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Infância des - valida!
Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas
Não deixemos morrer a criança que há de viver em nós e
alimentemos a esperança de que a infância não desapareça! Que as gerações
futuras tenham uma infância mais longa até, quem sabe, aos treze, catorze,
quinze, dezesseis, dezessete anos!!!...
A infância é uma fase da vida do homem mágica, única e inesquecível. Quem não
se recorda com carinho e felicidade dos momentos vividos em sua meninice?
Quem não se sente bem ao evocar a criança que possui dentro de si e que não
deverá morrer nunca?
Ah! E as brincadeiras da vida infantil? E as peraltices? As artes e mais artes
praticadas inocentemente e sem maiores conseqüências e que deixavam os adultos
de cabelo em pé!
E os primeiros anos de escola! A merendeira, bem maior que a pasta de cadernos
e lápis. E as massinhas, cada uma de uma cor que atiçavam a imaginação. Sem
falar dos lápis-de-cor, lindos que dava vontade de devorá-los, de tão
apetitosos que eram!
E os lanches! O do coleginha sempre era mais gostoso.
E os sucos de groselha, docinhos! E com aquele cheirinho peculiar.! Ainda hoje
sinto aquele cheiro. Cheiro de infância, de coisas de menino!!
E as fugidas para a rua, após fazer os deveres de casa! E as brincadeiras de
passar anel, mãe-da-rua, minha-direita-está-vaga, cantigas-de-roda, cabra-cega,
etc.
E os teatrinhos improvisados com os lençóis branquinhos que tirávamos da cama
de casal. E as brigas de travesseiros! Quem não se lembra! Eram ótimas.
Não me esqueço dos dias de chuva. Corríamos para a rua e ficávamos dentro da
enxurrada que escorria nos cantos da rua. Um pé no meio-fio e o outro chutando
a água que descia. Ninguém se machucava. Era muito divertido!
Na infância da gente tinha tempo de tudo. Tempo de manga, tempo de jabuticaba,
tempo de goiaba, tempo de soltar papagaio (pipa), tempo de andar de bicicleta,
tempo de chupar sorvete, tempo de comer pipoca, tempo de nadar, tempo de ficar
à-toa, tempo de merendar, tempo de férias, tempo de fogueira, tempo de doce de
laranja, tempo de rodar pião, tempo de jogar finca, tempo de brinca de bolinhas
de gude, tempo de colecionar figurinhas de futebol, tempo de chuva, tempo de
frio, de calor, tempo até de contrair alguma doença como catapora, sarampo,
coqueluche, gripe. Tempo de tomar óleo de rícino. Tempo de tomar banho de
mangueira. Tempo de brincar, brincar e brincar...
Aos domingos, após aquele almoço, quase sempre, uma suculenta macarronada bem
vermelha acompanhada de muitas coxas de frango, íamos para a rua brincar de
esconde-esconde ou então ficávamos sentados na varanda conversando sobre os
mais variados assuntos juntamente com as pessoas grandes. A casa sempre cheia,
papai, mamãe, as tias e os irmãos e vez ou outra um vizinho.
À noitinha nos aprontávamos para ir à praça ver a banda de música tocar no
coreto. Era uma festa! Sempre havia um carrinho de pipoca para tornar aquele
ambiente festivo. Os moços vendendo balões coloridos e o velhinho vendedor de
algodão-doce. Não se pode esquecer dessas imagens que ficaram gravadas em
nossos corações de menino!
Hoje o sonho acabou. As crianças estão desaparecendo. A pessoa fica adulta
cedo. Com nove, dez anos o menino se foi. A inocência cedeu o seu lugar ao
instinto e aquela criança de dez anos se transforma num adulto interessado em
coisas de um mundo que está muito longe, distante daquele mundo mágico da
infância, daquela infância que se estendia até aos quinze, dezesseis anos, ou até
mais.
Por que acabaram com a infância ou querem reduzi-la até que desapareça?!
Voltemos a aspirar que as gerações futuras voltem a ter um tempo mais longo de
infância, de inocência, de sonho, de mágica, de cores, de festas, de brincadeiras...
CHAGAS, Marco Aurélio Bicalho de Abreu. Infância des - valida!. Disponível em < http://www.odireito.com/default.asp?SecaoID=2&SubSecao=1&ConteudoID=000438&SubSecaoID=27>. Acesso em 07/06/06.