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A imagem de Lula e Serra no exterior - Eles começam a descobrir quem é Mr. da Silva
Imprensa internacional elogia Serra e começa a explicar que Lula não é um marxista revolucionário, mas criatura do sindicalismo norte-americano. Dizem que representa as massas. Enquanto isso, assessores de Bush mostram despreparo e desconhecimento

Hugo Studart

 

 

  The Wall Street Journal - “O dinamismo político do segundo turno poderá ajudar Serra, que foi considerado um eficaz ministro da Saúde”
  
  Revista Time - “O Sr. da Silva é um democrata convicto e gastou décadas para a construção de um partido nacional”
  
  
  Um deles, José Serra, vinha sendo apresentado como o ícone da segurança econômica e da certeza de que serão mantidos os compromissos do Brasil com os mercados internacionais. O outro, Luiz Inácio Lula da Silva, como símbolo do populismo esquerdista, da inexperiência administrativa e do terror financeiro. Há meses que os analistas econômicos e comentaristas políticos que formam a opinião da elite mundial vinham bombardeando essa imagem maniqueísta de um Brasil na encruzilhada entre duas opções opostas e irreconciliáveis.
  
  Nos últimos dias, contudo, a imprensa internacional vem intensificando a cobertura sobre a sucessão brasileira e publicando reportagens, artigos e editoriais, com opiniões mais sintonizadas com a realidade do País. Serra, um candidato competente, mas com dificuldade de defender a política econômica do atual governo. Quanto a Lula, é elogiado por representar os trabalhadores e miseráveis, criando-se um clima favorável à sua eventual chegada ao poder. “Está havendo uma grande mudança no tom das opiniões sobre a eleição presidencial”, diz Rubem Barbosa, embaixador do Brasil em Washington.
  
  Sobre José Serra, o jornal francês Le Monde publicou na semana passada uma análise certeira: “Se apresentar como candidato da mudança e da continuidade ao mesmo tempo revelou-se estratégia de equilibrista.” Porta-voz do mercado financeiro, The Wall Street Journal ainda insistia em apostar numa virada de José Serra: “O foco no segundo turno será: que candidato é mais preparado para governar nesta crise econômica?”.
  
  Sobre Mr. da Silva, como Lula vem sendo chamado, os grande jornais têm deixado claro que o candidato bate a asa esquerda, sim. Mas ele é produto do sindicalismo que floresceu na oposição ao regime militar dos anos 70 e que jamais foi um marxista-leninista. No último dia 10, o The New York Times publicou um editorial contundente sobre o candidato do PT: “O que quer que aconteça na reta final, Washington necessita digerir a mensagem entregue pelos eleitores do Brasil”.
  
  O editorial soou como uma senha. Durante a semana passada, os principais jornais dos EUA e Europa publicaram reportagens e artigos sobre o País. “Se Lula ganhar, seria uma lavagem política para o Brasil”, publicou a revista Newsweek, em matéria de capa da edição latino-americana. A revista Time escreveu: “A democracia na América Latina é robusta; a eleição no Brasil foi tremendamente limpa, competente e decente.”
  
  A rigor, ainda não existe uma imagem cristalizada sobre os candidatos no exterior. O fato novo é que a imprensa liberal passou a publicar artigos tranqüilizando os investidores sobre uma eventual vitória de Lula, enquanto os veículos conservadores substituíram o tom alarmista pelo analítico.
  
  Em paralelo, existe em Washington um pequeno grupo de camicases que ronda o presidente George Bush, que persiste em declarar sandices sobre o Brasil. Em Miami, Robert Zoelick, o secretário para o Comércio Exterior dos EUA, falou que, se o Brasil não quiser aderir à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), vai ter que tentar exportar para a Antártida. No Brasil, Lula reagiu bem. “Não posso responder ao sub do sub do secretário americano.”
  
  Na terça-feira 15, Kenneth Dam, subsecretário do Tesouro americano, disse em palestra a investidores que o governo já tem pronto um “plano de contingência” para o caso de o Brasil declarar moratória da dívida externa. Que moratória? Parece que Zoelick e Dam tornaram-se discípulos do secretário do Tesouro Paul O’Neill, que em julho havia dito que uma ajuda financeira ao Brasil acabava na Suíça. Mas o fato é que, mesmo lá, essas besteiras geram reações contrárias. Os senadores Evan Bayh e Paul Sarbanes criticaram duramente O’Neill.
  
  No Senado, os parlamentares disseram que o secretário do Tesouro criou confusão no mercado financeiro e prejudicou muito o Brasil. Talvez os falcões de Mr. Bush fossem menos irresponsáveis com o vizinho caso examinassem seus próprios arquivos sobre Mr. da Silva. Descobririam que ele teve sua iniciação política sob orientação do padre João Crippa, do Grupo Convivium, que era patrocinado pelos sindicatos norte-americanos.
  

Retirado de: www.direito.com.br