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E-Gov e a Inclusão Digital no Brasil

 

 

Elaine Catardo*

 

 

"Quando o despotismo está nas leis, a liberdade se encontra nos costumes e vice-versa" (H. de Balzac)

 

Não é difícil acreditar que dentro de alguns anos o E-Gov será um sistema fundamental para a vida do cidadão e, conseqüentemente, uma forte ferramenta de relacionamento do Governo com a sociedade. Cada vez mais o mercado de aplicações e serviços governamentais eletrônicos vêm crescendo e ganhando forças dentro do cenário político e principalmente de investimentos em tecnologia e planejamento.

Atualmente, os países que representam grandes exemplos deste sistema são Canadá e Cingapura. Através da aplicação inteligente de tecnologias e recursos, ambas as nações conseguiram transformar grandes processos burocráticos em transações online, cortando custos e focando serviços e informações na melhoria do atendimento ao cidadão. Dos 136 serviços que o governo de Cingapura poderia disponibilizar online, 132 já estão em funcionamento e, dentre eles, podemos citar renovação de carta de motorista, pagamento de impostos e taxas de vendas e até serviços E-Gov via Wap. Cingapura também foi o país pioneiro no desenvolvimento de assinaturas eletrônicas para o uso de certificações digitais. Já o Canadá disponibiliza em seu portal de E-Gov acesso a mais de 400 Sites federais, oferecendo informações para canadenses, empresários e estrangeiros e resposta de e-mail em 24hs, além da preocupação excessiva com pesquisas sobre o que o cidadão realmente espera do governo online.

Outro exemplo interessante de E-Gov é a Grã-Bretanha que oferece em seu portal serviços como pagamento de impostos, alteração de informações pessoais, esclarecimento de dúvidas sobre os projetos da prefeitura, espaço para críticas e sugestões e promete até votação eletrônica e criação de e-communities.

Enquanto alguns países e algumas comunidades temem pela segurança dos dispositivos online, o mercado retrata uma tendência que irá reformular toda estrutura de atuação de governos e prefeituras no que diz respeito a e-commerce e CRM. As transações do tipo G2G (entre governos), G2B (entre governo e fornecedor) e G2C (entre governo e cidadãos) já têm recebido nos Estados Unidos mais de US$ 1 bilhão de investimentos em TI e o objetivo é crescer cada vez mais. Empresas como a Xerox, Dell e Microsoft já reforçam rede de parceiros e fornecedores de tecnologia para o atendimento ao governo.

Mas e o Brasil? Qual o panorama diante do E-Gov? Muito bem, afirmam alguns. O portal Comprasnet, do governo brasileiro, está no estágio 2 de 4, segundo o consórcio que o administra. A título de explicação, o estágio 1 é o desenvolvimento de um Site disponibiliza apenas informações; no 2º estágio, em que estamos, são realizadas transações online. O 3º estágio é a integração de sistemas e o 4º é o estágio colaborativo com geração de informações inteligentes.

Com relação a muitos outros países, o Brasil está até que bem avançado nesta questão. Podemos ver exemplos vivos de programas online como a delegacia virtual criada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo; a central de atendimento ao cidadão no Rio Grande do Sul; os pregões eletrônicos federais; as licitações públicas; o prontuário médico em Vitória; o portal da Anatel; o Site da Receita Federal; a Rede Governo, que oferece cerca de 900 serviços e mais de 5 mil informações; o portal Minas, que reúne sites de 133 órgãos e entidades do governo estadual; o leilão reverso eletrônico em São Bernardo do Campo; portal de São Luís que oferece matrículas online nas escolas e Intranet; o próprio Comprasnet, dentre diversos outros serviços oferecidos por governos estaduais e prefeituras municipais. Segundo dados do Ministério do Planejamento, da totalidade de serviços oferecidos pelo governo federal, menos de um terço ainda está offline, uma boa perspectiva para um país com tantas dificuldades como o Brasil.

Porém, o grande desafio do E-Gov brasileiro consiste na integração dos vários níveis governamentais: federal, estadual e municipal. Quando este modelo digital for plenamente desenvolvido e utilizado as vantagens serão grandiosas, mas para quem? Atualmente, a maioria das estruturas E-Gov favorece principalmente as estruturas governamentais, não focando efetivamente nos cidadãos. Apesar da otimização de processos e a redução de custos serem as principais razões para o desenvolvimento do governo eletrônico, o objetivo principal para o Brasil ainda tem que ser possibilitar a participação ativa dos cidadãos. Porém, este processo ainda encontra resistências que não são originárias das esferas públicas. Do contrário, são estruturais, reflexo de nosso país. A exclusão digital é uma delas e representa um grande problema para a evolução do E-Gov brasileiro. Em outras palavras, para que ter estrutura tecnológica avançada se a principal beneficiada não tem acesso a ela?

Diante desta questão, muitas iniciativas estão sendo implementadas. Em Santa Catarina, o projeto "Internet para Todos" prevê a instalação de 30 terminais públicos com acesso à Internet; em São Paulo, a prefeitura mantém um projeto de Infocentros com terminais de acesso público administrados pelas comunidades locais e de terminais instalados em locais como metrô e repartições públicas e ainda pretende implantar um sistema de cartão de memória de 32mb, nos quais os cidadãos poderão armazenar informações pessoais. Os Correios também assumem um papel importante na democratização do acesso a Web, instalando terminais em suas unidades.

Mas ainda é muito pouco diante do que se pode fazer para a criação de uma comunidade Web de alcance nacional. O Brasil ainda tem um longo caminho pela frente até poder permitir o exercício pleno da cidadania e o acesso completo às informações e serviços que todo brasileiro tem direito. Para digitalizar de vez o cenário social é necessária a conscientização e atuação integrada de empresas, organizações não governamentais/sociedade organizada e órgãos governamentais. Somente essa rede de digitalização nacional será capaz de tornar a exclusão digital um obstáculo vencido.

 

 

*Project Manager da E-Consulting® Corp., coordenadora do PEATS (Programa E-Consulting de Apoio ao Terceiro Setor).

 

 

Disponível em: < http://www.camara-e.net/interna.asp?tipo=1&valor=2161 > / Acesso em : 28 set. 2006