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O SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS DIANTE DO
         NOVO CENÁRIO ECONÔMICO NACIONAL

Gilberto D. Calaes


        No período 1968 a 1978, o setor produtivo de rochas ornamentais apresenta um importante ciclo de expansão com a procura intensificada de granitos, o que determina um processo de investigações geológicas na busca de depósitos de novos materiais, para atendimento às preferências de mercado. Além das atividades extrativas, expandia-se também a capacidade de produção do setor de beneficiamento, com a instalação de novos teares. Ainda que de forma modesta, o país começava a impulsionar a sua penetração no concorrido mercado de produtos processados (chapas e produtos acabados).

        Um novo e importante ciclo de desenvolvimento do setor de rochas ornamentais vem se realizando ao longo dos últimos seis anos, associado aos seguintes principais fatores:

- Mudanças Tecnológicas: O avanço das técnicas e equipamentos de extração, desdobramento, corte e polimento tem propiciado ganhos de produtividade nas diferentes etapas do processo produtivo, com conseqüente redução de custos e aumento de competitividade, principalmente dos granitos, em relação aos mármores;

- Ação de Fomento: Diante da importância do setor produtivo com elemento difusor e desconcentrador do processo de
desenvolvimento, entidades governamentais vêm empreendendo programas de fomento e promoção de investimentos, cabendo destacar as ações do DNPM, BNDE e Sebrae, bem como entidades filiadas à Abemin e ABDE.

- Abertura de Mercado: A redução de impostos de importação e a simplificação de correspondentes processos administrativos, estimulam toda a estrutura de oferta do setor, desde o produtor de blocos, de chapas ou de acabados, até fabricantes de equipamentos, implementos e materiais de consumo.

        Diante a este cenário, o setor vem realizando investimentos de expansão e modernização das unidades já existentes, bem como de implantação de novas unidades com concepções avançadas e com a incorporação de tecnologias competitivas. A atual estrutura de oferta nacional de rochas ornamentais pode ser caracterizada pela produção da ordem de 600.000 metros cúbicos/ano, de blocos de mármores e granitos e pela existência de cerca de 1400 teares instalados, compreendendo uma capacidade de desdobramento da ordem de 25 milhões de metros quadrados/ano e uma produção superior a 15 milhões de metros quadrados/ano de material beneficiado.

        Além do notável potencial geológico para materiais diversificados e de rara beleza, o país conta com infra-estrutura de transporte relativamente facilitada, dos depósitos produtores para os pólos de processamento e de demanda, e com portos bem localizados em relação às áreas produtoras. Estas vantagens comparativas fundamentam o comportamento de expansão que vem sendo demonstrado pelo setor, bem como as favoráveis perspectivas de um desenvolvimento ainda mais fortalecido nos anos vindouros.

        No mercado externo, sobressaem perspectivas de ampliação da demanda em países como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, que embora de alta renda "per capita", ainda apresentam consumos específicos comparativamente reduzidos.

        Já no mercado interno, a demanda de produtos acabados (13 a 15 milhões de metros quadrados/ano, ou o equivalente a cerca de 5% do consumo mundial), apresenta forte potencial de expansão, na medida em que seja retomado o crescimento da construção civil e em que seja desenvolvido um trabalho de conscientização do mercado consumidor, com relação às vantagens técnicas e econômicas das rochas ornamentais, em relação a outros materiais de revestimento.

        Assinale-se que o consumo "per capita" brasileiro afigura-se modesto, quando comparado ao de outros países, revelando o potencial a ser desenvolvido no mercado interno, ainda latente. É importante destacar que os 13 maiores índices de consumo "per capita" do mundo ocorrem em países com renda "per capita" superior a US$4.400/ano.

        A expansão e fortalecimento do mercado estarão condicionados a três grandes processos de transformação:

- Avanços Tecnológicos: O aprimoramento das condições de competitividade do setor exige o monitoramento de fatores
tecnológicos relacionados não apenas às operações de extração, desdobramento, corte e polimento, mas também ao transporte, estocagens, distribuição e aplicação do produto. O padrão tecnológico a ser perseguido pelo setor, além de incorporar equipamentos, técnicas e processos atualizados, deve desenvolver uma cultura voltada à gestão de qualidade e produtividade, orientada para a permanente otimização das funções relacionadas a prazos, custos e qualidades, ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a prospecção de materiais que atendam às preferências do mercado, passando pelas etapas de pesquisa mineral e de extração da rocha bruta, até a aplicação de produtos acabados.

- Mudanças nas Relações de Interação entre Oferta e Demanda: Além de marketing, o desenvolvimento do mercado deverá ser também implementado pela busca incessante da competitividade, com arrojo e criatividade. É necessário estabelecer o
entendimento global dos mercados e interagir sistematicamente com os segmentos de demanda. A concepção de parcerias -
objetivando os mercados de grandes incorporações imobiliárias, ou a construção de grandes edificações, tais como "shoppings", aeroportos etc. - representa estratégia a ser aprofundada pelos empresários do setor.

- Crescimento e Redistribuição de Renda: O consumo de rochas ornamentais é condicionado pelo comportamento do fluxo de
novas edificações, o qual, por sua vez, é função de variáveis demográficas (evolução e distribuição regional da população) e de variáveis econômico-sociais (evolução e distribuição do PIB e da renda). Diante ao atual processo de estabilização da economia e retomada do desenvolvimento, o setor de rochas ornamentais deverá ampliar sua base de demanda, com fundamento na redistribuição de renda e recuperação de capacidade aquisitiva de vasto contingente populacional.

        O processo de revigoramento do mercado de rochas ornamentais, que se verificou na Europa, na década de 80, em simultâneo à discussão dos novos paradigmas da economia mundial (globalização, megamercados e novas trajetórias tecnológicas), teve um sensível transbordamento de estímulos para o Brasil, por via de ampliações de mercado para os granitos e outros materiais brasileiros e acesso às tecnologias avançadas de produção.

        O desenvolvimento do mercado de rochas ornamentais requer uma maior interação do setor produtivo com a construção civil. É fundamental que criadores de concepções arquitetônicas, das edificações residenciais e de serviços, sejam melhor informados acerca das características das rochas ornamentais, cores e texturas disponíveis, aplicações recomendáveis etc.

        Novas estratégias de desenvolvimento do mercado de rochas ornamentais, deverão ser formuladas no contexto de uma demanda em processo de "desconcentração concentrada", isto é, desconcentração regional, com concentração em áreas urbanas. Significa dizer que a estrutura da oferta de rochas ornamentais, além de permanecer atenta à expansão da demanda das grandes metrópoles das regiões Sul e Sudeste, deverá voltar maior atenção para os novos aglomerados urbanos das demais regiões do país, assim como também para as cidades de porte do interior.
 

Retirado de: http://www.ietec.com.br/techoje/mn9501-1.htm