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HIPERTEXTO
Carla Regina Goncalves de Souza
carlargs@plugon.com.br
Dulceria Tartuci
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA (Brasil)

1. HIPERTEXTO - UM POUCO DE HISTÓRIA

1.1 CONSTRUINDO O HIPERTEXTO
A história do hipertexto não é recente, a de hipertexto eletrônico pode ser atual, mas o exercício da hipertextualidade é remoto e encontram-se inúmeros exemplos na literatura impressa. Lemos (1996) lembra que todo texto escrito é um hipertexto, onde “o leitor se engaja num processo também hypermidiático, pois a leitura é feita de interconexões à memória do leitor, às referências do texto, aos índices e ao índex que remetem o leitor para fora da linearidade do texto.”
 
 

Os escritos do autor como Tomás de Aquino, que ao mesmo tempo colocava e respondia questões, citando e interpretando textos antigos, recontando pontos de vistas opostos e argüindo com eles, o texto não era algo fechado em si mesmo, podemos dizer que constituía-se em exercício da hipertextualidade.

Rolande Barthes e Michel Foucault também teriam formulado um modelo ideal de textualidade bastante próximo daquele que se pode encontrar no hipertexto eletrônico. Em Landow (1992) podemos encontrar as citações desses autores. Para Barthes, a textualidade ideal seria composta por “(...) blocos de palavras (ou imagens) ligados eletronicamente por múltiplos caminhos, correntes e seqüências numa inifinitivamente aberta, perpetuamente inacabada textualidade descrita pelos termos link, nó, rede, teia, caminho.”. É para ele uma galáxia de significados e não uma estrutura de significados, não tem princípio, possui diversas vias de acesso sem que nenhuma delas possa qualificar-se de principal, os códigos que imobiliza até onde a vista alcance, são indeterminados. Os sistemas de significados não podem impor a este texto absolutamente plural, há um número ilimitado que está baseado numa linguagem infinita.

Foucault, por sua vez, também teria se aproximado de hipertextualidade ao considerar um texto em forma de redes e enlaces (links). Na “Arqueologia do Saber”, afirma que as fronteiras de um livro nunca estão claramente definidos, porque há sempre um sistema de referência a outros livros, outros textos, outras frases. Um texto findaria por ser um nó dentro de uma rede... uma rede de referências, inifinitivamente maior.

O hipertexto implica num texto composto de fragmentos de texto, o que Barthes denomina “lexias” ­ os enlaces eletrônicos que os conectam entre si.

Barthes e Foucault pontuaram questões que para o hipertexto são cruciais: ausência de linearidade e abertura textual. Mas seria com Derrida que a teoria contemporânea encontraria uma maior intimidade com o hipertexto eletrônico. Ele aponta a importância do descentramento para toda reformulação do pensamento ocidental. Recolocar o centro, agora como função, e não como uma entidade particular, é levantada como sua proposta. Essa discussão pode ser encontrada por Derrida, como cita Landow (1992), no texto “A Estrutura, O Signo e o Jogo no Discurso das Ciências Humanas.”

As especificidades do “hipertexto ciberespaço” ou hipertexto propriamente dito é aquele que ele é resultado direto dos avanços dos modos de registro, armazenamento e circulação das informações. São estes avanços que permitem que falemos hoje dele como um texto conectado, com todos os textos existentes em tempo real, assim como na passagem da oralidade para escrita e desta para o impresso. Nele algo muda radicalmente nossas concepções de como: ler, escrever e conhecer.

Bush publica em 1945 o ensaio “As we may think”, onde esboça o “Memex” que de alguma maneira representa hoje o computador pessoal. Ele era matemático e responsável pela agência de Desenvolvimento e Pesquisa Científica do Governo Norte-Americano, coordenava o trabalho de mais de seis mil cientistas. Uma das questões que enfrentava com o volume crescente de dados, era como armazená-los e organizá-los de tal maneira que fosse possível que os pesquisadores partilhassem rapidamente das informações, estabeleceria uma nova era para o conhecimento humano. Propõe assim, os processos de miniaturização, tendência já observada na época.

Outro personagem que se destaca é Douglas Engelbart, diretor do Centro de Pesquisa “Augmentation Research Center (ARC) do Stanford Research Institute, onde segundo Lévy, foram testados pela primeira vez a tela com múltiplas janelas de trabalho; a possibilidade de manipular, com ajuda de um mouse, complexos informacionais representados na tela por um símbolo gráfico; as conexões associativas (hipertextuais) em bancos de dados ou entre documentos escritos por autores diferentes; os grafos dinâmicos par representar estruturas conceituais (o “processamento de idéias” ou sistemas de ajuda ao usuário integrados ao programa).

