QUANDO O TEMA É A VIOLÊNCIA
Do livro:
VERONESE, Josiane Rose Petry. Entre violentados e violentadores. São
Paulo:
Cidade Nova, 1998.
Por: Francisco Quintanilha Veras Neto
Os seres humanos são dotados de um valor essencial a “liberdade”
. Teoricamente a violência sofreria o contrapeso de seu oposto os
direitos fundamentais, direitos naturais subjetivos inalienáveis
do ser humano e que implicam na resistência, perceptível na
defesa da cultura indígena, ecologia, dos direitos das crianças,
das mulheres, dos idosos, dos deficientes, das minorias étnicas,
da paz.
Falar em direitos humanos significa proteger a vida, a integridade
física, a liberdade de expressão, de opinião, religião.
Além disto devem ser considerados os direitos econômicos sociais,
como o direito a educação, ao trabalho, saúde, lazer.
P. 09
As suas dimensões estão acima do direito nacional
e das convenções internacionais. A idéia de
justiça não se restringe ao campo do Direito, mas aponta
uma trajetória a ser realizada com vista a realização
da idéia do homem, isto é, do princípios da dignidade
humana. A história dos povos tem sido permeada da violações
dos Direitos Humanos, agrupamentos e povos inteiros. 09 /10.
Os meios de comunicação oferecem um cenário
permeado por guerras, por massacres como o do Vigário Geral e da
Candelária, os dos Sem-Terra e dos Sem-Teto, o nosso cotidiano está
imerso num imaginário de violência, a violência do nosso
modelo social, são expostas como coisas do cotidiano. Será
que está cultura não está reproduzindo eletronicamente
um tipo de sociedade calcada no horror das praça de tortura descritas
por Foulcout no seu livro Vigiar e Punir. P. 10
Cria-se a noção de inimigo, tirada da obra de Freud
o mal estar da civilização. Para criar a identidade de um
grupo precisa-se recorrer a um inimigo externo, isto está na obra
o Mal Estar da Civilização e do jurista Alemão Karl
Schimdt, na criação da máxima amigo e inimigo, justificando
o enrigecimento da política nazista. P. 10
A violência acaba por suscitar na sociedade o defensismo.
O corpo social orienta-se no sentido do perigo que representam os indivíduos.
E isto resulta na segregação, na remoção simplista
que de alguma forma desrespeitarem as normas sociais. O Labeling aproach,
cria-se o efeito da auto-exclusão. P. 10
A sociedade trata a violência como um tema banalizado,
não merecedor de atenção, a sociedade conduz-se a
irracionalidade pela própria incapacidade de indignação
das pessoas. Perde-se a capacidade de ações positivas, as
pessoas caminham para a omissão, ou seja, a passividade e o conformismo,
ou se conduz a uma atitude de revolta contra tudo e todos. Somos
bombardeados pelo problema da violência urbana, a violência
institucional do aparato repressivo (Judiciário e Polícia).
A violência no trânsito que mata mais de 50 mil pessoas ao
ano, a discriminação racial, a violência contra a mulher,
o sistema carcerário, as rebeliões do presídio. P.
11
A deliquência infanto-juvenil e o seu extermínio
por grupos de matadores nos grandes centros urbanos. Aduz-se então
a idéia de responsabilidade social, no sentido de que todos teriam
que se situar de alguma forma contra o problema da violência. É
claro que isto não pode conduzir a uma desresponsabilização
do Estado. Surge a hipótese de ações baseadas na não
violência e no pacifismo como o efetuado por Mahatma Gandi. Segundo
Gandhi a injustiça vem do opressor, mas também do oprimido
que consente com a tirania. P. 12
A não violência não deve ser vista como uma
submissão cega ao poder, sugere o inconformismo e a revolta pacífica,
a conscientização da situação social e a luta
pela melhoria da qualidade de vida, seja através da via institucional
através das políticas públicas coerentes com a nossa
realidade, seja na esfera privada, explorando o autoritarismo e a exploração
vigentes na nossa sociedade nas relações interparticulares
e domésticas. P. 13
O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA URBANA E SUA MÚLTIPLAS FACES
A violência destrói a convivência social, na medida em que destrói a capacidade de confiar no outro.
