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THE EMERGING DIGITAL ECONOMY - O relatório da Administração Clinton sobre o comércio eletrônico

                                            Demócrito Reinaldo Filho
                                                 Juiz de Direito em PE
 
 

Em abril de 1998, foi estrondosa a repercussão do The Emerging Digital Economy, um relatório da Administração do Presidente Bill Clinton, elaborado pelo Departamento de Comércio, que mostrou os efeitos do comércio eletrônico na economia e a importância da indústria da tecnologia da informação. O relatório evidenciou que os avanços em tecnologia da informação contribuíram para criar uma "healthier-than-expected economy". Em outras palavras, os números e dados estatísticos do relatório deixaram claro que as altas taxas de crescimento da economia norte-americana tiveram como força motriz o desenvolvimento das comunicações e da tecnologia da informação. Esses avanços, sugere o relatório, foi o que criou o "long boom" da economia americana, o maior período de prosperidade registrado na história daquele país; e a expectativa é de que as taxas de crescimento continuem atingindo índices elevados no próximo quarto de século.

Só para ilustrar, os dados atestam que o segmento da indústria de tecnologia da informação tem crescido mais que o dobro da taxa normal dos outros setores da economia. Os investimentos em tecnologia da informação representam 45% de todos os negócios de investimentos das empresas americanas. Os preços sempre menores dos produtos informáticos inclusive contribuíram para a redução da inflação.

Em relação propriamente à Internet, mostra que o seu crescimento é só em parte atribuído à sua força como meio de comunicação, educação e entretenimento, porque, mais recentemente, o seu crescimento tem sido mais notado em função do seu processo de transformação em ferramenta para o comércio eletrônico. Praticamente todos os setores da economia passaram a se utilizar da Internet como canal para o comércio.

Eis aqui mais alguns números contidos no relatório inicial:

  1. menos de 40 milhões de pessoas estavam conectadas na Internet durante o ano de 1996. No fim de 1997, esse número pulou para mais de 100 milhões de usuários; as projeções para o ano de 2005 são de que teremos aproximadamente um bilhão de usuários on line;
b) em dezembro de 1996, 627.000 domínios próprios (domain names) haviam sido registrados. No final de 1997, esse número mais que dobrou, alcançando 1.5 milhão de registros;
c) o tráfego na Internet dobra a cada 100 dias;
d) a Cisco Systems, que é uma empresa que vende equipamentos de informática, fechou o ano de 1996 registrando mais de 100 milhões de dólares em vendas pela Internet. No final de 1997, a taxa anual de vendas batia a marca de 3.2 bilhões de dólares;
e) a Amazon.com, a primeira livraria virtual, registrou vendas menores que 16 milhões de dólares em 1996. Em 1997, as vendas atingiram a cifra de 148 milhões de dólares.
f) a Auto-by-Tel, uma loja virtual de automóveis, processou um total de 345.000 pedidos de compras em seu web site em 1996, perfazendo um total de 1.8 milhão de dólares em vendas. No final de novembro de 1997, o website havia gerado 500 milhões por mês em venda de veículos (6 bilhões por ano) e processado mais de 100.000 pedidos de compras em cada mês.
No final de junho desse ano, o Departamento de Comércio dos EUA publicou o segundo relatório da série - The Emerging Digital Economy II,em continuação ao trabalho antes iniciado de se tentar medir e explicar as importantes tranformações na economia americana e mundial. The Emerging Digital Economy II atualiza a primeira edição do relatório bem como inclui novas seções e análises sobre a tecnologia da informação, seu papel na liderança do crescimento econômico e o processo de globalização da economia digital.

A mais destacada análise, porém, ficou reservada para o capítulo que trata sobre a questão do emprego, intitulado "Labor market in the digital economy". Aspecto que não tinha sido explorado no relatório anterior, está relacionado com a amostragem do efeito do crescimento da indústria da tecnologia da informação sobre o mercado de trabalho. Em um capítulo à parte são analisadas estatísticas e feitas projeções sobre a demanda por emprego, salários e requisitos de qualificação dos trabalhadores na economia digital.

