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E-Business,
E-Consumers e o Direito
Ricardo
Araujo de Deus Rodrigues*
O e-Business é complexo e demanda um estudo
aprofundado para seu entendimento. Desde que procedido com responsabilidade e profissionalismo,
é indispensável para a permanência de uma empresa no mercado, a qual tenha
escolhido esse novo modelo de negócios.
O instituto
em questão não é simples nem tampouco fácil de ser desenvolvido, necessitando,
assim, de certos cuidados para sua implementação. Grande parte dos
empreendedores acreditam que o e-Business está adstrito à implantação de
um website de sua empresa, onde seriam inseridos seus respectivos dados,
produtos, informações institucionais, entre outros. Vislumbram que seria uma
forma de divulgar seu negócio por um meio diferente dos tradicionais, qual
seja, a Internet.
Ocorre que referida posição não merece ser
mantida, como a seguir será demonstrado.
O
e-Business veio para ficar. Está presente no meio negocial para romper as barreiras
e obstáculos da antiga forma de gerenciar uma empresa. Nesse sentido, deve ser
encarado com responsabilidade e profissionalismo, vez que é parte integrante do
mundo moderno - globalizado e tecnológico.
Verifica-se,
então, que ele tem como papel fundamental transformar a maneira de gerenciar o
negócio, ou seja, proceder com a transição do Velho Mundo (onde os produtos
eram empurrados aos consumidores, os quais não recebiam atenção alguma) para o
Novo Mundo (onde os consumidores ditam as regras e a empresa deve se adequar
aos seus anseios). Não se trata apenas de uma transformação tecnológica, onde a
empresa que quer adentrar nos negócios digitais contrata um webdesigner
e disponibiliza seu website. Trata-se de uma transformação cultural,
onde o empresário deve buscar a transformação do modelo gerencial de conduzir
seus negócios para o modelo onde os consumidores serão os artistas principais.
É claro que
referida mudança não se faz da noite para o dia. Mas é o fator fundamental para
a empresa que pretende realizar negócios digitais, principalmente através da
Internet. Assim, conforme ensinamento de David Siegel , o empresário deve
"futurizar" sua empresa - prepará-la para o novo mundo.
Após essas
considerações iniciais importante tecermos alguns comentários sobre o e-Commerce
e onde ele se insere no contexto do e-Business. Este é gênero, aquele
espécie.
Atualmente,
as empresas que querem adentrar ao mundo virtual ou aquelas já inseridas no
mercado, iniciam suas atividades através da criação de websites
contemplando sua história, marca, atividades oferecidas, bem como seus
produtos. Ou seja, o catálogo de produtos de referida empresa é transferido
para um novo meio, qual seja, o digital. Esse é o e-Commerce
propriamente dito, onde a principal preocupação da empresa é realizar as mesmas
atividades que exercia, mas agora pela Internet. Para tanto, disponibiliza suas
informações e produtos na grande rede, exercendo a mesma atividade comercial,
mas com a visão do velho mundo, na maioria das vezes. Verificamos, então, que o
e-Commerce é mais restrito, não abrangente, pois não existe uma grande
aproximação da empresa com seus consumidores.
Por outro
lado, destacamos o e-Business. Este, por sua vez, é abrangente, dinâmico
e propicia uma relação contínua da empresa com o consumidor. Referido instituto
não contempla apenas o e-Commerce, sendo que não está restrito a um website
na Internet. Pelo contrário, as empresas praticantes do e-Business por
excelência, estão à frente daquelas que praticam tão somente o e-Commerce.
Isto porque oferecem serviços diferenciados aos seus consumidores e não somente
seus produtos e informações genéricas. A relação com seus consumidores é
diferenciada, vez que sabem que não estão navegando no website desta
empresa apenas para comprar seus produtos, mas também buscam diversão,
entretenimento e esperam que sejam tratados, realmente, como consumidores.
Atualmente,
poucas são as empresas que praticam o e-Business de maneira adequada. As
que o fazem, destacam-se no mercado, justamente por não oferecerem aos seus
consumidores apenas seus produtos, além de manterem estreitos contatos com os
mesmos, procurando descobrir seus anseios através de diferentes ferramentas
como o CRM .
E o
Direito? Onde está inserido nesse contexto? Como regulador da relação entre as
partes envolvidas em todas as atividades da vida em sociedade, também o é no e-Business.
