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TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO: NOVAS LINGUAGENS DO CONHECIMENTO

                                                                                                       Demócrito Reinaldo Filho

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O homem sempre demonstrou uma tendência a reagir contra o novo, o revolucionário, enfim contra tudo que, num primeiro momento, não esteja submetido ao seu domínio. É quase como um mecanismo de defesa, que dispara automaticamente quando alguma coisa parece ameaçar sua segurança. Daí porque não é difícil entender o pensamento daqueles que se antepõem às inovações tecnológicas, sobretudo quando estas importam na modificação frenética da forma como as coisas se processam na sociedade. Partem de uma falsa noção que procura antagonizar homem e máquina, como se os objetos técnicos nada contivessem da substância humana; como se não fossem criados e desenvolvidos pelo próprio homem, para ajudá-lo a melhorar o complexo mundo que ele mesmo criou. Na maioria dos casos, a origem desse comportamento tem raízes apenas na ignorância e ressentimento de alguns que se sentem ameaçados pelas máquinas de alta tecnologia, vistas como seres hostis que estão ocupando o lugar do homem na sociedade contemporânea. Mas, no mínimo, algumas considerações merecem ser feitas quando filósofos e pensadores respeitados passam a ver a relação homem-máquina como combinação de elementos na qual este tem muito a perder, e não como uma relação da qual possa tirar proveito e desenvolver-se.

É o que se discute em torno da informática contemporânea, ou seja, a informática de rede, que tem na Internet a concretização de um espaço ou mundo virtual (ciberespaço) que está gerando profundas modificações na forma do relacionamento humano. Alguns pensadores, considerados "apocalípticos", vêem na virtualização das relações por meio telemático um caminho para a degeneração dos valores humanos e para a perda de referências físicas e psíquicas. Baudrillard, por exemplo, chega a alertar para os perigos das novas tecnologias da informação, que podem proporcionar o fim da cultura, das artes etc. Lucien Sfez, por sua vez, aponta o tautismo (que seria uma síntese de tautologia + autismo), para definir o estado de alheamento do homem do mundo exterior, na realização de tarefas repetidas e troca de informações no espaço virtual, como paradigma da nova sociedade da informação.

Realmente, não podemos deixar de concordar que as novas tecnologias de comunicação estão proporcionando o aparecimento de um estilo de vida diferente de tudo o que estamos acostumados a vivenciar. O que não nos parece seguro é afirmar que as relações humanas estão sendo enfraquecidas pelas relações tecnológicas; melhor seria dizer que as relações humanas encontraram nova forma de expressão e desenvolvimento, completamente distintos do padrão a que estamos acostumados. As máquinas não possuem um desenvolvimento em tudo independente do homem, mas respondem à uma necessidade de evolução da própria humanidade. "A informática não tem mais nada a ver com computadores. Tem a ver com a vida das pessoas", adverte Nicolas Negroponte, um dos gurus da nova sociedade virtual e Prof. do respeitado MIT (Massachussets Institut of Technology), tentando explicar a importância do novo espaço virtual (ciberespaço) na nossa vida cotidiana. De fato, computadores operando em rede estão produzindo uma transformação tão fantástica e assustadoramente veloz na forma como as coisas se processam na sociedade, que o melhor seria tentar compreender como a Internet funciona e como se transforma.

A origem da informática está associada ao momento histórico em que o homem foi obrigado a transferir para máquinas o processamento de informações que ele não estava mais habilitado a controlá-las sozinho, necessárias para tomadas de decisões em um mundo complexo. Inicialmente, a arquitetura informática era inspirada em sistemas fechados e centralizados, baseados em grandes computadores (mainframes). Esses tipos de sistemas dominaram quase toda a história da informática, geridos por grandes empresas, e em que o usuário não tinha qualquer interferência e interação com os computadores. Com o passar do tempo, o avanço tecnológico permitiu o aperfeiçoamento do pequeno computador, que provocou uma pulverização no processamento computadorizado da informação. As empresas de menor porte puderam desenvolver seus próprios sistemas, mais baratos e que podiam interagir com os sistemas fechados. Mas ainda assim a informação de uma maneira geral era processada localmente, em unidades autônomas, sem que os computadores unissem suas capacidades e compartilhassem seus recursos. Só depois sobreveio a grande revolução dentro da própria revolução informática, quando os computadores passaram a ser interligados em rede.

