® BuscaLegis.ccj.ufsc.br

 

As lições de um brasileiro visionário para montar negócios e escritórios globalizados

 

 

Carlos Hugo Studart

Conheça a história de Jonh Lima, brasileiro, americano, global. Ele montou um negócio de informática. Mas suas lições valem para todos os que estão atrás de oportunidades de negócios globalizados. Inclusive no ramo jurídico.

 

HUGO STUDART, de Erding
John Lima vive uma maratona pela conquista do título de primeiro empreendedor global nascido no Brasil. Em uma semana típica, no domingo ele acorda às 6 horas em sua residência na pequena cidade de Erding, Alemanha, a fim de correr 42 quilômetros debaixo de neve, a 10 graus negativos. Isso é um hábito. No dia seguinte, ele dispara pelas ruas de Madri, Espanha. Na quarta-feira corre só 25 quilômetros em Paris e na sexta repetiu a dose em São Paulo. Na semana seguinte ele vai gastar o tênis nas ruas de Hong Kong. O atletismo, ressalte-se, é apenas o hobby com o qual Jonh ganha forças.

Fundador da Cyclades, fabricante de equipamentos de informática, John pula de cidade em cidade tentando robustecer ainda mais um portfólio de grandes clientes. Na Alemanha, ele já atende ao DeutschBank, Siemens, BMW e Audi. Nos Estados Unidos, abocanhou empresas como JP Morgan, Time Warner, CNN e Google. Na Suíça, é parceiro do Suisse Bank, na Inglaterra, do grupo HSBC e na Finlândia, da Nokia. “Para ser um empresário global é preciso correr muito e estar sempre um passo adiante dos concorrentes internacionais”, ensina John Lima.

Aos 46 anos, esse maratonista comanda seu empreendimento a partir de Erding, pólo industrial perto do estratégico Aeroporto Internacional de Munique. John chegou à Alemanha há exatos três anos para criar a subsidiária européia da Cyclades. Cresceu 21% em 2000, 30% em 2001 e 52% no ano passado. Dobrou o número de funcionários no período –de 100 para 200. O faturamento em 2002 foi de US$ 25 milhões e a previsão é de embolsar outros US$ 32 milhões neste ano.

Com 50% de rentabilidade média, já abriu escritórios próprios em 10 capitais européias. Também está criando filiais asiáticas. Da Austrália à Finlândia, a Cyclades tem a logomarca fincada em 16 países e possui representantes comerciais em outros 50. Qual o segredo de tamanho sucesso? “A primeira lição é escolher um nicho de mercado e lutar como um leão para ser o líder”, explica John.

Sua indústria fabrica três famílias de hardwares de comunicação compatíveis com o sistema operacional Linux, alternativa de código aberto ao sistema Windows NT, da Microsoft. O campeão de vendas é um gerenciador remoto de redes de dados, que permite aos técnicos consertarem defeitos na rede, mesmo à distância. Gigantes como a Cisco e a IBM oferecem similares que vendem dez vezes mais. Contudo, no nicho de hardwares de comunicação para Linux, a Cyclades é a líder mundial. “O nicho já estava lá há anos, mas ninguém prestava atenção”, conta o empresário. “Tivemos o mérito de identificá-lo e gerar novos produtos mais rápido do que a concorrência”.

A aposta da Cyclades é quase toda em cima do sucesso do Linux. Hoje, esse sistema operacional ocupa um quarto do mercado mundial e as projeções são de que chegue a 37% até fins de 2004. Há oito anos consecutivos, a Cyclades vem faturando o prêmio de melhor “Hardware de Comunicação” do mundo, concedido pelo Linux Journal, dos Estados Unidos, com o voto dos próprios usuários. “Esses prêmios nos deram credibilidade para abrir muitas portas”, comemora John.

A empresa nasceu em 1989 em São Paulo, fabricando placas de comunicação de dados. Nessa época, John ainda se chamava João. Era um engenheiro elétrico egresso de São Miguel, Rio Grande do Norte, o mais velho de uma família de empresários, dona do Café Santa Clara, a quarta indústria de torrefação do País. João poderia estar tocando em São Miguel um negócio pelo menos cinco vezes maior que o atual. Mas preferiu fundar em São Paulo a Cyclades, com um capital próprio de US$ 3 mil e um único sócio, o engenheiro de computadores Daniel Dalarossa, dono de 50% do negócio. Dalarossa é o administrador pé-no-chão. John, outrora João, é o visionário. Foi ele quem, em 1991, propôs transferir a sede da empresa para o Vale do Silício, Califórnia, de olho na onda da globalização.

Abriu um escritório em Fremont com apenas 10 funcionários. Lá, uma das primeiras medidas foi traduzir seu nome. “Na hora de vender para clientes globais, preciso me apresentar como o John, sócio de uma empresa do Vale do Silício”, explica. Em 2000 chegou com malas e bagagens na Alemanha. Dalarossa ficou em Fremont, comandando os negócios nos Estados Unidos, Brasil e Ásia. “Em dois ou três anos, o mercado será todo diferente”, prevê John Lima. “Só há uma forma de continuarmos como empresa global: correr muito para permanecer na dianteira”.

__________________
Carlos Hugo Studart é jornalista, professor e pesquisador em história política brasileira e editor do site direito.com.br

Fonte:http://www.direito.com.br