Violência urbana
A violência urbana não é um assunto tratado
de forma simples é estudada por ramos tão diversos como a
criminologia, a psicologia, a biologia criminal, o direito. A violência
urbana expressa através da criminalidade possui uma raiz econômica
nitidamente identificável. A falta de opção nas grandes
cidades, um sistema habitacional deficitário, o desemprego estrutural,
o êxodo rural, as crises na construção civil, o alcoolismo,
o narcotráfico ou mesmo os crimes praticados por necessidade e carência
alimentar como o furto. Uma sociedade como a nossa é formada por
uma massa de absolutamente excluídos estimada em mais de 30 milhões
de pessoas, que está se agigantando como uma bola de neve.
Porém a maior parte dos criminosos praticam crimes contra
o patrimônio e uso de drogas. Pertencem ao estragema social mais
excluídos composto por pessoas desempregadas, de ascendência
africana e mestiça e brancos pobres. Isto não quer dizer
que esta classe comete mais crimes que a dos colarinhos brancos, ou dos
playbois das grandes cidades que ateiam fogo em mendigos, indios e furtam
aparelhos de Som. Na verdade, esta classe é apenas mais vulnerável
a atuação dos órgãos de controle social, como
a polícia. Se não fizermos isso estaremos incluindo em nosso
conceito uma visão reducionista entre marginalidade social e criminalidade.
Se fizermos isso estaremos caindo no mito das classes perigosas.
Na verdade, o sistema prisional por acarretar segundo Arnauld uma ultraespecialização
criminosa e uma tendência para o retorno a delinquência.
Ocorre a questão da não ressocialização
do presidiário pelo atual sistema prisional, o seu regresso a uma
sociedade marcada pela estigmatização social, com possibilidades
remotas de obtenção de um emprego e sem nenhuma assistência
social.
VIOLÊNCIA E IMPUNIDADE
Cria-se uma sensação de medo, horror e angústia,
perante a violência que vem assumindo requintes de crueldade. A juventude
vai cada vez mais internalizando este cenário e são visíveis
cada vez mais os cenários de distorção comportamental,
com a prática de certos atos que vão desde rachas no trânsito
aos homicídios, como o assassinato do Índio Pataxó,
Galdino de Jesus dos Santos por jovens da classe média de Brasília
(que brincavam de incendiários, justificando sua ação
com a seguinte frase, não sabíamos que era um índio,
pensamos que fosse um mendigo. Para os excluídos sociais não
resta senão o extermínio. P. 16
Isto reacende o debate em torno de saber, se a prática
de tais atos por este extrato privilegiado da população,
não esteja associado ao mito, em especial incidente sobre o Direito
Penal, de que este tutela os interesses da sociedade de forma igual para
todos. P. 17
Para Foucault, deve-se reconhecer de que a lei é feita
por alguns e se aplica a outros, que, em princípio, ela obriga a
todos os cidadãos, mas se dirige principalmente as classes mais
numerosas e menos esclarecidade. P. 17
Essa afirmação de Focault, nos conduz a teoria
do etiquetamento ou labelling aproach, que supervaliza o controle social..
A criminalidade não possui ontológica mas definitorial. O
sistema punitivo passa a atuar não em função do crime
cometido, mas atua guiado pelo status social do infrator. É em razão
disto que as classes sociais mais oprimidas atraem as taxas mais elevadas
de criminalidade.
O direito penal desta forma não tutela os interesses comuns
a toda a sociedade, mas cuida da defesa de interesses de grupos e classes
detentoras do poder político-econômico. Isto se manifesta
no seu cunho patrimonialístico. “O sistema penal, portanto, não
apenas revela as relações de poder e propiredade existentes
no sistema social, como também reproduz e legitima ideológicamente
tais relações.” P. 17
As classes protegidas são aquelas que conseguem obter
consumo e prazer, os demais são descartáveis. A impunidade
também se manifesta nos chamados crimes do colarinho branco, praticados
contra o sistema financeiro, crimes empresariais. Nas lesões contra
o direito do consumidor e ao meio ambiente. Estes crimes geram lesões
a comunidades inteiras.
