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As transformações da subjetividade
no contexto das tecnologias intelectuais contemporâneas

Celso Candido

Introdução



A emergência das novas "tecnologias da inteligência", introduz no campo das relações humanas e subjetivas um conjunto de dispositivos absolutamente originais que vai determinar, a nossa ver, importantes mutações. Para dar conta dste conjunto de dispositivos de subjetivação, propomos aqui a expressão já conhecida de hipermídia, ou também mídia cibernetica. A hipermídia, abre horizontes inusitados para se pensar a questão da subjetividade. Profundas alterações nas noções tradicionais de tempo e espaço estão sendo criadas e recriadas nas relações de comunicação dos e entre os indivíduos e grupos sociais, os quais apontam nitidamente para transformações da subjetividade. As potencialidades e promessas são muitas, mas também, muitos são os perigos de novas exclusões e novas divisões do trabalho.

A hipermídia - junção de quase todas as mídias historicamente constituídas pela civilização humana em uma única e interativa forma digital -, permite a instituição de novas relações subjetivas com a cultura, a política, a economia e a ecologia.

A possibilidade de acesso e apropriação subjetiva de praticamente a totalidade da riqueza cultural produzida pela humanidade ao longo dos séculos é absolutamente inédita na história da civilização. Trata-se de uma nova e grande biblioteca multimídia, mundial e virtual, de acesso livre a qualquer cidadão do planeta. De certa forma, aquela divisão do trabalho existente entre os países avançados e os atrasados no campo das ciências tenderão a desaparecer. Não importa muito, o lugar no qual vive o pesquisador, mas simplesmente do fato de que ele tenha acesso à rede mundial de computadores. Neste sentido, as antigas divisões do trabalho entre o campo e a cidade tendem, também, a se atenuarem, uma vez que o acesso ao conhecimento e à cultura os quais antes da "vida digital" se encontravam apenas nos grandes centros urbanos, estão ou estarão a partir de agora disponíveis a todos, independentemente do lugar aonde moram, quer no campo, quer na cidade. Universidades virtuais já começam a tomar existência no interior da grande rede. Neste contexto, muda inclusive o modo próprio como o humano percebe e "conhece" o mundo a sua volta.

A emergência da hipermídia coloca, também, no horizonte o desenvolvimento de todo um novo campo econômico e uma nova subjetividade econômica. No seu interior abrem-se as portas para um avanço extraordinário nas forças produtivas. Pelo modo próprio de ser da hipermídia, que é cibernético e desterritorializado, abre-se um campo produtivo "sem fim" em seu interior. Mudam as coordenadas de tempo e de espaço. Surge aquilo que Alvin Toffler chamou a "Cabana Eletrônica", ou seja, a residência do cidadão comum como centro produtivo. Ao mesmo tempo em que a hipermídia (o computador articulado em rede) abre novos campos de trabalho - em especial no campo da cultura e da comunicação -, reduz custos de produção e agiliza as transações comerciais, ela ainda possibilitará, em um futuro talvez não muito distante, uma redução geral da jornada de trabalho braçal do humano e, consequentemente, uma reapropriação do tempo livre.

Esta nova mídia poderá, ainda, resultar em economias radicais para o conjunto da natureza do planeta, através das vias digitais (as "ecovias") e dos bens digitais. Por exemplo, a indústria do livro, do vídeo, da música. Todo um novo modo de produzir, registrar, distribuir e consumir tais bens são instituídos no interior da hipermídia. O livro impresso tradicional demanda procedimentos típicos da sociedade industrial tais como prensagem em folhas de papel, distribuição por avião, caminhão ou navio, lojas para estocar e vender, até finalmente chegar ao consumidor final. Neste processo, por exemplo, um livro de um milhão de cópias para ser produzido, distribuído e consumido implica em conjunto de gastos da natureza consideráveis; milhares de árvores derrubadas para produção do papel; centenas de litros de combustível para ser transportado; e depois, ainda, os deslocamentos necessários do consumidor final para chegar até a livraria. No contexto do livro digital são eliminados a maioria dos procedimentos industriais, tais como a prensagem, a distribuição e os deslocamentos do consumidor final. O livro digital está ali, na tela do computador. Ele é também um livro virtual. Ele pode ser lido por dezenas ou um milhão de pessoas no mundo inteiro, sem mudar em praticamente nada seus custos de produção, registro e distribuição.

Enfim, a possibilidade de acesso às informações e uma reapropriação do fazer político em primeira pessoa com a hipermídia interativa está uma vez mais colocada. Os novos instrumentos digitais do "fazer" e do "pensar" sociais permitem a participação virtual dos cidadãos em todos os debates e em todas as decisões políticas referentes ao seu Estado - e também, ao seu mundo. Aquela que havia sido sempre a principal objeção contra a democracia direta, em favor da democracia representativa, ou seja, o tamanho dos novos Estados modernos e suas grandes concentrações populacionais, no contexto de emergência da hipermídia, perde todo sentido. Neste contexto, surge a possibilidade de instituição da Ágora Virtual.

Evidentemente, os processos são complexos, dinâmicos e contraditórios. A emergêncida da hipermídia poderá também trazer novas exclusões sociais, talvez ainda mais brutais do que aquelas que até então havíamos experimentado, caso não sejam tomadas decisões políticas capazes de dar um sentido positivo às suas potencialidades inerentes em termos de trabalho, liberdade e conhecimento.

Estas considerações pretendem esclarecer algumas questões fundamentais para compreender o princípio e o alcance das transformações subjetivas em curso com a emergência desta mídia cibernética. Para isto, a exposição será feita em duas partes. A primeira procurará destacar aspectos gerais e de fundamentação relativamente a instituição da nova mídia, enquanto a segunda, procurará destacar as transformações em curso ou potenciais da subjetividade a partir da consideração dos quatro campos de análise evocados anteriormente, a saber: a subjetivação ecológica, econômica, cultural e política.
 
 

Primeira Parte
 

§ 1.
A comunicação como princípio de organização social




A comunicação é o primeiro dado de uma sociedade. Sem a comunicação seria impensável o elemento gregário, o viver em comunidade. Não haveria possibilidade alguma de interação social. Um gesto, uma palavra, uma emoção para existirem, por assim dizer, devem ser passíveis de comunicação. O que não pode ser comunicado não pode existir. É por isto que os meios de comunicação têm sempre tanto poder em nossas sociedades. Quem os controla, controla a vida em sociedade. Literalmente hoje em dia nós compreendemos e interpretamos o mundo a partir do que vemos, ouvimos e lemos nos meios de comunicação.

A comunicação e a informação são tão importantes para a vida da cidadania quanto, por exemplo, a habitação, a luz, o pão, as ruas, a coleta e reciclagem do lixo, etc. O que é preciso considerar é que o imaginário político é definido essencialmente pelos processos de comunicação e informação. Muito daquele processo que chamamos de paidéia ou a formação subjetiva é, em grande parte, elaborado e definido nestes processos de comunicação e informação. Elas são formas sem as quais a cidadania não pode ser exercida no cotidiano da polis. Dependendo dos níveis, do que e como se comunica um governo e seus governados, os cidadãos entre si, diferentes serão as formas da cidadania.

