktops. Quinto: produtos para exportação. Este último era o único que podíamos nos identificar, pois todos os anteriores só interagem com os Japoneses: teclados e monitores com caracteres japoneses, proibitivos para qualquer um que não domine pelo menos 1000 ideogramas da escrita deles (kanjis).

Tem prédios também especializados em produtos Macintosh. E assim a avenida continua…E todos consumindo animadamente !

Neste ponto você chega a triste conclusão que o Japão foi feito somente para os Japoneses… As miniaturas de TV maravilhosas… quando se tratavam do sistema brasileiro (PAL-M) eram horríveis.. nada comparada a excelente definição das telinhas de cristal líquido disponíveis aos japoneses. As FM's deles vão até 100 MHZ. As nossas melhores começam nesta faixa… Os aparelhos eletrônicos utilizam voltagem de 100V. Torrariam nos nossos 110V pouco estabilizados… Os celulares cor-de-rosa de R$ 20,00 só funcionam no sistema proprietário da cidade de Tóquio (PHS). Aí você sente na pele a falta que faz uma padronização mundial para facilitar a globalização… Mesmo que você tenha dinheiro para satisfazer todos estes sonhos de consumo… nada feito !

 

E para não deixar mais nenhum resquício de dúvida, um golpe mortal: vendo uma reportagem sobre o Dia do Ancião, uma repórter estava entrevistando um senhor bem idoso que contava que era muito feliz devido a inúmeros amigos que conheceu se correspondendo pela rede. Neste ponto a rede era uma oportunidade interessante para fazer novas amizades sem sair de casa. Porém, concluiu dizendo que deveria diminuir o uso da Internet: todos os dias ele estava indo dormir de madrugada, pois não estava dando conta de responder a tantas mensagens que recebia. Ele estava ficando muito cansado com estas noitadas !!

 

Depois disto, concluí que o fato de não ter visto nenhum "http" estampado nas propagandas significa que eles já superaram esta fase ! Imaginem todos nossos avôs e avós usando a Internet… vai demorar mais um pouquinho por aqui !

 

 

Artigo retirado da WEB