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A Informática nas Escolas
Luiz Henrique
Corrêa Quemel (*)
No livro A Vingança da Tecnologia, Edward Tenner, um
bacharel em artes, descreve as irônicas conseqüências das inovações mecânicas,
químicas, biológicas e médicas deste fim de século. Como não poderia faltar, a
deusa informática teve lá seu espaço garantindo.
Irônico é o efeito da informatização em massa das escolas
em nosso País, sem a devida discussão do projeto pedagógico que deveria
acompanhar toda a tecnologia subjacente.
A IBM, por meio de sua coordenadora do projeto Novos
Horizontes (financiamento de software e hardware nas escolas), em 1995, dizia
que “não era mais hora de discutir qual seria o projeto pedagógico a acompanhar
a entrada de laboratórios de informática nas escolas”. Segundo ela, “o momento
seria de introduzir novas tecnologias, o restante se pensaria depois”.
A França, em 1980, massificou a tecnologia da informação
nas escolas para depois descobrir que foi um completo fracasso. Guardadas os
devidos avanços tecnológicos, é o que vem acontecendo na maioria das escolas
que implementam a informática em seus currículos, mas esquecem-se de discutir o
principal objeto dela: o ensino “de” informática ou “por meio” da informática.
Basta observar o projeto de marketing da escola e verificar
que o mais importante é mostrar alunos sendo fotografados em modernos
laboratórios de informática. Em apenas meia hora de conversa, a única coisa que
sabem explicar são as configurações dos computadores que equipam a sala de
informática. Difícil mesmo é saber qual a metodologia usada pela escola para
enfrentar o seu principal desafio: a tarefa de educar.
Onde está a ironia? Basta verificar a origem escolar dos
lammers (pessoas que se acham hackers) que recentemente invadiram sites do
governo federal. Estudando em colégios equipados com as últimas tecnologias de
informação, mas utilizando seus conhecimentos para uma prática ilícita. Não
seria esse o momento exato de questionar que mais louvável seria que a escola
adotasse também disciplinas como filosofia e essa disseminasse a ética na
informática?
Na Internet, os chamados “mercenários da Web” estão a
cooptar nossos filhos “feras” em computador para participar de “testes de
fragilidade nos sistemas”, na verdade invasões cuidadosamente planejadas com
fins ligados à espionagem industrial. Nossas filhas também são alvo das
pseudo-agências virtuais de modelos que precisam de uma primeira foto para
“análise” e uma mais ousada para completar o ciclo. O passo seguinte pode ser o
envolvimento involuntário nas redes de pornografia e de pedofilia.
Essas são as crianças e adolescentes que as escolas
sintonizadas com o que há de melhor da tecnologia da informação vêm formando?
Meninos e meninas “feras” em computação, mas incapazes de confrontar situações
desse tipo.
Quando indagadas sobre o projeto pedagógico que acompanha o
laboratório de informática, as escolas têm a resposta na ponta da língua:
“Estamos formando para o mercado”. Raríssimas são as que educam para um mercado
de trabalho cada vez mais competitivo e ao mesmo tempo para a formação de
cidadãos éticos, solidários e socialmente responsáveis. Escolas como essas não
existem? Existem sim e ministram, além de aulas de línguas estrangeiras e
informática, disciplinas fundamentais como filosofia.
É dessa escola que talvez surgiu um grupo de adolescentes
entre 13 e 17 anos dispostos a contribuir com seus conhecimentos no combate a
certo tipo de crime na Internet: a pedofilia. Num verdadeiro trabalho de
inteligência, os garotos identificam e destroem páginas com conteúdo pedófilo
na rede (ajudaram a Scotland Yard na última operação contra a pedofilia chamada
Katedral). O primeiro grupo conhecido por searchers (pesquisadores) localiza as
páginas e os provedores; o segundo grupo (watchers) estuda e mapeia as falhas do
sistema que então as repassa aos chamados intruders (invasores), que se
encarregam de destruir a página e, caso o provedor insista em permanecer
hospedando o conteúdo, tiram até o provedor do ar, causando um prejuízo ainda
maior. Muitos sentiram que por maior que seja o lucro com a indústria da
pedofilia não compensa o prejuízo causado pelos jovens ethical hackers (hackers
éticos) que, ao completarem 18 anos, já têm emprego garantido no grande mercado
de segurança da informação.
Portanto, amigo leitor que é também pai, mãe, educador(a) ou professor(a) e que
compartilha desta minha angústia, se a única coisa que a escola de seu filho
sabe fazer de melhor é o marketing do laboratório de informática, você não acha
que está na hora de repensar sua estratégia de escolha para o próximo ano?
Retirado de: http://www.subjudiceonline.com.br/dirint/Internet/Artigos/escola.htm