Para Aristóteles o humano, "animal naturalmente político", distingue-se dos outros animais por ser o único capaz de se utilizar da linguagem para existir em sociedade. Diferentemente dos outros animais que só podem manifestar-se por meio dos sons difusos o que agrada e desagrada, os seres humanos trocam palavras. Esta "troca de palavras é o laço de união de qualquer sociedade". O uso da linguagem é o que permite aos seres humanos distinguirem o certo do errado e o justo do injusto. Desta forma, apenas os homens possuem o sentido do que seja o "bem" e o "mal". Diz Aristóteles,
 
 

"A natureza, como nós frequentemente dizemos, não faz nada em vão e o homem é o único animal que ela dotou com a faculdade da linguagem. E enquanto a mera voz é porém uma indicação de prazer ou sofrimento, e está portanto presente nos outros animais (...), o poder de linguagem pretende estabelecer, além disso, o conveniente e inconveniente, e portanto igualmente o justo e o injusto. E é uma característica do homem o fato de que apenas ele tem algum sentido de bem e mal, de justo e injusto (...)" (Aristóteles, Tratado da Política, Livro I) A linguagem é, portanto, o meio através do qual os humanos, em sua singularidade natural, comunicam-se e, consequntemente, relacionam-se entre si. Neste processo de comunicação as sociedades fundam suas leis e organizam seus Estados. Neste processo de comunicação ainda os seres humanos transmitem e adquirem conhecimentos e valores. É aí, pois que se processa grande parte da produção de subjetividade.

O discurso oral, o texto impresso, o rádio, a televisão são meios técnicos que suportam, produzem, registram, transmitem idéias, signos, valores, subjetividades e através dos quais a linguagem humana se faz existir. Tais meios técnicos constituem aquilo que chamamos "mídia". A mídia é o suporte tecno-intelectual da linguagem humana. A mídia é o meio da linguagem. Assim, a mídia será o meio através do qual os cidadãos elaboram suas representações do mundo, seus hábitos, seus valores e constituem as formas éticas e políticas de sua subjetividade.

§ 2.
As idades da mídia




Ao longo da história humana, a linguagem, a troca de palavras e sentidos, assumiu distintas formas, segundo as diferentes técnicas de comunicação criadas e recriadas pela humanidade.

Para Pierre Lévy, seriam, sinteticamente, três formas fundamentais a partir das quais a humanidade organizou suas "tecnologias da inteligência", suas mídias da linguagem. Segundo ele, os "três tempos do espírito" seriam: primeiro, a "oralidade primária", fase da liguagem ou mídia oral; segundo, aquele baseado na linguagem "escrita"; e terceiro, aquela fase baseada na linguagem ou mídia "informática", o que ele chama "hipertexto". (Pierre Lévy, A Tecnologias da Inteligência,  Cap. II)

A mídia, ainda rudimentar, do passado pré-escrita, era a pura oralidade. Com este suporte (o oral) os indivíduos e os povos comunicavam-se entre si em busca de entendendimento, paz ou guerra. A linguagem era essencialmente oral. A oralidade, desta forma, organizava todo o campo de coexistência racional entre os seres humanos. Uma mensagem, uma declaração de paz ou guerra, de um rei a outro, era levada pelo "mensageiro" pela mídia oral. Quer dizer, o "mensageiro" era o encarregado de "dizer" oralmente ao outro rei a mensagem do primeiro. E assim foi durante longas eras de nossa civilização. Outros meios também foram inventados remotamente. A fumaça como sinal, os cantos, o teatro, a música. Mas o meio essencial de comunicação entre os seres humanos era a palavra oral. E as relações sociais eram praticamente todas determinadas por tal forma de comunicação.
 
 

"A oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita (...).

"Numa sociedade oral primária, quase todo o edifício cultural está fundado sobre as lembranças dos indivíduos. A inteligência, nestas sociedades, encontra-se muitas vezes identificada com a memória, sobretudo com a auditiva. (...) Nas épocas que antecediam a escrita (...) o oral era um canal habitual de informação.

"Nas sociedades sem escrita, a produção de espaço-tempo está quase totalmente baseada na memória humana associada ao manejo da linguagem." (Pierre Lévy, Op. Cit., p. 77/78)
 
 
 
 

Assim, em tais sociedades toda a produção e transmissão do conhecimento e dos valores ancestrais dependiam quase exclusivamente do uso da oralidade. "Nestas culturas, qualquer proposição que não seja periodicamente retomada e repetida em voz alta está condenada a desaparecer." (Pierre Lévy, Op. Cit., p. 83) Com a invenção da escrita e em seguida dos meios de reprodução do texto, um novo suporte midiático é instituído e, com ele, novas possibilidades de relações sociais, de produção de comunicação das leis, dos saberes, dos tratados. O texto impresso permite ao humano uma apropriação de uma certa quantidade de saberes impensável nas épocas anteriores da mídia oral. Uma idéia não precisa mais de uma retórica para ser transmitida e conhecida. O livro permite a apropriação de uma idéia muito distante do seu local de origem e em uma quantidade infinitamente superior do simples recurso do discurso. "A escrita permite uma situação prática de comunicação radicalmente nova. Pela primeira vez os discursos podem ser separados das circunstâncias particulares em que foram produzidos." (Pierre Lévy, Op. Cit., p. 83) Aqui, a memória e a inteligência não necessitam mais encarnar em uma entidade viva. Assim, é a escrita vai permitir uma nova organização política da sociedade. "Através dos anais, arquivos administrativos, leis, regulamentos e contas, o Estado tenta de todas as maneiras congelar, programar, represar ou estocar seu futuro e seu passado. (...)

"A escrita serve para a gestão dos grandes domínios agrícolas e para a organização da corvéia dos impostos. (Pierre Lévy, Op. Cit., p. 83)
 
 
 
 

Com a emergência da escrita e sua institucionalização os indivíduos passam a conhecer a partir de uma nova forma. Ainda segundo Pierre Lévy, "(...) diversos trabalhos de antropologia demonstraram que os indivíduos de culturas escritas têm tendência a pensar por categorias enquanto que as pessoas de culturas orais captam primeiro as situações (...)." (Pierre Lévy, Op. Cit., p. 83) Assim, a escrita vai reinstituir o mundo humano e suas formas de transmitir informação e conhecimento e sua forma de organização política. A escrita será, por vários séculos, a mídia fundamental de comunicação e subjetivação das sociedades até o século XIX.
§ 3.
Os meios de comunicação de massa eletrônicos

Com o rádio muda-se mais uma vez o dispositivo de transmissão da informação. Enquanto um jornal impresso deveria ser entregue, um a um, ser transportado de casa em casa, cidade em cidade, país a país, o meio rádio vai permitir um deslocamento em "tempo real" da informação e uma possibilidade de transmissão e consumo da mesma instantaneamente. Uma descoberta científica ou um acontecimento político importante que no tempo da oralidade levaria talvez dezenas de anos ou talvez nem mesmo saísse do seu lugar de origem e que na era do texto impresso levaria quem sabe um mês ou um ano para chegar ao mundo inteiro, com o rádio, ela é transmitida em minutos.

A televisão sofisticou o rádio com os recursos da imagem. Tanto o rádio como a televisão constituiram-se, no presente século que se encerra, engrenagens essenciais do modo de ser social e cultural das sociedades.

Estes meios de comunicação e informação, os mass media, em especial, ao longo da segunda metade deste século, constituiram-se como motores essenciais da vida social e política dos cidadãos. Sem eles as sociedades de massas seriam praticamente ingovernáveis e, mesmo, impensáveis. De tal maneira que se chegou a falar em um "quarto poder".

