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SOFTWARE E DIREITO DE AUTOR

BREVES CONSIDERAÇÕES DE BASE

 

Carlos Ignacio Schmitt Sant´Anna

 Advogado integrante de Paulo Afonso Pereira Consultores

em Marcas e Patentes S/C Ltda

Porto Alegre - RS

(www.pap.com.br)  

 

    

 

Nota do Instituto Brasileiro de Peritos: 

Agradecemos ao Dr. Ignacio Sant'anna a gentileza de autorizar a divulgação de seu excelente artigo neste website. Esse texto se reveste de grande importância para a formação dos Peritos que, como nós, atuam no exame técnico pericial das complexas questões que evolvem o direito autoral em software.

 

 

O advento do computador e da internet no planeta alçaram o programa de computador à status de grande relevância econômica, cuja parcela de contribuição econômica no PIB é cada vez maior em todos os países do mundo. A história principia na matemática da antiga grécia, fica séculos neste estágio, e somente no século XVII o filósofo e matemático francês[1][1] Blaise Pascal idealizou um aparelho com princípios mecânicos de cálculo.

[2][1] Nascido em Auvergne, em 1623, foi um virtuose da matemática. Em tenra idade (14 anos) participava de estudos e conferências com proeminentes matemáticos. Dois anos depois, ainda jovem, portanto, idealizou e escreveu um trabalho notavelmente completo, ao ponto de Descarte duvidar de sua autoria. Quando tinha dezoito anos criou uma máquina de calcular. Em síntese apertada, e que refoge ao presente tema, Pascal desenvolveu uma série de teorias matemáticas, dentre as quais o Traité du Triangle Arithmétique (Triângulo Aritmético). Destacou-se também na área de literatura, notadamente com Cartas a um Provincial e Pensamentos, que até hoje reputa-se grande obra prima da literatura francesa. A invenção do carrinho de mão de uma roda e a idéia do ônibus também são dele. Pascal, que poderia ter tido uma produção intelectual muito maior não fossem os acometimentos de moléstias deletérias desconhecidas, veio a falecer em Paris, em 1662. A respeito, verificar tais dados em:

-          Boyer, Carl B., História da Matemática, Edgar Bluncher Ltda, São Paulo, 1996.

-          Eves, Howard, Introdução à História da Matemática, Ed. Unicamp, Campinas, 1997.

-          www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Pascal.htm

Esta invenção constituiu o primeiro passo em direção ao programa de computador na forma como o conhecemos hoje[3][1].  Esta máquina de Pascal, que apenas  realizava a operação aritmética de soma e subtração, foi aperfeiçoada por Leibnitz[4][2] (1646 - 1716), que acrescentou ao engenho as operações de multiplicação e divisão.  

[5][1] Em reconhecimento de sua importância, no ano de 1971 o professor Niklaus Wirth criou uma linguagem de programação para estudantes de uma universidade técnica de Zurique, Suíça.

[6][2] Gottfried Wilhelm Leibnitz nasceu em Leipzig em 21 de junho de 19646, e morreu Hanover, na data de 14 de novembro de 1716. Também foi matemático, com larga produção de textos teóricos nesta área. A maioria destas obras literárias surgiu entre 1682 e 1692, muitas das quais publicadas em jornal chamado acta Eruditorum, fundado por ele e por Otto Mencke em 1682, que teve uma circulação larga no continente. Colhido de A Short Account of the History of Mathematics by W. W. Rouse Ball (4th Edition, 1908)

Perseguindo a trilha histórica do hardware ou equipamento, encontramos em Charles Babbage[7][1] a encruzilhada que passou a unir o software (programa) ao hardware (máquina): estes notável inglês inventou uma máquina que executava operação previamente determinadas ou programadas. Aqui surge a idéia da programação ou pré-determinação de seqüências roteadoras, contidas em cartões perfurados com uma cadência de furos logicamente ordenados. A idéia surgiu no início do século XIX, somente vindo a ser construída quase no século XX, mais exatamente no ano de 1991, para finalidades póstumas. O mérito de Babbage foi o de objetivar os princípios gerais do sistema de programação, que pressupõem uma máquina funcionando através de prévios comandos (programa), mediante cálculos cíclicos.  

[8][1] Notável matemático, político, filósofo e industrial inglês. Filho de banqueiro, nascido em 26 de dezembro de 1791, em Teignmouth, Devonshire Reino Unido, e falecido em 1871, Londres. Ficou conhecido como o “pai do computador”.

Posteriormente, os avanços foram relativamente rápidos: em 1890 Hermann Hollerit inventou o primeiro computador mecânico. Após cerca de meio século depois  (1944), Howard Aiken criou o computador eletromecânico, denominado Mark I. Finalmente, o primeiro computador letrônico e digital automático foi inventado em 1946[9][1], denominado ENIAC – Eletronic Numerical Integrator and Calculator, que se tratava de uma enorme máquina, com quase vinte mil válvulas, e com peso de trinta toneladas. O irônico é que hoje qualquer calculadora efetua operações mais complexas que o ENIAC realizava, e em tempo muito menor. Para esta grande máquina, cabe o registro da importante contribuição de Von Neumann (1945), que  criou o primeiro programa armazenável em computador.

