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O MEC NA CONTRAMÃO?

*Pedro Grava Zanotelli

Será que o Ministério da Educação, depois de tantas iniciativas orientadas para a melhoria do ensino superior, vai dar uma guinada e sair na contramão? É o que parece que vai acontecer, segundo as notícias que estão sendo veiculadas, de redução do tempo de alguns cursos, entre eles Administração e Ciências Contábeis.

Em desfavor dessa idéia, que vem causando preocupação, temos alguns fortes argumentos:

1) Na comparação entre os níveis de desenvolvimento dos países, uma das nossas desvantagens está justamente no tempo de escolaridade.

2) O trabalho de fazer e movimentar coisas, conforme Peter Drucker, está dando lugar ao trabalho de aplicação do conhecimento. Há uma grande ênfase no capital intelectual. Como reduzir a duração dos cursos, diminuindo o tempo de aquisição de conhecimentos, logo agora que a aquisição de conhecimentos se torna mais importante?

3) Na década de setenta foram criados cursos superiores de curta duração, para a formação de tecnólogos. Como estávamos na época do ‘milagre brasileiro’, a justificativa era que havia escassez de engenheiros e era preciso colocar técnicos no mercado de trabalho logo, embora com menor qualificação. Mas agora que o desemprego está cada vez mais dificultando o ingresso de formandos no mercado de trabalho, qual a justificativa? E os cursos de curta duração, que fim deram? Para eles ainda houve uma solução porque os que os fizeram puderam completar os cursos regulares com o aproveitamento de estudos. E, daqui uns anos, quando se notar que a compressão dos cursos serviu para enfraquecer ainda mais a formação já precária, qual será a solução? Seriam os cursos de pós-graduação, os MBAs que já estão formando uma promissora área para investimento empresarial?

4) O próprio MEC implantou e está aprimorando a avaliação dos cursos superiores. Os Conselhos Profissionais estão procurando ampliar o exame para o registro profissional, como faz a OAB. O Conselho dos Contabilistas, por exemplo, está pensando, inclusive, em dois exames, o Provão do MEC, ao final do curso de graduação, que daria um direito parcial ao exercício da profissão de Contador, e um exame de competência profissional, após alguns anos de efetivo exercício em contabilidade, para o gozo pleno dos direitos que a lei assegura ao Contador. E isso para equiparar o Contador brasileiro com os dos países do Mercosul. A par disso, também vem sendo incrementado o processo de certificação internacional. Em vista disso, seria oportuno reduzir o curso de graduação para três anos e meio?

5) Os cursos de Administração e Ciências Contábeis, em sua maioria, são ministrados no período noturno, o que já representa uma grande desvantagem. O próprio MEC, através do antigo Conselho Federal de Educação, reconheceu esse fato e estipulou uma duração maior para os cursos noturnos. Os alunos dos cursos noturnos provêm de classes menos favorecidas, precisam trabalhar durante o dia, vão para a escola cansados e mal alimentados e nos finais de semana não têm disposição e nem meios para estudar. Contudo, os cursos noturnos são oportunidades de ascensão social e precisam ser aprimorados e não precarizados.

6) É consenso entre os que trabalham com profissionalização que os indivíduos que detêm mais conhecimentos desenvolvem as habilidades com maior facilidade porque sabem a razão daquilo que estão fazendo. Inverter o processo não dá o mesmo resultado. Os que querem primeiro aprender a trabalhar para depois estudar limitam o seu horizonte e não se desenvolvem.

Talvez essa nossa preocupação não se justifique e as notícias sejam apenas sobre idéias soltas de pessoas que podem estar bem intencionadas mas que estejam fora da realidade.

*Pedro Grava Zanotelli - professor e diretor da

Faculdade de Ciências Econômicas de Bauru da ITE

E-mail: pegrazan@techno.com.br