A história do hipertexto não se resume a história da técnica, mas essa última assume relevante importância neste percurso. As construções do saber humano estão associados aos elementos materiais dos suportes e suas interfaces. Para Lévy (1993) novos suportes suscitam novas formas de organização e “em determinados modos de dobrar ou enrolar os registros, estão baseados a grande maioria das mutações do saber.”

Surgiram assim empresas de informática em torno do Vale do Silício (EUA), entre elas ­ a Apple ­ que ocupa um lugar de destaque na história do hipertexto, em 1987 ela distribuía gratuitamente o programa Hypercard nos seus computadores Macintosh.

1.2 BUSCANDO COMPREENDER O HIPERTEXTO

Hipertexto ­ expressão cunhada por Theodor H. Nelson nos anos sessenta e se refere a um tipo de texto eletrônico, uma tecnologia informática nova e, ao mesmo tempo, um novo modo de edição. Possibilita novas formas de ler e escrever, um estilo não linear e associativo, onde a noção de texto primeiro, segundo, original e referência caem por terra. Adota-se uma noção, que o considera como conjunto de informações textuais, podendo estas estarem combinadas com imagens (animadas ou fixas) e sons, organizadas de forma a permitir leitura (ou navegação) não linear, baseada em indexações e associações de idéias e conceitos, sob a forma de links, que agem como portas virtuais que abrem caminhos para outras informações.

Para Heim, citado no trabalho de Correia e Andrade (1997), o hipertexto é um modo de interagir com textos e não só uma ferramenta como os processadores de textos. Nele/com ele o leitor assume o papel de co-autor.

Segundo Lévy (1993), o hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Nós que podem ser palavras, páginas, gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertexto.

Para Smith, referenciado em Correia e Andrade (1997), hipertexto é uma abordagem de informação na qual os dados são armazenados em uma rede de nós conectados por ligações que também podem conter textos, gráficos, áudio e vídeo, bem como programas de computador ou outras formas de dados.

Landow (1992) afirma que o hipertexto põe em cheque: seqüências fixadas, começo e fim definidos, uma estória certa/única, magnitude definida e a concepção de unidade é toda associada a todos esses conceitos. Quando não se tem um princípio único, mas várias possibilidades de início, várias narrativas acabam sendo viáveis.
Mesmo diante de tantas e diferentes definições, os encontros comaflexibilidade e mobilidade se fazem, a fuga da rigidez, a deshierarquização do conhecimento são travados. As diferentes possibilidades de conexões de acordo com a vontade do leitor (ou quem sabe escritor ?), as quebras de limites e fronteiras leitor-escritor e ainda a viabilização dos processos comunicativos de elementos verbais e não-verbais constroem o que chamamos de hipertextualidade.

Enfim, entre tantos conceitos, a hipertextualidade rompe com os limites e a rigidez do discurso moderno, onde os elementos do pensamento ocupavam posições pré-fixadas e havia apenas um caminho único a ser percorrido. Hoje, ao contrário, o discurso oferece possibilidades de saltos, entradas e conexões diversas que tornam aberta a comunicação, articulação entre áreas. Rompe com as fronteiras e possibilita a transversalidade.

Finalmente, hipertexto ­ uma forma de conceber a produção de conhecimento e sua organização, mudança de paradigma, que marca uma revolução no pensamento humano (Landow, 1992). Onde nenhuma experiência é repetida, já que se abrem novos espaços e tempos diferentes do espaço e tempo mensuráveis.

1.3. DELINEANDO PRINCÍPIOS
Lévy recorre a seis princípios para caracterizar o hipertexto:

PRINCÍPIO DE METAMORFOSE
“ A rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode permanecer estável durante certo tempo, mas esta estabilidade é em si mesma fruto de um trabalho. Sua extensão, sua composição e seu desenho estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, sejam eles humanos, palavras, imagens, traços de imagens ou de contexto, objetos técnicos, componentes destes objetos, etc.” (1993, p. 25) Esse princípio torna clara a idéia, vivenciada por aqueles que lidam diariamente com informações, de que a rede de significações que constitui o conhecimento está em permanente transformação.