Verifica-se, então, que a segurança e confiança para a concretização dos mais
variados negócios, ainda que digitais, são preservadas. Tanto é assim, que
discordamos daqueles que incentivam a elaboração de Leis para regulamentar a
atividade em questão. As Leis existem, estão em vigor e devem, por conseguinte,
ser aplicadas ao caso concreto, independentemente do meio pelo qual os negócios
ou transações são realizadas. Como demonstrado, as atividades desenvolvidas no
âmbito digital se diferenciam das tradicionais apenas pelo meio utilizado, vez
que o objetivo e a finalidade do negócio não se alteram.
Relativamente
aos e-Consumers , constata-se que tanto na prática do e-Commerce
quanto no e-Business seus direitos estão garantidos pela Constituição
Federal além dos dispositivos insertos no Código de Defesa do Consumidor. Resta
claro que principalmente no e-Commerce esta observação é latente, vez
que o consumidor digital, sendo uma das partes da relação de consumo, está apto
a questionar, com tranqüilidade, todas as irregularidades praticadas pela
empresa, seja na entrega da mercadoria adquirida e inobservância dos
respectivos prazos, nos abusos contratuais, nas propagandas abusivas e
enganosas, entre outros.
Assim, é de
extrema importância o e-Business para o desenvolvimento das empresas,
bem como para sua permanência no mercado globalizado. Não importa a maneira de
praticá-lo. Alguns iniciam suas atividades através do e-Commerce, outros
ingressam diretamente no e-Business. Contudo, a busca pela excelência
nessa nova maneira de realizar negócios, será alcançada desde que eivada de
responsabilidade. Mas para o empreendedor "futurizar" sua empresa ou
negócio é necessário estar atento para aqueles que são a razão de sua
existência - os e-Consumers, ou simplesmente consumidores.
Concluímos,
então, que o e-Business estará sempre presente a partir do momento que,
grande parcela dos homens de negócios, procedam uma transformação em suas
empresas, retirando a condução de suas atividades pela gerência e transferindo
aos consumidores. Estes que devem conduzir os negócios, sempre com a segurança
e confiança respaldadas pelo Direito, regulador das atividades humanas.
O e-Business responsável é aquele que tem o consumidor como foco principal, ainda que a empresa esteja no período de transição para essa nova forma de realizar negócios.
Serviços Dirigidos
pelo Cliente: Como o empreendedor poderá alcançar o sucesso em seu negócio
A Nova Economia trouxe à discussão
diversos conceitos totalmente despidos de qualquer relação com aqueles
aplicados nas empresas tradicionais. Relativamente à forma de gerenciamento da
nova empresa, observa-se que o cliente/consumidor tem papel fundamental no
sucesso do novo empreendedor. As estratégias da nova empresa devem estar
intrinsecamente ligadas aos anseios dos clientes. Os serviços oferecidos devem
ser conduzidos pelos consumidores e não apenas orientados à eles.
Como é sabido, o e-businessii
decorre da integração total entre os ambientes internos e externos da empresa.
Ao tratarmos do ambiente externo, observa-se que poucas companhias são capazes
de manter referida integração, principalmente com seus próprios clientes.
Aquelas familiarizadas com essa prática conseguem oferecer serviços e soluções
totalmente dirigidas aos clientes, satisfazendo assim, na maioria das vezes,
seus anseios. Mas o que fazer com as novas empresas que não mantêm essa
estreita ligação com seus clientes/consumidores?
Inicialmente, deve ser procedida
uma grande transformação na companhia com a total exclusão da cultura
empresarial vigente nas organizações do passado, a qual já está ultrapassada.
Essa transformação deve estar adstrita desde aos altos executivos até os simples
funcionários. A nova empresa deve buscar, aos poucos, eliminar as hierarquias
existentes, formando assim, uma massa coesa, sem intermediários, cujo objetivo
é atender da melhor forma as expectativas dos seus clientes. Nesse sentido,
todos os funcionários devem ter liberdade ao desenvolverem seus trabalhos e
projetos em todos os aspectos - seja pelo livre acesso às informações e à
Internet, ou ainda pela tomada de decisões. Assim, como bem destaca David
Siegeliii , para que seja consolidada a integração com os
clientes/consumidores a nova empresa deve buscar a cultura intrapreneurshipiv
.
Quanto ao livre acesso à Internet
bem como aos e-mails, apenas destacamos as políticas de monitoramento das
informações veiculadas por referidos meios, ora vigente em determinadas
empresas, que desde que procedida com reservas e anuência do empregado, é
perfeitamente concebível.