Os mass media só puderam tornar-se um "quarto poder" na medida em que podiam atingir, pelo suporte técnico que lhes é próprio, grandes massas demográficas. Estes mass midia determinaram de maneira fundamental o sentido, os valores e a opinião do mundo público. As populações, na medida em que o humano vive em sociedade pela linguagem, viram-se "presas" àquilo que os mass media apresentavam ao imaginário social como o "certo", o "justo", o "bem".

Sem dúvida, o papel dos mass media foi paradoxal. Ao mesmo tempo em que permitiam aquela velocidade na transmissão da cultura e da informação, o que sem dúvida, é um sinal de desenvolvimento, os mass media tornavam-se os "déspotas" da informação. Eles determinavam a opinião pública segundo seus interesses particulares. Como se sabe, um fato jamais é um simples fato. Com efeito, ele é, pelo menos metade, como diz Dostoiévski, interpretação. Os grandes meios de comunicação de massa faziam de sua interpretação particular a interpretação pública deste ou daquele fato. No mundo da informação o fato é quase nada. Como observa de forma precisa Pierre Lévy não é a verdade que visa o "saber informático", mas os procedimentos de eficácia e economia de tempo. (Pierre Lévy, Op. Cit. p. 118/9)

Ora, tanto maior o poder de penetração de um dado meio de comunicação, maior será seu poder de influir e determinar, repita-se, não apenas a "opinião pública", mas os gostos, os valores, o bom e o mau das populações, ou seja, o conjunto da subjetividade.

Não se está aqui, imputando a este ou aquele meio de comunicação, o lugar da encarnação fiel e exclusiva do bem e do mal. Muitos em nome de um bem tornado absoluto fizeram muito mais mal aos povos e à humanidade do que talvez alguns entre os que explicitamente não eram "bons".

Tal é a natureza humana de vontade de poder que, nada mais natural que, na análise de um fato, dar sua interpretação do mesmo. Com efeito, não existe, por assim dizer uma opinião própria que não seja parcial, no sentido de que é sempre uma interpretação singular. Os mass media, de alguma forma, substituiram a "palavra de Deus", eles pretenderam-se além do bem e do mal. O grande romancista francês do século passado, Balzac, pretendia que o governo impusesse limites aos jornais de sua época. E tão fiel à verdade quanto brilhante na literatura, nós assistimos em sua obra monumental Ilusões Perdidas,  a crítica e o desmascaramento do jornais de sua época como manipuladores da opinião pública.

A verdadeira interpretação pública tem um outro sentido muito distinto. Ela é "pública", ou seja, ela deve ser sempre múltipla, multi-intelelectual. Quando uma intepretação do mundo fala de forma praticamente absoluta para 60 milhões de pessoas reunidas na frente de um aparelho de televisão - esta interpretação hegemoniza o imaginário social e a subjetividade fatalmente, caso não lhes sejam apresentadas outras visões.

Mas este é o modo próprio de ser da mídia eletrônica de massas como o rádio e a televisão e também o jornal de massas.

Aqui, também, nós temos um tipo de subjetividade comunicativa. A subjetividade passiva. Diante dos mass midia a informação é dada ao cidadão de forma padronizada, de fora para dentro, heteronomamente. O cidadão é aí um sujeito da comunicação passivo. A informação (no sentido mais amplo da expressão) vem até ele. Seu único esforço consiste em escolher, ao simples toque de um botão, o noticiário, o filme, o entretenimento cultural ou esportivo. A programação de sua comunicação com o mundo é-lhe entregue praticamente toda completa. Seu desejo praticamente acaba no ligar e desligar os botões da televisão ou do controle remoto.

§ 4.
A autoprogramação do conteúdo e do tempo da comunicação




No contexto da nova mídia, cibernética mundial, estas questões se colocam de uma nova forma. A hipermídia digital, tal como a Internet por exemplo, propõe universos de comunicação e informação muito mais ricos e generosos para subjetividade.

Em primeiro lugar, a hegemonia no interior da grande rede terá que ser disputada em uma nova correlação de forças, onde, não estará em jogo apenas recursos materiais - tal como por exemplo, construir uma rede televisão "nacional", mas, sobretudo, recursos intelectuais. O capital fundamental da "sociedade informática" é o conhecimento, a criatividade e talento intelectuais. Adam Schaff, em seu brilhante ensaio, A Sociedade Informática, pressupõe que,
 
 

"Na sociedade informática a ciência assumirá o papel de força produtiva." (Adam Schaff, A Sociedade Informática, p. 43) Uma nova hegemonia, ou talvez fosse mais preciso dizer, uma nova contra-hegemonia está em gestação no interior desta assim chama hipermídia. Quando o que está em questão é a inteligência e a criatividade e não necessária ou essencialmente o capital financeiro, mudam-se também as regras do jogo. As peças assumem novas diferentes significações no tablado. No contexto da nova mídia existirão pré-requisitos intelectuais sem os quais dificilmente não se poderá navegar em sua pontencialidade e riqueza cultural, de modo que, o estabelecimento de uma hegemonia torna-se praticamente impossível, pois implicaria em uma renúncia dos sujeitos da comunicação ao seu principal capital, a inteligência. A hegemonia é sempre contrária a inteligência, a criatividade e curiosidade intelectuais. A hegemonia é produtora de uma desingularização intelectual radical. Apenas onde o pensamento trabalha há vida; sob o signo da hegemonia de uma visão particular do mundo, o pensamento esgota-se, logo a vida perde cor. "E onde há crítica e análise, onde o pensamento se move e trabalha, há vida, progresso e caminho para o futuro. Nada é mais terrível e nocivo do que o pensamento esclerosado e rotineiro." (Alexandra Kollontaï, Oposição Operária) Diante do computador em rede, a subjetividade comunicativa é ativa, participativa. Aí ela precisa programar sua comunicação com o mundo. Ela pode também - através dos recursos próprios as novas "tecnologias intelectuais" em rede, na forma de hipertexto - manifestar suas opiniões, idéias, projetos, criações para o mundo. Aqui, o desejo vai muito além de ligar ou desligar um ou outro canal de televisão ou estação de rádio.

Assim, o próprio tempo comunicativo pode ser programado, enquanto na mídia eletrônica de massas é necessário sujeitar-se aos horários pré-estabelecidos por editorias que são completamente estranhas à subjetividade singular. Hora do jornal, hora da novela, hora do entretenimento. No contexto da hipermídia isto pode ser feito de uma forma completamente diferente. O meio de comunicação adapta-se à singularidade e tempo de cada indivíduo ou grupo de indivíduos. O indivíduo programa seu próprio tempo comunicativo. Sua subjetividade ativa determina - autoprograma - o conteúdo e o tempo de sua relação comunicativa com o mundo.

Assim, a opinião pública no contexto da hipermídia será necessariamente internacional, interativa e interessada. Na medida em que no contexto da hipermídia o sujeito (seja ele indivíduo ou coletivo) da comunicação não é somente um sujeito que recebe, uma consumidor passivo da informação, a tendência é que se forme um novo campo do que se chamou a "opinião pública". A opinião pública será não apenas a opinião deste ou daquele "editor" de grandes meios de comunicação, mas também dos próprios participantes ativos da inter-comunicação mundial e deterritorializada.

