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O PT, a Lei
do Carma e a ortodoxia econômica da Era FHC
Durante anos militantes e dirigentes do PT infernizaram
adversários e partidos alheios. Eles se esmeravam em ataques a tudo e a todos
que não pertenciam a sua grei, e suas principais armas eram a difamação e a
desqualificação de suas vítimas
Maria Lucia Victor Barbosa
Entre as várias lições de sabedoria transmitidas
pelo induísmo, está a noção de carma. Carma não é em si recompensa nem punição,
mas uma lei tão impessoal e certa quanto a lei da gravidade. Na verdade, é a
relação de causa e efeito, na qual a toda ação corresponde uma reação. Assim,
cada um, inevitavelmente, está ligado ao seu carma, o que significa que até as
mais altas autoridades do PT não escapam desta lei universal.
Durante anos militantes e dirigentes do PT infernizaram adversários
e partidos alheios. Eles se esmeravam em ataques a tudo e a todos que não
pertenciam a sua grei, e suas principais armas eram a difamação e a
desqualificação de suas vítimas. Muitos males deviam ser banidos da face do
Brasil pelos bravos discípulos de um redentor, que viria montado no seu cavalo
branco para subjugar o dragão da maldade. O terrível animal tinha várias
cabeças e, entre as mais horrendas, podia-se ver a do FMI, das privatizações,
do imperialismo ianque, do mercado externo, do Estado mínimo, da liberdade de
mercado.
Mas eis que chegando ao poder, o PT empunhou não a bandeira
vermelha, mas a da macroeconomia do tão criticado FHC, tornando-se mais
realista do que o rei dado o exagero na ortodoxia. "Que dolorosa
frustração", clamam, então, petistas desnorteados, "como conviver tão
harmoniosamente com o FMI, aceitar a taxação dos inativos, suportar juros tão
altos, engolir as malditas reformas da Previdência e Tributária?" Eles não
sabem que isso é questão de carma.
E enquanto o governo vai se aproximando dos seis meses, os efeitos
do carma continuam a se manifestar. Não há como negar o esforço do ministro da
Fazenda e do presidente do Banco Central para manter o Brasil nos trilhos da
economia, reproduzindo a nova agenda de Washington, mas será que tanto remédio
não pode virar veneno e matar o paciente?
No plano político aumenta o coro dos insatisfeitos. Curiosamente,
isso se dá no âmbito dos tradicionais aliados, entre membros do próprio PT e
até nos inúmeros ministérios. No mais, há um ir e vir, um afirmar e voltar
atrás, um propor e recuar que, não fosse a condescendência da imprensa e o
marketing monumental que privilegia o culto da personalidade do presidente, um
número razoável de pessoas já teria percebido o ridículo existente nesse
governo, onde ministros trapalhões equivocam-se demais e produzem de menos.
Quanto a área social, está paralisada no tocante aos programas que
antes funcionavam e não deslanchou ainda no governo que veio para mudar. O Fome
Zero não alçou vôo, apesar de que a arrecadação continua. E o Primeiro Emprego,
a ser lançado também com pompas e honras, pelo andar da carruagem deve ficar no
papel para estrangeiro ver. No mais, a violência aumenta, o desemprego idem e
José Rainha, depois de um estratégico sumiço, cismou que é a reencarnação de
Antônio Conselheiro, prometendo um novo Canudos.
Diante dos efeitos cármicos, não basta que o presidente não possa
dar entrevistas. É preciso afastá-lo, deixando-o fazer o que mais gosta, além
de comer churrasco: viajar. Desse modo, Lula já está com uma bela agenda de
viagens, calcada naquele turismo político que faz as delícias dos governantes.
Para começar, ele esteve em Cuzco (Peru), na 17ª Reunião de Cúpula do Grupo
Rio. Entusiasmado, e segurando com a mão direita o símbolo do poder do Império
Inca, um bastão dourado e preto, nosso presidente conclamou aos presentes:
"Sou de esquerda e vou segurar esse bastão com a mão esquerda. Quem for de
esquerda me acompanhe". Imediatamente a frente antiamericanista passou o
bastão para a mão esquerda. Pairava no ar a maldição de algum deus inca,
enquanto o espírito de Simón Bolívar soprava do além: "A América Latina é
para nós ingovernável". Teria começado para valer a criação da URSAL
(União das Repúblicas Socialistas da América Latina), cuja capital seria
Hacabra (Havana, Caracas, Brasília)? Questão de carma, diriam os sábios indús.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, professora, articulista,
autora entre outros livros de: "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: a
ética da malandragem (Jorge Zahar Editor) e América Latina: em Busca do Paraíso
Perdido (Editora Saraiva).
Retirado de: www.direito.com.br