Essa imaterialidade do software dá ao Brasil e outros países em desenvolvimento uma boa (e imperdível) chance de entrar em grande estilo no mercado mundial de Informática. Afinal, raciocinamos, é preciso apenas bons cérebros para criar bom software. Errado. Além do excelente nível técnico e da qualidade do software, são necessárias outras coisas, como conhecimentos especializados de marketing, comércio internacional, etc. Atualmente, devido à predominância quase que monopolista dos produtos da Microsoft Corporation no mercado de sistemas operacionais e aplicativos genéricos para microcomputadores, é difícil para qualquer país conseguir uma beiradinha desse mercado. Restam então dois modelos para ganhar dinheiro com software em nível internacional: o modelo indiano, que consiste em vender mão de obra de programação ultra- barata para os grandes produtores mundiais, ou o modelo brasileiro, ainda em gestação, que procura penetrar mais no mercado de aplicativos especializados ou de maior valor agregado. O que é exportado é o produto, e não os seus produtores. É uma via muito mais difícil de ser conseguida inicialmente, mas que parece ter mais chances de sucesso permanente a longo prazo, se der certo.
O governo brasileiro, preocupado em transformar o Brasil em uma das potências no mercado internacional de software, criou, há poucos anos, um bem sucedido programa altamente estruturado de apoio à exportação de software e geração de competitividade. Chama-se Softex 2000, e tem por meta conseguir para o Brasil cerca de 1% do mercado mundial no ano 2000. É um dos três programas especiais do Ministério de Ciência e Tecnologia, através do CNPq (os outros são a RNP, na área da Internet, e o PROTEM, um projeto de colaboração empresa-universidade na área da Informática). O programa Softex 2000 é sediado, assim como a RNP, em Campinas, em um belo sobrado em Barão Geraldo, e coordenado pelo Dr. Eduardo Costa, um ex- pesquisador do CPQd, e diretor do CNPq. Para ampliar sua atuação, o programa tem 17 núcleos regionais, situados nas principais capitais e em algumas cidades onde existe importante presença de produtores de software.
O Softex é um belo modelo de intervenção e incentivo governamental numa área de negócios. Como exemplo interessante de sua atuação, está lançando um programa chamado GENESIS, que tem por obtivo fomentar o aparecimento de novas empresas e empresários na área de software. Outra iniciativa muito necessária é um catálogo eletrônico contendo mais de 2.000 softwares produzidos no Brasil, que estará sendo oferecido via Internet e via disquetes, gratuitamente, dentro das próximas semanas. O Softex ainda promove muitos eventos, como seminários especializados sobre como exportar software (o próximo será em maio, em Belo Horizonte), e tem recursos para apoiar a presença brasileira em feiras especializadas internacionais, como a CeBit, na Alemanha, e a COMDEX, nos EUA. Oferece uma infraestrutura de apoio e informação às empresas que se filiam a um dos núcleos regionais do programa, tal como acesso à Internet, guias impressos, consultoria especializada, etc. e até tem patrocinado, em uma iniciativa muito interessante e criativa, uma disciplina nos cursos de graduação de Informática, com o objetivo de ensinar os estudantes a montar empresas e planos de negócios na área de software. O curso pioneiro em Belo Horizonte já gerou cerca de 15 novas empresas, apenas naquela cidade.
Os primeiros resultados estão começando a aparecer. No
ano passado, apenas para os EUA (um mercado grande, mas saturado de concorrentes),
o Brasil exportou cerca de 60 milhões de dólares, o que é
um grande feito. Teremos que atingir 10 vezes este nível, mundialmente,
para começar a fazer sentir nossa presença. Mas creio que
temos potencial para chegar lá.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.brCopyright © 1996 Correio Popular, Campinas, Brazil