No que toca as relações de consumo não é
raro, que os produtores de mercadoria lancem produtos fora das especificações
defeituosas ou maléficas para saúde, visando com isto ampliar
sua margem de lucro. P. 18
Praticam-se também o crime de sonegação
fiscal, lesando os cofres públicos e a capacidade de investimento
do Estado nas áreas de saúde, educação e previdência
social. Estes crimes se caracterizam pela vitimização difusa,
atingem uma coletividade, um número indeterminável de pessoas..
P. 18
Ocorreria o descomprometimento, o descaso para com a sociedade,
pelo simples afã de um lucro sem limites.Estaríamos diante
de uma sociedade sem coração, descompromissada com o amor,
a tolerância. A violência é antiunidade, e a cultura
da unidade é a antiviolência. P. 19
A dignidade da pessoa humana dentro da doutrina do direito natural,
independe da condição social, credor, ideologia da pessoa.
P. 19
VIOLÊNCIA E SEGURANÇA PÚBLICA
A palavra segurança lembra assegurar, garantir, proteger,
a discussão sobre a violência praticada pelo aparato repressivo
teve maior destaque depois da difusão destas informações
mostradas pela televisão, até de modo exaustivo por todos
os canais de televisão, isto põem em tona a militarização
da segurança pública. P. 19
Mesmo na Palestina onde ocorre uma verdadeira guerra, as tropas
de Israel, utilizam prioritariamente armas de efeito moral: borracha, gases
e jatos d’água, recursos clássicos de polícia antimotim
para conter o furor de multidões agressivas. No Brasil no caso de
conflitos rurais e urbanos são usadas armas letais.
A Human Rights Watch/Americas, uma organização
não governamental (ONG) que atua na defesa dos Direitos Humanos,
em seu relatório Brutalidade de Polícia Urbana no Brasil
1997, divulgou que a Polícia do Rio de Janeiro é uma das
mais violentas do Brasil. Em 92 incidentes envolvendo policiais militares,
contabilizaram-se mortes de 72 civis, vinte e quatro feridos civis, com
seis baixas e trinta e sete feridos entre policiais militares. P. 20 A
situação é ainda pior com a Rondas Ostensivas Tobias
Aguiar criada por Maluf que haje como uma verdadeira polícia de
extermínio o que foi denunciado pelo jornalista Caco Barcellos,
o extermínio ocorre principalmente quando o “suspeito” é
negro, em geral a polícia conclui a sua ação com um
tiro da nuca do suspeito e dando entrada nos hospitais objetivando criar
a versão de que tentaram prestar socorro médico ao criminoso.
P. 21
Desempenhar a função policial não é
simples, exige preparo físico, treinamento de pontaria e defesa
pessoal. Treinamentos tão duros que chegam a custar a vida de alguns
policiais. Ocorre também um alto indíce de suicídios
entre os policiais militares atingido também por severas pressãopsicológica
e baixa remuneração, muitas vezes moram nas mesmas favelas
do resto da população marginalizada. P. 20
A violência institucional das polícias militares
poderia ser reduzida com iniciativas como a difusão de cursos acerca
dos direitos humanos. O Distrito Federal, além de assumir esta idéia,
como já fizemos com outros Estados da federação, criando
uma Escola Superior de Segurança Pública, com início
previsto para 1998.