[10][1] A criação do ENIAC contou com as idéias de John Mauchly.    

A progressão geométrica de sucessivos inventos e eventos que se sucederam nesta área (por exemplo, a criação do transistor, em 1947) a partir do ENIAC, viabilizaram o surgimento do primeiro computador da IBM (International Business Machines), com tamanho muito menor e notadamente mais eficiente.  A partir disto, os programas de computador (software) e as máquinas (os computadores ou hardware) alcançaram o nível técnico que hoje conhecemos, com sua respectiva “popularização” no meio doméstico e profissional, em franca, crescente e inevitável permeabilização de todas as atividades humanas.

A internet (world wide web), uma nova “superfície” de comunicação humana, somente foi possível por decorrência do computador e dos seus programas. Inicialmente criada (sob o nome ARPANET) com finalidade e feições nitidamente militares (idealizada para viabilizar a comunicação entre postos, no caso de guerra nuclear), hoje insere-se como componente de “infra-estrutura básica” em quase todas as atividades da humanidade. Ao ponto de criar-se uma verdadeira praça comercial eletrônica, a qual conta inclusive com sua própria bolsa da valores (o NASDAQ). Os reflexos da internet na economia e legislação dos países hoje é notório.

Atualmente esta realidade pode ser visualizada no fato de que pelo menos 4854 empresas conhecidas no jargão cibernético como “pontocom” foram “...adquiridas ou fechadas nos últimos três anos --desde o fim do "boom da internet", de acordo com um levantamento publicado ontem pela Webmergers....” [11][1] , movimentando com isto mais de 200 bilhões de dólares. Nada obstante saiba-se que considerável parcela do surgimento destas empresas seja atribuído a um crescimento irreal e ilógico[12][2]. Fenômeno muito parecido com a sobrevalorização do programa de computador, que encerra uma caixa preta dogmática de “enormes benefícios”, a par de ser uma das mais noveis e mais brilhantes ferramentas de desenvolvimento humano. O massivo número de usuários de programas de computador de massa, ditos “embalados ou de balcão”, não possui conhecimento de 10% do potencial, e por isso mesmo ignora os defeitos e o real custo benefício do produto.

Por isso referiu-se a expressão “caixa preta”, sem a pretensão de apenas pejorar. O consumidor quando compra o programa, ou o encomenda, via de regra não está a enxergar exatamente o que deveria, pois muitas vezes situa sua ótica na mitificação, um produto psicológico formado pela mesclagem do desejo de estar caminhando com o progresso, do desejo de atender suas necessidades e do que a propaganda insere em sua mente. E para isto, o aparelho denominado computador é peça essencial.

Se neste fenômeno técnico-econômico o computador (hardware) constitui elemento preponderante e chave, o programa de computador (software) não o é menos: o uso dos computadores depende, por questão de lógica basilar, dos programas, sem os quais a máquina resulta inativa e inútil. Aliás, en passant é importante lembrar que a desastrosa política de proteção da indústria nacional, protagonizada pela falecida Secretaria de Informática, não considerou justamente a importância do software, dando atenção apenas à máquina (hardware): chega a ser hilário pensar que os programas de computadores era dados de brinde a cada venda de máquina.

Além do mais, o advento da web determinou não-somente a necessidade de criação de programas, mas sobretudo facilitou geometricamente a proliferação destes bens de consumo, de sua distribuição (lícita e ilícita[13][3]) e de sua divulgação.  

[14][1]Folha on Line, edição de 14/03/03 – Direito na Web.

[15][2]  O que determinou o fechamento de muitas, e a respectiva desconfiança no segmento, sobretudo no indice do Nasdaq. No caso do Brasil, apenas para citar dois exemplos, a Americanas.com, das Lojas Americanas, acumulou um prejuízo de cerca de 12,3 milhões, entre janeiro e setembro do ano de 2002 (fonte: www.cruzeironet.com.br), e o portal Globo.com, das organizações Globo, demitiu quase 10% de seu quadro funcional em setembro de 2002 (fonte: IDG NOW). No exterior, na terra do “Tio Sam” onde a web surgiu, as fraturas foram maiores, porque maior e mais alto o tombo: No mês de julho de 2002 ocorreram demissões de 1680 pessoa (pesquisa de Challenger, Gray & Christmas Inc., empresa de recolocação especializada neste mercado - www.challengergray.com.), realidade que  ainda pode ser boa, quando considerado que já ocorreram vários e mais profundos cortes anteriormente ( segundo a referida empresa de pesquisa, desde o início da pesquisa, no ano de 1999, já ocorreram cerca de 150.000 cargos

[16][3] A pirataria constitui um dos grandes desafios a serem vencidos pelas companhias que detém patrimônios intangíveis, não-somente na área de programas de computador, mas também no segmento artístico e técnico literário.  

 

Retirado de: http://www.ibpbrasil.com.br/ibp/propriedadeintelectual/pi001p1.htm