Procura no BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Informática Jurídica, Direito e Tecnologia
Grupo de pesquisa do CNPQ

Resumo feito por Djônata Winter

 

Data do resumo: 01/11/2001

BARLOW, John Perry. Selling Wine Without Bottles: The Economy of Mind on the Global Net

John Perry Barlow é co-fundador da Eletronic Frontier Foundation (EFF - www.eff.org) e desde maio de 1998 membro do Centro Berkman para Internet e Sociedade da Harvard Law School.

O autor inicia seu artigo com uma citação de Thomas Jefferson, no qual este afirma que as idéias são incapases de apropriação exclusiva e que faz parte de sua natureza a livre circulação.

Segundo o autor, o problema da propriedade digitalizada é um imenso enigma no qual se consentram quase todas as questões de cunho legal, ético, governamental e social do Mundo Virtual.

O enigma seria este: se nossa propriedade pode ser infinitamente reproduzida e instantanemente distribuida para todo o planeta sem custo, sem o nosso conhecimento, sem perdermos nossa posse, como podemos proteger isso? Como iremos pagar o trabalho realizado por nossas mentes? E, se nós não podermos cobrar, o que assegurará a criação continuada e a distribuição de tal trabalho?

Enquanto não tivermos solução para este novo desafio e continuarmos a digitalizar tudo que é possível, estaremos velejando para o futuro num navio naufragando.

Os cânons do copyright e das leis de patente foram desenvolvidas para proteger formas e métodos de expressão diferentes destas que hoje são chamados a proteger. Os esforços legais no sentido de se manter esta velha estrutura se manifestam de 3 formas: uns tentam reparar esta velha estrutura, outros aumentam as penalidades para os infratores como meio de intimidá-los, e outros preferem negar tal mudança.

A lei de propriedade intelectual não pode ser consertada, reprovida ou expandida para conter as formas de expressão digitalizada mais do que a lei de bens imóveis poderia ser revisada para cobrir a distribuição de espectros de radiodifusão. (o que segundo ele se assemelha ao que vem sendo tentado). Necessita-se de um sistema completamente novo de métodos para este conjunto completamente novo de circunstâncias.

A fonte deste enigma é tão simples quanto sua solução é complexa. A tecnologia digital está separando a informação do seu suporte físico onde a lei de propriedade de todos os tipos sempre achou definição.

Ao longo da história dos direitos autorais e patentes , a propriedade dos pensadores e produtores de PI não foi focada em suas idéias mas sim na expressão de suas idéias, as idéias em si eram consideradas como fatos naturais, considerados propriedade coletiva da humanidade.

Neste caso alguém poderia pedir o privilégio, no caso do copyright, para cumunicar uma idéia particular ou a ordem em que os fatos se apresentaram. A partir do momento em que este privilégio é imposto, a idéia sai da mente de seu originador e entra em algum objeto físico. A lei protege expressão e, com algumas e recentes exceções, expressar é fazer físico.

A proteção da expressão física tinha a força da conveniência ao seu lado. O copyright até hoje trabalhou bem já que fazer um livro era difícil, copiá-los ou alterá-los também, falsificar ou distribuir falsos volumes eram atividades óbvias e visíveis sendo fácil pegar os infratores, além disso sua superfíe material poderia prender advertências de proteção dos direitos autorais, marcas do publicador e etiquetas de preço.

A converção do mental para o material é ainda mais importante para as patentes. Se nenhum objeto propositado pode ser feito, ou existe alguma limitação material a patente é rejeitada. Deve ser uma coisa e esta coisa deve trabalhar.

Assim os direitos de invenção e autoria aderem a atividades no mundo físico. Não se paga pelas idéias, mas sim para habilitá-las para serem entregues em realidade. Em outras palavras, a garrafa foi protegida, não o vinho.

Agora, com a informação entrando no Cyberspace, a "casa nativa da mente", estas garrafas estão desaparecendo. Com o advento da digitalização, agora é possível repassar todas as formas prévias de armazenamento físico para uma única meta-garrafa: um complexo, e altamente líquido, padrão de uns e zeros.
Mesmo os meios atuais de armazenamento físico/digital representado por disquetes, CD-ROMs e outros meios tendem a desaparecer com a integração total dos computadores numa rede global. A Internet assim tornar-se-á o principal meio de transporte de informação, e eventualmente o único.

Desta forma todos os bens da Era da Informação - todas as expressões uma vez contidas em livros, filmes ou discos - existirão como puro pensamento ou algo muito parecido com o pensamento: voltagem condiciona arremessada ao redor da Rede à velocidade da luz, em condições pela qual se pode ver seu efeito, como pixels reproduzidos numa tela ou transforados em sons, mas nunca podem ser tocados ou reivindicada sua posse no sentido clássico da palavra.