PRINCÍPIO DE HETEROGENEIDADE
“Os nós e as conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos. Na memória serão encontradas imagens, sons, palavras, diversas sensações, modelos, etc., e as conexões serão lógicas, afetivas, etc. Na comunicação, as mensagens serão multimídias, multimodais, analógicas, digitais, etc. O processo sociotécnico colocará em jogo pessoas, grupos, artefatos, forças naturais de todos os tamanhos, com todos os tipos de associações que pudermos imaginar entre estes elementos.” (1993, p. 25) Ao sublinhar a heterogeneidade na composição dos nós/significados, Lévy chama atenção para a diversidade das conexões que podem ser estabelecidas entre dois temas ou objetos.
 

PRINCÍPIO DA MULTIPLICIDADE E DE ENCAIXE DAS ESCALAS
“O hipertexto se organiza em um modo “fractal”, ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, indefinidamente, ao longo da escala dos graus de precisão. Em algumas circunstâncias críticas, há efeitos que podem propagar-se de uma escala a outra: a interpretação de uma vírgula em um texto (elemento de uma microrrede de documentos), caso se trate de um tratado internacional, pode repercutir na vida de milhões de pessoas (na escala da macrorrede social).” (1993, p. 25-26)

PRINCÍPIO DA EXTERIORIDADE
“A rede não possui unidade orgânica, nem motor interno. Seu crescimento e sua diminuição, sua composição e sua recomposição permanente dependem de um exterior indeterminado: adição de novos elementos terminais (captadores), etc. Por exemplo, para a rede semântica de uma pessoa escutando um discurso, a dinâmica dos estados de ativação resulta de uma fonte externa de palavras e imagens. Na constituição da rede sociotécnica intervêm o tempo todo elementos novos que não lhe pertenciam no instante anterior: elétrons, micróbios, raios X, macromoléculas, etc.” (1993, p. 26) Esse princípio intenciona caracterizar a permanente abertura da rede hipertextual e do conhecimento em construção. Para Lévy, não existe fora: interior e exterior não são nitidamente determinados, estabelecendo-se, utópica e momentaneamente, fronteiras móveis, apenas com finalidades operacionais.

PRINCÍPIO DE TOPOLOGIA
“Nos hipertextos, tudo funciona por proximidade, por vizinhança. Neles, o curso dos acontecimentos é uma questão de topologia, de caminhos. Não há espaço universal homogêneo onde haja forças de ligação e separação, onde as mensagens poderiam circular livremente. Tudo que se desloca deve utilizar-se da rede hipertextual tal como ela se encontra, ou então será obrigado a modificá-la. A rede não está no espaço, ela é o espaço.” (1993, p. 26)
O foco desse princípio é a idéia de proximidade entre significações. Para Lévy, a rede é um espaço de representações, mas um espaço vital onde se estreitam e se multiplicam as conexões biológicas que entretecem o conhecimento, realçando o significado da expressão criada por ele “ecologia cognitiva”.

PRINCÍPIO DE MOBILIDADE DOS CENTROS
“A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são como pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó a outro, trazendo ao redor de si uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando
por um instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar mais à frente outras paisagens do sentido.” (1993, p. 26) Em suma, essas características da rede hipertextual constituem a teia básica, a partir da qual, a idéia de rede para a representação do conhecimento deva ser tecida.

2. HIPERTEXTO E EDUCAÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

A educação se encontra em crise. Ela já não dá conta das mudanças dessa nova época. Estamos vivendo um momento na história que nos dá a impressão de que estão tirando o nosso chão. São mudanças que põe em discussão tópicos como: as nossas formas de ensinar, o perfil dos profissionais que formamos e o que compreendemos como conhecimento.

O que aprender e o que ensinar são pontos fundamentais nesse novo processo histórico. Porque podemos afirmar que tanto o aprender como o ensinar estão em constantes transformações. Mudam-se seus espaços, mudam-se os rios e também os navios... E no centro dessa revolução está o conhecimento.

Hoje sabemos que a dinâmica do conhecimento se dá por toda a vida. O analfabeto que surge é aquele que não soube buscar as informações de que precisa ou ainda, não tem condições para isso.

A escola ­ que tradicionalmente tem a tarefa de transmitir esse conhecimento ­ não obtém mais esse monopólio do saber. Ela se apresenta como uma instituição também em crise. O seu desafio é buscar sua relevância neste novo contexto social, cultural, histórico , político e comunicacional.