Por volta do ano 2006, diz o relatório, quase metade de toda a força de trabalho do setor privado americano estará empregada em grandes empresas produtoras de equipamentos informáticos ou em empresas que usam intensamente os produtos e serviços da tecnologia da informação. Mostra também que as inovações tecnológicas têm feito crescer a demanda por "high tech workers", além de criar novos tipos de empregos e ocupações, mudar alguns requisitos de qualificação (mesmo para empregados que não do setor da indústria da tecnologia da informação) e aumentar o mínimo de requisitos de qualificação para cargos e empregos tradicionalmente ocupados por categorias de empregados menos qualificados.

Em 1997, os trabalhadores da indústria da tecnologia da informação auferiram em média um salário de U$ 53.000, comparado com uma média de salário anual das outras categorias de 30.000 dólares (anuais). Isso significa uma diferença de 12.6 pontos percentuais. E as diferenças salariais entre os trabalhadores da indústria da tecnologia da informação e trabalhadores de outros setores tenderão a aumentar cada vez mais.

Desde 1996, a indústria da tecnologia da informação criou 350.000 empregos, um crescimento anual de 7.7% comparado com a média geral anual de crescimento de emprego nos EUA, que é de 3%. O "Bureau of Labor Statistics" projeta, para o ano de 2006, que o crescimento de empregos na indústria da informação alcançará a marca de 6 milhões de novos trabalhadores. A demanda por "IT workers", ao longo da próxima década, está prevista para crescer no mínimo 57%, enquanto que a demanda por trabalhadores de baixa qualificação sofrerá uma redução.

Como efeito do desenvolvimento do comércio eletrônico, o relatório prevê que trabalhadores no campo de serviços de entrega "on line", web designers, gerenciadores de homepages e todos os que trabalham com publicações e mídia eletrônica tendem a ser mais requisitados. O surgimento de novas vagas nessa área incluem também consultores de comportamento dos consumidores, profissionais que acompanham e ajudam a traçar perfis e padrões dos consumidores, trabalho que é feito com o objetivo de aumentar as vendas. Destacam-se também os especialistas de segurança em rede, profissionais que guardam os sistemas de computação de rede contra a invasão de hackers. Ao mesmo tempo, haverá um declínio na demanda por agentes de viagem, corretores de ações, caixas e outros empregados de bancos, como resultado do aumento do número de consumidores fazendo suas compras e realizando suas transações "on line" e optando por um meio direto, sem intermediações, de obtenção de informações.

No subcapítulo "Employment and Education Requirements of IT Occupations", o relatório revela que mesmo trabalhadores não ligados ao setor da "IT industry" terão que usar computadores ou outros equipamentos informáticos nas suas atividades profissionais. Por exemplo, matemáticos, estatísticos, economistas e analistas de pesquisas terão que lidar com certos programas de computadores específicos para suas atividades, além de muitas vezes utilizar administração de banco de dados eletrônicos. E isso não é tudo: desde mecânicos, passando por caixas e balconistas até entregadores de mercadorias, estarão sendo obrigados a utilizar equipamentos tecnológicos para maximizar sua capacidade e economizar tempo na realização das tarefas. Nesse ponto, o relatório é ilustrado com o exemplo da companhia americana Untide Parcel Service, onde os motoristas dos caminhões já têm que passar em testes de computação, em complemento ao teste de direção.

Em conclusão, fica fácil perceber que ao mesmo tempo em que as inovações em computação e tecnologias em telecomunicações criam rapidamente empregos no setor da "IT industry", faz extinguir vagas em outros setores da economia. Se novas ocupações estão sendo criadas, outras estão sendo redefinidas. Isso faz com que aumente a necessidade de uma continuada educação e treinamento dos empregados. Os trabalhadores de hoje estão entendendo que precisam ter qualificações múltiplas e estar em constante aprendizado, em ordem para se adaptarem às constantes mudanças do mercado de trabalho.

Recife, 08.10.99

Retirado de: http://www.infojus.com.br