Alguns poderiam discutir que esta informação ainda requererá alguma manifestação física, como sua existência magnética nos discos rígidos dos servidores, mas estes não tem uma forma significante neste contexto.

A inexistência de um substrato físico iniciou com o rádio, mas não havia a possibilidades de reprodução deste conteúdo com a mesma qualidade dos produtos comercializados. Também o pagamento dos produtos de radiodifusão sempre foi irelevante, visto que o consumidor é que era o produto, sendo vendida sua audiência para anunciantes. A radiodifusão nos trouxe um novo modelo de negócio para o pagamento de um produto virtual mas que por si apresenta grandes falhas e não deveria ser copiado para o modelo digital.

Sem modelos satisfatórios para o pagamento de transações não físicas, não podemos assegurar o pagamento fidedigno para os trabalhos simplesmente mentais, e isto se torna ainda pior visto que nos encaminhamos para um época em que a mente humana se torna a principal fonte de novas riquezas.

Além disso, as imposições crescentes de direitos autorais vem colocando em risco uma das mais importantes atividades humanas, a troga gratuita de idéias.

"O maior constrangimento em suas liberdades futuras pode não vir do governo mas de departamentos legais incorporados que laboram para proteger por força o que já não pode ser protegido por eficiência prática ou consentimento social geral."

As bases da legislação americana de direitos autorais inspiradas nas idéias de Jefferson tinham como objetivo difundir a distribuição do pensamento, não o lucro. O lucro seria o combustível que levaria idéias às bibliotecas e mentes da república nova. As bibliotecas comprariam os livros e assim recompessariam o trabalho dos autores e colocariam a disposição do público suas idéias.

Como o sociedade pode pagar a distribuição de idéias agora, se não cobrando pelas próprias idéias?(não existem mais livros para serem comprados)
Complicando ainda mais o assunto, além da digitalização de ter acabado com as garrafas (suporte físico) também está apagando as jurisdições legais do mundo físico, e as substituindo pelo ilimitado e talves permanente mar sem lei do Cyberspace.

INFORMAÇÃO É UMA ATIVIDADE

  • Informação é uma ação que ocupa tempo em lugar de um estado de ser que ocupa espaço físico, como é o caso dos bens materiais. É o lance, não o beisebol, a dança, não o dançarino.
  • Informação é experiência, não posse (mesmo estando num suporte físico)
  • Informação Necessita de Movimento (o modelo ineficaz da burocracia serve de exemplo)
  • Informação é transportada por propagação, não distribuição (Deixa um pouco de si mesma em todos os lugares em que passa. A distinção econômica central entre informação e propriedade física é a habilidade de informação ser transferida sem deixar a possessão do dono original. Se eu lhe vendo meu cavalo, eu não o posso montar depois disso. Se eu lhe vendo o que eu sei, nós ambos conhecemos isto).

INFORMAÇÃO É UMA FORMA DE VIDA

  • A informação quer ser livre (O Biólogo e Filósofo inglês Richard Dawkins propos a idéia de "memes" auto-reprodutoras, padrões de informação que se propagam pelas ecologias da mente iguais às formas de vida. Semelhantes à uma forma de vida, as idéias se adaptam ao ambiente, se reproduzem, evoluem, e do cruzamento com outras criam-se novas)
  • A informação se reproduz nas rachaduras da possibilidade (periodos de transição, espaço para novas idéias)
  • A informação quer mudar (existem diversas formas de informação que por não se adaptarem as exigências da atual legislação autoral não podem ser protegidas. Ex.: performaces mímicas, improvizasões de Jazz, expressões culturais)
  • A informação é perecível (a informação pode perder seu valor com o tempo, bem como pode depender de valores subjetivos e condicionais de quem a utiliza, Ex.: um historiador perante documentos antigos e uma pessoa comum darão significado diferente aos valores destes documentos)

INFORMAÇÃO É UMA RELAÇÃO

  • Significado tem valor e é diferente em cada caso (o significado pode variar dependendo do remetente e do receptor, pela forma como é divulgado e pelo estado do receptor - seu interesse, atenção, idioma - necessários para fazer o que é recebido se tornar significante.)
  • Difereça entre dados e informação: a informação tem alguma utilidade para a atividade do receptor, se não lhe tiver nenhuma utilidade apenas será dado.
  • Familiaridade tem mais valor que escassez (no mundo físico quando mais raro um produto, mais valioso ele é, quando se trata de informação ocorre o contrário, como no caso dos softwares amplamente pirateados que as pessoas se acostumaram a utilizar, tornando companhias famosas, ou músicas distribuidas gratuitamente para divulgar um banda, que lucra com seus shows)
  • Exclusividade tem valor (mas neste caso é necessário agir com base nestas informações, fazer algo com elas. Ex.: informação na bolsa de valores ou secredos industriais)
  • Ponto de vista e autoridade têm valor (no meio de tantas informações contraditórias, comentários bem elaborados e úteis serão recompensados. Ex.: grandes autoridades num determinado assunto terão grande valor)
  • Tempo substitui espaço (da idéia tradicional de propriedade baseado no espaço físico muda-se para uma concepção onde ter experiências - show, leitura, emoções - é o que vale)
  • A proteção da execução (o melhor modo para se proteger a propriedade intelectual é agir com ela, não basta inventar e patentear, é necessário usá-la)
  • Informação como sua própria recompensa (somos acostumados a comprar informação com moeda corrente, no modelo digital a própria informação serviria de moeda, como um meio de troca de informações. Ex.: pessoas em listas de discussão trocam idéias simplesmente pelo prazer de aprender)