Não existe mais espaço para uma escola pensada nos moldes modernos, salienta Nelson Pretto (1996): “ Neste contexto de transformação, a nova escola brasileira precisa ser pensada como sendo uma instituição que, efetivamente, possa trabalhar com uma multiplicidade de visões de mundo, numa perspectiva mais integral e não mais operativa ou homogeneizadora, que ainda busque a construção do ideal do homem iluminista. A nova escola, que está sendo gestada neste processo, deverá ser centrada em outras bases, não mais reducionista e manipuladora.” (p.102)
Primeiramente, repensar que os homens não são únicos que aprendem. Os animais e as plantas também o fazem, realizam aprendizagens contínuas para se adaptarem. Tudo que é vivo aprende.

“Aprender é uma propriedade emergente da auto-organização da vida.” Relata Assmann (1998) e ainda aponta: “Qualquer organismo vivo está continuamente “presumindo coisas” acerca do seu meio ambiente, ou seja, o organismo exerce a todo momento uma complexa atividade eferente (i.é, que conduz de ‘dentro’ para ‘fora’). O organismo não é um mero receptor de estímulos, reagindo, em seguida, aos mesmos. O organismo vivo é, também e acima de tudo um criador ativo enquanto copartícipe ativo do sistema conjunto organismo/entorno.” (p. 38-39) As novas tendências e paradigmas científicos mostram que somos muitos mais parte dos processos vitais do que desejaríamos. As idéias mentalistas que sempre separaram os processos vitais dos processos cognitivos, não condizem com nossa nova realidade. Essa revolução conceitual vai em contrapartida modificar as novas formas de conhecimento e o agir pedagógico.

O aprender e o ensinar não são processos fixos e pré-determinados. São processos complexos, o que significa que não está acabado. O ato do ensinar não se desvincula do ato do aprender e vice-versa.

Outra consideração é a respeito da velha manipulação do tempo e espaço. Com o advento das tecnologias, a noção de tempo e espaço começa a ser questionada. A desterritorização que permite o mundo virtual é um aspecto admirável neste ciberespaço. “Depois da modernidade que controlou, manipulou e organizou o espaço físico, nos vemos diante de um processo de desmaterialização pós-moderna do mundo.” (Lemos;1996). E acrescenta Assmann (1998) “No bojo da técnica hipertextual brotou uma oferta de liberdade, que, aliás, está surgindo desde a própria contextura técnica de diversas tecnologias da informação e da comunicação (TIC).”
Pensar numa escola que deva promover a aquisição de variados conhecimentos e de auxiliar a estruturar a grande diversidade de vivências exteriores em torno desses novos conhecimentos. Deverá ser um espaço privilegiado para dar vida a um mundo de diversidade,
fornecer os contextos e conhecimentos para uma autonomia do indivíduo nesse mundo.

2.2 HIPERTEXTO - METÁFORA DE UMA NOVA ATITUDE APRENDENTE

Apresentar um recurso instrucional multimídico ­ o hipertexto ­ que pode ser um rica ferramenta para a educação, que com eficiência e eficácia oportuniza ao autor e aos leitores, exercitar o uso de linguagens múltiplas. Dá-se ênfase à Interação, Criatividade e Não-Lienaridade. Simulando formas dialógicas inseridas no cenário das comunicações digitais.
Pretto (1996) expressa a importância de uma cultura audiovisiva para a escola: “A presença desses recursos, como fundamento da nova educação, transforma a escola, que passa a ser um novo espaço, físico inclusive, qualitativamente diferente do que vem sendo. Sua função, nessa perspectiva, será a deconstituir-se num ‘ centro irradiador de conhecimento’(...)” (p.115)
O hipertexto pode ser considerado como um laboratório onde todas as experiências (hipóteses) são levantadas e testadas.

Devemos abandonar a idéia da centralização e linearidade na educação. A marca dessa nova revolução é exatamente o ponto onde as margens, a hierarquia e as certezas estão desaparecendo. A hipertextualidade, com sua mobilidade e instantaneidade nos incita a repensar essa maneira predominante em nossa velha estrutura educacional. Tratar o hipertexto como uma estrutura sem centro ou constantemente recentrada, cita Landow (1992). Nessa óptica o centro não pode ser localizado em nenhum ponto exato, mas pode, momentaneamente, ser demarcado em qualquer um dos infinitos pontos possíveis. O princípio ordenador é orientado por aquele que lê e opera com o texto num determinado momento.

A estrutura é tomada como uma teia, onde cada elemento está ligado com vários pontos ao mesmo tempo e de diversas maneiras. Ribeiro e Jucá (1997) observam: “ O mapeamento do hipertexto surge na tela como uma imagem suscitadora de descentramento. Isto porque a configuração que se delineia é a de vários elementos interconectados de modos também os mais diversos.”(p. 1)

O hipertexto nos proporciona uma interação entre homem-máquina. A interatividade digital pode ser entendida como um diálogo entre o homem e a máquina, visando principalmente a manipulação direta do conhecimento. Existe uma troca, onde o homem assume um papel de agente de construção de seu próprio conhecimento.

