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A Esquerda e seu Futuro



Luís Carlos Valois

Publicado no Jornal Amazonas em Tempo no dia 18 de junho de 1997.







Luiz Carlos Prestes, hoje uma espécie de herói nacional e ídolo de uma geração, ainda no início do movimento tenentista, quando nem mesmo tinha conhecimento sobre qualquer teoria marxista, ao escrever uma carta à sua mãe, já expressava o fim ou o futuro de todo um movimento de esquerda. Dizia, o velho, que não podia ficar passivo diante da situação do país, em nome dos princípios morais, de igualdade e de justiça em que fora educado.



Fui criado dentro dos mesmos princípios, pois filho de uma geração perseguida, da qual Prestes era símbolo, e não é coincidência a igualdade de prenomes. Razão por que, sendo jovem, longe das ortodoxias comunistas e da utopia de uma revolução armada, assim como da militância política, sinto me na liberdade de analisar o momento em que se encontra o segmento político intitulado "de esquerda".



Não é só em Manaus, nem no Brasil, mas no mundo, que toda a esquerda, atônita, ainda não encontrou um posicionamento uniforme para se colocar frente aos problemas da sociedade. Até pouco tempo era fácil defender a intervenção estatal como solução para as mazelas do capitalismo, mas o modelo não deu certo, e não deu justamente porque era tido como modelo absoluto, e sem se permitir mudar, não evoluiu.



Aproveitando o impasse da esquerda, o capitalismo ganha força com ares de globalização, de neoliberalismo, com princípios que já não se discutem, de privatização e liberdade de comércio.



A única crítica possível, a esta auto-afirmação do capitalismo, só pode nascer dos conceitos marxistas. Só com base nestes é que se pode observar que toda essa liberdade indiscriminada do capital é em detrimento do trabalhador, o qual, aos poucos, vai perdendo conquistas importantes do passado.



Mas não basta criticar, pois isso a esquerda sempre fez, e agora, sem poder apontar para um modelo e uma saída revolucionária, as críticas têm menos efeito. Mesmo assim, alguns que se dizem de esquerda, confundindo esta com oposição pura e simples, teimam em apenas formular críticas.



Obviamente não será nos fundamentos de um regime que prioriza o capital e renega as garantias mais fundamentais do ser humano que vamos encontrar princípios de moral, igualdade e justiça, aos quais já me referi. Portanto é à esquerda que resta o papel de buscar fazer valer as garantias sociais e estes princípios elementares, mesmo que seja dentro do presente ordenamento, passando por cima de preconceitos ou qualquer outro motivo menor de ordem pessoal.



O papel da esquerda, por ser importante, e sua crise, é tema que vem sendo discutido já há algum tempo sem sucesso. A maioria aponta uma saída de atuação comunitária, pois junto aos poderes locais a esquerda zelaria pelo social, este sempre relegado à segundo plano pela ordem econômica. Outros, também defendendo uma atuação municipal ou estadual, esperam que, exercitando o poder, embora pequeno, a esquerda treinaria idéias e quadros até criar condições de alçar vôos maiores.



Todas as idéias parecem esbarrar numa espécie de circularidade, uma vez que sem um programa efetivo, com formas objetivas de gerir o estado e a economia, difícil será à esquerda conseguir votos, mesmo que na esfera municipal, e, sem votos, ficará impossibilitada de cuidar do social ou ganhar tempo para elaborar o programa necessário.



Enquanto não se chega a um consenso, há os que preferem esperar, criticando o estado de coisas sem indicar solução, paraplégicos. E esta inércia só contribui para o descrédito da própria esquerda, já desgastada por anos de propaganda contrária, perante a sociedade.



Longe de querer estabelecer o caminho a ser tomado pelos marxistas, comunistas brasileiros ou do Brasil, populares socialistas, trabalhadores, ou como quer que queiram ser chamados, o certo é que deles se espera mais do que simples teoria, mais do que palavras; espera-se um serviço efetivo em prol da sociedade; espera-se que atuem na prática, pois possuem mecanismos para isso, seja em que ramo for, mesmo que não o político, para amenizar as desigualdades crescentes.



Não adianta aguardar surgir uma idéia brilhante ou um regime político novo, enquanto as instituições do capital vão se mantendo e fortalecendo. Há que se buscar nos valores elementares da esquerda, nos fundamentos de toda uma teoria baseada na solidariedade, a forma de agir.



Mas, por sorte, há ainda os reais comunistas, na verdadeira essência da palavra, que fazem dos seus princípios não só arma de críticas na política, mas diretriz de vida, de comportamento, de educação de seus filhos, etc.



Comunistas que, como Prestes, não aceitam a covardia da passividade e, mesmo agindo com os instrumentos sociais existentes, sem fugir quando o sistema lhes proporciona oportunidade, fazem prevalecer seus ideais de igualdade, eqüidade e justiça em benefício da sociedade. E, talvez, este seja o futuro imediato da esquerda.







Retirado de: http://www.internext.com.br/valois