§ 5.
Navegando pelo tempo e espaço cibernéticos




Pela manhã toma-se o café com um menu de mais de cinqüenta (e em breve quantos milhares?) jornais, ou melhor, sites multimídias de informação e cultura de várias partes e línguas do mundo, como a CNN, a FOX, o UOL, por exemplo. Depois, assiste-se em tempo real ao seminário semanal de A Instituição Imaginária da Sociedade por Castoriadis direto de Paris - ou deixa-se para assistí-lo em outro dia. Em seguida, participa-se de um chat, uma sala de debates políticos, com estudantes de todas as partes do mundo: Japão, EUA, Alemanha, Espanha. Ao meio-dia se pode almoçar ouvindo uma boa música de uma rádio americana ou francesa. A tarde estudar grego com um professor de um país ou cidade completamente diferente e depois dar continuidade a uma pesquisa sobre a filosofia prática de Kant com um colaborador australiano. A noite assistir um noticiário mundial autoprogramado e, depois, ainda, quem sabe, um filme de Quentin Tarantino.

Algumas destas atividades são hoje já uma realidade, outras provavelmente o serão em breve e se tornarão instituições sociais do cotidiano do cidadão comum. Assim, transformações tecno-intelectuais, bioculturais as quais nos pareceriam divinas ou meras utopias há dez anos atrás já estão hoje colocadas na ordem do dia. Estas transformações devem ser entendidas no contexto da mídia cibernética ou hipermídia a qual permite uma diversidade e riqueza de produção e apropriações culturais pela subjetividade até então inimagináveis.

A instituição, hoje, mais expressiva desta hipermídia é a Internet, a rede mundial de computadores. Logo, a pesquisa sobre as transformações da subjetividade contemporânea e da cultura deve priorizar o contexto específico da Internet e seus desdobramentos.

§ 6.
O contexto histórico da hipermídia




Vivemos, pois, tempos insondáveis de emergência da hipermídia, a mídia cibernética. Novos paradigmas de criação, compreensão e comunicação da cultura e do mundo estão sendo instituídos. São as novas tecnologias intelectuais, os meios de comunicação multimídia digital interativos os quais possibilitam uma nova forma de relação com a informação e o ambiente cultural. Trata-se de uma revolução cultural sem precedentes na história da humanidade.

A grande revolução sócio-cultural operada pela emergência da hipermídia mundial tem, até agora, pelo menos três grandes períodos fundamentais, desde a criação do primeiro computador nos anos 40, o Eniac.

Em primeiro lugar, a invenção da máquina cibernética, o computador propriamente dito; o grande computador, o megacomputador, pesando as vezes toneladas. Grande centro cibernético autômato de manipulação - produção, registro e consumo de informação. Neste momento são os chamados mainframes, os grandes computadores disponíveis apenas para grandes instituições públicas e privadas.

Em um segundo momento, a invenção do computador pessoal. Os famosos PC's começam a chegar a casa das pessoas. Caros e quase inacessíveis a princípio. Mas, em seguida e cada vez mais, diminuem seus preços e são consumidos aos milhões. Em breve, como a televisão, o computador será parte integrante do ambiente doméstico de cada moradia. Ainda neste momento é importante destacar a criação dos computadores que se utilizam de linguagem multimídia interativa.

O terceiro grande momento acontece quando estes computadores (os mega e os pessoais) multimídias articulam-se entre si e formam uma rede. É a teia cibernética. Neste momento consolida-se a chamada hipermídia mundial desterritorializada; emerge um novo tempo, o cybertime, emerge um novo espaço, o cyberspace.

§ 7.
O computador em rede




Neste sentido, o personal computer, o microcomputador pessoal será o principal meio de comunicação humano no planeta durante o próximo período histórico. Ele não será simplesmente mais um meio de comunicação, mas o meio privilegiado de comunicação humano. Será e, para falar a verdade, já está sendo. Todos aqueles que se encontram com um computador, logo vão percebendo o seu pontencial, como diversão, como meio de trabalho, como meio de vida, de criação estética e intelectual.

Os meios de comunicação tais como os conhecemos hoje serão, pouco a pouco, transformados. Não existirá mais, espera-se, o jornal diário,  estes calhamaços estupidamente antiecológicos. E não será apenas uma transformação da forma do jornal, de papel para digital - o que, como se deve perceber desde logo, já significaria um avanço considerável -, será também uma transformação do meio jornal.

O computador pessoal será o meio através do qual pesquisaremos não apenas artigos, mas sons, imagens - de  modo que seremos capazes de conhecer de um forma nova, ou seja, utilizando-nos além dos recursos literários, os recursos dos sons e imagens em movimentos. O computador é cada vez mais um meio de comunicação multimídia interativo. Multimídia no sentido de que concentrará nele mesmo os meios tradicionais de comunicação, tais como a televisão, o rádio, o tape, o cd, a enciclopédia, o jornal, o livro, o vídeo, o telefone. Interativo no sentido de que o sujeito do processo comunicativo não é mais simplesmente o elemento passivo da comunicação, mas precisamente ativo, um verdadeiro agente da comunicação. Interativo também no sentido de que pode interagir diferentes mídias ao mesmo tempo. Livro com música, música com plásticas, escultura com texto, ou imagens e sons, etc.

§ 8.
A instituição da Sociedade do Conhecimento




As possibilidades subjetivas de apropriação tecno-intelectuais de grande parte da riqueza cultural e intelectual da civilização humana representa uma revolução cultural sem precedentes em nossa história. O computador não vai somente facilitar nossas vidas, ele vai nos dar muito trabalho também. Mas certamente será um outro tipo de trabalho, rico no desenvolvimento de nossas capacidades intelectuais e criadoras. O computador não vai distanciar as pessoas - assim como o telefone, o automóvel, aproximou as pessoas, o computador será mais um meio - mas com um potencial inusitado - de comunicação e relações interpessoais. A riqueza de sua subjetividade potencializadora é muito maior e mais radical do que imaginam certos humanitaristas de plantão sempre prontos a desfazerem todas as conquistas através de seu irremediável e doentio pessimismo.

Esta hipermídia mundial interativa instituirá, pois, um novo ambiente para a inteligência humana. Esta nova ecologia intelectual internacional permitirá a instituição da Sociedade do Conhecimento.
 
 

Segunda Parte






Pressupondo, pois, as premissas até agora elaboradas procuraremos, em seguida, debater introdutoriamente algumas transformações e implicações fundamentais operadas pela emergência da hipermídia nos campos da subjetividade econômica, cultural, ecológica e política, visando esclarecer o potencial de transformação social "molar" e "molecular" aí presente.
 
 

Transformações na subjetividade econômica
§ 9.
Avanço no campo das forças produtivas




O campo onde se projeta a hipermídia é um campo aberto ao infinito na ordem de desenvolvimento das forças subjetivas, produtivas, intelectuais, artísticas e tecnológicas.

Fala-se hoje de globalização da economia. O fenômeno de "globalização" da economia parece evidente desde já algumas décadas. O capitalismo industrial mercantilista espalhou-se pelo mundo todo (o CMI, como chama Guattari). Nem os países socialistas (a maioria deles, ao menos) conseguiram escapar a este fenômeno de "globalização" da economia. As grandes multinacionais, as grandes indústrias, as grandes redes de comunicação, as pontes aéreas, os circuitos navais mudaram a face do mundo e a relação entre estados e culturas. Os estados hoje não são mais que unidades nacionais praticamente dependentes uns dos outros e do próprio "capitalismo mundial integrado". Não existe mais nenhuma "independência" - econômica de nenhum estado, tampouco autonomia política. A produção industrial e o mercado de massas é necessariamente mundial. Daí, a idéia de "globalização".

