Cidadania e Educação
Especial
Maria Therezinha Machado
RESUMO:
A autora, reconhecendo
a educação como meio de efetivação da cidadania,
alerta para as deficiências
desta
no setor de atendimento às pessoas portadoras de deficiência
ou habilidades especiais.
Conclamando
o Poder Público, as instituições particulares de ensino
especializadas ou não e a
comunidade,
aponta caminhos para a integração deste contingente populacional
à sociedade, sempre
enfatizando
a necessidade da desinstitucionalização, da inserção
nas classes regulares e da queda dos
rótulos.
Neste contexto, a Constituição Federal, a Lei nº 7853/89,
o Estatuto da Criança e do Adolescente
e a Política
Nacional de Educação Especial são abordados.
A partir do movimento de Educação para todos,
que exige educação básica de qualidade para cada criança,
algumas
barreiras foram eliminadas entre a Educação
Especial e Educação Regular. Ambas fazem parte da Educação
Geral e,
juntas, "tornam as Escolas mais criativas, mais versáteis,
enriquecendo o processo pedagógico" (SALEH, 1994).
Tal é a complexidade do tema - Educação
Especial - que, juristas, políticos, educadores, pesquisadores,
estudantes,
familiares, as próprias pessoas portadoras de deficiências
e aquelas com altas habilidades ( anteriormente identificadas
como "super dotadas" ) discutem o problema !
Não há dúvida, todos concordam, que
é desejável um atendimento global especializado voltado para
essas pessoas,
questionando-se qual a melhor forma de atendê-las
e onde atendê-las. Acreditamos que somente os esforços empreendidos
pelos poderes públicos, em conjunto com as Instituições
Particulares Especializadas ou não, e as comunidades em geral
poderão suprir as necessidades desse atendimento.
Sabemos, que todas estas pessoas são cidadãos
que pensam, sentem, emocionam-se, desejam, se sensibilizam, e,
como tal, devem ter assegurado pelo Estado seu dia-a-dia,
em relação ao trabalho, educação, saúde,
meio ambiente,
moradia, transporte, esporte e lazer, de forma a oportunizar-lhes
acesso aos bens e serviços, através de um patamar de
bem estar e de dignidade que se exige para a pessoa humana.
Para Costa (1990), "o conceito moderno de cidadania, tem
como conteúdo básico os direitos civis, os direitos políticos
e
direitos sociais. Sem a inclusão dessas três
dimensões essenciais, a cidadania será sempre parcial, mutilada,
incompleta". Claro, isto é válido também
para as pessoas portadoras de deficiência ou as com altas habilidades.
A Constituição Brasileira (1988) enfatizou
o tema em vários artigos. Também a Lei n° 7853 (1989),
determina os direitos
das Pessoas Portadoras de Deficiência, bem como
o Estatuto da Criança e do Adolescente 91990) preconiza seu
atendimento especializado. O Ministério da Educação
e do Desporto, em 1993, publica a Política Nacional de Educação
Especial.
Três aspectos vêm sendo enfatizados na
Educação Especial, às vésperas do terceiro
milênio: a desinstitucionalização, a
integração nas classes regulares e
a descategorização ou a queda dos rótulos.
A partir da desinstitucionalização, poderemos
chegar à integração dessas pessoas no meio comum,
sem classificá-los,
sem rotulá-las.
A nova Carta centra-se na pessoa e também na pessoa
especial, fundamentando-se nos princípios de equidade e justiça
social, visando à promoção social
e cultural dos cidadãos em geral e não somente de alguns
segmentos da sociedade.
Acrescenta também que à família,
à escola e à comunidade devem ser dadas condições
que lhes possibilitem
desempenhar papel integral no desenvolvimento pessoal
e social da pessoa portadora de deficiência, pois não a exclui.
COSTA (1990) nos diz: "O maior patrimônio de uma
nação é seu povo. O maior patrimônio de um povo
são as crianças e
os seus jovens". Incluímos aqui, os portadores
de deficiência e os com altas habilidades.
Ainda se mantém muito incipiente o atendimento a
eles. É preciso, no entanto, reverter este quadro. Falar-se em cidadania,
sem lhes dar Escolas, sem atender às suas necessidades
básicas, será um contra-senso. Eles existem, são cidadãos
como outros quaisquer, e como tal devem ser respeitados
e atendidos.