Após a transformação interna, o
próximo passo é buscar a transferência da direção da empresa pela gerência para
os clientes/consumidores. Ou seja, buscar oferecer serviços e produtos
totalmente dirigidos aos clientes. Mas como deve ser procedida essa
transferência? Embora demande certo tempo, acreditamos que o passo mais árduo
já foi cumprido, qual seja, a transformação cultural interna da nova empresa.
Primeiramente deve ser elaborado um
plano de negócios descrevendo, com particularidades, os objetivos da nova
empresa. Ou seja, o seu foco de atuação, os clientes que serão alcançados, as
estratégias a serem utilizadas, entre outros. Em seguida, apresentado o plano à
toda a empresa e obtendo o comprometimento de sua aplicação por todos, é só
coloca-lo em prática. Uma vez definidos o segmento de atuação, bem como os
clientes que se quer alcançar passamos para a busca de informações sobre seus
anseios e expectativas em relação ao serviço oferecido pela nova empresa. Mas
como fazê-lo?
A modelagem do cliente deve estar
pautada por uma estratégia bem definida. No e-business isso é possível graças
à total integração entre todos os participantes da cadeia de produção, que lhe
é peculiar. Ao nosso ver, a melhor estratégia a ser utilizada para a
consolidação de um serviço dirigido pelo cliente é tentar buscar o maior número
de informações possíveis acerca de seus anseios e expectativas. Referidas
informações podem ser conquistadas através da Internet, por intermédio do Website
da empresa onde um funcionário específico será o "anfitrião" do
cliente, defendendo seus interesses, facilitando sua comunicação com os
diversos setores da companhia, pesquisando a concorrência (pesquisas de mercado
dirigidas), entre outros.
Com as informações disponíveis, o
novo empreendedor poderá oferecer um serviço diferenciado e personalizado ao
cliente. Muitas empresas como a Landsendv , por exemplo, oferecem um Website
personalizado ao seu cliente. Ou seja, após entrar na página inicial da empresa
na Internet, o consumidor/cliente será direcionado à outra página com informações,
produtos e serviços que atendam seus anseios e expectativas, os quais foram
verificados através de pesquisas previamente realizadas.
Importante também destacarmos
outras iniciativas vencedoras como, por exemplo, a entrega de um prêmio ao
cliente mais assíduo; plano de descontos; entrega do produto ou serviço no
local desejado, entre outros.
Observa-se então, que o
cliente/consumidor tem necessidade em receber a atenção devida pela nova
empresa. Ademais, exerce papel fundamental para o seu desenvolvimento e
permanência no novo mercado, pautado pelas novas formas de se realizar
negócios. Diferentemente do serviço orientado ao cliente, que é menos
abrangente e alicerçado apenas nas expectativas dos consumidores e na tentativa
da empresa em oferecer o serviço buscado, o serviço dirigido pelo cliente é
complexo e ao mesmo tempo completo. Após a descoberta dos anseios e
expectativas dos consumidores, a nova empresa oferecerá o serviço desejado da
maneira e forma escolhidas pelo cliente, ou seja, eles serão os atores
principais e a empresa simples coadjuvante, que estará apenas atendendo suas
necessidades.
O desenvolvimento tecnológico
trouxe à nossa sociedade novas formas de se realizar negócios. Nesse contexto,
novos conceitos como o de serviços dirigidos pelo cliente estão se consolidando
nas novas empresas. Aquelas que não focarem suas estratégias às expectativas
dos clientes nem tampouco transferirem a gerência para os consumidores, não
permanecerão no mercado.
*Ricardo
Araujo de Deus Rodrigues é assessor Jurídico da Federação do Comércio do
Estado de São Paulo, advogado de Castro Peixoto Advocacia - Direito da
Tecnologia, pós-graduando em e-Business pela Faculdade SENAC de Ciências
Exatas e Tecnologia, editor e articulista do Legaltech.com.br.
i Nomenclatura
utilizada por muitos para descrever os avanços tecnológicos trazidos pelos
ambientes virtuais à Economia global
ii Negócios Digitais
iii Siegel, David, 1959 -
Futurize sua empresa / David Siegel; tradução de Bazán Tecnologia e Lingüística
, São Paulo. Futura. 2000.
iv Capacidade dos
empregados de iniciar novos negócios
v www.landsend.com
Disponível em: <http://www.legaltech.com.br/ArtAspeceCod.htm>
Acesso em: 04 out. 2002