Entretanto, o conjunto complexo de fenômenos técno-intelectuais em franco desenvolvimento hoje nos permite pensar este processo de mundialização da economia com um outro conceito, mais complexo, mas também mais preciso para definir o que está de fato acontecendo. É a idéia de desterritorialização. Não se trata simplesmente de uma globalização da economia, mas muito mais de uma desterritorialização da economia no cyberspace. A desterritorialização é uma espécie de multidobragem do planeta sobre ele mesmo. A rigor não há nenhum limite para esta desterritorialização no interior do espaço cibernético. É a multiplicação infinita dos lugares e possibilidades de negócios e empreendimentos. Os empreendimentos econômicos do século XXI serão todos, os mais importantes, situados no interior da rede cibernética. Uma homepage não possui território físico algum, a não ser o digital. Uma vez na rede digital a informação se desterritorializa sobre as vinte e quatro horas e os sete cantos "redobrados" do planeta. Ela é uma informação virtual acessível a qualquer parte do mundo, a qualquer tempo e a qualquer usuário da rede. A Internet revolucionará os trabalhos de consultoria, de tradução, de produção cultural, de negócios - em especial - no campo do bens digitalizáveis e os serviços de informação.

Trata-se, pois, de um novo grande e imenso campo produtivo, avanço extraordinário das forças produtivas. A globalização como conceito permanece restrito às noções tradicionais de tempo e espaço. As idéias de tempo e espaço no cyberspace são totalmente diferentes. Um bem digital pode voar de um local ao outro do planeta em segundos. Não se trata mais de, por exemplo, mandar os caminhões entregarem os livros a uma livraria. Os livros, todos os livros do mundo estarão mais cedo ou mais tarde, no interior da hipermídia cibernética. Podemos (poderemos) ter acesso com a velocidade de um relâmpago a qualquer obra literária produzida em qualquer parte do mundo. Os tradutores terão daqui para a frente muito trabalho. Assim como os professores de línguas.
 
 

§ 10.
Antes e depois do computador




A tese central aqui defendida e pressuposta é a de que, com a criação do computador e em especial do "computador em rede", a história humana tem um novo grande salto civilizatório, tipo aquele que aconteceu a partir da revolução industrial. A história da civilização pode ser de agora em diante datada de uma nova forma; entramos na Idade do Computador.

Os computadores em rede deverão ocupar grande parte da cena pública daqui para a frente. O mundo, em larga escala, girará em função e dependerá do uso que será feito do espaço cibernético. Os computadores dominarão o mundo em um sentido muito singular.

O cyberspace deverá tomar conta da atividade política, econômica, cultural e social durante boa parte do século XXI. O mundo irá, pouco a pouco, mais ou menos rapidamente, transformar-se e sustentar-se na grande rede cibernética, quer dizer, o mundo todo irá adaptar-se ao modo de ser informatizado. Trata-se de novas vias de transporte e comunicação, as infovias, as "ecovias digitais". Trata-se de um novo modo de comunicação interativo e multimídia, um novo logos, uma nova forma de organizar as instituições, a cultura, a pesquisa. Uma nova forma de produção e organização industrial e política; uma nova forma de criação artística; um novo modo econômico de ser, novo mercado, novo tipo de consumo, etc. Tudo isto dependente e no interior mesmo da própria hipermída.

A conta é certa como dois e dois são quatro. O pesquisador (mas também o empresário, o administrador público, o gerente) que não souber dominar um computador, o conhecimento informatizado, multimída e digital, que não souber pesquisar e navegar, pensar em termos de e se posicionar na Internet, terá muita desvantagem na competição com aquele que tem tais domínios e fatalmente sucumbirá em suas pretensões com o tempo - tal como aconteceu, por exemplo, com a transformação dos procedimentos literários a partir da invenção e do uso da máquina de escrever e do texto impresso. Também há uma grande diferença dos meios de "impressão", de "expressão" e "comunicação" do pensamento - trata-se de um novo tipo de texto, o texto eletrônico, o texto escultura, uma outra velocidade e uma nova forma do pensamento.  Os escritórios, os bancos, as indústrias que continuarem com seus antigos métodos desinformatizados têm seus dias contados. O processo poderá ser mais ou menos lento, mas é irreversível.

A lógica informática digital ganha e ganhará cada vez mais importância na medida em que está intimamente ligada às necessidades do modo de produção competitivos instituídos hoje em escala internacional. Entretanto, este processo é irreversível não apenas em função do quadro de uma economia competitiva - pois encontra aí um fabuloso meio ambiente favorável ao seu desenvolvimento, está no seio da competitividade e da perfeição produtiva, da redução de custos de mão de obra, do aumento da velocidade da produtividade, aumento da racionalidade organizacional vertiginosa -, é irreversível e também revolucionário porque está intimamente conectado à subjetividade humana e seus desejos mais fundamentais de liberdade e de cultivo de si, porque tudo o que "economiza" tempo é bem vindo ao ser em sua estrutura mais fundamental como ser contra o tempo.

§ 11.
A cyberindústria e o hipermercado mundial




Um rádio, uma televisão, um jornal, um livro no interior da hipermídia são empreendimentos necessariamente mundiais - eles transmitem para o mundo todo e situam a própria subjetividade neste ambiente mundial. Eles são virtualmente produzidos, registrados e consumidos no mundo todo. Esta indústria de novo tipo, microindústria cibernética, assim como o hipermercado terão seu centro de gravidade no interior da própria casa dos cidadãos.

O modo de funcionamento da rede é aberto a toda espécie de interações e intervenções subjetivas - da homepage de poesias de um simples menino de treze anos em seu servidor pessoal à homepage do movimento de direitos humanos Anistia Internacional. Seu modo de funcionamento é cibernético. Não tem hora para parar, nem para começar, não tem "espaço"  definido ao certo. Seu tempo e seu espaço estão aí colocados em suas respectivas dimensões cibernéticas.

A Internet está aí com toda sua força. A tendência porém é de crescimento exponencial. Especula-se que no ano 2000 serão cerca de um bilhão de usuários navegando na grande rede em todo o mundo. Jamais houve um mercado de tamanhas dimensões - com o qual podemos nos relacionar direta e interativamente, seja como produtores, seja como consumidores de cultura e informação.

Não se trata mais de um mercado para um público de um determinado país ou conjunto de países e seus mídias tradicionais nacionais, para milhões, mas, em breve talvez, bilhões de consumidores em potencial. E isto a partir do lugar mais básico da vida do cidadão, sua própria casa. O hipermercado cibernético não tem hora nem lugar para existir, ele existe em todos os lugares e 24 horas por dia. Este mercado pode ser atingido não mais a partir de uma grande rede industrial de produção e distribuição - via área, marítima, terrena - mas por ecovias digitais situadas a partir da casa do próprio produtor e criador de cultura e informação, bem como a do consumidor.
 
 

§ 12.
Os processos econômicos de desenvolvimento da hipermídia




Os processos de desenvolvimento econômico e social não têm uma ordem única de causação e evolução. Aqueles que pretenderam fazer do Estado moderno o centro único irradiador de toda a vida e toda economia social hoje podem ver a olhos claros os limites de tal perspectiva. Aqueles que pretendem fazer do mercado, em sentido amplo, produção e consumo de bens, também o centro único de organização econômica e social, também já deveriam ter-se dado conta da fragilidade e superficialidade de sua perspectiva.

