Ciência e Tecnologia e os desafios brasileiros
José Israel Vargas (*)
Estabilizada a economia, graças
ao Plano Real, a política nacional de Ciência e Tecnologia tem como meta
contribuir decisivamente para o resgate da divida social brasileira e preparar
as bases para um crescimento sustentado e soberano em face de uma economia
globalizada.
Suas principais ações tem como
finalidade:
1 - Promover a educação
secundária básica e técnica como insumo fundamental para a tecnologia de novos
produtos e serviços.
2 - Promover a ligação da ciência
- até agora, amplamente localizada nas universidades - com a indústria e
aumentar sua participação nos gastos nacionais de C&T, limitados até
recentemente a meros 10 por cento do total, para uma participação de 40 por
cento até 1999 que é o padrão comum às economias desenvolvidas. Para este
objetivo, o Governo aprovou duas leis de incentivos fiscais (8.661 e 8.248) que
estão induzindo as indústrias a investirem em projetos de inovação tecnológica.
Os dados mais recentes mostram que as empresas estão respondendo aos estímulos
do Governo - sua participação nos gastos totais do país em C&T já mais do
que dobrou em relação ao patamar vigente no início dos anos 90. Cerca de 400
projetos já estão contratados sob essas duas leis, em um total de US$ 3,1
bilhões.
3 - A terceira ação refere-se a
um aumento substancial de recursos financeiros voltados para a ciência e
tecnologia, para atingir o nível de 1,5 por cento do Produto Interno Bruto
(PIB) ao final desta década em gastos globais com C&T e, assim, mais do que
dobrar os dispêndios verificados até 1992.
4 - Ampliar as infra-estruturas
de pesquisa e desenvolvimento particularmente a criação, ampliação e suporte
adicional para laboratórios dedicados principalmente aa novos materiais,
computação e ciências do espaço e estudos do meio ambiente.
5 - Lançar novos programas para
promover núcleos de excelência em ciência e tecnologia básicas - ex.: o
Programa Nacional de Núcleos de Excelência (PRONEX) que atualmente beneficia 77
grupos de pesquisa.
6 - Popularizar a ciência por
meio da concessão de vários prêmios e apoios à ciência, particularmente para os
jovens cientistas, pela administração federal e estadual ou juntamente com
organizações privadas. Por ano, há em torno de 20 mil apoios para jovens
cientistas.
7 - Garantir altas taxas de
investimentos necessárias para atingir estes ambiciosos objetivos - a
administração federal está negociando, em complementação a seus recursos
próprios: a) - empréstimos de instituições internacionais como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial (BIRD); b) - aumentar
a participação financeira dos Estados; c) - Fundos do setor privado; d) -
recursos provenientes de royalties na exploração ou concessão de serviços
transferidos ao setor privado.
Alguns indicadores de sucesso ao
longo destes últimos anos podem ser citados:
1 - A taxa de crescimento da
participação brasileira nas publicações científicas internacionais nos 15 anos
compreendidos pelo período 1981-1995 foi 57 por cento maior do que a média do
crescimento mundial no mesmo período. Quando nós calcularmos a produção
científica em função do PIB, o Brasil localiza-se em um razoável alto nível
entre os doze primeiros países. Em alguns campos ou disciplinas básicas, como
agricultura, biologia molecular, astrofísicas, matemática, físicas e ciências
sociais, a performance brasileira atinge níveis respeitáveis. A contribuição
brasileira às ciências, fundamentais, como por exemplo, física experimental e
teórica, matemática e microbiologia, entre outras, devem ser citadas.
2 - O número de bolsas de 1990 em
diante aumentou para 12 por cento ao ano. O número de bolsistas - doutores
dobrou em cinco anos a uma taxa anual de 15 por cento. Mas, ainda há um
desequilíbrio na distribuição entre diferentes áreas para os primeiros graus
universitários, como conseqüente distorção nos níveis da graduação. No Brasil,
54 por cento dos estudantes universitários são de ciências sociais, 36 por
cento de ciências naturais (incluindo ciências básicas, de saúde e ciências agrícolas);
e somente 10 por cento engenharia. Esta injusta distribuição deve ser comparada
a dados de outros países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento.
3 - Os programas nacionais
aeronáuticos e do espaço levaram a interessantes desenvolvimentos tecnológicos
bem como a algumas conquistas industriais e comerciais. As aeronaves para vôos
regionais, tanto com motores convencionais como a jato, tiveram considerável
sucesso comercial no exterior. Na área espacial, o primeiro satélite planejado
e construído no Brasil está operacional há mais de quatro anos, desde fevereiro
de 1993. Ele tem coletado importante informação ambiental sobre as florestas
tropicais, reservatórios de água e dados oceânicos.
Adicionalmente ao satélite SCD-1,
atualmente em órbita, dois outros satélites estão prontos para ir ao espaço. O
SCD-2A será lançado neste mês de novembro por um lançador brasileiro, na base
de Alcântara, no Maranhão. Complementarmente ao CBERS (Satélite Sino-Brasileiro
de Recursos Terrestres, em desenvolvimento por acordo Brasil-China), o primeiro
satélite de sensoriamento remoto de baixa altitude de orbita equatorial está
sendo desenvolvido e trará consideráveis benefícios aos países equatoriais,
especialmente nas regiões amazônica e africana.
Além do desenvolvimento conjunto
de satélites com a China, a participação do Brasil na futura Estação Orbital
Internacional foi aprovada. Ela ampliará as oportunidades de pesquisa no campo
da microgravidade e deverá ser iniciada por intermédio de dois micro satélites
de pesquisa a serem lançados com a China e França. Como uma conseqüência direta
do Programa Espacial Brasileiro, estudos avançados sobre tempo e clima de
importância internacional estão sendo desenvolvidos por nossa principal
instituição de pesquisa espacial, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).
A tecnologia da informação,
particularmente nos setores de microeletrônica e software, está sendo
desenvolvida rapidamente nos últimos cinco anos como se pode ver, por exemplo,
na rápida expansão de redes.
A Internet foi implantada por
meio do back bone da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) com uma taxa de
crescimento no ano passado de 800 por cento. Estamos trabalhando junto com os
Estados Unidos para a participação brasileira em uma rede, que vem sendo
chamada de Internet 2, a uma velocidade extremamente superior à da Internet
comercial, o que nos permitirá novos avanços na transmissão de dados e execução
de complexas operações para o incremento da pesquisa científica do país. Apesar
destas histórias de sucesso muito falta para ser feito.
Este é um árduo e desafiador
caminho ao progresso, que se torna ainda mais necessário em face dos tremendos
avanços nas inovações tecnológicas, especialmente nos países industrializados.
Não há outra via para superar o
subdesenvolvimento e a concomitante iniquidade social que prevalece na maioria
dos países em desenvolvimento, e, mais fortemente, em algumas regiões como no
Brasil - que pode ser mais propriamente considerado como injusto do que
subdesenvolvido, como tem dito o presidente Fernando Henrique Cardoso.
(*) Ministro de Estado de Ciência
e Tecnologia