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A TECNOLOGIA, A EDUCAÇÃO E A FÉ

O impacto do avanço tecnológico no ser humano.

Dom Fernando Antônio Figueiredo

 

Muito se ouve falar dos avanços tecnológicos alcançados pela ciência e os benefícios ou malefícios provocados pelo seu uso. Em tempos de globalização, torna-se cada vez mais necessário refletirmos sobre os rumos do nosso planeta. Para tanto, basta uma rápida viagem sobre nossa História recente para percebermos que o que estamos vivendo pode ser comparado a uma terceira onda de um movimento que teve como origem a denominada Revolução Industrial.

Nos últimos três séculos, a humanidade vivenciou duas ondas dessa revolução industrial que modificaram de forma significativa a vida das pessoas.

Nesse período, ocorreu um grande desenvolvimento dos transportes, a partir da descoberta da locomotiva e do barco a vapor. Houve modificação das formas de produção. Com a difusão da aplicação da força motriz mecanizada, verifica-se uma expansão na atividade têxtil, com a criação da máquina de fiar, da atividade de mineração e o início da indústria pesada (aço e máquinas). Em conseqüência, ocorre uma enorme migração de moradores do campo para as cidades. O sistema fabril experimentou novas formas de produção com o surgimento da fabricação em série, a qual imprimiu um ritmo mais adequado às necessidades de consumo da época. A produção artesanal foi sendo gradualmente substituída pela produção mecanizada, trazendo o desemprego, o subemprego e a revolta dos que se encontravam na miséria.

Não se pode negar os avanços econômicos e sociais que surgiram a partir destas mudanças, mas também se deve destacar o aparecimento de regimes totalitários, que culminaram com a explosão da primeira grande guerra mundial.

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A educação e a integração familiar

Na produção artesanal, a integração familiar ocorria de forma natural, pois o contato entre pais e filhos era essencial para o desenvolvimento das atividades rotineiras. Por meio desses mecanismos eram repassados os conhecimentos e habilidades acumuladas pelos mais velhos, oportunidade privilegiada para a disseminação dos valores morais que constituíam a base familiar. Com a introdução da produção mecanizada e em série, aliada ao êxodo rural, essa situação vai sendo alterada, tornando cada vez mais escassos os contatos familiares.

No cenário atual, o que se nota é uma mudança radical no setor produtivo, onde a mecanização e a automação industrial exigem do trabalhador uma constante atualização, pois as máquinas que estão substituindo milhares de trabalhadores tornam-se cada vez mais sofisticadas. O indivíduo que as controla deve ter conhecimentos razoáveis de informática aliados aos específicos da linha de produtos que fabrica.

Os otimistas avaliam que isso tornará a vida do homem cada vez melhor, pois, com as máquinas assumindo as atividades mais mecânicas, que exijam esforço físico, mais tempo sobrará para o lazer, permitindo ao homem uma retomada de contato com a natureza. Nessa era, em que o conhecimento é supervalorizado, espera-se que venha a ocorrer o reencontro do homem com sua essência. O mundo que se vislumbra é totalmente diferente do atual. Com o avanço das comunicações, o local de trabalho deixará de ser um problema, pois a atividade principal do homem será intelectual, podendo ser realizada de qualquer lugar, até mesmo de sua casa.

Nesse contexto, a educação, na forma que se pratica hoje, será gradualmente substituída devido às facilidades oferecidas pelo ensino a distância.

As distâncias serão encurtadas e os repasses de informações ocorrerão em tempo real. Podem ser acrescidos a essas os efeitos multimídias, que tornarão a transmissão do conhecimento algo mais prazeroso. Há, porém, um lado desta questão, que torna esse cenário um tanto quanto sombrio e que diz respeito à grande massa de indivíduos excluídos desse novo mundo, simplesmente por não possuírem os requisitos necessários para conviverem com esta realidade.

Se observarmos os dados fornecidos pelo Ministério da Educação, a partir do IBGE, em 1999, a taxa de analfabetismo da população brasileira, na faixa etária de 15 anos, situava-se no patamar de 13% , evoluindo para 29%, na faixa etária de 50 anos. O que irá ocorrer com esses indivíduos? O exercício de sua cidadania e dignidade humana resume-se em acessar informações simples como um nome de rua, placas informativas, notícias de jornais e revista. Se formos a extremos, poderemos afirmar que essa situação é comparável à cegueira pelo fato de impedi-los de enxergar uma outra realidade. A mesma fonte anterior cita que 3.000.000 de brasileiros estavam matriculados em programas voltados para a formação de jovens e adultos. Esse esforço governamental, para resolver a exclusão, embora significativo, ainda é insuficiente dada a magnitude do problema.

Voltando a História, nesses séculos em que se desenrolaram as várias fase da Revolução Industrial, estes excluídos tiveram como companheiros, a fé, que no caso de muitos, tornou-se a mola propulsora de suas vidas.

A fé e a educação

A Igreja, nesse atual estágio, tem um papel decisivo quanto aos rumos da Humanidade. Cabe a ela apontar caminhos que permita aos que já não têm oportunidades concretas o reencontro com sua dignidade. Um deles é a Educação, que começa pela oferta de vagas em programas de formação de jovens e adultos, sendo necessariamente associada a programas de capacitação profissional, os quais permitirão a milhares de pessoas, o início de uma nova caminhada profissional e pessoal.

Todas as forças vivas da sociedade devem se unir para atingir este ideal, pois do êxito desta empreitada dependerá o nosso futuro. Faz parte da missão da igreja não deixar jamais de se omitir, a educação social, cívica e política, incluindo a educação para a justiça. Esta ação será sempre iluminada pela fé, pois o objetivo último é a realização integral da pessoa humana na vivência dos valores intelectuais, morais e espirituais.

 

Em colaboração com Fernando Antônio Arantes

 

Dom Fernando Antonio Figueiredo é bispo de Santo Amaro, presidente da CNBB- Sul e presidente da Mantenedora do Instituto Tecnológico Diocesano e do Colégio Meninópolis.

Fernando Antonio Arantes é professor, mestre em Educação e diretor Geral do Instituto Tecnológico Diocesano e do Colégio Diocesano Meninópolis.