Não existem processos sócio-institucionais totalmente previsíveis. Os processos de crescimento, organização econômico e cultural são determinados por perspectivas "caosmóticas", "heterogênicas". Os processos têm seus múltiplos pontos de partida, de centragem e de chegada. Os processos são agenciamentos coletivos e individuais que estão sempre interagindo na forma de interfaces com outros processos, já em andamento adiantados ou inicializados. Processos de um agenciamento que se engajam em outros processos de outros agenciamentos. Os processos são múltiplos e caosmóticos. As vezes, organizam-se grandes processos de produção, criação e consumo de forma mais ou menos racional e sistêmica. Mas sempre um processo é atravessado por outro e outros processos, mais ou menos dinâmicos.

A economia, a cultura, o modo próprio de ser do social, funciona mais no modo cibernético do que sistêmico ou estrutural. Há períodos de maior ou menor racionalidade, irracionalidade, beleza e horror. Processos altamente racionalizantes, como os do socialismo real em processo de decomposição, mostram sua face brutal. Processos irracionais - os que imperam na maior parte do mundo, como o liberalismo (irracional no sentido de que poderia prescindir de uma racionalidade superior às racionalidades "privadas") de hoje - mostram-se também tristemente descompostos, tais os níveis de miséria e marginalidade que sua lógica de funcionamento concreto remete.

O princípio subjacente a qualquer boa sociedade sempre foi e sempre será o respeito. No momento que se perde o respeito - pelo forte ou pelo fraco, pouco importa - perde-se tudo, toda a possibilidade convívio ético. O cada um por si, tal como assistimos na prática do liberalismo moderno, é o fim de toda racionalidade estatal, social e ecológica. O cada um por si está gerando a largos passos um caminho talvez sem volta. Os problemas com os quais a humanidade tem que se defrontar hoje são de dimensões gigantescas. Os últimos séculos onde imperou a lógica industrial e liberal são talvez os de maior perigo.

Assim, as formas segundo as quais o Brasil entrará e se desenvolverá neste hipermercado serão caosmóticas. Isto porém não implica uma renúncia à racionalidade e intervenção estatal na economia, sob as mais diferentes formas.

§ 13.
A infra-estrutura da hipermída no Brasil




A sociedade do conhecimento, no contexto da hipermídia é, no Brasil, hoje, apenas um projeto. Estamos nos primórdios do que será a hipermídia de amanhã. O que está em questão é o esclarecimento das condições segundo as quais podemos e devemos institucionalizar a totalidade da sociedade brasileira competitivamente no hipermercado mundial. Sem a compreensão da importância e do significado desta rede cibernética, as políticas públicas (e privadas) serão naturalmente superficiais ou equivocadas. O que se vê hoje, hegemonicamente, são perspectivas atrasadas e limitadas, incapazes de compreender o fenômeno em questão e consequentemente incapazes de propor e executar políticas com deadlines.

As políticas capazes de implementar de fato a superestrada da informação implicam em uma percepção completamente diferente do que podemos vislumbrar hoje, à direita ou à esquerda. Trata-se de partir decisivamente para a construção desta infra-estrutura e das políticas capazes de inserir a produção econômica e cultural brasileira em níveis altamente competitivos. Aqueles que se atrasarem ou quiserem negar este fenômeno emergente, crucial de nossa época, não terão muito tempo para arrependerem-se, pois o furacão cibernético avança irresistível e exponencialmente.

Neste contexto, trata-se de enfrentar a crise provocada por grandes interesses antagônicos. Hoje, quando se fala em prioridades não se vê praticamente ninguém dizendo, em nossas administrações públicas, da direita à esquerda, que, ao invés de asfaltar ruas, deveríamos cabear com fibras óticas as redes escolares e universitárias.
 
 

Transformações da subjetividade cultural
§ 14.
A transformação da indústria e dos bens de consumo cultural tradicionais




No limite, todos os bens culturais (e as informações) capazes de tomarem a forma do "bit" tenderão, naturalmente, a serem registrados e consumidos no suporte próprio à informação binária digital. Tal é a perspectiva da "vida digital". Assim, os romances, as poesias, as idéias impressos em livros de papel serão, no contexto da hipermídia, impressos nas telas digitais - assumindo uma forma de existência virtual. Da mesma forma, por exemplo, o cd; no interior da hipermídia digital o cd, tal como o conhecemos hoje, não terá o menor sentido - econômico, ecológico, estético. Nem mesmo cd player. Assim também com o  vídeo, a fotografia e seus suportes técnicos.

No interior desta nova mídia,  novos modos de criação e expressão estéticas estão nascendo a partir das interações midiáticas, tais como, o texto eletrônico, texto escultura digital; o romance musical; a pintura musical, entre outras.

Devemos, entretanto, atentar para o seguinte fato. A era dos meios de comunicação multimídia interativos não quer dizer o fim dos meios de expressão particulares tais como o texto, a imagem, o som. Textos, imagens, sons, todos eles continuarão existindo, ao menos, por um bom tempo ainda, cada um em sua singularidade. Eles não deixarão de existir porque de agora em diante simplesmente os meios de expressão que dispomos são multimídias. Poder trabalhar em um mesmo meio de expressão artística a música, a literatura, a imagem, a pintura, e fundidos tais expressão singulares em uma única, criar um novo meio de expressão multimídia, é sem dúvida, algo inusitado e muito interessante do ponto de vista das possibilidades estéticas de criação artística. Mas, evidentemente, o romance, a música, o cinema, não deixarão de existir enquanto tais, continuarão existindo nas formas digitais e na interação multmídia também enquanto romance, música, cinema. A criação do cinema que envolve os recursos do som e da imagem, por exemplo, não acabou com a música enquanto tal, nem tampouco com as artes visuais, mas possibilitou um novo meio de expressão capaz de combinar as duas formas de expressão artística. Esta combinação deu origem a uma nova forma de expressão estética, mas não acabou nem tornou suas artes de origem "ultrapassas" ou "retrógradas".
 


§ 15.
A nova divisão mundial do trabalho



Entre os mais graves problemas da emergência desta hipermídia está a possibilidade de instituição de uma nova divisão mundial do trabalho. Não só divisão entre trabalho manual e intelectual. Mas um tipo de divisão brutal entre aqueles que terão acesso à cultura em sua fase digital e aqueles que permanecerem em uma fase pré-cultura digital. Esta nova divisão já está, aliás, em estado adiantado. Se não forem tomadas políticas efetivas para evitá-la, ela se estenderá fatalmente, em especial, em países atrasados econômica e culturalmente.

§ 16.
Outros problemas a serem enfrentados




Uma das questões mais complexas a enfrentar nos próximos anos será o da Legislação na Internet, em especial aos problemas de direitos autorais. Esta legislação será necessariamente universal, planetária. E por isto mesmo ela será muito difícil de ser definida. As diferenças culturais regionais, nacionais são enormes. Os costumes são distintos. Mas, seja como for, é preciso elaborar propostas claras e coerentes para as negociações de uma tal legislação.

Uma outra questão diz respeito ao problema das reservas de mercado. Como ficará a questão das "reservas de mercados" no interior desta supermídia? Todo fechamento de tipo nacionalista só retardaria a entrada e disputa competitiva nos novos mercados culturais cibernéticos, assim, as legislações culturais deverão ser acordos internacionais, logo, negociações mais complexas e difíceis de serem realizadas. As  "reservas de mercado", importantes em certo sentido, serão assuntos para a mídia tradicional. O conceito fundamental a ser pensado no contexto da hipermídia é o de conquista externa de novos mercados, conquista externa no sentido cultural, logo, conquista de novas línguas e comunicação/interação com outras culturas - uma diversidade incomensurável de culturas, povos, línguas e saberes! um maravilhoso carnaval eletrônico cibernético. A questão é a elaboração de políticas agressivas de conquista de novos mercados internacionais no interior da rede mundial.

