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“Mercoescola” e exclusão social

GLADYS MARY TEIVE AURAS

PROFESSORA DO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS EM EDUCAÇÃO, DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO/UDESC 


        O século 20 finda com um misto de fascínio e assombro. Fascínio por ter avançado muito além de tudo o que foi sonhado técnica e cientificamente e assombro por ter ficado muito distante da sonhada igualdade entre os homens. O ano 2000 descortinará um mundo em que a humanidade estará em comunicação direta, numa imensa aldeia global, mas, paradoxalmente, separada por violento apartheid social, que afasta os que, pelo domínio da técnica, dispõem do poder de transformar a natureza em riqueza material e cultural, dos excluídos desse poder, submetidos a todas as misérias. O avanço científico e tecnológico não eliminou a fome, a escravidão, a violência ou a ignorância.  

        Ao contrário, elas tomaram contornos assustadores neste final de século, onde apenas 20% dos habitantes detêm 82% da riqueza do planeta. 

        Em tempos de economia globalizada, reduz-se o espaço para prioridades sociais ou preocupações humanitárias. A educação não foge a esta lógica. Ela adentra o novo milênio impregnada do reducionismo econômico que tem caracterizado a perspectiva neoliberal. Educação para a eficiência, educação como mercadoria, educação compromissada com a formação de “cidadãos” clientes, consumidores. Os significados que passaram a governar a vida social são a competitividade, livre mercado, flexibilização, privatização, globalização... 

        Nessa perspectiva, a escola do século 21 tende a transformar-se em “mercoescola”, comprometida com o mercado e com a continuidade da situação excludente global. Esse desenho de escola já delineia-se nas reformas educacionais propostas pelo governo federal que, sintonizadas com o receituário do Banco Mundial, buscam aproximar, como nunca antes visto, a educação da racionalidade produtiva do capitalismo globalizado. 

        Contudo, para aqueles que ainda acreditam que em primeiro lugar vêm as pessoas e que estas não podem ser sacrificadas em nome da produção, são outros os significados que devem governar a vida social. Mas eles não são exequíveis numa sociedade profundamente excludente e desigual como a que se apresenta neste final e início de novo século.  

        É preciso, portanto, continuar apostando num projeto de sociedade, de educação e de escola centrado na solidariedade e igualdade dos seres humanos. Talvez o primeiro passo para a consecução desse projeto seja recuperarmos nosso inconformismo diante da opressão, da marginalização de grupos e culturas, do etnocentrismo, do racismo, do machismo, dos fundamentalismos, exacerbados neste final de milênio, e apostarmos num projeto educacional que possibilite a construção de uma cultura voltada para a inclusão, para o pluralismo e para a construção de identidades individuais e sociais autônomas.  

        Este é, sem dúvida, um dos grandes desafios para a educação do novo século.

 

http://www.diario.com.br/espec9/materias/pagina27.htm