A importância da igualdade de oportunidades para
eles, com a determinação de que todos têm os mesmos
direitos de
compartilhar da vida em sociedade, de acordo com as diferenças
individuais, é um ponto preponderante ao se falar em
cidadania. A liberdade para agir e escolher e o respeito
à dignidade da pessoa humana, são questões que não
se discutem
mais, em Educação Especial. Sem privilégios,
superproteção ou paternalismo, é preciso dar à
pessoa portadora de
deficiência tudo o que ela tem direito, conforme
suas necessidades e possibilitados.
Não se pode deixar anular a pessoa portadora de
deficiência, não permitindo que ela faça suas opções
em relação aos
aspectos cognitivo, social e afetivo. A autonomia delas
deve ser preservada e até mesmo incentivada. Vê-las pelo único
prisma de sua deficiência é relegar seu potencial,
é não as ver além de seus problemas.
Ser solidária é a melhor conduta da
sociedade em relação a elas; respeitá-las, como cidadãos,
a melhor forma de deixá-las
sobreviver - isto é nossa obrigação.
Anexa-se à Educação Especial, via
de regra, uma conotação estigmatizadora: ser atendido por
ela implica em ser diferente,
como toda gama de significados que todo o tema carrega.
Esta visão deturpada, precisa ser clarificada. O medo e os
preconceitos ao que é diferente da maioria, são
grandes obstáculos para sua integração. Para que as
pessoas portadoras
de deficiência gozem dos plenos direitos à
cidadania, entendemos que:
¾ possam ingressar a permanecer em todos os serviços
que são oferecidos às demais pessoas;
¾ sejam conscientizados dos seus deveres e direitos
como cidadãos, a fim de que sejam capazes de reivindicá-los;
¾ não se isolem, convivendo somente entre
si;
¾ haja capacitação profissional para
elas, sem superproteção, mas também sem preconceitos;
¾ removam-se as barreiras arquitetônicas
e ambientais;
¾ preste-se esclarecimentos à população,
através dos meios de comunicação de massa, sobre sua
potencialidades;
¾ discuta-se com as famílias sobre seu papel
no desenvolvimento e orientação educacional e para o trabalho,
dessas
pessoas;
¾ implemente-se a especialização
de recursos humanos para as atenderem, de acordo com suas verdadeiras
necessidades;
¾ fixe-se e se operacionalize políticas
em relação à educação, a saúde,
trabalho, esporte e lazer, relativas a cada área de
excepcionalidade - visual, auditiva, física, mental
e de condutas típicas, bem como de altas habilidades;
¾ permita-se a participação das entidades
representativas dessas pessoas, em todas as etapas dessa operacionalização;
¾ unam-se, através de estratégias,
os órgãos Federais, Estaduais, Municipais, Instituições
Privadas e a Comunidade,
visando a um planejamento articulado que atenda a essas
pessoas;
¾ regulamente-se os dispositivos legais referentes
aos portadores de deficiências.
É preciso saber quem elas são, que experiências
viveram até o presente, que conhecimentos construíram, que
habilidades
desenvolveram, enfim, estar consciente da posição
delas na organização social para, a partir daí, planejar
a ação, a fim de
lhes facilitar o exercício da cidadania. Isto tudo,
levando-se em conta a especificidade de cada caso, e as possibilidades
e
necessidades impostas pelas limitações específicas
da cada um, não esquecendo da participação ativa dessas
pessoas
em todas as fases das discussões, pois somente
elas nos dirão o que precisam, como precisam e quanto precisam.
Sabe-se que, uma em cada cinco crianças, necessita
de uma forma de Educação Especial, em algum momento de sua
escolarização. Portanto, justifica-se
atenção especial para este grupo.
Não podemos deixar de abordar a questão de
prevenção, quando se fala em Educação Especial.
A exemplo da
obrigatoriedade de vacinas e acompanhamento pré
natal, medidas têm que ser tomadas para que a ação
preventiva seja
uma realidade em nosso País.
Todas as Escolas, especiais ou não, e todas as empresas
precisam estar abertas, serem democráticas, pluralistas, a fim
de receberem pessoas portadoras de deficiência,
conhecendo-as e podendo comprovar o quanto elas podem participar e
produzir. Isto enriquecerá a todos.
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Retirado de: http://www.abmp.org.br