Assim, no interior desta hipermídia planetária, os problemas das línguas se colocarão de modo fundamental. Acordos internacionais em torno dos estudos de línguas nos diferentes continentes passarão a ser questões da maior grandeza. Também importante serão os estudos de línguas estrangeiras. No contexto da hipermídia a disputa essencial será aquela realizada através de línguas e de linguagens estéticas.
 


Transformações na subjetividade ecológica
§ 17.
A hipermídia e a ecosofia




A hipermídia digital apresenta-se como radicalmente ecológica - em vários sentidos. Não apenas os produtos e bens culturais terão uma virtualidade existencial, mas também os meios de produção, distribuição possuirão em alta escala a mesma virtualidade. Na cultura industrial tradicional, quando alguém deseja adquirir, por exemplo, um livro de outro país em outro continente, será preciso que este volume seja impresso, depois transportado, por trem, avião, caminhão ou navio, de um país ao outro. No contexto da cultura "microindustrial cibernética" esta obra pode ser adquirida apenas com alguns comandos no computador doméstico. Por que e para que prensar cd’s se se pode obter as músicas de um compositor ou intérprete diretamente pelas infovias? Assim, esta hipermídia será também economicamente ecológica. Os empreendimentos econômicos no interior da hipermídia fatalmente concorrerão para a maior economia de investimentos e riscos.

Fim das pesadas máquinas de prensagem, fim dos milhares de exemplares de papel sendo distribuídos por mares, estradas ou pontes áreas, "um a um" até o consumidor final.

No contexto da hipermídia mundial um livro, por exemplo, pode ser editado e disponibilizado a um público cujo mercado é internacional sem que seu autor sequer tire os pés de sua casa. Ele está potencialmente (virtualmente) presente para cada integrante da rede cibernética. Se as previsões dos especialistas se revelarem exatas, no ano 2000 um livro digital poderá ser consumido por cerca de um bilhão de pessoas no mundo inteiro; o livro digital pode existir virtualmente um bilhão de vezes sem gastar um milésimo do que se gastaria para se o imprimir e depois distribuir e consumir; em termos de papéis, transportes, mão de obra.

Um livro digital de um bilhão de cópias virtuais tem um tipo de relação com o mercado totalmente diferente do livro impresso. Os riscos deste são incomparavelmente maiores do que o daquele. E não só os riscos econômicos, mas sobretudo ecológicos. Isto terá uma importância decisiva daqui para a frente - os procedimentos econômicos e ecológicos não vão pedir licença para quem quer seja.
 
 

Transformações na subjetividade política
§ 18.
A construção da Agora virtual




As novas relações sociais e econômicas determinadas pelo tempo e espaço cibernéticos produzem  virtualmente uma reapropriação da atividade política em larga escala e em primeira pessoa. Trata-se aí de uma nova cidadania. Cidadania do tempo livre e da cultura em alta escala. Cidadania mundial.

A Ágora era a praça pública onde os antigos gregos atenienses reuniam-se para debater e deliberar acerca de suas questões políticas. Era ali que tomava corpo a ecclèsia, a assembléia dos cidadãos, para decidirem sobre os  destinos de sua pólis, da sua cidade. Este ensaio defende a idéia de que entramos em uma época na qual, a partir da emergência das novas tecnologias intelectuais, poderemos reviver o sentido político daquela Ágora.

A democracia é uma forma de governo em respeito da qual se diz existirem três princípios fundamentais. Em primeiro lugar, a democracia é uma forma de governo onde o povo exerce, ele mesmo, o poder. A própria formação da palavra "democracia" indica a definição. Demos significa povo e cracia significa poder, logo, democracia é o poder do povo. A democracia busca o interesse da maioria e é governado pela maioria. Em segundo  lugar, a democracia é um regime que se define conforme a liberdade, diferentemente da aristocracia e da oligarquia as quais se definem respectivamente pelo mérito e pela riqueza. A democracia é um governo no qual governam as pessoas livres em maioria. A democracia tem, pois, como fundamento a liberdade. A liberdade é mandar e obedecer, cada um por sua vez. É preciso que os cidadãos mandem e obedeçam alternadamente. Sem condições semelhantes é impossível que exista igualdade. Um governo para ser duradouro precisa se constituir sobre este princípio. A alternância no mando e na obediência é o primeiro atributo da liberdade. O segundo é viver como se quer. Em terceiro lugar, a democracia é um regime de igualdade de direitos, ou como diz Aristóteles, o princípio segundo o qual "unanimemente se fundam" as democracias "é o direito que fazem resultar da "igualdade numérica".  Sem este princípio da igualdade é impossível falar de democracia, pois o poder deve ser exercido por todos e cada um deve ter o mesmo peso na deliberação.

Entretanto, o fato de que a maioria participe das deliberações públicas não significa necessariamente que tais decisões sejam automaticamente as melhores. Duas, pelo menos, são condições indispensáveis para dar forma a uma cidadania capacitada a tomar boas decisões. Em primeiro lugar, é preciso que os cidadãos possuam tempo livre para debater e deliberar. Em segundo, é preciso que eles possam dedicar-se à sua paidéia, a sua formação.

Assim, formação e tempo livre são condições indispensáveis na ecclèsia, na assembléia  deliberativa. A deliberação implica em análise, reflexão, debate. Sem tempo livre o cidadão é impedido de ouvir e argumentar, suas decisões são naturalmente precipitadas, instintivas. Da mesma forma, um cidadão pouco ou mal formado tem maiores dificuldades de raciocínio e clareza; sem esclarecimento a tendência é deliberações imprudentes, erradas. É assim, pois, que a cultura, como paidéia, assume o caráter de prioridade em toda boa e saudável constituição estatal. Uma democracia sem a necessária prioridade da cultura não seria mais do que demagogia, pois é fácil enganar um povo quando este não tem educação nem pode conhecer as tradições nas quais deveria espelhar-se.

A abertura para o tempo livre e a formação cultural da cidadania, se coloca como potencialidade concreta no contexto contemporâneo da hipermídia, de uma forma absolutamente nova na história universal. A "liberdade" para os antigos significa, segundo Aristóteles, saber "mandar e obedecer", enquanto para os modernos significa, segundo Benjamin Constant, "usufruir de sua vida privada". Para a antigüidade o Estado é "a universalidade de seus cidadãos", enquanto para a modernidade ele é essencialmente representativo. Para sociedade cibernética do conhecimento trata-se de uma nova síntese possível; o indivíduo que vive sua vida privada e, ao mesmo tempo, pública. Não mais o "comum" antigo, não mais o "idiota" moderno. Mas uma nova síntese que transcende o "comum" e o "idiota".

A sociedade contemporânea  é uma sociedade universal e complexa. São inúmeros os fatores determinantes do modo de ser do social. Os movimentos são dinâmicos, heterogêneos. (Guattari fala em "caosmose", "heterogênese"). O melhor governo será aquele que conseguir instituir um modo de ser social capaz de respeitar as diferentes autonomias e jogos de linguagem existentes ("condição pós-moderna", como diz Lyotard). As sociedades antigas eram sociedades eminentemente guerreiras. As sociedades modernas foram caracterizadas por um modo de produção e apropriação, respectivamente, o industrial e o comercial pacíficos. A tendência das sociedades de hoje é o estabelecimento de uma ordem social determinada pelo conhecimento, pela informação.