Vale afirmar que o aspecto mais importante que percebemos com o hipertexto não é apenas a informação ao nosso alcance, mas a construção do conhecimento. Não é apenas o recebimento passivo, mas a participação e questionamento de tudo que nos chega.

O cursor é o elemento de intrusão do leitor no texto. Ele age segundo a vontade daquele que o guia. Essa comunicação rompe com a linearidade.

A possibilidade de inter-relação entre textos e usuários, debates e opiniões que irá formar o hipertexto. Ele vai introduzir uma nova maneira de se relacionar com o autor e seu texto, uma vez que todos podem se tornar autores de um única obra. “Um hypertexto é um texto aberto à múltiplas conexões a outros hypertextos.” (Lemos;1996)

A educação caminha a passos lentos, de buscar novos rumos, de traçar caminhos alternativos. Pesquisar interesses dos educandos/usuários, os mais variados possíveis, de se tornarem co-autores e transformar definitivamente o discurso unilateral em hipertexto.

2.3 POR UMAEDUCAÇÃO MAIS VIRTUALIZANTE

A práxis educativa em tempos de novas tecnologias, pode avançar sumariamente na velocidade da luz. Educandos e educadores devem saber articular com a capacidade reflexiva-crítica e criativa, para que o mundo digital e virtual sejam usados como meio que extrapole o modelo padrão linear de depósitos de saberes por memória, repetição e transmissão. A criação constante de novos saberes, onde o exercício de iniciativa, autonomia e criatividade contribuam para a eficácia do processo de descobrimento do educando, desafiando nossa criatividade como autores da reinvenção constante de nós mesmos e de nossos mundos possíveis/viáveis e impossíveis.

O caminho é repensar a educação, utilizando meios multimídicos não como meras ferramentas, mas como agentes transformadores do processo educacional como um todo.
Portanto, elencamos alguns tópicos do hipertexto que através de suas características atinge pressupostos educacionais. A quebra dos limites entre autor e leitor pode ser associada à idéia de construção conjunta do currículo por professores e alunos simultaneamente.
A instantaneidade das respostas, a troca imediata de informações, a possibilidade de se virtualizar em poucos minutos, trocas constantes entre pessoas. As chances de expandir o conhecimento, a criatividade, a participação são elevadas à potência e tudo isso em tempo real.

A deshierarquização, outra característica citada por Landow, pode ser associada à falta de início e fim do currículo proposto. Sem ordens seqüenciais, o aluno é o guia do trajeto a ser seguido.

A não-linearidade, por fim, traz implícita uma idéia de construção ativa por parte do sujeito.

A educação hipertextual, disposta não mais de forma troncular, onde o professor se coloca como dono do conhecimento, mas de maneira rizomática, onde professores e alunos formam um único corpo construtor de um hipertexto educacional.

Acreditamos que o hipertexto é um caminho para se pensar em uma nova educação.3. (RE)PENSANDO A ESCOLA, DELIMITANDO CAMINHO (S)
Atualmente estamos discutindo diversas questões dentro e fora da escola a respeito dos nossos métodos didáticos e ditos “ pedagógicos”. A hipertextualidade vem romper a barreira até mesmo do que vinha sendo construído sobre alfabetização. No entanto, algo nos ilumina e abre novos espaços para ver sobre outros ângulos o que se define como escrita e a relação de oralidade x escrita.

Nesse sentido, algumas indagações vêm à tona, como: porque insistentemente tentamos classificar nossos alunos como aptos/inaptos ou capazes/incapazes e coisas do gênero ? Essas falas estão caindo por terra, será que todos percorremos a mesma construção lógica de raciocínio ? Como posso eu, taxar as construções de pensamento do outro como algo desconexo ou desarticulado ?

Afinal, hoje abarcamos com os meios de comunicação nos apresentando uma novidade ­ o hipertexto ­ outro texto, não visto a partir de linearidades e seqüências, mas algo complexo que transforma a visão de leitura e escrita e o próprio processo do conhecer.
O hipertexto não vem negar a oralidade, o desenho escrito, ao contrário, abrange as diversas formas de comunicação, o que leva consequentemente a uma nova visão de leitor e escritor (ou navegador ?), possibilitando, ao mesmo tempo, o ato dialógico entre leitor/escritor, além de multiplicidade de possibilidades de construções/conhecimentos que superam as linearidades rígidas.

