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Futuras inovações tecnológicas
Waldir L. Roque (*)
O último número de uma das mais
respeitadas revistas sobre tecnologia e inovação aponta as dez mais importantes
áreas emergentes e que serão responsáveis, nos próximos anos, pelos grandes
avanços tecnológicos, com inovações radicais e incrementais. Tais áreas são:
Redes de sensores sem fio, engenharia de tecidos orgânicos injetáveis,
nano-células solares, mecatrônica, malhas computacionais, imageamento
molecular, litografia por nano-impressão, garantia de software, glicômicos e
criptografia quântica. São áreas que requerem uma grande capacidade científica
para seus desenvolvimentos, e portanto, recursos humanos qualificados para
atuarem em pesquisas avançadas.
Por outro lado, os benefícios
advindos de tais áreas urgem uma capacitação tecnológica e industrial que seja
capaz de receber os avanços e converte-los em produtos com alto retorno de
capital. O sucesso destas áreas, como fontes de processos de inovação
tecnológica, depende fortemente da aplicação de recursos estáveis, os quais,
nos Estados Unidos, são provenientes de fundos públicos e privados.
No Brasil, a pesquisa é
essencialmente realizada nas universidades e centros de pesquisas, que na sua
maioria são instituições de natureza pública. Das áreas tecnologicamente
emergentes, algumas são investigadas por poucos pesquisadores nacionais,
estando longe de termos condição de competitividade e transferência de
tecnologia. Nos Estados Unidos tais áreas recebem um volume de recurso muito
superior ao orçamento de nossas agências de fomento à pesquisa, o que coloca
nossa competitividade à níveis irrisórios.
Apenas um único projeto de
pesquisa na área de glicômicos dispõe de um financiamento público de US$ 34
milhões para um período de cinco anos. O valor deste projeto é superior a todo
o recurso do CNPq destinado ao auxílio à pesquisa do ano de 2000, que foi de
US$ 27.5 milhões.
No lado tecnológico, o grosso da
produção industrial brasileira é caracterizado por sua baixa e média-baixa
tecnologia, sendo menos de 10% da receita liquida industrial proveniente da
produção caracterizada como de alta tecnologia. As baixas tecnologias não
possuem grande valor agregado e por isso não apresentam um alto valor de
retorno. São tecnologias que vão aos poucos se tornando uma espécie de
commodities tecnológicas. Um estudo recente, publicado na Revista Brasileira de
Inovação Tecnológica, mostra que o sistema brasileiro de inovação é imaturo e
altamente concentrado, o que não favorece em nada o processo inovador. Além do
mais, a falta de uma política industrial adequada para o setor não favorece à
criação de um sistema nacional de inovação tecnológica.
No Brasil a probabilidade de uma
empresa multinacional exportar é sete vezes maior que uma empresa nacional.
Isto evidencia a vulnerabilidade do nosso sistema industrial. Deste modo, é
importante que políticas de desenvolvimento regional sejam realizadas, que o
fortalecimento do sistema de fomento à pesquisa no setor público e privado seja
seriamente estimulado e que incentivos à cooperação acadêmica-industrial sejam
considerados como metas prioritárias dos governos. Os programas de cunho social
adotados pelos governos só serão realmente eficazes se o país for capaz de
criar novos postos de trabalho e isto só será alcançado se ampliarmos a nossa
competitividade tecnológica, favorecendo o crescimento econômico.
(*) Waldir L. Roque é professor
do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Contato: Fone: (051) 3316.6202, Fax: (051) 3316.7301. Email: roque@mat.ufrgs.br