Nossa atualidade anuncia uma época até então insondável para a civilização. Estamos entrando no marco de uma sociedade na qual o computador, como principal meio técnico do fazer (theukein) e do pensar (legein) social, está transformando grande parte das relações sociais, políticas, culturais, econômicas, memoriais.

As fronteiras não são mais facilmente delimitadas. As noções tradicionais de tempo e espaço estão se alterando. A memória e o conhecimento ganham uma dimensão cibernética universal. Podemos nos comunicar com o mundo todo desde nossas casas. A antiga praça pública está se transformando em praça virtual planetária. Toda a questão, do ponto de vista político, será como organizar os debates e as tomadas de decisões a partir destes meios técnicos cibernéticos que são os computadores em rede, tais como a Internet, por exemplo. Sem dúvida, a Internet é um dos acontecimentos político-culturais mais significativos deste final de século e está revolucionando completamente as formas de produção, distribuição e consumo da informação e do conhecimento - as principais mercadorias da sociedade pós-industrial.

O verdadeiro impacto destas novas "tecnologias da inteligência", como chama Pierre Lévy, ainda está por vir. Os produtos digitais destas tecnologias  são cada vez mais acessíveis - contrariando aliás a tendência mundial inflacionária, tais produtos são praticamente os únicos em que os preços não apenas não sobem, mas caem vertiginosamente. O efeito "bola de neve" está apenas começando (ao menos nos países atrasados, como o Brasil). A médio prazo, o fluxo de informações pela Internet será tão intenso e ela será provavelmente o principal lugar de comunicação e informação da cidadania, no contexto da informação e do conhecimento "interessados". O grande impacto acontecerá, pois, quando o computador for para cada um o que é hoje ou foi, por exemplo, o rádio ou a televisão. Se a queda de preços dos computadores continuar nesta espiral vertiginosa, em breve, um bom computador custará o preço de uma boa televisão - e o computador será um produto, tal como a televisão, acessível a cada um. E então, faltará apenas as políticas governamentais (e neste caso é bom considerar também as iniciativas privadas) capazes de criar as "superestradas da informação". Isto é uma questão de tempo, pois trata-se de um processo irreversível - para o bem ou para o mal!

Aqueles países, estados ou cidades que enfrentarem com lucidez tais questões, não poderão deixar de tomar iniciativas imediatas no sentido de promover esta superestrada, condição tecno-intelectual do que estamos chamando a Ágora Virtual. Com efeito, esta praça pública digital oferecerá não só a possibilidade do exercício direto do poder público do Estado nacional (e, em certa medida, inclusive internacional, a expressão máxima da cidadania ecológica - o "cidadão do mundo"), mas também colocará à disposição de todos grandes riquezas culturais, tais como a "memória cibernética" e o "conhecimento acumulado" de todas as gerações, condições sem as quais a democracia mesma jamais poderá ser uma boa forma de governo.

§ 18.
Daqui para a frente




Em síntese, daqui para a frente, em grande parte, o que vai definir a subjetividade contemporânea e sua importância, será sua posição no interior desta hipermídia. Com os recursos dos meios de comunicação multimídia-digital-interativos as subjetividades políticas tradicionais, tal como as cidades e os Estados se desterritorializam sobre o planeta. O que vai valorizar um centro urbano ou uma comunidade, do ponto de vista político e cultural, será sua inserção na rede digital planetária. Qualquer cidade, "fora" da rede cibernética será uma espécie de província "fora do mundo". As "cidades do mundo" serão as cidades plenamente informatizadas. É neste contexto que "a superestrada digital" constitui-se uma prioridade política para todas aqueles Estados que desejam entrar no século XXI com alguma chance de se tornarem competitivos no novo mercado mundial.

O papel do Estado é oferecer e criar os meios através dos quais as riquezas culturais e intelectuais poderão ser apropriadas pela população. Pois, no interior desta nova mídia, não teremos apenas acesso à informação planetária, teremos acesso a novos mundos do trabalho, da cultura e das artes, novas formas de perceber e viver o mundo.

Assim, se o conjunto de premissas aqui apresentados mostra-se verdadeiro, parece que, hoje, sem a inserção no interior desta hipermídia mundial os graves problemas sociais que atingem nosso povo não terão nenhuma possibilidade de resolução satisfatória no sentido do desenvolvimento com justiça social. O sentido da existência, da liberdade, da felicidade e da justiça humanas, se elas podem ser definidas, passa sem dúvida pela possibilidade de apropriação da riqueza e diversidade cultural humana e pela auto-instituição da sociedade e auto-determinação do indivíduo - o que, como vimos, contemporaneamente, só pode ser realizado no contexto da hipermídia.
 

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1) Nota sobre cibernética

O espaço cibernético, o cyberspace, poderia ser compreendido como uma espécie de nova américa, só que sem território e o tempo tradicionais. Seu espaço e seu tempo são, de certa forma, indefinidos. O espaço se redobra sobre ele mesmo sem fim. Um espaço que poderia-se dizer infinito. Um tempo desterritorializado sem hora para começar ou terminar. Tempo sem distância. Espaço sem limites.

Segundo o departamento de cibernética da University of Reading nos EUA:

Cybernetics is the science of information and its application. The word is derived from the Greek word "kybernetes", meaning "steersman". It was coined in 1948 by the American academician Norbert Wiener in his book of the same name. Although he could not know the precise form of the coming technological developments, he foresaw that Control and Communication would become of vital importance to our Science and Society and suggested this new grouping of subjects which transcends traditional academic boundaries.

Cybernetics is concerned with systems and their control, particularly interacting systems. There are four main aspects in the control of any system; acquisition of information, processing of information, communication of information, and finally useful application of information. The subject is well-defined and coherent and is precisely the grouping of topics required by modern industry and society.

[Tradução experimental:

Cibernética é a ciência da informação e sua aplicação. A palavra é derivada da palavra grega "kybernetes", que significa "posição de comando", "fortaleza comandante". ("steersman"). Ela foi cunhada em 1948 pelo professor universitário americano Nobert Wiener em seu livro do mesmo nome. Embora ele não pudesse saber a forma precisa dos futuros desenvolvimentos tecnológicos, ele previu que Controle e Comunicação tornar-se-iam de vital importância para nossa Ciência e Sociedade e sugeriu este novo grupo de matérias as quais transcendem os tradicionais limites acadêmicos.

Cibernética está preocupada com sistemas e seu controle, particularmente sistemas interativos. Há quatro aspectos principais no controle de qualquer sistema; aquisição de informação, processamento de informação, comunicação de informação e, finalmente, aplicação útil da informação. A matéria  bem definida e coerente e é precisamente o grupo de tópicos requerido pela moderna indústria e sociedade.]

A cultura e a subjetividade no seculo XXI pulsará no interior das redes de computadores mundiais nas veias vias óticas de comunicação.
 
 

2) Ver a monografia A Construção da Ágora Virtual vencedora concurso nacional de monografias, Prêmio Florestan Fernandes DEZ DIAS NA GRÉCIA, categoria pós-graduação, promovida pela UnB.
 

Retirado de : http://www.caosmose.net/candido/candido/fundamentacao.html