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A internet e a pornografia

 

Carlos Alberto di Franco

 

Freqüentes denúncias de pedofilia na internet demonstram que a rede se está transformando no principal meio de exploração sexual de crianças no País. Apesar de proibidas pela legislação brasileira - de acordo com o artigo 141 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é crime "fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança e adolescente" -, imagens de crianças em cenas de sexo podem ser encontradas na rede. Existem pessoas e empresas que põem à disposição do público arquivos com fotos pornográficas. Depois de localizadas, elas passam a circular entre usuários da rede e até em locais que poderiam ser considerados públicos - como as salas de bate-papo com imagens. A crescente presença da pornografia infantil na internet tem chocado a sociedade brasileira.

 
O problema, independentemente da justa indignação da opinião pública, não é de fácil solução. Envolve, de fato, inúmeras dificuldades de caráter político e operacional. Eventuais controles enfrentam um obstáculo concreto: o caráter mundial da Internet relativiza e enfraquece o poder coercitivo das legislações nacionais. Um mundo que não é capaz de estabelecer uma política unitária no combate às drogas dificilmente conseguirá desenhar uma plataforma comum na guerra à pornografia.

 
Na verdade, medidas preventivas são praticamente inexeqüíveis. Segundo especialistas no assunto, policiar um sistema tão vasto e com tantos recursos técnicos seria uma tarefa extremamente cara e de resultado incerto.

 
Embora seja possível bloquear o acesso aos sites publicamente conhecidos como pornográficos, os programas de filtros de conteúdo, apresentados como uma alternativa para impedir o acesso às páginas inconvenientes, minimiza o problema, mas não bloqueia a perversa criatividade dos delinqüentes do ciberespaço.

 
Os sites contendo pornografia infantil vivem à sombra da clandestinidade.

 
Tratando-se de atividade claramente criminosa, não estão presentes nos catálogos de endereços. Como os filtros costumam apoiar-se em palavras-chave, como sexo, acabam não só impossibilitando o ingresso em endereços pornográficos, mas também em páginas científicas, educativas, etc.

 
Paradoxalmente, textos moralmente corrosivos, mas redigidos com o cuidado de evitar as palavras "proibidas", seriam exibidos. O bloqueio de fotos (ou imagens) é tecnicamente ainda mais complicado. Afinal, precisar automaticamente o conteúdo de uma imagem é um dos principais problemas da área de pesquisa conhecida como "visão computacional".

 
Algumas medidas, no entanto, podem e devem ser adotadas. Quando identificados, os responsáveis pela divulgação de pornografia infantil, racismo, publicidade de drogas ou outros crimes devem ser rigorosamente punidos. Denunciar é um dever. Afinal, a rede mundial não pode ser transformada num instrumento da patologia e do crime. Podem-se, também, estimular mecanismos de auto-regulamentação. Associações de provedores poderiam definir um código de ética, conferir selos de qualidade a quem assumisse o compromisso de não difundir material imoral ou anti-social, publicar listas negras com o nome dos indesejáveis do ciberespaço, etc.

 

Os problemas levantados pelo mau uso da internet, embora gravíssimos, são infinitamente menores que os benefícios trazidos por esse notável canal de aproximação dos povos, de democratização dos conhecimentos e de globalização da solidariedade. Seus desvios não serão resolvidos por meio de ineficazes tutelas governamentais. Na verdade, a internet salienta uma nova realidade: chegou para todos, sobretudo para família, a hora da liberdade e da responsabilidade.

 
Os filtros são úteis, mas não substituem a presença da família. A educação para o exercício da liberdade é o grande desafio dos nossos dias. A aventura da liberdade responsável, desguarnecida de ilusórias intervenções do Estado, acabará gerando uma sociedade mais consciente e amadurecida.

O Estado de São Paulo, 14 de abril de 2003

Fonte: OESP

 

Retirado de: www.academus.com.br