Disciplinas como ética, filosofia, história e ciências
políticas farão parte do ciclo básico desse curso
de graduação. O principal objetivo dessa escola é
formular um novo conceito de segurança pública, uma vez que
o cidadão não pode ser concebido como uma ameaça,
mas como uma pessoa merecedora de proteção. Roberto Aguiar
dizia que a concepção de segurança estava muito associada
a visão do Regime Militar e à Lei de Segurança
Nacional. Cabe a polícia proteger o Estado, o cidadão é
sempre visto como um potencial inimigo. P. 21
VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO
A violência no trânsito é o despreparo dos motoristas e pedrestes, além do alcoolismo , da falta de pistas em bom estado, das falha mecânica, além do alcoolismo, da falta de pistas em bom estado, das falhas mecânicas etc. Outro problema crucial é a impunidade de quem comete infrações. As ações de segurança preventiva deveriam ser icentivadas, que enfatizem o valor vida, e de modo universal enfatizam ações como a paz, solidariedade e confiança. P. 21
VIOLÊNCIA E MÍDIA
A televisão constitui-se num fenômeno que garante
educação e lazer. A cultura televisiva esvazia-nos de valores,
banaliza a violência, mas suscita a sua reprodução,
porém a mídia incrementa a degradação das relações
humanas, tornando-se desumanizadora. Gabriel Tarde, jurista francês
defende a tese no seu movimento psicosociológico, As leis da imitação,
escrita em 1890, a alavanca que ativa o conglomerado social é justamente
a imitação, desde as mais banais como o modismo, as mais
trágicas como o uso do álcool e das drogas suicídios,
que influênciam negetiva e direta a televisão sobre o telespectador.
P. 23
Os programas infantis ao invés de serem informativos e
formativos, em geral estimulam a malícia, a erotização,
a cultura do individualismo por meio de seus jogos meramente competitivos.
P. 23
Na Suíça os programas infantis são voltados
para a crianças, não queimando etapas no desenvolvimento
das crianças. P. 23
Pesquisas realizadas na Europa e nos Estados Unidos tem demonstrado
que vários distúrbios comportamentais tem demonstrado desvios
na população infantil. Nos Eua uma criança pode Ter
assistido pelas telas da TV, a oito mil assassinatos e cem mil cenas de
violência dos mais variados gêneros. P. 23
Isto pode influir de forma decisiva na construção
da personalidade nas primeiras fases do desenvolvimento humano, ocasionando
sérios problemas numa fase de assimilação de valores,
as crianças até os sete anos tem dificuldade de separar a
fantasia da realidade, além disto a televisão pode dissiminar
uma visão preconceituosa de grupos como os negros, homossexuais,
pobres e mulheres, ao lado de perigosos preconceitos políticos e
ideológicos.
Porém, a discussão da programação
inclui a discussão da questão da censura, mais do que nunca
presente, isto invoca a questão da discussão da responsabilidade
e ética dos difusores da informação em relação
ao princípio da dignidade humana e o princípio da liberdade
de imprensa e de informação, o que exige o estabelecimento
de qual dos dois princípios em uma ponderação possui
mais peso e importância.
Levante-se no debate também a questão do controle público
da informação. Os que são contrários ao controle
dos meios de comunicação, argumentam que as pessoas tem a
liberdade de mudar de canal, há realmente opção numa
televisão ditada pelas regras do patrocínio e da consequente
guerra de audiência. P. 25
Os canais de televisão funcionam dentro das regras da concessão
pública, a solução está em mecanismo democráticos
de controle da televisão. P. 25
O primeiro BSC (Broadcasting Standards Council), é responsável
pelo acompanhamento do conteúdo da programação, atento
ao uso adequado da língua e sobretudo à dignidade dos cidadãos,
em se tratando da cobertura de desastres naturais e tragédias humanas.
O segundo órgão é a BCC (Broadcasting Complaints Comission),
que tem a tarefa de analisar as queixas dos telespectadores. P. 25
Além disto a televisão também contribui para a
formação de opinião. P. 25
VIOLÊNCIA E PRECONCEITO RACIAL
A violência racial estão presentes no período
escravagista que marcou e continua marcando nossa história.
A ideologia escravagista considerava a criança negra como coisas,
mera força de trabalho. Segundo Relatório de Desenvolvimento
Humano no Brasil, de 1996, 35,2% dos negros e 33,6% dos pardos são
analfabetos, enquanto a porcentagem para a população branca
é de 15%. P. 27
Somente 18% dos negros e 26% dos pardos com segundo grau completo tem
possibilidade de ingressar na universidade, enquanto para os brancos a
probabilidade sob para 43%. Não há racismo cordial, o mito
da democracia racial brasileira.