COBRANDO NO CYBERSPACE

  • A solução surgirá naturalmente, quando se deixar para tráz estes modelos antigos e ineficazes.
  • A Fronteira Eletrônica é semelhante ao Oeste Americano do Século 19 no qual suas regras se baseavam muito mais em princípios éticos e morais do seu povo do que nas leis que eram introduzidas a força.
  • Ética é mais importante do que leis.
  • Alvin Toffler autor do livro a Terceira Onda, afirma terem sido as leis fruto da 1ª e 2ª ondas, a primeira da agricultura onde se teve que proteger a propriedade da terra, sua principal fonte de riqueza, e a 2ª ocorrida pela Rev. Industrial que teve como necessidade proteger o capital, a força-de-trabalho e o maquinário. Ambos os sistemas necessitavam de estabilidade. Com a 3ª onda, pela qual estamos passando, a informação acaba que largamente tomando lugar da terra, do capital e do maquinário, e por sua própria fluidez, trará mudanças significativas não só para os estatutos legais que tratam de Propriedade Intelectual mas de muitos outros também.
  • A própria estrutura da rede pode servir para garantir liberdades que no modelo antigo só poderiam ser garantidas por meios legais, como é o caso da censura. Sistemas de equilibrio semelhantes podem surgir naturalmente na rede, coisas que antes necessitavam de intervenções legais.
  • O modelo legal atual acaba trazendo insegurança para investidores de longo prazo que não podem prever quais as conseqüencias legais dos seus negócios.


RELAÇÃO E SUAS FERRAMENTAS

  • A economia da informação será baseada mais em relação do que posse.
  • Um modelo existente hoje que pode ser utilizado neste novo sistema é o das apresentações diretas ao público como shows, teatros, reuniões, seminários, palestras, etc.
  • Outro modelo é o de serviços, hoje muitos profissionais já se utilizam deste modelo, como advogados, consultores, arquitetos, médicos, que são pagos por sua propriedade intelectual, mas na forma de serviços prestados.
  • Nestes modelos de negócio o sucesso dependerá da relações destes produtores com o mercado. O valor destas relações residirá na qualidade do desempenho, da singularidade de seu ponto de vista, da validdade de suas perícias, da relevância para seu mercado, e da habilidade daquele mercado para ter acesso aos seus serviços criativos rapida, conveniente e interativamente.

INTERAÇÃO E PROTEÇÃO

  • Grande parte da proteção virá das relações entre produtores de PI e seus consumidores diretos, como exemplo no caso de softwares a necessidade de suporte leva muitas vezes o usuário a adquirir um software licensiado
  • Também o autor aposta em formas de relacionamento mais diretas baseadas em perguntas e respostas, na qual os usuários obteriam precisamente a informação que desejam diretamente perguntando aos especialistas.
  • Em outros casos a proteção virá pelas restrições de acesso, que serão eficazes graças à tecnologia e não pela Lei.

ENGARRAFAMENTO POR CRIPTOGRAFIA

  • A criptografia será o material com o qual as paredes e garrafas do mundo digital serão construidas.
  • É claro que existem problemas com a criptografia bem como com todas as soluções puramente técnicas. O que nos remete novamente à necessidade de padrões de conduta baseados na ética. Fato interessante que vem ocorrendo no ambiente digital é a transformação do que muitos chamam de crime em esporte, como é o caso das invasões promovidas por alguns grupos hackers.
  • Além do mais o usuário não irá tolerar mecanismos que dificultem a utilização do produto sem trazer benefícos à eles.
  • A pirataria de softwares perderá intensidade no momento em que o software for baseado em adaptações continuas via rede para as necessidades específicas de cada usuário.
  • A criptografia não será usada apenas para proteger um produto contra a pirataria, o uso de assinaturas digitais e dinheiro eletrônico aumentará o retorno para os produtores de PI devido as facilidades de pagamento que trarão (dificuldade em pagar sharewares).
  • A redução nos custos reduzirá os valores finais dos produtos tornando mais atrentes a compra ou até mesmo possíveis de serem distribuidos gratuitamente. Visto que não podemos depender puramente de informações pagas, pois isso acabaria com o acesso livre à informação que era desejo de Jefferson.