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A EAD: o desafio continua?

Lígia Silva Leite, Doutora em Educação

University of Central Florida

Nova Southeastern University

email: andyligia@earthlink.net

cbleite@gbl.com.br


Não estamos vivendo nenhuma Grande Depressão, mas

a oportunidade econômica é um desafio constante,

principalmente em um mundo tecnológico,

no qual a educação é mais importante do que nunca.

Brokaw, 1999.

O livro de Brokaw, "The Greatest Generation" discorre de modo simples e comovente sobre a história de norte-americanos que participaram da II Guerra Mundial, formando, na sua opinião, a geração mais unida de todos os tempos. Hoje, algumas dessas pessoas já não estão entre nós, outras estão esquecidas, ou melhor, nunca foram notadas, mas alguns chegaram a altos postos políticos e ainda fazem notícia.

O que tudo isso tem a ver com a educação a distância (EAD)? Não muito, mas talvez alguns deles tenham passado pelos programas de EAD das grandes universidades norte-americanas comuns também naquela época. Não importa. O que me chamou a atenção foi a referência de Brokaw à importância da educação no mundo de hoje.

A tecnologia prevalece atualmente em todo o mundo, dita normas, padrões e nos pressiona a nunca parar de mudar, de aprender… O novo nos surpreende a cada instante e as autoridades nos lembram que precisamos formar cidadãos preparados para viver e sobreviver neste mundo tecnológico. E a EAD ressurge neste cenário como uma ferramenta aparentemente poderosa e capaz de solucionar os desafios impostos pela nova ordem econômico-social do mundo tecnológico. Daí Noble nos lembrar que "as universidades descobriram o mercado do século XXI."

Todos sabemos que a EAD nao é novidade no cenário pedagógico. Referências a iniciativas utilizando esta modalidade de ensino podem ser encontradas há alguns séculos em variados países.

É Noble, em seu artigo "De Volta à Ruina?", que chama a atenção para o fato de nos anos 20 e 30 universidades norte-americanas como as de Columbia, Wisconsin e da Califórnia, muitas vezes em convênio com grandes empresas, oferecerem cursos de EAD. Ele deixa claro que a grande preocupação dessas iniciativas era o lucro, pois " A força de trabalho de todas as escolas é, de fato, direcionada ao desenvolvimento do seu poder de venda." Penso que não venda pedagógica do produto, concentrando-se na qualidade pedagógica dos cursos oferecidos, investindo alto nos profissionais de EAD e nos materiais desenvolvidos. A ênfase era na propaganda e o objetivo matricular o maior número possível de alunos, mesmo que eles viessem a desistir do curso; desse modo o "lucro da desistência" já estaria garantido, pois as mensalidades já teriam sido pagas antecipadamente.

Paro e penso: será essa uma prática exclusiva dos cursos de EAD? Será essa uma prática exclusiva dos cursos oferecidos naquela época e por aquelas instituições? Os cursos presenciais oferecidos ontem e hoje privilegiam a qualidade do seu ensino? Os professores desssas instituições têm preparo e remuneração adequados ao trabalhos que se propõem a desenvolver?

Mais adiante no seu texto, Noble nos lembra que hoje os profissinais da educação estão "Enfeitiçados pela tecnologia e pelo futuro, eles [os profissionais da educação] não dão importância às lições desta experiência exemplar. O fator comercial, porém, ainda é mais forte desta vez". Por que será? O mundo hoje é mais complexo em termos de competitividade, pressão para o sucesso e para a geração de lucros. A educação há muito não busca os ideais gregos e romanos de plena realização do homem, de formação de homens felizes, mas tornou-se um recurso importante para dar ao homem moderno acesso aos bens de consumo que o rodeiam… que realidade cruel!!!

Devido ao grande aumento da população mundial na segunda metade deste século, além do fator democratizante da educação neste mesmo período, é preciso ressaltar o fato de que hoje a demanda por educação nos diferentes níveis de ensino e de especialização é muito maior do que há décadas. Assim a EAD pode hoje se tornar uma alternativa de ensino viável se não nos descuidarmos da sua qualidade pedagógica. Qualidade esta que pode ser igualmente negligenciada pelas insitutições de ensino presencial que optam pelo atendimento a um maior número de alunos sobrepondo o lucro comercial ao lucro pedagógico/educacional.

Voltando a Brokaw que nos lembra que mesmo não estando vivendo os horrores da Grande Depressão dos anos 30 nos Estados Unidos continuamos expostos a constantes desafios para garantir nossa sobrevivência. Mais importante ainda, a meu ver, é nos lembrarmos sempre que a educação vem se impondo como fator determinante nem sempre de ascensão social mas de sobrevivência. Quem não tem "diploma" tem maiores chances de exclusão social e econômica.

O contingente das novas gerações a serem educadas aumenta a cada dia e a educação se vê diante do desafio de cumprir o seu papel social de preparar os cidadãos para uma vida digna. Não importa o caminho escolhido: presencial ou a distância, o que importa é a maneira como faremos chegar essa educação aos nossos alunos. Se a ênfase for o lucro financeiro e não o pedagógico com certeza não voltaremos mas continuaremos na ruína e estaremos deixando de aproveitar mais uma oportunidade no ciclo da história pedagógica de fazermos uma educação de qualidade.

O desafio continua…