De acordo o mesmo relatório, o Brasil ocupa sexagésimo
terceiro lugar em qualidade de vida, mas se considerar de forma isolada
a população negra brasileira, considera-se a centésima
vigésima posição, de acordo com o Ìndice de
Desenvolvimento Humano. P. 27
E ficaremos no mesmo nível das ilhas Vanuatu, na Oceania (centésimo
décimo nono) e Lesoto (centésimo vigésimo) e Zimbabue
(centésimo vigésimo primeiro), países considerados
pela ONU com baixo desenvolvimento humano. P. 27
A sexagésima terceira posição coloca o Brasil
entre os países com médio desenvolvimento humano. "O país
de melhor qualidade de vida do mundo é o Canadá, seguido
pela Suíça, e pelo Japão; enquanto Guiné, na
África, possui o pior índice de qualidade de vida." P. 27
A reação negra a escravidão manifestou-se através
de Quilombos. P. 27
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A história humana se caracterizou com exceção
das sociedades matriarcais, a sociedade patriarcal se hegemonizou nas sociedades
posteriores. Na Sociedade Grega e Romana a mulher era completamente ignorada,
principalmente em Roma com o pater familias. Na Idade Média a mulher
é considerada causadora do pecado original. Mulheres inteligentes,
com talento para as práticas médicas, as artistas, as escritoras
eram perseguidas sob a alegação de serem criaturas demoníacas.
Na Idade moderna a mulher continuou a Ter um papel nulo. Em 1934
a mulher adquiriu o direito de votar pela primeira vez no Brasil. P. 29
Na década de cinqüenta e sessenta se desencadeou
um processo de libertação da condição feminina,
com o anticoncepcional, o ingresso da mulheres no mercado de trabalho,
houve também luta por espaços públicos e políticos
hegemonizados pelos homens. P. 29
A mulher dispõem de menor força física e
por isto é vítima de mais agressões. Os companheiros
são mais agressivos com mulheres adultas, do que o pai e mães
em relação às suas mulheres menores. Existe a dupla
jornada de trabalho, para isto é necessária uma discussão
ética sobre o novo papel da mulher, emancipando-a de forma definitiva.
P. 30
VIOLÊNCIA CONTRA A POPULAÇÃO INFANTO-JUVENIL
Aqui falamos da questão dos trombadinhas, pivetes, deliquentes
juvenis, violentadores, que nos causam medo ou mesmo pânico nas praças
e ruas de nossas cidades, sobretudo as de grande porte, conhecemos um universo
desses meninos e meninas enquanto objeto de violência. P. 31
Este quadro de violência contra a criança justifica
como uma das razões que o Estatuto da Criança e Adolescente
(lei 8.069/90) encontra tanta resistência nestes seus quase oito
anos de vigência. Essa lei traz uma nova concepção
de criança e do adolescente, universo que engloba a crianças
independente de sua situação irregular que os menorizava,
agora no plano legal visa-se considerar a criança como cidadã,
sujeito de direitos. P. 31
Esta lei significa um compromisso institucional de romper com
a cultura que coisifica a infância e a juventude, retirando-as da
condição de objeto e elevando-as a autoras da própria
história, isto implica uma mudança de valores, de idéias
e de condutas. P. 31
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Os adultos que sofreram abusos e maus tratos na infância
tem mais chance de reproduzirem as mesmas condutas. As crianças
submetidas a violência possuem maiores indíces de comportamento
antisocial. A criança nada mais é do que um mero objeto,
domínio absoluto dos pais. Esta postura aceita a violência
como se fosse algo natural. P. 32
Murray Straus diz que na avaliação desta violência,
deve-se levar em conta fatores como status econômico das famílias,
o sexo das crianças, o apoio emocional e estímulos mentais.
Este autor chegou a conclusão pela sua pesquisa que o fator que
gerava comportamento antisocial nas crianças eram as surras. P.
32
No início nos estágios inicias a crianças
apenas apanha, depois começa a reagir e o grau de espancamento podem
levar a lesões mais fortes ou a própria morte. Mais tarde
os próprios pais agressores podem ser vítimas dos filhos
agredidos, quando adolescentes ou na juventude. P. 32
Crianças e adolescentes precisam de disciplina, mas não
de agressão, as crianças que sofrem violência a reproduzem
com armas e drogas nas escolas, assim como através de outros atos
como pichações e toda forma de vandalismo.