Permite ainda ampliar a visão das diferentes áreas sem a “feliz certeza” de ter conhecido o “caminho certo” a ser traçado, traz a possibilidade de diferentes trilhas e passagens a descobrir e não apenas por alguns viajantes-leitores, mas por todos os navegadores desse infinito ciberespaço.

O que se percebe na escola é ainda uma tendência em tratar o processo ensino-aprendizagem como algo pronto e acabado, com moldes a ser seguidos, onde a previsibilidade é algo permanente.

Quando se enumeram reformas e transformações, vistas como soluções de problemas, não se vislumbra alterar as formas de ensinar e aprender, as formas de pensar. O paradigma continua ali, causa e efeito, e a escola com a mesma função de sempre ­ disciplinar e moldar cabeças.
A educação tem se contentado apenas com a verbalização e a escrita (livros, quadro-negro, saliva e giz), o que a distancia desse mundo contemporâneo, cheio de vozes, imagens, conhecimento...

Parece-nos, que aos educadores sempre coube a árdua missão de “adequar” a educação formal aos novos conhecimentos/fenômenos, como se a escola estivesse alheia à sociedade e não fizesse parte dela. Talvez esse dualismo venha lá de trás: mente/corpo, sujeito/objeto, ensinar/aprender, sujeito/meio, entre outros. Assim, do mesmo modo, tememos que a inclusão das novas tecnologias fiquem reduzidas a meros instrumentos, como foi a utilização TV-vídeo. Porque o que se pretende é chegar a um fim previamente conhecido pelo professor. Ou ainda, que sejam utilizados como meios de sair da monotonia das aulas, com o intuito de tornar mais atraente o discurso profético do mestre.

Diante do hipertexto, indagamos o significado linear da vida. “Linear” lembra: reta, andar na linha, acertar, estar correto, percorrer o caminho certo, seguir os mesmos passos, admitir um único conhecer/aprender, ser de uma única forma. Oras, deixemos de lado as hipocrisias ! O conhecer não pode e nem deve ser linear.

Possibilitar novas formas de pensar, admitir o erro-acerto, sentir, conectar, plugar, tentar, experimentar, enfim, conhecer. Uma nova visão da relação homem e aquilo que está a sua volta, que não se fecha em uma única possibilidade, mas sim em múltiplas conexões possíveis/impossíveis, reais/virtuais.

Diante dessa visão, devemos negar também a proposta de um currículo pronto, inflexível, estático, dividido em disciplinas. Neste sentido, o currículo deve ser construído baseado nos princípios do hipertexto.

Assim, vamos nos perguntando: o que fazer das velhas seqüências, das velhas organizações, das velhas articulações, do velho texto pronto ? E ainda refletir sobre questões: como não transformar as novas tecnologias em apenas uma ferramenta pedagógica ao gosto do professor ? Como não transformar as novas tecnologias em apenas um arsenal técnico presente no espaço escolar atendendo às questões postas pela pós-modernidade ? Como transformar o perfil do velho-professor ?

Não temos as respostas, mas uma imensidão de portas/janelas (não no sentido de fora para dentro, mas de interlocução) para deslumbrar, e quem sabe aí consigamos responder algumas dessas questões e levantarmos tantas outras, e quem sabe ainda, contribuir para a construção de uma nova visão de texto-conhecimento-vida que reflita no nosso agir pedagógico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 

ASSMANN, Hugo. Reencantar a Educação ­ Rumo à Sociedade Aprendente.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
CORREIA, C. & ANDRADE, H. Noções Básicas de Hipertexto. Monografia
Apresentada no PPG em Comunicação e Cultura Contemporânea da FACOM/
UFBA, 1997.
LANDOW, George. Hipertext ­ The Convergence of contemporary Critical Theory
and Thecnology. Baltimore and London; The John Hopkins University Press,
1992.
LEMOS, André. As Estruturas Antropológicas do Ciberespaço. In: Textos de
Cultura e Comunicação, nº 35, FACOM/UFBA, junho/1996.
LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
PRETTO, Nelson de Luca. Uma Escola Sem/Com Futuro. São Paulo: Papirus,
1996.
RIBEIRO, J.C.S. & JUCÁ, V.J..Hipertexto e Cultura. Monografia apresentada no
PPG em Comunicação e Cultura Contemporânea da FACOM/UFBA, 1997..

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