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Ensinar o século 21

                            Alvim Toffler e Heidi Toffler*

              A "crise da educação", espectro que assombra quase todos os países, não pode ser
resolvida dentro das salas de aulas. Nem mesmo se houver um computador e uma conexão
com a Internet em cada uma delas.

             Um dos objetivos primordiais da educação é o de simular, na classe, a vida real dos
alunos no futuro. É por isso que se estabeleceu um sistema de educação compulsória para a
massa quando a Revolução Industrial convocou trabalhadores para as fábricas com produção
das escolas, onde realizaram trabalho rotineiro e repetitivo ao longo de anos e então foram
submetidas a testes-padrão, como produtos recém-saídos da correia.

             Hoje, em todo o mundo -até mesmo nos países "high tech"- centenas de milhões de
crianças ainda são submetidas a esses regimes obsoletos, que simulam um futuro que muitas
delas jamais experienciarão.

             Para simular a realidade com que se depararão as crianças, a educação em si mesma
tem de se transformar em uma atividade na qual a hora e o lugar não tenham importância. E
isso significa que muita coisa deve acontecer fora, e não dentro das salas de aula.

     Uma educação que prepare as crianças para o século 21 deve combinar cinco
     elementos.

            Primeiro, a informática. "O computador na sala de aula" é o mantra da moda. Mas
simplesmente enfiar um PC na classe sem mudar a própria escola é desperdício de dinheiro e
energia. Nenhuma instituição é, hoje, menos capacitada para aproveitar as vantagens do
potencial do PC ligado à Internet que a burocrática escola do moderno fabril. Muitos
professores sabem menos sobre o uso de computadores que os alunos.

            Como já descobriu o mundo dos negócios, a introdução da informática significa
necessariamente reorganização e reestruturação. Por difícil que seja reestruturar uma
companhia, mudar o sistema de uma escola é dez vezes mais complexo. Em vez de se
plantarem computadores em escolas que talvez nem estejam interessadas neles seria, ainda
mais, muito melhor aprender com a experiência acumulada pelas empresas e instalar
computadores somente em escolas claramente comprometidas com uma reestruturação de
base em seus currículos, na administração e nos métodos pedagógicos.

            Atualmente, 37% dos lares norte-americanos possuem computadores. A penetração da
informática também aumenta em outros países. Em lugar de despejar recursos nas escolas
em nome de uma melhoria na educação, a prioridade máxima tem de ser a expansão de
computadores ligados em rede nas residências, onde as máquinas podem ser usadas pelos
estudantes e por seus pais. Eles abrirão caminho nas escolas que não estiverem dispostas a
mudar, quando houver necessidade.

            Segundo, a mídia. Os meios de comunicação não podem ser ignorados pelos
educadores, nem a presença da mídia se restringir à presença de televisores nas salas de aula.
A terceira onda da mídia, com seus poderosos efeitos especiais, e, em breve, também com
funções interativas, mais sua capacidade para disparar mensagens talhadas especificamente
para cada criança individual, se provará muito mais sedutora e influente que a segunda, na qual
a mesma mensagem é transmitida a todos.

            Em vez de se colocarem mais aparelhos de TV nas salas de aula, é o caso de entregar
câmeras de vídeo às crianças e mandá-las para produzir seus próprios filmes. Elas logo
aprenderão sobre o processo de "leitura" crítica da mídia, com que facilidade imagens e idéias
podem ser distorcidas, como detectar mensagens publicitárias ocultas em programas de
entretenimento é como identificar demagogia nos políticos.

            Terceiro, os pais. Diferentemente de 1900, quando sociedades amplamente iletradas
produziam a transição do meio rural para os urbano, os professores de hoje já não têm o
monopólio das letras e do conhecimento. É triste, porém verdadeiro, fato é que muitos
professores atualmente sabem menos que os pais e outros membros da comunidade. A crise
da educação não encontrará solução sem que esses pais sejam atraídos para o processo
educacional, não em visitas ocasionais à escola, mas como uso de seus computadores e da
conexão com a Internet.

            Quarto, a comunidade. Precisamos aproveitar o conhecimento distribuído no interior
das comunidades e permitir que mentores voluntários ou orientadores adjuntos sejam
apontados, sob a supervisão de professores, não só entre profissionais como médicos e
músicos, contadores, pilotos engenheiros ambientalistas e profissionais de saúde mas
empreendedores, comerciantes, encanadores e outros com conhecimento especializado a
compartilhar. Trata-se de tirar os estudantes das salas de aula e levá-los a lugares onde se
trabalha de verdade. De oferecer modelos funcionais no mundo adulto. De permitir que as
crianças atuem como alunos internos em esquemas que combinem trabalho e estudo. De
ensinar habilidades administrativas básicas. Em resumo, na medida em que o trabalho sai do
escritório e da fábrica, a educação tem de sair mais e mais da escola.

            Quinto e último: professores. Em vez de disparar lições-padrão, os professores
devem ser libertados da escola-fábrica e solicitados a contribui no reprojeto do processo
educacional como um todo, do começo ao fim. Os melhores devem ser ajudados a se tornar
"corretores", que podem congregar pais, voluntários da comunidade, a mídia local -e as
crianças-, em a escola concebida conforme o modelo industrial em algo mais parecido com
aquilo que uma economia avançada, da Terceira Onda, baseada na informação requer agora ou
virá a requerer no futuro.

            Projeto utópico? Sim, certamente. Mas o mesmo poderia ter sido dito, no despertar da
Era Industrial, da idéia de criar um sistema educacional de massa que simulasse o futuro da
indústria. Aquela forma de educação funcionou muito bem para os nossos pais e os nossos
avós. Hoje, porém, é um verdadeiro desastre para as crianças em países onde a base da
economia se desloca da indústria para o conhecimento.

Alvim e Heidi Toffler são ensaistas e pesquisadores, famosos por suas projeções sobre o futuro político-social; inscreveram, entre
outros, de "O Choque do Futuro" e "A Terceira Onda".

Copyright Alvim e Heidi Toffler

Tradução de Tania Marques

Retirado de http://www.unb.br/cead/pgcafe.htm