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Vasculhar
o e-mail dos funcionários pode terminar na Justiça
Os arapongas corporativos multiplicam-se nas empresas,
mas a bisbilhotagem pode acabar nos tribunais
Afinal
de contas, será que perco dinheiro porque os meus funcionários
passam parte do tempo trocando piadas e visitando sites de "gosto
duvidoso"?
No começo os fornecedores de softwares trouxeram as
novidades da Internet, do e-commerce, e-business, etc. E daí ? Daí
colocamos os micros por toda a empresa e até que os negócios
começaram a fluir.
Mas agora os fornecedores voltaram e nos vendem programas que
mostram quanto tempo e por onde meus funcionários navegam fora do
rumo comercial e como posso impedi-los de continuarem fazendo isso.
Para confundir as coisas, surgem notícias de empresas
que estão despedindo funcionários surfistas e o meu pessoal
de Recursos Humanos ao mesmo tempo que fala do ócio criativo, me
apresenta uma planilha com os tais acessos duvidosos.
Daria parte do meu lucro se o RH pudesse entrevistar os 20
funcionários do New York Times e os 40 da Xerox despedidos por acessarem
os tais sites duvidosos. Duvido que este tenha sido o motivo principal
da dispensa. Mas se foi, vai sobrar recurso tecnológico e faltar
a centelha da rebeldia.
Se a nossa empresa tem um sofisticado programa de saúde
que tirou do buraco aquele meu gerente alcoólatra, por que eu não
posso recuperar a saúde mental daquele eficiente vendedor viciado
em sites pornográficos? E deve me sair bem mais barato, porque o
vendedor não destruiu o carro da empresa e nem vomitou no carpete
da diretoria.
A coisa está meio confusa, porque se por um lado a Internet
ressalta a agilidade e a criatividade nos negócios, por outro força
o exercício da confiabilidade que marcará as próximas
relações de trabalho e até a nossa vida pessoal, com
indiscutíveis vitórias sobre a burocracia e a monitorização
das pessoas. Novos cenários serão construídos nessas
relações onde não haverá lugar para hipocrisias
delirantes.
A Internet vive o efeito êxtase. Há algum tempo
uma jovem inglesa morreu de uma overdose da droga e a mídia sustentou
elevadíssimos índices de audiência mostrando as trágicas
conseqüências da novidade. Mas o médico que atendeu a
garota agitou a história mostrando ao país que na mesma semana
morreram dezenas de outros jovens por alto consumo de bebidas alcoólicas,
sem merecer sequer registro num pequeno jornal. Assim como o êxtase,
a Internet ainda é uma novidade e com um vasto campo para exercício
da repressão e controle.
Enquanto as consultorias como a SBT Accounting Systems mostram
pesquisas em que os funcionários das grandes corporações
aumentaram o tempo de navegação por sites que não
dizem respeito ao negócio, as empresas de segurança vêm
duplicar o seu faturamento em apenas 1 ano, cerceando cada vez mais o acesso
e, consequentemente, a criatividade.
Outra desculpa de venda desses softwares "é impedir
o vazamento de informações estratégicas", como
se isso não fosse possível de ser feito pelo antigo programa
ax: o funcionário acessa o portal de saída da empresa com
todos os arquivos copiados num cd e levados debaixo das axilas. Em todas
essas situações as empresas que optarem apenas pelo controle
tecnológico, além de ficarem numa eterna brincadeira de gato
e rato com seus funcionários, perderão a concorrência
de mercado.
Enquanto a política na troca de e-mails e navegação
vai utilizando programas controladores e os discutíveis códigos
de ética que os funcionários são obrigados a assinar
quando entram na empresa, ainda são poucas aquelas preocupadas num
upgrade comportamental.
As batalhas jurídicas que se avizinham nas questões
de privacidade, liberdade de expressão, versos relações
trabalhistas, propriedade intelectual e armazenamento de informações,
terão de se adequar à esta poderosa ferramenta em que trabalho,
ócio e lazer perpassam seus diversos níveis. Com tudo isso,
é possível sim ainda ralar e continuar dando um rolé
pela rede.
Luiz Carlos Pires é articulista nos sites Patagon, Widesoft,
Writters, Nova Economia e Knowledge Management Press
Retirado
de : http://www.neofito.com.br/Doutrina.ASP?O=1&T=233
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