Família: Laços de ternura Pesquisa mostra que a adoção
no Brasil funciona melhor do que se imagina.
Arthur Carlos Rosa Numa manhã de inverno em 1978, a assistente social Zélia Machado, 49 anos, encontrou um bebê recém-nascido num terreno baldio em frente de sua casa, em Curitiba. Era uma menina morena que chorava muito, ainda com o cordão umbilical, embrulhada numa sacola de papel. Zélia, uma descendente de ucranianos de olhos azuis, levou a criança ao hospital e, ignorando a opinião contrária de parentes e amigos, resolveu adotá-la. "Foi a melhor decisão da minha vida", diz hoje. Aos 18 anos, Patrícia, a filha adotiva, está-se preparando para o vestibular e tem com a mãe um relacionamento melhor do que muitos filhos biológicos em outras famílias. "Às vezes até esqueço que fui adotada", conta. Histórias como essa compõem a primeira grande pesquisa sobre adoção no Brasil, feita pela psicóloga paranaense Lídia Weber em doze Estados de diferentes regiões. O estudo, que acaba de ser apresentado no XXVI Congresso Internacional de Psicologia, realizado em Montreal, no Canadá, desmente alguns mitos sobre a adoção no país. Mostra, por exemplo, que a adoção é uma experiência muito mais tranqüila e gratificante do que se imagina para pais e filhos. "Oitenta e cinco por cento dos casos estudados foram muito bem-sucedidos", atesta a pesquisadora. "Esse resultado desmente a tese de muitos psicólogos e psiquiatras segundo a qual a perda dos pais biológicos é irreparável e determinante de todos os problemas nas crianças adotadas." Professora da Universidade Federal
do Paraná, Lídia Weber pesquisou durante um ano e meio 164
famílias adotivas com filhos maiores de 12 anos. Descobriu que metade
das adoções ocorreu em famílias de classe média,
com renda superior a 1 500 reais por mês. A maioria era formada por
casais na meia-idade — 33 anos, em média, para as mulheres, e 38,
para os homens. Quatro em dez pais adotivos tinham curso superior completo
(veja quadros). "O compromisso dos pais adotivos com a educação
dos filhos é, às vezes, maior do que nas famílias
com filhos biológicos. A capacidade de envolvimento e o desejo de
que a relação dê certo são muito fortes."
Preferências — A pesquisa da professora paranaense também aponta que fatores ajudam ou atrapalham o relacionamento entre pais e filhos adotivos. Os casos mais bem-sucedidos ocorreram em famílias cujos pais tomaram a iniciativa de contar aos filhos que eram adotivos sem nunca tentar esconder deles essa circunstância. "Quinze por cento de casos problemáticos foram aqueles em que os filhos souberam tardiamente que eram adotados ou, pior ainda, por informação de terceiros", conta a psicóloga. "Tentar esconder uma informação tão crucial pode resultar numa quebra de confiança irreparável na relação entre pais e filhos." A pesquisa comprovou também
outro traço já conhecido no perfil da adoção
no Brasil: a maioria dos futuros pais ainda prefere crianças brancas,
saudáveis, recém-nascidas — até 3 meses de idade —
e do sexo feminino. "Uma criança branca tem muito mais chance de
ser adotada no Brasil do que uma negra ou morena", afirma Lídia.
"As pessoas com melhor situação financeira são as
que fazem as maiores restrições nesse aspecto." Dados coletados
por sua equipe, nos processos de adoção realizados entre
1990 e 1995 no Juizado da Infância e da Juventude de Curitiba, mostram
que os estrangeiros são muito mais flexíveis quanto a idade,
cor e sexo da criança. Nesse período, os estrangeiros adotaram,
em sua maioria, crianças com mais de 5 anos, do sexo masculino e
morenas.
|
Retirado de: http://www.lexxa.com.br/pba/8famlcter.htm