A Web
está mudando a percepção que temos sobre privacidade. A Internet revolucionou o
modo como nos comunicamos, tornando possíveis novas e infinitas oportunidades
de interagir e compartilhar informações. Mas, se, por um lado, esta revolução
contribui para o desenvolvimento acelerado de uma comunidade virtual de âmbito
mundial, por outro lado, governos e organizações privadas, presentes na Web,
passaram a ter acesso e poder de processar informações sobre os indivíduos, num
ritmo cada vez mais rápido e intenso.
Isto significa que este meio de comunicação interativa está também aumentando o
risco para os indivíduos de ter seus dados manipulados por terceiros sem o seu
consentimento, sofrer invasão de privacidade ou, o que é mais grave, serem
envolvidos em situações embaraçosas, pelo uso indevido e nem sempre ético de
seus dados pessoais. As empresas também estão tendo que tomar decisões com uma
perspectiva totalmente nova.
Que ações podem ser consideradas danosas à privacidade do indivíduo e quais são
as meramente inconvenientes? Alguns resultados inconvenientes do aumento da
coleta de informações, como o entupimento da caixa do correio eletrônico, até podem
ser aceitos como o preço do progresso. Mas, o acesso de uma companhia de
seguros aos registros médicos de uma pessoa para determinar o grau de risco de
um contrato, é potencialmente danoso ao indivíduo.
Como essa capacidade de reunir tanta informação sobre o indivíduo está
fortemente apoiada nos avanços da Tecnologia da Informação (TI), é muito
importante, tanto para os profissionais da área de TI quanto para os de
marketing, compreender o significado da privacidade das informações pessoais,
para que possam colaborar no desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos
de proteção deste direito fundamental. A partir de 1998, entrou em vigor a
Diretiva de Proteção aos Dados da União Européia que provocou um aumento
significativo da potencial obrigação legal das organizações pelo mau uso das
informações pessoais coletadas.
Lá na Europa, e também nos Estados Unidos, diversas empresas têm sido
processadas e julgadas responsáveis pelo uso inadequado da TI em relação às
informações pessoais de seus usuários. Hoje, no Brasil, muitas organizações que
coletam dados pessoais dos usuários na Internet acreditam ter a propriedade
destes dados. Entretanto, é provável que as pessoas comecem a reclamar seus
direitos sobre seus próprios dados e requeiram indenizações pelo uso indevido.
Esta atitude, sem dúvida, resultará em grande impacto nos custos de coleta e
manutenção de dados, inviabilizando a implantação de novas técnicas de
marketing on-line, ferramentas que, se usadas de forma ética, beneficiarão o
mercado como um todo. Neste País, onde o problema da privacidade on-line ainda
permanece latente, a melhor estratégia é a auto-regulamentação sobre o uso
adequado e ético das informações pessoais na Web, que já vem sendo adotada por
algumas organizações, empresários e profissionais conscientes da importância do
tema.
Proteger a privacidade das informações do usuário talvez seja, para o marketing
na Internet, a garantia da boa vontade das pessoas continuarem a fornecer seus
dados pessoais. A proteção da privacidade compensa, porque a negligência ou o
excesso de astúcia, sem dúvida, podem trazer problemas e atrasar a inserção do
Brasil no cenário mundial do e-business.
Autores:
Marcelo Pessôa é especialista em Tecnologia da Informação, professor do
Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP e
presidente da Fundação Vanzolini.
Carlos Cabral, administrador formado pela FGV-SP, é diretor da Am-Pro, empresa
que criou o Programa de Privacidade On-Line em parceria com a Fundação
Vanzolini.
Retirado de: www.infoguerra.com.br