A violência ou abuso sexual doméstico é aquele
que tem por vítima a criança ou adolescente e como vitimizador,
os próprios pais agressores, ou por afinidade, tutores, responsáveis,
guardiões e demais parentes irmãos, avós, tios, primos,
etc. p. 33
PROSTITUIÇÃO INFANTO-JUVENIL
Quando abordamos o tema da exploração sexual de
crianças e adolescentes, é possível falar em prostituição,
a socióloga Marlene Vaz pergunta se essas mulheres seriam meninas
prostituídas ou prostitutas. Estima-se que quinhentas mil meninas
são exploradas em redes organizadas de prostituição
no Brasil. P. 33
Em 1994 foi inaugurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito,
tornou ainda mais explícito o que vinha sendo denunciado, através
dos meios de comunicação e literatura, a respeito da exploração
de crianças e adolescentes brasileiros. P. 34
O relatório conclui que crianças de 6 anos eram
prostituídas, meninos de 5 anos contracenavam com meninas de doze
em filmes pornográficos. As famílias desestruturadas oferecem
um risco para as crianças que preferem a prostituição
infantil, em outros casos menores abandonados buscam uma refeição
através desta prática. P. 34
As de classe média são atraídas pela fantasia
das agências de modelo, outras se prostituem nos pacotes de pornoturismo.
Esta rede é alimentada por agências de viagens, que
vendem a turistas pacotes turísticos que incluem passagens, hotéis,
passeios e oferecem-se as mulheres com o estereótipo da mulata.
P. 34
A Europa Oriental, o Sudeste Asiático e a América
Latina tornaram-se verdadeiros paraísos dos pedófilos. P.
34
Conclusões da CPI: na há limite de idade, a mais
meninas que meninos, as pobres se prostituem por comida, as de classe média
pela roupa da grife, as meninas em geral são captadas por agenciadores,
a droga favorece o ingresso na prostituição para conseguir
mais drogas, há elevados níveis de incesto o que pode levar
meninas a prostituição, além disto a sociedade brasileira
considera a prostituição normal, polícia e os
órgãos de fiscalização recebem propinas e a
prostituição infantil torna-se impune. P. 35
A nossa constituição estabelece no art. 227 de
1988:
"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, saúde, alimentação, educação,
ao lazer, profissionalização, cultura, dignidade, ao respeito,
liberdade e convivência familiar e comunitária, além
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão."
P. 36
No seu parágrafo 4º, preceitua:
A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração
sexual da criança e do adolescente. P. 36
A Convenção sobre os Direitos da Criança,
adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em
20 de novembro de 1990, da qual o Brasil foi um dos signatários,
determina:
Art. 34. Os Estados Partes se comprometem a proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso sexual. Nesse sentido, os Estados partes tomarão, em especial, todas as medidas de caráter nacional, bilateral, multilateral que seja necessárias para impedir:
a) o incentivo ou a coação para que uma criança
se dedique a qualquer atividade sexual ilegal;
b) a exploração da criança na prostituição
ou outras práticas sexuais ilegais;
c) a exploração da criança em espetáculos
ou materiais pornográficos.
A impunidade da prostituição infanto-juvenil significa
uma violação direta a constituição federal,
e a convenção das Nações Unidas e para com
os direitos proclamado no Estatuto da Criança ou Adolescente. A
prevenção envolve uma ação conjunta da sociedade
e do Estado, a campanha de 1996 obteve algum êxito com a diminuição
da prostituição infantil. No começo de 1998 foi lançada
outra campanha envolvendo a Embratur (Empresa Brasileira
de Turismo), a Abav (Associação Brasileira de Agentes de
Viagem), a Andi (Agência Nacional dos Direitos da Infância)
e o Ministério da Justiça. Especialmente nos Estados com
grandes redes hoteleiras como a Bahia, Pernambuco e Ceará. A proposta
é de provocar denúncias 0800-990500 quando qualquer pessoa
perceber atitudes estranhas dos agentes de turismo, agências de viagem
ou se ouvir comentários em aeroportos, bares, restaurantes relativos
aos oferecimentos de garotos e garotas de programa. P. 37