Sílvio Meira, em seu último artigo publicado no site da Agência Estado, utiliza uma linguagem bem interessante para explicar, sob a perspectiva do consumidor, essas três gerações de computadores. Na primeira delas, os computadores ficavam atrás dos balcões de atendimento das empresas. Quem atendia o cliente, preenchia formulários e os entregava para processamento interno na empresa. Na segunda, os computadores migraram para o balcão de antendimento, onde um empregado da empresa realizava as operações pelo cliente e servia como intermediário entre ele e o sistema central de computação. Na terceira geração, o computador está depois do balcão, na forma dos terminais de acesso ao público, nas repartições, nos bancos, escolas e sobretudo nas próprias residências, nos serviços providos de acesso pela Internet. A principal característica desta última geração, portanto, é a mudança do foco da computação, que se transferiu da instituição e seus funcionários para o usuário final.

Se nos primórdios a informática era coisa para poucos, cientistas e técnicos, hoje torna-se cada vez mais indispensável à nossa vida cotidiana, até mesmo para a realização de simples tarefas domésticas, daí porque não se deve assumir uma postura avessa às novas tecnologias, mas procurar utilizá-las para aumentar nossa capacidade de troca e manipulação da informação. A habilidade que se exige do homem médio, do simples consumidor, no trato com as máquinas, é cada vez mais acessível, pois os sistemas de informação desta terceira geração são muito mais simples e fáceis de usar do que os anteriores. A simplicidade funciona mesmo como um diferencial competitivo entre as empresas de informática, pois uma coisa é vender produtos para informatas, pessoas com formação técnica, outra é alcançar o universo dos usuários domésticos.

As novas tecnologias da informação, sintetizadas no acesso à internet, constituem meios admiráveis para o descobrimento, a invenção e a criação humanas. As transformações que permitem são imensamente favoráveis aos indivíduos. A cultura e as artes ou qualquer outra forma de expressão da inteligência e sensibilidade humanas tendem a se desenvolver nesse novo mundo virtual, e não ao contrário. Nem tampouco iremos caminhar em direção a um futuro em que os homens passarão a viver num isolacionismo cada vez maior, alheado às relações com seus semelhantes mais próximos.

Em primeiro lugar porque é um engano pensar que com o surgimento do ciberespaço o ambiente natural vai ser alterado. O ciberespaço preserva os espaços antecedentes, do mundo concreto e físico, onde as atividades tradicionais irão permanecer. As relações interpessoais, sem a mediação dos meios eletrônicos de comunicação, continuarão a ser estabelecidas nas formas com que estamos acostumados. Em segundo lugar porque a marca mais acentuada da Internet é o cooperativismo, e não o isolamento. Isso tem explicação na própria origem da internet, nascida em meios acadêmicos, utilizada para troca de informações entre pesquisadores, mas também retrata a imensidão da rede, que ninguém, sozinho, consegue dominar e conhecer todo o seu funcionamento, daí porque necessita ser construída coletivamente, com o predomínio de uma ética que valoriza a troca de informações. Por fim, é preciso atentar que a internet é uma mídia totalmente diferente dos "classics media", ou seja, da mídia tradicional - o rádio e a televisão-, que funcionam pela irradiação das informações de uma fonte centralizada. Em razão de sua estrutura toda baseada no padrão de rede - ponto a ponto -, permite estabelecer um processo de comunicação interativo.

As características do mundo virtual, portanto, permitem potencializar as habilidades do indivíduo, que está diante de uma nova linguagem do conhecimento. Não é apenas a superioridade do hipertexto, que quebra a linearidade da escrita, permitindo estabelecer conexões múltiplas no texto. Mas todo um conjunto de ícones, comandos, sons e imagens, que deságua na sinergia da hipermídia, constituindo um formidável aparato para o desenvolvimento do intelecto humano.

É mais do que uma nova linguagem do conhecimento; é uma "metalinguagem", ou, como prefere Marcelo Araújo Franco, uma nova "Tecnologia Digital da Inteligência". Esclarece esse renomado educador e filósofo que a humanidade conheceu três formas de tecnologias da inteligência: a oralidade primária, a escrita e a informática. A escrita transformou toda a cultura e é responsável pelo domínio do conhecimento tal qual atualmente o conhecemos. A informática representa uma tecnologia intelectual muito mais sofisticada, que abre caminho para construção de novas experiências do conhecimento.

Disso tudo eu tenho a minha própria impressão: não são as máquinas que estão se transformando, mas o próprio homem, e para melhor, muito melhor. Por incrível que pareça, nossa geração está assistindo à construção de um modelo de homem superior, mais evoluído e inteligente.

Extraído de : http://www.infojus.com.br/area1/democritofilho5.html